Discurso no Senado Federal

REALIZAÇÃO PELA COMISSÃO ESPECIAL DA AMAZONIA DO SENADO FEDERAL, NO INICIO DESTA SEMANA, NA CIDADE DE BELEM - PA, DO SEMINARIO 'DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL DA AMAZONIA', EM TORNO DE UM AMPLO E AMBICIOSO TEMARIO VOLTADO PARA A ANALISE DO QUADRO DE CARENCIAS QUE ENVOLVE A REGIÃO E SUAS PERSPECTIVAS DE PROGRESSO E DE QUEBRA DAS BARREIRAS FISICAS E POLITICAS QUE A ISOLAM DO CONTEXTO NACIONAL.

Autor
Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • REALIZAÇÃO PELA COMISSÃO ESPECIAL DA AMAZONIA DO SENADO FEDERAL, NO INICIO DESTA SEMANA, NA CIDADE DE BELEM - PA, DO SEMINARIO 'DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL DA AMAZONIA', EM TORNO DE UM AMPLO E AMBICIOSO TEMARIO VOLTADO PARA A ANALISE DO QUADRO DE CARENCIAS QUE ENVOLVE A REGIÃO E SUAS PERSPECTIVAS DE PROGRESSO E DE QUEBRA DAS BARREIRAS FISICAS E POLITICAS QUE A ISOLAM DO CONTEXTO NACIONAL.
Publicação
Publicação no DSF de 30/08/1997 - Página 17638
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, PROMOÇÃO, COMISSÃO ESPECIAL, SENADO, SEMINARIO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, REGIÃO AMAZONICA, REALIZAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO PARA (PA), PARTICIPAÇÃO, ORADOR, DISCUSSÃO, EXPORTAÇÃO, FINANCIAMENTO, FUNDO DE INVESTIMENTOS DA AMAZONIA (FINAM), BANCO DO BRASIL, NECESSIDADE, REFORMULAÇÃO, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DA AMAZONIA (SUDAM), CONCESSÃO, INCENTIVO FISCAL, PRIVATIZAÇÃO, GARANTIA, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, APOIO, INDUSTRIA, TURISMO, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO FLORESTAL, REFORMA AGRARIA, CONFLITO, LUTA, POSSE, TERRAS, FORNECIMENTO, ENERGIA, REGIÃO.

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB-AC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Cidade de Belém do Pará recebeu, no início desta semana, a Comissão Especial da Amazônia do Senado Federal, que lá realizou o seminário "Desenvolvimento Econômico e Social da Amazônia", em torno de um amplo e ambicioso temário voltado para a análise do quadro de carências que envolve a região e suas perspectivas de progresso e de quebra das barreiras físicas e políticas que a isolam do contexto nacional.

Na abertura do encontro, vi-me na contingência de abordar o permanente abandono a que os amazônidas sempre se viram relegados, afirmando: "O Seminário traz a marca daquela obstinação que pontua todos os momentos históricos da Amazônia, desde quando a presença luso-brasileira se fez concreta através dos primeiros navegadores até a bravura dos bandeirantes e dos nordestinos que mergulharam em suas florestas".

Essa obstinação, aliás, é a razão maior da presença brasileira no coração da América do Sul. Permitam-me V. Exªs citar mais um trecho do pronunciamento que então dirigi aos demais participantes do encontro, palavras emocionadas e firmes que definiam o clima da solenidade inaugural do evento: "Não foi fácil chegarmos ao momento em que deflagramos o processo de debate das propostas concretas para o desenvolvimento social e o progresso econômico da Amazônia, porque, mais uma vez, ficou evidente o plano secundário a que a mesma se vê relegada por muitos dos responsáveis pelos destinos da Pátria, cujas prioridades de agenda superam os anseios e as necessidades de metade do território nacional".

Disse isso sem revolta e sem mágoas, pois a situação então vivida não era fato novo; ao contrário, trata-se da realidade com que os defensores da Amazônia sempre se defrontam e se defrontaram: o Brasil não consegue dar àquela portentosa parcela do seu território a mesma importância a ele conferida por interesses de nações e entidades alienígenas.

Nem isso, entretanto, conseguiu quebrar o interesse da Comissão e dos demais participantes do Seminário que, nos quatro temas constantes da pauta, desdobraram-se em sugestões, propostas objetivas e análises conclusivas sobre a região. Quero destacar, neste campo, a acolhida e o suporte logístico oferecidos pela Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia, cujo Titular, Dr. José Artur Guedes Tourinho, foi muito além da simples participação nos debates e da mera cessão do auditório onde os mesmos se realizaram.

Outro registro de gratidão se refere ao Presidente desta Casa, Senador Antonio Carlos Magalhães, por seu empenho e seu apoio político-administrativo em todas as fases de preparação do Seminário. Mesmo impossibilitado de comparecer pessoalmente, S. Exª se fez presente na solenidade inaugural, através de mensagem que gravou e que foi exibida para o Plenário, enaltecendo a iniciativa e afirmando que o Seminário se destinava a representar um grande passo no sentido do desenvolvimento da Amazônia, para o qual o Governo da União deve estar alerta. Cobrou, também, uma participação mais ativa dos outros Estados, em termos de apoio ao processo de desenvolvimento sustentado, exigido pelos amazônidas e por todos os brasileiros.

O primeiro tema abordado, na própria manhã de segunda-feira, foi "Emprego e Renda, Industrialização, Financiamentos e Incentivos Fiscais", tendo como expositor o Secretário-Executivo e representante do Ministério da Fazenda, Dr. Pedro Parente. S. Sª apresentou uma radiografia detalhada da realidade amazônica em nossos dias, dentro do contexto nacional, a partir dos resultados alcançados na luta contra a inflação. No que tange especificamente à região, mostrou a significativa redução de suas exportações e de seu peso no PIB nos últimos 7 anos, a despeito de lá estar um dos maiores geradores de riquezas, o Estado do Pará.

Em sua exposição, o Dr. Pedro Parente destacou o que, para ele, é um número expressivo: 507 projetos aprovados pelo Finam, cujos reflexos, em termos de mão-de-obra, são notórios - e citou, ainda, outros mecanismos de incentivo ao desenvolvimento regional, como o FNO, Procera e Proger Rural, além das linhas especiais de financiamento e apoio, mantidas pelo Banco do Brasil.

A seriedade das palavras do Dr. Pedro Parente e sua base sólida, como formulador de políticas econômicas, despertaram o maior interesse dos participantes, que levantaram questões paralelas adicionais e levaram ao expositor muitas vivências específicas do povo da Amazônia.

Foi relevante, também, a participação dos debatedores, Srs. Flexa Ribeiro, Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará, Mauro Machado Costa, Superintendente da Suframa, e José Artur Guedes Tourinho, Superintendente da Sudam, que abordaram os temas, dentro das posições cabíveis a cada uma de suas entidades ou repartições. Uma das teses mais calorosamente discutidas foi a de que a estabilidade por si só não produz desenvolvimento, ao contrário, existe a necessidade de revisão das políticas regionais que envolvam privatizações, incentivos fiscais e financiamentos oficiais, além de um aprofundamento das discussões sobre o novo papel destinado à Sudam dentro da realidade emergente.

A indústria do turismo, inclusive, mereceu um amplo espaço nos debates, como parceira das atividades tradicionais, agricultura e produção de bens e de serviços.

À tarde, o Secretário-Executivo da Conamaz e representante do Ministro do Meio Ambiente, Dr. José Seixas Lourenço, abordou o segundo tema, "Desenvolvimento, Meio Ambiente e Exploração Florestal", apresentando um histórico dos trabalhos desenvolvidos pelo Governo nos últimos anos, inclusive a partir da Carta dos Governadores da Amazônia, entregue ao Presidente da República em 1995. Deu ênfase aos trabalhos do Fórum Permanente dos Secretários de Planejamento e Meio Ambiente e à necessidade de sua integração aos vários fatores sociais da região, além de abordar avanços institucionais como a reorientação do crescimento econômico (expresso na renovação tecnológica), modernização das atividades tradicionais e desenvolvimento de novos ramos de atividades.

Para o Dr. Seixas Lourenço, também merece destaque a luta para associar - interna e externamente - os povos amazônicos, como parte essencial da caminhada rumo à valorização humana e social dos habitantes da região.

Foi particularmente notada a serena objetividade com que o Seminário tratou o terceiro tema, a explosiva questão "Política Social e Reforma Agrária", desenvolvida pelo representante do Ministro Raul Jugmann, Sr. Marcos Lins, e pela Srª Alba Maria Abigail, representante da Secretaria de Assistência Social do Governo Federal. Eles discorreram sobre a política ora adotada para redefinir a posse de terras, que tem como pilares a ampliação do território de reforma agrária, o reconhecimento da prioridade das demandas sociais e a descentralização de processos e decisões. Sobre os programas assistenciais, afirmou-se que a luta se trava em duas frentes: contra os obstáculos impostos pelos arcaísmos e em prol da modernidade, que deve ser um dos grandes alvos das gerações modernas. A Srª Alba Abigail também conceituou a descentralização de ações como uma necessidade imperiosa, inclusive com o uso das máquinas municipais, para que a população infantil e os outros grupos vulneráveis recebam o tratamento prioritário de que tanto carecem.

E confessou aquilo que todos sabemos: muitos dos recursos disponíveis se perdem ou não chegam às populações carentes em tempo hábil, por falta de uma estratégia política compatível com os programas orçamentários e financeiros do Poder Público.

Quero fazer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, um registro particular, sobre a forma construtiva e competente com que se portaram os representantes das entidades convidadas a dividir os debates com os agentes oficiais. Essa postura positiva teve papel preponderante no segundo e último dia do Seminário, terça-feira, quando se abordou o tema "Estrutura Econômica - Transporte, Comunicação e Energia". O Presidente do IPEA e representante do Ministro do Planejamento, Dr. Fernando Resende, levou as posições do Governo, que admite a queda do crescimento da Amazônia a partir de 1990, até mesmo como conseqüência da inadequação dos instrumentos de incentivo regional.

O trinômio elementar a ser obedecido, na opinião do Ministério do Planejamento, teria como componentes uma base de infra-estrutura, recursos humanos e novas tecnologias, principalmente ao constatar-se que as economias agropecuária e mineralúrgica compõem mais de metade das riquezas produzidas no País, como destaque para o papel nelas desempenhado pela Amazônia.

Os debatedores desse tema, Brigadeiro Otomar Pinto, Prefeito de Boa Vista, Deputado Estadual José Geraldo, do Pará, e o Dr. José Guedes Tourinho, Superintendente da Sudam, destacaram a importância de inserirmos a Amazônia na nova dimensão de trabalho de globalização econômico-social do Brasil e cada uma de suas regiões. Essa inserção, segundo apontaram os participantes, começa com o engajamento mais ativo do Brasil nos mercados do Atlântico e do Pacífico, inclusive com a implantação de uma rota para o litoral oeste da América do Sul, além da necessidade urgente de recuperação de estradas e hidrovias. Tudo isso, entretanto - segundo os debatedores -, começa com a retomada dos investimentos programados para a infra-estrutura da região, inclusive com a garantia de fornecimento de energia elétrica para seus empresários e moradores.

O Seminário foi encerrado, na noite de terça-feira, pelo Governador do Pará, nosso anfitrião e ex-colega Almir Gabriel - que deu à Comissão um grande incentivo, ao destacar a importância de eventos como o seu deslocamento para os núcleos da Amazônia, para seus pontos sensíveis e decisivos em termos sociais, econômicos e estratégicos.

Uma ponderação feita pelo Governador paraense causou-me forte impressão e nela tenho meditado, desde o momento em que ouvi seu discurso: o temário proposto para o encontro foi genérico, pela própria carência de tempo; não houve como particularizar alguns pontos, da maior importância, porque isso implicaria, inevitavelmente, a completa omissão de outros igualmente basilares para a Comissão.

De fato, a Amazônia exige propostas claras, objetivas, específicas para suas peculiaridades. Este é o grande desafio que nos impõe a realidade regional: estamos falando, é bom que não se esqueça, de metade de todo o território brasileiro. Seus problemas são, como não poderia deixar de ser, proporcionalmente gigantescos e envoltos em tremendos dilemas, que envolvem o mais profundo da alma nacional.

Mas o primeiro passo - e hoje isto se nos afigura muito claro - já foi dado, com essa presença do Senado Federal em Belém do Pará, um gesto de afirmação política, de interesse concreto pelos destinos da grande Região Norte e das porções vizinhas do Nordeste e do Centro-Oeste.

Essa afirmação política nos exigirá responder, de maneira concreta e decisiva, ao desafio deixado pelo Secretário-Executivo do Ministério da Fazenda, Dr. Pedro Parente. Em entrevista ao jornal O Liberal, glória da imprensa paraense, ele condenou a desunião da Bancada Amazônica - e atribuiu a essa divisão grande parte dos problemas que afligem nossos Estados. Diz a reportagem: "Parente cobra união da Bancada; Secretário do Ministério da Fazenda ouve queixas de políticos da região e responde cobrando maior unidade, na atuação da Bancada Amazônica".

É, repito, um desafio cuja importância se destaca dentro dos muitos desafios colocados para a Comissão Especial do Senado, em sua reunião realizada esta semana, em Belém do Pará.

Concluo, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, cobrando a todos os representantes da Amazônia, neste plenário, na Câmara dos Deputados e nos mais variados setores da vida nacional, uma postura de unidade e força construtiva, para que nosso povo possa deixar a pobreza e a desesperança em que vive, vítima da falência das antigas estruturas extrativistas e à margem do futuro risonho anunciado pelos arautos da nova ordem globalizada e modernizadora das estruturas nacionais.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/08/1997 - Página 17638