Pronunciamento de Valmir Campelo em 11/08/1997
Discurso no Senado Federal
HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SOCIOLOGO HERBERT DE SOUZA, O BETINHO.
- Autor
- Valmir Campelo (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/DF)
- Nome completo: Antônio Valmir Campelo Bezerra
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SOCIOLOGO HERBERT DE SOUZA, O BETINHO.
- Publicação
- Publicação no DSF de 12/08/1997 - Página 16009
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, HERBERT DE SOUZA, SOCIOLOGO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
O SR. VALMIR CAMPELO (PTB-DF. Pronuncia o seguinte discurso.) -Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, faleceu na noite de sábado, aos 61 anos de idade, o extraordinário sociólogo brasileiro Herbert de Souza.
Betinho, como ficou conhecido nacional e internacionalmente, morreu em decorrência de complicações advindas da AIDS, doença que contraiu em transfusão de sangue em 1986.
Ídolo de toda uma geração, Betinho foi perseguido pelo regime de exceção e viveu exilado por muitos anos, tornando-se, por isso mesmo, um dos símbolos dos movimentos libertários dos anos 60/70.
Militante dos movimentos de esquerda, Betinho chegou a integrar a Aliança Popular sem, contudo, aderir à luta armada. Humanista intransigente, acreditava que o País poderia ser mudado sem mortes e sem violência, com ações no campo da política e das idéias.
Exilado inicialmente no Chile, Betinho mudou-se em seguida para o México, onde residiu até a anistia, em 1979. Mesmo no exílio, manteve contatos com o PTB, mais precisamente com a facção que daria origem ao PDT do ex-governador Leonel Brizola.
Imortalizado na magistral canção de João Bosco e Aldir Blanc O Bêbado e o Equilibrista, o "irmão do Henfil" tornou-se conhecido em todo o Brasil no final dos anos 70, na voz da não menos lendária Elis Regina.
De volta ao Brasil, participou de todas as grandes causas que movimentaram o País nos últimos anos, incluindo o movimento por eleições diretas, em 1984.
Seria no campo humanitário, entretanto, que Betinho daria sua contribuição definitiva ao País, liderando uma cruzada nacional contra as injustiças sociais.
Convidado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, criou o programa "Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida", que viria a ser mundialmente conhecido como a "Campanha do Betinho".
Sonhador idealista, Betinho tinha a esperança de tirar 32 milhões de brasileiros da miséria e lutou incessantemente por isso, mesmo contra as incompreensões e a doença que o consumia diariamente.
Instalou mais de 3.500 "Comitês de Solidariedade" Brasil afora e foi a mola propulsora de um programa que chamou a atenção do mundo inteiro.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao homenagear o sociólogo Herbert José de Souza, não poderia deixar de ressaltar a sua enorme contribuição no campo social, bem como a sua intransigente luta em favor dos ideais de democracia e liberdade. Não poderia deixar de destacar também sua extraordinária força de vontade e seu exemplo de vida.
Alquebrado pela doença, Betinho jamais esmoreceu, jamais se entregou e lutou até as últimas conseqüências por aquilo em que acreditava: a possibilidade de um Brasil livre, sem injustiça social e sem fome.
Tenho a impressão, Sr. Presidente, de que a Academia de Estocolmo perde, mais uma vez, a oportunidade de corrigir o seu injustificado ranço em relação ao Brasil, concedendo em vida o Prêmio Nobel da Paz ao nosso Betinho, que, sem dúvida nenhuma, se nivela a humanistas do porte de Madre Tereza de Calcutá e Desmond Tutu.
Presto a esse brasileiro sem igual o meu tributo de homenagem, ressaltando sobretudo seu exemplo de coragem e de trabalho. Em nome do Partido Trabalhista Brasileiro - PTB, deixo registrado nos Anais desta Casa do Congresso Nacional nosso reconhecimento a esse herói, que permanecerá para sempre na memória do povo brasileiro.
Era o que tinha a dizer, Srª Presidente.