Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM A MEMORIA DO EX-PRESIDENTE ERNESTO GEISEL.

Autor
Elcio Alvares (PFL - Partido da Frente Liberal/ES)
Nome completo: Élcio Alvares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM A MEMORIA DO EX-PRESIDENTE ERNESTO GEISEL.
Publicação
Publicação no DSF de 07/08/1997 - Página 15775
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ERNESTO GEISEL, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. ELCIO ALVARES (PFL-ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Presidente, Senador Antonio Carlos Magalhães, Presidente do Senado da República e do Congresso Nacional; Drª Amália Lucy Geisel, representando a família do homenageado, caríssimos Senadores, prezados Deputados, Ministros e integrantes do Governo Geisel, meus senhores e minhas senhoras, a solenidade de hoje já teve o condão de trazer peças primorosas a respeito da vida do Presidente Geisel, peças marcadas pelo sentido histórico do pronunciamento e, acima de tudo, pelo toque mágico da homenagem sincera.

Quero trazer apenas um depoimento, um depoimento marcado pela emoção. Não desejo falar como orador designado para uma sessão histórica como esta. Os que me antecederam o fizeram de maneira brilhante, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.

Faço uma viagem ao tempo que foi na imagem de Proust. Busco neste plenário figuras que me eram familiares num tempo em que tive a honra e o orgulho de governar o Estado do Espírito Santo, no período de 1975 a 1979; um tempo que, para mim, marcou a minha vida de homem, marcou o meu sentido de vida pública.

Sr. Presidente, eminentes colegas, a emoção é profundamente válida. Escrevi numa carta, marcada pelo sentimento de gratidão, palavras que levei ao meu querido e saudoso Presidente Ernesto Geisel. Dividi com ele o meu mandato. Disse a ele que o meu mandato não me pertencia, mas pertencia por inteiro ao Governo dele, que fez com que o Estado do Espírito Santo tivesse duas fases distintas: antes e depois de Ernesto Geisel.

Ernesto Geisel fecundou o meu Estado com a sua visão de Estadista, viu em meu Estado talvez uma das maiores potencialidades deste País. O setor portuário, que é a vocação do meu Estado, recebeu um influxo extraordinário - a decisão da CST.

A política social. É preciso que se fale aqui na política social do Presidente Ernesto Geisel. As pessoas humildes receberam, por meio de seu gesto de governo e da magnitude de sua personalidade, o afago necessário, o afago do Poder Público. Foram milhares os que se espalharam nas favelas do Espírito Santo nos lotes urbanizados que foram implantados, uma experiência que, infelizmente, não logrou prosperar em outros Governos.

Lembro-me - e por uma dessas coincidências, eminentes Colegas e eminente Presidente Antonio Carlos Magalhães, tenho aqui testemunhas oculares - de um dos momentos mais importantes da história política do meu Estado: o povo compareceu em massa às ruas principais de Vitória para saudar Ernesto Geisel, do aeroporto até o Palácio, numa manifestação, que os ex-Ministros que aqui estão sabem, inesquecível. E o Presidente Ernesto Geisel nada me disse, nada falou; apenas segurou-me a mão e a apertou, num gesto que guardo até hoje no meu coração, um momento de alegria que ele teve dentro de si.

O Presidente Ernesto Geisel tem para o Espírito Santo uma importância tão grande que a minha voz aqui não poderia ser uma voz da homenagem ao grande Estadista que ele foi, ao grande Presidente que marcou este País; é a voz agradecida do Espírito Santo, é a voz agradecida de um Governador que vem a esta tribuna e que se orgulha de ser produto da ação política de Ernesto Geisel. E não nego isso em nenhum lugar, porque foi para mim motivo de muito orgulho estar ao lado desse Presidente que marcou, em todos os momentos, uma atuação inesquecível.

Como se não bastasse as inúmeras recepções, Ernesto Geisel visitou o meu Estado várias vezes; cada projeto era objeto da sua visita. O Presidente visitava a orla portuária, a Vale do Rio Doce. O Presidente queria conhecer os programas sociais - e gravo neste momento um gesto inesquecível para registro da posteridade e do meu Estado.

Certa vez, eu e o Presidente Ernesto Geisel saímos de helicóptero do Aeroporto de Vitória rumo a Anchieta para inaugurarmos a Samarco - eu tinha um pavor terrível a avião e a helicóptero, mas o meu sentimento de dever colocou-me ao lado do Presidente, no meu primeiro vôo como Governador. Já alçávamos vôo sobre a baía de Vitória quando o Presidente Ernesto Geisel, num gesto que é preciso que fique registrado na história do Espírito Santo, perguntou-me onde ficaria a terceira ponte que eu tanto pedia em favor do Espírito Santo. Mostrei-lhe a ligação Vitória-Vila Velha. Evidentemente, do helicóptero, tratava-se de um trecho bastante pequeno, mas era importante para mostrar a conurbação da Grande Vitória. Esse foi, talvez, um dos momentos mais importantes da história do meu Estado. Prosseguimos a viagem a Anchieta e tivemos um dia marcado por inaugurações.

Uma semana e meia depois, no Palácio Anchieta, recebi um comunicado da Presidência da República para que eu comparecesse a Brasília porque o estudo feito por Figueiredo Ferraz tinha sido aprovado pelo Presidente Ernesto Geisel. Assim, a maior obra de engenharia do Espírito Santo, o nosso orgulho, que emoldura o Convento da Penha, é devida exclusivamente ao gesto pessoal do Presidente Ernesto Geisel. Os capixabas sabem disso e têm noção exatamente dessa gratidão.

Portanto, hoje não farei um discurso convencional. Hoje quero falar com o coração, marcado pela emoção: jamais na minha vida vou me esquecer de Ernesto Geisel. Ele foi muito importante para mim no gesto do cumprimento à minha mãe, uma mulher simples, que pela primeira vez colocou um vestido comprido para ver Ernesto Geisel. O que Ernesto Geisel falou à minha mãe era a sensibilidade do amigo me dando a maior emoção ao dizer à minha mãe do carinho que ele tinha com o Governador do Espírito Santo.

D. Lucy, Ernesto Geisel e Amália Lucy foram sempre recebidos em minha casa como pessoas da nossa família. E o maior depoimento que posso dar é o dos empregados. Admiravam D. Lucy, que, com o maior despojamento, ia para a cozinha aprender a fazer a moqueca capixaba.

Lembro-me do Presidente Geisel, que, na sua simplicidade, colocou o calção - foi uma foto histórica que saiu em todos os jornais - e tomou banho na nossa Praia da Costa, despojando-se das roupas oficiais.

Ernesto Geisel foi muito importante para o Estado. Ernesto Geisel foi muito importante para mim. Não faço um discurso. Dou um depoimento, o depoimento da emoção e da gratidão. Muito obrigado. (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/08/1997 - Página 15775