Pronunciamento de Nabor Júnior em 18/08/1997
Discurso no Senado Federal
AGRESSÃO E INFAMIA CONTRA O ESTADO DO ACRE, CONSTANTE NO VERBETE 'MORRER' DO DICIONARIO 'AURELIO', NA SEGUNDA EDIÇÃO DE 1986, QUE, DENTRE OUTRAS CONCEITUAÇÕES, TAMBEM SERIA A DE 'IR PARA O ACRE'. INFORMANDO QUE INTERPELARA JUDICIALMENTE A EDITORA NOVA FRONTEIRA, PARA QUE DE EXPLICAÇÕES SOBRE AS ORIGENS E CONDIÇÕES EM QUE FOI COLHIDO ESTE CONCEITO, JA QUE NÃO CONSTA DA SUA PRIMEIRA EDIÇÃO.
- Autor
- Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
- Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA CULTURAL.:
- AGRESSÃO E INFAMIA CONTRA O ESTADO DO ACRE, CONSTANTE NO VERBETE 'MORRER' DO DICIONARIO 'AURELIO', NA SEGUNDA EDIÇÃO DE 1986, QUE, DENTRE OUTRAS CONCEITUAÇÕES, TAMBEM SERIA A DE 'IR PARA O ACRE'. INFORMANDO QUE INTERPELARA JUDICIALMENTE A EDITORA NOVA FRONTEIRA, PARA QUE DE EXPLICAÇÕES SOBRE AS ORIGENS E CONDIÇÕES EM QUE FOI COLHIDO ESTE CONCEITO, JA QUE NÃO CONSTA DA SUA PRIMEIRA EDIÇÃO.
- Publicação
- Publicação no DSF de 19/08/1997 - Página 16643
- Assunto
- Outros > POLITICA CULTURAL.
- Indexação
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- INFORMAÇÃO, PRETENSÃO, ORADOR, ABERTURA, PROCESSO JUDICIAL, EDITORA, OBJETIVO, OBTENÇÃO, ESCLARECIMENTOS, ORIGEM, INCLUSÃO, CONCEITO, REFERENCIA, ESTADO DO ACRE (AC), PUBLICAÇÃO, LINGUA PORTUGUESA.
- QUESTIONAMENTO, LEGITIMIDADE, INCLUSÃO, CONCEITO, PUBLICAÇÃO, AGRESSÃO, SOCIEDADE, ESTADO DO ACRE (AC).
O SR. NABOR JÚNIOR - (PMDB-AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, assomo hoje a esta tribuna para um breve registro - breve, porém fundamental - na luta pela dignidade e pelo respeito devido ao povo do Estado do Acre, que tenho a honra de representar no Congresso Nacional.
Distante, isolado, ignorado em suas necessidades elementares, o Acre, com freqüência, ainda se vê agredido, inexplicavelmente, por golpes e conceitos injuriosos. É, para desgraça nossa, aquela tendência humana de não dar importância ou valor aos problemas dos mais fracos; é o falso direito, que se arrogam como donos da verdade, de tentar dirigir as vidas alheias; é o entrechoque perverso de interesses conflitantes, como o dos grandes grupos exógenos e o dos que falam de realidades religiosas e ambientais que nem sequer conhecem.
Tenho em meu gabinete o Dicionário Aurélio, Novo Dicionário da Língua Portuguesa, que - como acontece com a maioria dos brasileiros letrados - é a minha fonte de consultas e esclarecimentos sobre o vernáculo. O exemplar faz parte da primeira edição e, portanto, representa as definições e os conceitos colhidos pelo mestre Aurélio Buarque de Holanda Ferreira em sua longa e profícua trajetória de intérprete de sentimentos por ele traduzidos em vocábulos e fonemas.
Mais de uma vez, entre as centenas de idas às suas páginas, passei pelo verbete "morrer". Encontrei, como equivalentes, expressões e imagens que vão desde "entregar a alma ao Criador" até "bater a caçoleta"; nada, porém, que não estivesse dentro do imaginário popular e de suas tradições orais.
Fui alertado, entretanto, sobre a introdução de uma nova conceituação de "morrer", na segunda edição do Aurélio, edição datada de 1986: "morrer", agora, seria sinônimo também de "ir para o Acre"; procurei a última versão do dicionário já publicada em disquetes para o computador. E lá está, mais uma vez, a infame definição: "morrer" é "ir para o Acre".
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Acre não pode ficar exposto à chacota gratuita e maldosa!
Não bastam os maus exemplos de alguns de seus filhos?
A sociedade acreana jamais suportaria uma nova agressão desse nível, inclusive porque tem a avalizá-la o prestígio do nome de Mestre Aurélio.
O que terá mudado, entre a primeira e a segunda edição do festejado dicionário, para que o Acre passasse a ser considerado o cemitério alegórico dos brasileiros? Onde os renovadores do legado de Aurélio Buarque de Holanda foram descobrir, inventar ou falsear essa definição, de tão mau gosto e de legitimidade duvidosa?
Estou acionando nesta data o Advogado Dr. Gastão de Bem para interpelar judicialmente a Editora Nova Fronteira, cobrando-lhe uma explicação sobre as origens e condições em que foi colhido esse conceito, porque, para ser reconhecido e citado num dicionário do porte do Aurélio, um verbete deve passar antes pela avaliação criteriosa de importância e veracidade; deixar de fazê-lo em um caso é a abertura para outras leviandades, escancarando as páginas para delírios e retaliações desprovidas de dignidade ou base científica.
O problema que hoje trago ao Senado da República pode parecer menor ou sem importância para os Representantes dos demais Estados, mas para nós, acreanos, trata-se de uma questão de dignidade e de preservação da imagem que buscamos construir e preservar, mesmo arrostando o agravamento das vicissitudes geradas na pobreza e no abandono a que nos relegam.
Muito obrigado.