Discurso no Senado Federal

ALERTANDO SOBRE A COMPRA DE TERRAS POR GRANDES MADEIREIRAS, ORIUNDAS DA MALASIA, PARA EXPLORAÇÃO DE MADEIRA NA AMAZONIA. SUGERINDO NOVAS ALTERNATIVAS ECONOMICAS PARA A AMAZONIA.

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • ALERTANDO SOBRE A COMPRA DE TERRAS POR GRANDES MADEIREIRAS, ORIUNDAS DA MALASIA, PARA EXPLORAÇÃO DE MADEIRA NA AMAZONIA. SUGERINDO NOVAS ALTERNATIVAS ECONOMICAS PARA A AMAZONIA.
Publicação
Publicação no DSF de 19/06/1996 - Página 10206
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • EXPLORAÇÃO, MADEIRA, ESTADO DO AMAZONAS (AM), EMPRESA, PAIS ESTRANGEIRO, MALASIA, DESMATAMENTO, FLORESTA AMAZONICA.
  • ENCAMINHAMENTO, OFICIO, BENI VERAS, PRESIDENTE, COMISSÃO DE ASSUNTOS SOCIAIS (CAS), CONVOCAÇÃO, GUSTAVO KRAUSE, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), ESCLARECIMENTOS, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, IRREGULARIDADE, EXPLORAÇÃO, MADEIRA, FLORESTA AMAZONICA.

A SRª MARINA SILVA (PT-AC. Para uma breve comunicação. Sem revisão da oradora.) - Nesta tarde, tratamos de problemas ligados à terra, o que foi bastante interessante e situa o que vou registrar. Gostaria de ter tempo para fazer um pronunciamento, mas infelizmente não é possível. Tratarei da exploração de madeira na região amazônica, mais particularmente no Estado do Amazonas, em virtude da entrada de grandes madeireiras oriundas da Malásia. Posso citar o nome de uma que está comprando milhares de hectares de floresta para exploração de madeira, a WTK, que, inclusive, passa a agir, segundo denúncias de entidades e de autoridades ligadas ao Ibama do Estado do Amazonas, junto com madeireiros locais no sentido de criar alguns testas-de-ferro para suas ações de depredação na floresta amazônica.

Quero fazer esse registro, Sr. Presidente, porque tenho conhecimento de que uma gleba de 1,5 milhão de hectares de florestas, áreas de conservação ambiental e ocupadas por indígenas, está sendo comprada. Também temos conhecimento de que próximo ao Vale dos rios Juruá e Purus estão sendo comprados cerca de 3 milhões de hectares de floresta por empresas madeireiras. Essas empresas da Malásia possuem um potencial de destruição, em termos de exploração madeireira, altamente superior ao das madeireiras locais e sabemos que essas que já estão atuando são altamente nefastas à região, mesmo assim somos impotentes para agir, porque a legislação brasileira não tem como impedir, no caso, a atuação do capital estrangeiro em nossa região. A nossa alternativa seria criar mecanismos que dificultassem o máximo a exploração desenfreada de madeira. Nessa área, o Brasil é muito frágil, porque não contamos com as exigências da certificação de origem, nem com os critérios de que a madeira deve ser trabalhada mediante o manejo florestal. Nesse caso poderemos pagar um preço muito alto, porque, com todo respeito, já não estamos lidando apenas com empresários tupiniquins da indústria madeireira, mas com empresas que já causaram danos ambientais nas regiões em que atuaram, que já destruíram milhões de hectares de floresta e que agora estão voltadas para a última reserva tropical do mundo, que é a floresta amazônica.

Com essa preocupação, e para não ficarmos meramente no discurso, estou encaminhando ofício ao Presidente da Comissão de Assuntos Sociais, Senador Beni Veras, para que convoque o Ministro Gustavo Krause para prestar esclarecimentos sobre o que o Governo brasileiro pode fazer para impedir a exploração irregular e sem critérios de madeira, o que causa sérios danos ambientais. Estamos propondo também a convocação do Ministro da Indústria e do Comércio, porque essa exploração tem a ver com relações comerciais. Sabemos que a atividade econômica das empresas que trabalham com madeira não traz benefícios para a população, gera muito pouco emprego e além de tudo não gera receita para os estados onde atuam, ainda mais em se tratando de empresas estrangeiras. Sabemos também que essas empresas têm uma capacidade muito alta de devastação e não empregam técnica de exploração que garanta a sustentabilidade.

Outro aspecto que gostaríamos de ressaltar é que o Governador Amazonino Mendes tem dito o tempo todo que se transformou num ecologista radical. No entanto, somos conhecedores de que S. Exª teve contato com empresários ligados à indústria da madeira. Inclusive, na segunda-feira, S. Exª recebeu a visita de empresários da indústria madeireira da China.

Recentemente, S. Exª fez uma viagem à Malásia, à Coréia e à Indonésia e alega ter feito contatos para a Zona Franca. Eu não teria elementos para dizer se S. Exª fez contatos somente tendo em vista a Zona Franca ou também a indústria da madeira. Mas sabemos que todos os empresários presentes ao encontro realizado na segunda-feira eram ligados à indústria madeireira.

Gostaria de fazer esse alerta, pois conheço muito bem o potencial de devastação dos madeireiros brasileiros e fico muito assustada ao ver a entrada dessas empresas no País. Como disse anteriormente, essas empresas têm enorme potencial de devastação.

Preocupo-me com isso, porque as nossas estruturas, em termos de fiscalização e de controle dos abusos, não conseguem dar conta nem mesmo daquilo que é denunciado hoje em relação às empresas nacionais, quanto mais em relação a essas empresas.

Para finalizar, Sr. Presidente, gostaria de dizer que a Amazônia precisa urgentemente de alternativas econômicas. Do contrário, perderemos os nossos principais aliados, que são aqueles que vivem da floresta. Para não morrerem de fome, para, pelo menos, sobreviverem, em curto prazo, eles acabarão vendendo madeira para essas empresas. A longo prazo, sabemos que eles ficarão sem madeira e sem renda numa floresta completamente devastada, sem valor algum tanto do ponto de vista estratégico, como do da biodiversidade e dos seus recursos genéticos.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/06/1996 - Página 10206