Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM A REDE AMAZONICA DE RADIO E TELEVISÃO PELO SEU JUBILEU DE PRATA.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM A REDE AMAZONICA DE RADIO E TELEVISÃO PELO SEU JUBILEU DE PRATA.
Publicação
Publicação no DSF de 05/09/1997 - Página 18126
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, REDE DE TELECOMUNICAÇÕES, EMISSORA, RADIO, TELEVISÃO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, INTEGRAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL/AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - "Deus nos abençoe sempre, em tudo e por tudo", lema do ano de 1997; autora: Nazira Daou.

Senador Geraldo Melo, 1º Vice-Presidente do Senado e Presidente desta sessão na ausência do Senador Antonio Carlos Magalhães, que se encontra na Bahia; eminente companheiro de representação, Senador Gilberto Miranda, que toma assento à mesa; Dr. Milton de Magalhães Cordeiro, Diretor-Superintendente da TV Amazonas; Dr. Aluisio José Daou, Diretor-Administrativo; Dr. Nivelle Daou Júnior, Diretor-Técnico; e Dr. Joaquim Margarido, Diretor; eminente Presidente da Rede Amazônica de Televisão, Dr. Phelippe Daou, aliás, devo corrigir a saudação: meu querido e velho amigo da vida inteira, Phelippe -, vinte e cinco anos de existência; um quarto de século.

A Rede Amazônica, em meio à febre de suas inaugurações, convidou o Ministro Euclides Quandt de Oliveira, então titular da Pasta das Comunicações, para assistir à inauguração das unidades de Tabatinga e Tefé. Quem conhece o interior do Amazonas - como o nosso amigo Dr. Deolindo Teixeira, que por ali tanto andou e foi um dos esteios da nossa Rede Amazônica - sabe que o caboclo amazonense é fechado, distanciado e que sequer chega a distribuir palmas nesse tipo de solenidade.

E presentes Ministro e autoridades, uma pessoa roubou a cena. Uma velhinha, em lágrimas, acorreu até o Ministro Quandt e lhe disse a seguinte frase: "Ministro, agora somos gente!". Parece que uma frase tão simples, carregada de emoção, não fosse possível, senão esta, traduzir, como a síntese perfeita, o sentido do que seja inaugurar algo tão longe, como nos Municípios do interior.

A frase "agora, somos gente!" significava o grande lema da Rede Amazônica, a integração que ela faz sempre com graves prejuízos financeiros.

E fico a imaginar, nessas anotações esparsas, talvez devesse fazer um discurso denso, apropriado, lido, que marcaria este instante para que amanhã, quando alguém fosse lê-lo, pudesse imaginar quais teriam sido as minhas palavras. Mas são folhas soltas, anotações que prefiro fazer na ardência deste sentimento que me une a Phelippe Daou.

Fico imaginando aquela velhinha que acorreu até ele para dizer "Ministro, agora somos gente". Isso já vai tão longe, bem longe, como aquela agência de publicidade, criada em 1968, que tomou o nome de Amazonas Publicidade. Dois jovens da imprensa, Phelippe Daou e Milton Cordeiro, se uniam ao amigo, empresário paulista, Joaquim Margarido, para fundar aquela agência. Tinham eles a idéia de que o Decreto-Lei nº 288, que reformulava a Zona Franca de Manaus, haveria de trazer para esse tipo de serviço um novo horizonte.

E estavam certos, porque de logo a agência foi implantada e, com a modalidade que vinha de um passado conhecido, não foi difícil tomar conta do comércio. Naquela altura, o que se convencionou idealizar é que, no início de 1968, portanto um ano depois da criação da Zona Franca de Manaus, alguma coisa nova haveria de surgir. E Phelippe Daou traz a notícia aos seus dois companheiros, ao Joaquim e ao Milton, para lhes dizer que o Ministério das Comunicações havia publicado um edital de concorrência para que se criasse um canal de televisão de sons e imagens.

Ora, para quem sabia da existência de dois canais - um, à época, a TV Ajuricaba, e, logo depois, a outra, que era a TV Baré, dos Diários Associados, hoje, com o nome de TV A Crítica -, seria, quem sabem, talvez, uma empreitada difícil de chegar a sua concretização. Nessa altura, os três se juntam a Robert Phelippe Daou, primo de Phelippe, e criam a chamada Rádio TV Amazonas Ltda, em julho de 1969. Dois meses de luta, de cansaço, o resultado foi positivo, e, no dia 1º de setembro de 1972 - por isso, Sr. Presidente, estamos comemorando 25 anos de Rede Amazônica, um quarto de século -, depois de ingentes esforços, os três sobretudo, quais mosqueteiros redivivos, lançam-se à empreitada de fazer - quem conhece Manaus -, no Bairro da Cachoeirinha, uma programação que ia 12 horas nas esquinas de Tefé com Carvalho Leal, desdobrando-se em filmes importados, mas sempre com a idéia fixa de que eles sabiam onde iriam chegar e escolheram o caminho certo, o jeito próprio de caminhar.

Nessa altura, faz-se a cerimônia de inauguração. Presentes as mais altas autoridades, após as bênçãos eclesiásticas, o Prefeito de então, saudoso amigo Paulo Pinto Nery, é chamado para desatar a fita que inaugurava aquela emissora e uma senhora é convocada para ajudá-lo. Ela caminha altaneira, típico da dama que nasce dama, que sabe qual a sua postura, e descerra a fita - seu nome: Nazira Daou, madrinha da Rede Amazônica de Televisão. (Palmas)

Esse gesto simbolizou o início emblemático da TV Amazonas.

Quando Presidente da República, o eminente Senador José Sarney largou todos os compromissos para vir trazer o seu abraço a Phelippe Daou e Milton Cordeiro e fez chegar, pelas mãos do então Ministro das Comunicações, hoje Presidente do Senado e do Congresso, Senador Antonio Carlos Magalhães, o que ia ser a caminhada para a integração da nossa região.

Àquela altura, Sr. Presidente, a ousadia daqueles três jovens se tornou maior. Tomaram como lema a ocupação da Amazônia pelas comunicações. E ali está um parente, hoje Deputado Federal, que o seu pai acompanhou, o nosso querido Assmar. É que em pouco tempo, de setembro de 1974 a janeiro de 1995, eles implantaram - isto é incrível! - a TV Rondônia, em Porto Velho; a TV Acre, em Rio Branco; a TV Roraima, em Boa Vista, e, depois, a TV Amapá, em Macapá.

E aqui, Sr. Presidente, faço um parêntese. Quando, em 1995, eu estava assistindo à inauguração do prédio do complexo da Rádio e TV Amazonas, o Dr. Phelippe Daou, meu querido irmão, faz um discurso desses que podem ser considerados prestação de contas, e, a certa altura, ao dar ao prédio o nome Nazira Daou, faz uma revelação. Os que ali estavam, inclusive um senhor já de idade madura, com sua esposa, com os olhos fixos em Phelippe Daou, ambos se entreolhando - refiro-me ao Ministro Euclides Quandt de Oliveira -, puderam acompanhar o momento da revelação, quando Phelippe diz - são palavras suas:

      Já havíamos vencido a concorrência e nos preparávamos para montar a TV Rondônia, quando ganhamos a concorrência da TV Acre.

      Chamados a assinar o contrato para a exploração da TV Acre, comparecemos ao gabinete do Ministro - daquele Ministro que estava presente. Firmamos os documentos. O funcionário retirou-se e ficamos só nós dois. O Ministro, com o seu olhar firme e fala tranqüila, interpelou-nos: Vocês vão mesmo montar esses canais? Foi um choque. Um pouco embaraçados, respondemos: Vamos, Ministro. Aguarde. Despedimo-nos.

E continua Phelippe Daou:

      Aperto de mãos e lá nós fomos, cabeça a mil conjecturas de toda ordem. O nosso primeiro pensamento: já estariam em ação os que nada fazem e não desejam que outros façam, por isso sempre procuram contaminar seu caminho?

      Prossigo no meu depoimento pessoal, pois essa ocorrência jamais foi revelada aos meus companheiros de diretoria - Milton e Joaquim Margarido. Na viagem de volta a Manaus, fazendo uma profunda reflexão sobre a indiscutível verdade de que "Deus ensina o caminho certo por linhas tortas", cheguei à conclusão de que a interpelação do Ministro era o sinal de que ele gostaria de ver realizado o nosso plano, porém tinha dúvidas se isso realmente aconteceria, pois era tarefa das mais espinhosas implantar televisão, que, na época, era mito sagrado numa região como a nossa, tão distante, tão carente e de tão difícil acesso.

Prossegue Phelippe:

      Além disso, comunidades descrentes por engodos passados tornavam mais dolorosa a nossa jornada.

      Toda essa reflexão redobrou o nosso entusiasmo de fazer e vencer. E nos lançamos à luta. Uma sopa de pedra aqui, uma solidariedade mais forte acolá, foi-nos levando ao destino.

Esta é uma revelação que me permite invocar as palavras do poeta:

      Não se tem nunca uma aurora sem que se tenha passado antes por uma noite.

Quando foram marcadas as datas para inauguração da Tv Rondônia e da Tv Acre, o mesmo Ministro Euclides Quandt de Oliveira não pôde comparecer à primeira, mas compareceu à segunda solenidade. Era Governador do Estado o nosso hoje companheiro Nabor Júnior, que também sentiu de perto esse instante de que lhes falo.

Era a primeira vez que um Ministro punha os pés numa região tão distante; ninguém ali tinha visto chegar alguém que fosse titular de uma Pasta. E como ele chegara cedo, conheceu todas as instalações, após o que o Ministro Quandt se deu conta de que, até que enfim, ele se encontrava naquela realidade.

No discurso de praxe, naquela troca de olhares, nessa espécie de convivência de uma co-autoria, o Ministro olha para Phelippe e Phelippe olha para ele como que a lembrar aquela célebre frase: Vocês vão mesmo construir esses canais? Era, por certo, a lembrança que deveria estar acorrendo à mente do Ministro Euclides Quandt de Oliveira. Terminados os discursos, ao falar o Ministro Euclides Quandt de Oliveira, ele faz uma pausa, troca de novo o olhar com Phelippe e, como quem quer dar um choque de profunda emoção, pronuncia estas palavras:

      Quero anunciar, agora, que esta empresa acaba de vencer as concorrências de Boa Vista e Macapá.

Era o instante do reconhecimento, era a forma de premiar a empresa que tinha se portado com compostura, com ética, com dignidade, com decência, e que nunca se havia transformado em balcão de favores escusos. Causou ele impacto nos diretores com o reconhecimento. E mais: aquilo que era um prêmio aos três sócios - ao Margarido, ao Milton e ao Philippe -, era apenas uma demonstração de reconhecimento pelo que já tinham feito anteriormente: desativar a Amazonas Publicidade Ltda. E como a desativaram? E por que o fizeram? Sr. Presidente, fizeram-no porque não seria ético que, tendo, como tiveram, começado a se estruturar a partir de 1972, colocassem, como é hábito neste País, um testa-de-ferro para dar seqüência à publicidade oblíqua.

Aquelas palavras do Ministro Quandt, que ecoaram nas mentes dos presentes, sobretudo dos diretores, levaram à seguinte reflexão: Sempre foi assim? Sempre houve, por parte daqueles que fizeram o começo com a Amazonas Publicidade Ltda, uma rede gigantesca como essa? Não, nem sempre foi assim. Hoje, a Rede Amazônica dispõe, para as suas atividades, dos seguintes equipamentos - perdoem-me Srªs Senadoras e Srs. Senadores se os canso ao ler a relação, mas há de ficar registrada nos Anais do Senado:

-22 Câmeras Betacam UVW-100/DXC-637

-23 Câmeras Betacam DXC-300

-14 Ilhas U-Matic

-11 Ilhas Betacam

-31 Vts U-Matic BVU-150

-25 Vts U-Matic (exibição)

-10 Vts Betacam (exibição)

-02 Transmissores Harris Platinum (15Kw e 5Kw)

-01 Transmissor AM Bandeirantes (1Kw)

-05 Transmissores FM - Harris e Lys (10Kw, 2.5Kw, 1.0Kw)

-23 Transmissores Linear (2Kw, 500w, 250w e 100w)

-56 Transmissores Lys (2kw, 100w e 35w)

-01 Unidade Móvel de Produção (5 câmeras - Betacam)

-01 Fly-Away (a primeira no Brasil)

-26 Grupos Geradores

-152 Microcomputadores, além de um extraordinário acervo de peças no almoxarifado, para qualquer emergência, devidamente catalogado no computador.

Incrível, Sr. Presidente, mas, no começo da Zona Franca, havia um aparelho pequeno, Sony, chamado videocassete, com o qual se reproduziam sons e imagens e que era utilizado pelo pessoal da Rede Amazônica - em determinada hora, eram até submetidos ao ridículo. Parece que aquele início, tão distante, transformou o pessoal em uma equipe, que tem a proclamar que todos os prédios que abrigam as geradoras, as retransmissoras, as mini-geradoras e as emissoras de rádio são de propriedade da Rede.

Daqueles três mosqueteiros que começaram com aquela Amazonas Publicidade, todas as instalações são modernas, confortáveis, e a frota de veículos que atende aos serviços da rede é relativamente nova.

Isso poderia ser tudo, Sr. Presidente. E o lado social? Está aqui registrado: a Rede dispõe de 770 empregados nas várias categorias profissionais - jornalistas, radialistas, engenheiros técnicos, pessoal burocrata, motoristas, técnicos em marketing e contatos para venda dos espaços da programação. Além do que, todos os setores da Rede Amazônica estão informatizados, tanto na sede, em Manaus, quanto em Porto Velho, Rio Branco, Macapá e Boa Vista, com livre acesso à Internet.

Em 1983, com a utilização do Brasilsat 24 horas por dia, havia um transponder que passou a ser chamado Amazonsat. E, mais uma vez, aqueles três jovens, já amadurecidos em mais 15 anos, propuseram-se a abordar temas científicos, culturais e esportivos. Quem conhece a nossa terra sabe que todos os eventos - dos mais conhecidos, como o festival de boi-bumbá, em Parintins, até as demais festas do interior do Amazonas - têm, na Rede Amazônica de Televisão, sem dúvida nenhuma - não há como deixar de se reconhecer isso - o seu grande veículo.

Não ficou nisso. Em 1990, foi aqui aberta uma sucursal - e eu me lembro de uma senhora grega, de nome Fofó e das instalações que haviam adquirido. Começaram a dar os primeiros passos, estes que integravam a então sucursal, para se credenciarem, dias depois, por este diretor, Dr. Raimundo Moreira, para trabalhar no Congresso Nacional, no Palácio do Planalto, nos Ministérios. Começaram a impor ao respeito da Nação o que é uma Televisão.

Sr. Presidente, eu gostaria de ter trazido à Casa - eu o disse ainda há pouco e me penitencio por isso - esta saudação por escrito. Trouxe notas esparsas no lugar de um discurso denso, talvez, quem sabe, previamente bem-elaborado. Confesso que o fiz de propósito. Basta que verifiquem a Ordem do Dia, os oradores que irão me suceder para anteciparmos o brilho com que cada um se desincumbirá. Ficaria eu, portanto, na condição dificílima de ter que confrontar um pálido discurso com aqueles que, por certo, viriam para cá.

Não sei, Sr. Presidente, se a tarefa é penosa: falar antes dos ilustres companheiros. Sei que todos terão mais brilho, nenhum deles mais emoção do que eu; quando muito, igual.

No instante em que concluo, quero dizer que compus esta tosca maloca verbal - eu que sou um caboclo amazonense -, talvez coberta pelas palhas da minha pouca inteligência, mas, por certo, absolutamente absolvido pela indulgência dos que me ouvem.

Com isso, posso ir chegando ao fim, posso me acercar do final, Sr. Presidente, com as palavras que foram utilizadas por Phelippe Daou naquele distante dia da inauguração do prédio que abriga o nome de Nazira Daou e, mais recentemente, no dia 1º.

Primeiro tempo - já que divido a conclusão em duas -, era o final da saudação que fez na inauguração do prédio:

      "Prezados amigos,

      Novamente eu lhes peço permissão para falar em nome pessoal. Muito obrigado a todos os familiares e parentes que vieram de longe para se juntar a nós, num verdadeiro ato de fé, na comemoração deste dia.

      E para os que ainda não a conhecem, quero apresentar a madrinha desta empresa e de todos os nossos empreendimentos.

      D. Nazira Daou é mais do que tudo isso. É minha mãe querida, rainha muito amada de nossa família. Através dela, abraço, com muito respeito e amor, todas as mães da nossa Amazônia. Se quem tem mãe tem um tesouro, posso afirmar que, quem tem uma mãe maravilhosa como Dona Nazira, que abençoa diariamente todos os seus filhos, desejando-lhes saúde, felicidade e proteção de Deus, então tem tudo na vida. O seu bendito nome honra e dignifica este prédio."

Nesse instante, abraçou-se a Dona Nazira, e a conclusão foi emocionante, mas nem tanto. Nem tão emocionante, Sr. Presidente, quando ela, agora, de saudosa memória, vê-se na página deste trabalho: Rede Amazônica.

Logo no começo, abaixo da sua fotografia, onde se lê "Dona Nazira, eterna madrinha da Rede Amazônica", encontra-se o título:

"Dedicatória

      Foste a Árvore-Mãe,

      a inspiração maior

      para os passos seguros

      em busca de um sonho.

      No etéreo ninho,

      nas terras do além,

      são tuas as glórias

      das veredas abertas.

      Se ainda há caminhos,

      peço-te a bênção

      para percorrê-los.

Phelippe Daou"

Encerro com essas palavras, Sr. Presidente. (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/09/1997 - Página 18126