Discurso no Senado Federal

ASSOCIANDO-SE A DOR DA SOCIEDADE BRASILEIRA PELO PASSAMENTO DO SOCIOLOGO HERBERT DE SOUZA.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • ASSOCIANDO-SE A DOR DA SOCIEDADE BRASILEIRA PELO PASSAMENTO DO SOCIOLOGO HERBERT DE SOUZA.
Publicação
Publicação no DSF de 12/08/1997 - Página 16026
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, HERBERT DE SOUZA, SOCIOLOGO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

O SR. MAURO MIRANDA - (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em meu nome e em nome do povo goiano que represento nesta Casa, eu não poderia deixar de associar-me à dor que enluta toda a família brasileira, com o desaparecimento do sociólogo Herbert de Souza, o querido Betinho. Esse grande cruzado do bem, das causas populares e da cidadania, desaparece do nosso convívio deixando um exemplo inesquecível de força, de superação, de renúncia e de grandeza, que vai perdurar pelo tempo. Ele estabelece nova dimensão para a capacidade do homem de servir, sem servir-se, de lutar pelos semelhantes, mais do lutar para si.

Na galeria dos benfeitores mais reconhecidos deste século, Betinho terá um lugar especial. A doença insidiosa não quebrou suas energias para amparar os mais fracos, e foi graças a essa determinação que ele criou neste país a mística da solidariedade humana, inspiradora de muitas decisões que foram tomadas pelos poderes públicos. Em Goiás, nós temos o exemplo vivo da Secretaria de Solidariedade Humana, que foi criada pelo Governador Maguito Vilela, tendo Betinho como patrono da iniciativa.

Nos tempos difíceis desse final de século para os excluídos, a imagem de Betinho acabou por confundir-se com a figura de um apóstolo moderno, com sua crítica social cortante e sincera, com a determinação que imprimiu às suas iniciativas, com a sua coragem para afastar seguidores de ocasião que tentaram partidarizar a sua luta. Além de tudo isso, ele deixou ensinamentos edificantes para as vítimas da AIDS, o grande mal desse final de século, mostrando que cada dia é mais um dia de renovação da vida, e que o enfraquecimento do corpo não deve consumir a alma, se ela for inspirada pela luta em torno das grandes causas humanitárias.

Ninguém neste País conscientizou tanto para a dor da fome. E muito poucos conseguiram ser tão fiéis ao discurso social. Ele materializou as suas teses sem ter um único cargo político, sem ter tribuna, sem ter fortuna, crescendo perante a Nação como andarilho da palavra, da ação e do convencimento, sem colher benefícios pessoais, senão no reconhecimento histórico, que é a missão que a nós, que estamos ficando, cabe perpetuar. Vítima da intolerância política, Betinho não permitiu que sua luta fosse alimentada pelo ressentimento. Pelo contrário, o amor que distribuiu entre os semelhantes não sofreu as recaídas do ressentimento, e também não deixou que outros fizessem isso por ele.

Para mim, Betinho está deixando lições cristãs e de vida tão fortes que nem a capacidade de esquecimento dos homens vai apagar da nossa memória. Como farol que iluminou muitas esperanças, e como homem que superou seus próprios limites físicos na promoção do bem, ele é a versão moderna do Quixote que foi muito além dos sonhos, pelo que fez de real e por sua enorme capacidade para reinventar o possível. Eu gostaria de estar vivendo num país em que muitos outros Betinhos ajudassem a fazer uma sociedade mais justa, mais sensível, mais solidária e menos egoísta. Penso que cada um de nós é hoje um eleitor incondicional dessa alma singular e superior que haverá de inspirar as nossas solidariedades cristãs daqui para o futuro, para sermos mais dignos de nós mesmos.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/08/1997 - Página 16026