Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM A REDE AMAZONICA DE RADIO E TELEVISÃO PELO SEU JUBILEU DE PRATA.

Autor
Jefferson Peres (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM A REDE AMAZONICA DE RADIO E TELEVISÃO PELO SEU JUBILEU DE PRATA.
Publicação
Publicação no DSF de 05/09/1997 - Página 18130
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, REDE DE TELECOMUNICAÇÕES, EMISSORA, RADIO, TELEVISÃO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, INTEGRAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srªs e Srs. Convidados, Sr. jornalista Phelippe Daou, seja qual for a perspectiva que se adote para falar dos 25 anos da Rede Amazônica de Rádio e Televisão, o traço distintivo que se afigura invariavelmente marcante é o do pioneirismo de seus fundadores e dirigentes.

Pioneirismo que, já em meados dos anos 70, levava a emissora a introduzir no Brasil a última palavra, à época, em tecnologia de videocassete, com a finalidade de levar a programação de suas geradoras a outras de diferentes capitais, além das retransmissoras espalhadas pelos mais longínquos recantos do interior amazônico em um período em que a transmissão via satélite e a canalização terrestre para a distribuição do sinal não passavam de um sonho.

Pioneirismo que, mais recentemente, se traduziu na utilização do "Amazonsat", permitindo à rede exibir uma programação fortemente voltada para os temas científicos, culturais, esportivos e educativos da Amazônia para todo o Brasil e países vizinhos e, em datas especiais, transmitir ao vivo os mais diferentes eventos regionais.

Pioneirismo que, ao menos para nós, representantes dos Estados amazônicos, se revela importante, na forma da cobertura ampla e diária da nossa atuação no Congresso, feita por uma equipe dedicada e eficiente, liderada por este exemplo de retidão profissional, que é o jornalista Raimundo Moreira.

Pioneirismo que, uma vez mais, conquistou para a Rede um cobiçado nicho de audiência mundial, graças à parceria recém-inaugurada com a CNN, mediante a qual reportagens, documentários e outros programas de análise e informação sobre questões amazônicas atingem um público de 150 milhões de telespectadores ao redor do planeta.

Pioneirismo que, numa palavra, impulsionou essa verdadeira saga de um quarto de século, hoje coroada com a integração de uma das mais extensas e isoladas regiões do mundo, através de modernas tecnologias de comunicação radiofônicas e televisivas, a serviço do jornalismo, do entretenimento e da cultura e, por que não dizer, do civismo.

Anos atrás, viajando para mais uma inauguração, constatou o jornalista Phelippe Daou, para seu desconforto cívico, que boa parte da população desconhecia a letra do Hino Nacional brasileiro. Isso acontecia lá em Tabatinga, no extremo oeste do Amazonas, embora muitos soubessem cantar o hino do país vizinho. Desde então, a programação diária da Rede se inicia e encerra com a gravação do Hino Nacional, e a letra aparece legendada na tela.

Sr. Presidente, ao mesmo tempo em que cumpre essa crucial missão de revelar a "Amazônia como ela é" para o seu próprio povo, para o restante do País e agora também para o mundo, a Rede Amazônica, por igual, condensa nossas aspirações acerca daquela "Amazônia que queremos" e haveremos de construir: uma Amazônia plenamente integrada ao espaço da soberania brasileira e reconhecida em suas imensas potencialidades naturais e humanas, na especificidade criadora de sua culturas e no clamor legítimo de sua população por desenvolvimento, emprego, saúde, educação, bem-estar e cidadania.

Sabemos que a jornada rumo a essa meta é ainda longa, tortuosa e cansativa, mas contamos com precioso fator de motivação e de alento: a certeza de que sempre poderemos contar com a Rede Amazônica como importante aliada nesse trajeto, renovando cotidianamente sua presença útil e amiga nas vidas de todos nós.

Permitam-me, porém, não me estender na exaltação dos feitos do grupo empresarial Rede Amazônica de Televisão, amplamente conhecidos, além de enumerados, com mais competência, pelos oradores que me antecederam e que me sucederão na tribuna.

Há um aspecto dessa empresa particularmente caro para mim, que é o seu caráter eminentemente amazonense, não somente pela sede em Manaus, mas porque amazonenses são seus fundadores e dirigentes, mais do que pelo nascimento, pela profunda identificação com a terra que também é minha.

E não vejam nesta confissão um assomo de bairrismo ingênuo e démodé. No Amazonas de hoje, a amazonidade tem importância sócio-cultural. Isso porque, a partir do advento da Zona Franca, fomos arrebatados num processo perverso de desenraizamento e alienação que ameaça nossa própria identidade como povo.

Graças à natureza do modelo de desenvolvimento lá implantado, murcharam lentamente e afinal se extinguiram os velhos pioneiros do comércio e da indústria, oriundos do ciclo da borracha ou surgidos no pós-guerra, quase todos migrantes do Nordeste ou do além-mar, mas que lá se radicaram definitivamente.

Hoje, com raras exceções, temos empresas, não empresários, que esses sequer lá residem, porque conosco compromissos não têm. Por isso, os que me ouvem hão de compreender a minha alegria em saudar esse pugilo de empresários, não apenas pela relevância de suas empresas, mas também pela sua condição de amazonenses autênticos.

Mas existe ainda outra razão, de ordem pessoal, para que eu, mais do que regozijado, me sinta emocionado com esta homenagem à Rede Amazônica de Televisão. É que eu e seus dirigentes maiores, Drs. Phelippe Daou e Milton Cordeiro, de certa forma somos velhos companheiros de jornada, ligados por antiga amizade, que, se nunca se estreitou, igualmente nunca se fraturou. Mas companheiros temos sido, constantes, pela contemporaneidade da nossa geração e pelo espaço comum que dividimos há tantas décadas, palco de nossas vidas e objeto do nosso imperecível afeto: a nossa mui amada cidade de Manaus.

Compartilhar de uma festa com Milton e Phelippe - e mais Bernardo Cabral - é comungar de um inefável momento de saudade, que nos remete à Manaus de antanho da nossa infância e juventude, da qual não vou falar, na dúvida se conseguiria represar o pranto, além de não saber se acharia as palavras para a tradução do sentimento que, tenho certeza, invade vocês também. E como somente a poesia é capaz de dizer o indizível, socorro-me de um grande poeta amazonense, infelizmente pouco lembrado, Guimarães de Paula, que expressou toda a gama de nostalgia, angústia e amor por Manaus num soneto antológico, do qual extraí estes quatro preciosos versos:

      "Multifária cidade, sobre as tuas

      casas, pura magia de alva e sonho

      desce um verniz de enlevo, a cor do mito

      que eterna faz tua imagem sob o tempo."

Perdoem-me se me desviei do tema que me trouxe à tribuna e, em vez de lhes trazer prosaicamente dados e números sobre a empresa homenageada, me deixo arrebatar e me perco em divagações. O que fazer? Romântico incurável, cansativamente retorno ao tema da inconformação com a finitude humana e da tentativa, angustiada e inútil, de recapturar o tempo fugidio, que se foi e não volta mais.

Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/09/1997 - Página 18130