Pronunciamento de Guilherme Palmeira em 13/08/1997
Discurso no Senado Federal
HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SOCIOLOGO HERBERT DE SOUZA.
- Autor
- Guilherme Palmeira (PFL - Partido da Frente Liberal/AL)
- Nome completo: Guilherme Gracindo Soares Palmeira
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SOCIOLOGO HERBERT DE SOUZA.
- Publicação
- Publicação no DSF de 14/08/1997 - Página 16265
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- HOMENAGEM POSTUMA, HERBERT DE SOUZA, SOCIOLOGO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
O SR. GUILHERME PALMEIRA (PFL-AL. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não posso deixar de registrar meus profundos sentimentos de solidariedade e tristeza em face do falecimento do sociólogo Herbert de Souza, cuja trajetória de vida o terminou identificando não só com as mais admiradas qualidades de homem público, intelectual e pessoa de extraordinária sensibilidade, mas sobretudo como símbolo da cidadania em nosso país. Ele merece a reverência de todos nós, mas é credor, antes de mais nada, da admiração, do respeito e do tributo de todos os brasileiros nos quais fez despertar, pelo exemplo, pela ação e pôr uma incansável pregação, a consciência da solidariedade, da fraternidade, da cidadania e dos deveres cívicos sem os quais não existe coesão social.
Este ano de 1997 tem sido trágico para o país, pela perda sucessiva de três grandes personalidades que marcaram a vida brasileira contemporânea, a que agora vem se juntar a de Betinho síntese, exemplo e paradigma das qualidade dos que se foram antes dele, como Darcy Ribeiro, Paulo Freire e Antônio Calado. Ele era, na expressão apaixonada de seu devotamento ao Brasil, tão admirador de seu país como Darcy Ribeiro. Na contribuição que deu à permanência e à importância dos problemas sociais brasileiros, tão lúcido e empolgado quanto Paulo Freire. E no descortino de nossos desafios, tão visionário quanto Antônio Calado. Os quatro, Senhor Presidente, curtiram as agruras do exílio, o padecimento da discriminação e a incompreensão da intolerância. Mas em todos eles, e em ninguém mais do que em Betinho, a adversidade aguçou a consciência, despertou os sentimentos éticos e o agigantou como uma das melhores expressões brasileiras deste século.
Vítima como seus irmãos de nossa incúria, de nosso descaso para com a vida humana, nos precários procedimentos relativos à saúde, não foi um mártir da liberdade, mas um servidor atento, permanente e devotado de seu papel de líder, capaz de galvanizar a consciência do país, numa de suas mais perenes obras, a Campanha pela Cidadania contra a Violência e a Fome. Ninguém como ele soube mobilizar a consciência nacional para as responsabilidades coletivas. Foi sonhador, sem dúvida, mas foi um realizador extraordinário. Foi um pensador, mas foi um santo agitador, no melhor sentido que se pode atribuir a essa palavra. Foi um intelectual e um homem de ação. Foi, em suma, capaz de dar a seu país, aos deserdados, aos pobres e marginalizados, por sua entrega à Nação, muito mais do que todos nós seríamos capazes de lhe devolver em alegria e no reconhecimento do dever que cumpriu como poucos.
Não é o Brasil só que está de luto, Senhor Presidente. É a consciência da Nação que se sente entristecida, por não ter sido capaz de dar a Betinho a única recompensa a que ele em vida aspirou: ver erradicada a fome da terra farta e opulenta que ele cultivou como ninguém, e a que serviu com o mais admirável espírito público de que qualquer outro brasileiro seria capaz. À sua memória, portanto, o nosso respeito e nossa enternecida gratidão.
Era o que tinha a dizer.
Muito obrigado.