Discurso no Senado Federal

FALECIMENTO DO GRANDE HUMANISTA HERBERT DE SOUZA.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • FALECIMENTO DO GRANDE HUMANISTA HERBERT DE SOUZA.
Publicação
Publicação no DSF de 12/08/1997 - Página 16021
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, HERBERT DE SOUZA, SOCIOLOGO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB-AL. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, poucos brasileiros, neste nosso difícil final de século, encarnaram, com tanta fidelidade e harmonia, os ideais universais de igualdade, liberdade e fraternidade quanto o sociólogo Herbert José de Souza.

Betinho acaba de nos deixar, depois de uma sofrida e prolongada doença que jamais lhe deu motivo de desespero e alienação, pois ele soube usá-la como uma tribuna de conscientização de seus compatriotas, mobilizando-os para compreender e enfrentar os grandes desafios da saúde, da educação, do combate à fome e do emprego.

Desde cedo, Betinho ver-se-ia atraído para a vida pública em virtude de uma enorme paixão pelo Brasil. Uma paixão que assumiu várias formas ao longo de sua evolução como intelectual e como homem de ação.

Betinho e seus companheiros de geração sofreram no corpo e na alma o abrupto corte de todas essas esperanças. Num dado momento, em meio às trevas, sem visualizar maiores alternativas para o prosseguimento de sua luta, optaram por passar das armas da crítica à crítica das armas, com as conseqüências que hoje conhecemos.

Na prisão e, mais tarde, no exílio europeu e canadense, Betinho empreendeu uma profunda e corajosa autocrítica dessa opção, dela emergindo com uma renovada profissão de fé na democracia. Democracia não mais como uma palavra de ordem, instrumento tático na luta pela derrubada do regime, mas como um valor permanente a nortear a caminhada do povo brasileiro rumo ao progresso político, econômico e social.

De volta ao Brasil, no final dos anos 70, deu forma, consistência e vibração a essas idéias, criando o IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sócio-Econômicas, entidade líder de uma rede de organizações não-governamentais voltadas à compreensão engajada do fenômeno da pobreza em todas as suas dimensões, bem como à democratização das tecnologias de organização social para que os setores marginalizados pudessem tomar nas próprias mãos a transformação de seu destino.

Acometido do mesmo mal que prematuramente ceifou seu irmão, o saudoso caricaturista Henfil, hemofílico como ele, Betinho transformou-se numa voz forte e respeitada na cobrança de políticas públicas humanas e eficazes, não apenas contra a AIDS, mas contra todas as doenças que indicam o nosso precário estágio de desenvolvimento social.

Organizador e mobilizador de grande talento que jamais perdeu a característica pessoal da afabilidade e do desprendimento, lutou para dar conseqüência social à enorme carga de energias nacionais, canalizando-as para os objetivos mais permanentes do combate à fome e ao desemprego, os grandes inimigos da plena afirmação da cidadania de dezenas de milhões de irmãos brasileiros.

É como apóstolo da democracia e da cidadania, no sentido mais verdadeiro e integral dessas palavras, que Betinho deixará sua marca em nossa história e um exemplo marcante e saudoso em nossa memória.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/08/1997 - Página 16021