Discurso no Senado Federal

SOLICITANDO A TRANSCRIÇÃO NOS ANAIS DO SENADO DO EDITORIAL PUBLICADO NO JORNAL O GLOBO DE HOJE, SOB O TITULO 'BOM SENSO E BOA-FE', ACERCA DO PROJETO DE AUTORIA DO MINISTRO EDSON ARANTES DO NASCIMENTO PROPONDO A PROFISSIONALIZAÇÃO DO FUTEBOL NO PAIS.

Autor
José Roberto Arruda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/DF)
Nome completo: José Roberto Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE.:
  • SOLICITANDO A TRANSCRIÇÃO NOS ANAIS DO SENADO DO EDITORIAL PUBLICADO NO JORNAL O GLOBO DE HOJE, SOB O TITULO 'BOM SENSO E BOA-FE', ACERCA DO PROJETO DE AUTORIA DO MINISTRO EDSON ARANTES DO NASCIMENTO PROPONDO A PROFISSIONALIZAÇÃO DO FUTEBOL NO PAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/1997 - Página 15960
Assunto
Outros > ESPORTE.
Indexação
  • DEFESA, ORADOR, QUALIDADE, LIDER, GOVERNO, CONGRESSO NACIONAL, DISCUSSÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, EDSON ARANTES DO NASCIMENTO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO EXTRAORDINARIO, ESPORTE, ALTERAÇÃO, NORMAS, REGULAMENTAÇÃO, FUTEBOL, BRASIL.

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB-DF. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, peço inclusive desculpas a todos os Srs. Senadores que estão inscritos na sessão de hoje, e são muitos, por esta intervenção, mas é para um rápida comunicação que me parece fundamental.

O jornal O Globo, em um editorial de primeira página, intitulado "Bom Senso e Boa-Fé", dá uma direção, na minha opinião, firme e segura sobre um debate que é da maior importância e que foi divulgado por iniciativa do Ministro dos Esportes, Edison Arantes do Nascimento. Ele diz:

      "A discussão entre Pelé e Havelange lembra passes altos sobre a área quando os zagueiros são altos e os atacantes franzinos: uma hipérbole atrás da outra, mas nada de prático acontece.

      A situação é simples. Pelé apresentou um projeto cuja índole é a moralização do futebol, em todos os níveis e todos os aspectos. Se alguns desses itens realmente criam problemas insolúveis, como os citados pelo Presidente da Fifa, remove-se a causa dos impasses e toca-se o projeto.

      Para isso, o melhor conselheiro, com sua longa experiência, é o próprio Havelange. É o que se espera dele: contribuição positiva, e não o ataque indiscriminado de quem não leu e detestou.

      Ninguém de bom senso quer ver o Brasil fora da Fifa. E ninguém de boa-fé considera intocável a estrutura desmoralizada e corrompida do futebol.

      A linha do bom senso e da boa-fé marcará o terreno nessa discussão. Havelange, como todos os brasileiros ligados ao esporte, terá de mostrar de que lado do campo prefere ficar."

Com esta comunicação, quero dizer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que já escolhi o meu time. Creio que se deve ser claro: não dá para tapar o sol com a peneira.

O Brasil é um país que, naturalmente, tem uma índole esportiva. Os brasileiros, inclusive e principalmente os mais pobres, muitas vezes os mais mal-alimentados, têm uma capacidade natural, que lhes foi dada por Deus, de jogar bola, de ter uma característica esportiva nata. Ora, isso é um dom, um dom da nossa raça, formada pela miscigenação dos povos no processo de colonização. E nós, brasileiros, que temos esse dom e essa graça da prática do esporte; nós, brasileiros, que temos tido resultados fantásticos em nível internacional em todos os esportes que praticamos, ainda que sem apoio oficial, ainda que sem uma política de esporte realmente de conteúdo, não podemos esquecer que, infelizmente, tanto em relação ao futebol como em outros esportes, o corpo dirigente tem deixado muito a desejar.

Infelizmente, são conhecidos os casos de corrupção, os casos de malversação dos recursos do esporte e o caso em que o cartolismo tradicional atrapalha o desempenho dos nossos atletas.

O Ministro dos Esportes, Pelé, o cidadão brasileiro mais conhecido no mundo inteiro, que, através da sua carreira esportiva, elevou o nome do Brasil no cenário internacional de forma alegre, boa; um homem que é conhecido onde quer que vá, em todos os continentes, que vende uma imagem positiva do nosso povo e que, como cidadão, como ser humano, como homem e, agora, como homem público, também tem tido uma postura absolutamente correta, vem a público dizer que é preciso mudar. Estou do lado da mudança.

Quero dizer, como Líder do Governo no Congresso Nacional, que tenho certeza de que o Congresso Nacional, os mais variados partidos políticos, independentemente de serem a favor ou contra o Governo, não vão se furtar a discutir o projeto. Como diz o jornal O Globo, discutir com bom senso, com equilíbrio. Não há nenhum tipo de pressão ou ameaça que vá nos intimidar a fazê-lo.

Por outro lado, não há nenhuma precipitação que vá levar-nos a decisões insensatas. Vamos discutir com tranqüilidade, vamos aprimorar o projeto oferecido pelo Ministro Pelé naquilo que ele tiver que ser aprimorado. Vamos discutir, vamos ouvir todas as partes, vamos ouvir os atletas, as torcidas organizadas, os dirigentes esportivos, a CBF, os clubes, as empresas, os patrocinadores e os anunciantes. Vamos ouvir, enfim, todos os segmentos da sociedade, mas vamos discutir o projeto, sim, com ponderação, com equilíbrio, com sensatez, com base nas possibilidades legais, no plano nacional e na legislação esportiva internacional. Não vamos, é claro - porque isso não é prática do Congresso Nacional - colocar o País em uma situação ruim no cenário esportivo internacional, mas não vamos também tapar o sol com a peneira e fazer de conta que não existe nenhum problema no cenário esportivo brasileiro e, mais especificamente, no futebol, porque há!

Parafraseando a figura de O Globo, penso que o Pelé pegou uma bola que estava na defesa, saiu driblando os times adversários, atravessou o meio de campo, foi à linha de fundo e está cruzando a bola para a área. E a área é o Congresso Nacional, a área é a nossa Casa, que deve discutir o projeto e votá-lo.

Quero avisar que já estou correndo para a área, pronto para cabecear essa bola. Penso que todo o Brasil não pode ficar de braços cruzados quando uma situação dessas é levantada. Porém, ninguém quer ficar em posição de impedimento, ninguém quer atravessar as regras do jogo. Penso que devemos discutir a matéria com sensatez, com equilíbrio, mas também com coragem e determinação, porque, não tenho dúvida, Sr. Presidente, no dia em que conseguirmos, através de uma legislação firme, segura, sensata, equilibrada, estruturar a legislação esportiva e melhorar a organização do esporte, ninguém vai segurar o Brasil, porque temos grandes atletas, temos uma disposição nata para a prática do esporte. E, aí, não tenho dúvida, vai aumentar o número de resultados positivos do Brasil nos campeonatos mundiais. Mais do que isso: o esporte vai contribuir mais para a diminuição das desigualdades sociais brasileiras.

Era essa a comunicação que, como Líder do Governo no Congresso, eu gostaria de fazer desta tribuna.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/1997 - Página 15960