Discurso no Senado Federal

REGISTRANDO O FALECIMENTO DO SEGUNDO BISPO DE PARINTINS/AM, DOM GINO MALVESTIO.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • REGISTRANDO O FALECIMENTO DO SEGUNDO BISPO DE PARINTINS/AM, DOM GINO MALVESTIO.
Publicação
Publicação no DSF de 10/09/1997 - Página 18483
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, GINO MALVESTIO, SACERDOTE, ATUAÇÃO, ESTADO DO AMAZONAS (AM).

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, preferiria não trazer a esta tribuna a notícia triste que se abate sobre o Amazonas, qual seja, o falecimento do segundo bispo de Parintins, Dom Gino Malvestio.

Poucos religiosos na história do Amazonas prestaram um serviço como Dom Gino - assim era ele conhecido naquele Município onde praticamente dedicou a sua vida. Nascido na Itália, no dia 14 de janeiro de 1938, na cidade de Briana de Noale, Treviso, Dom Gino, filho de camponeses, realizou seus estudos nos seminários do Pontifício Instituto das Missões de Monza e de Milão. Em Monza, cursou Filosofia e, em Milão, Teologia. Ordenou-se sacerdote no dia 26 de junho de 1965. Iniciou suas atividades missionárias no Brasil, particularmente na então Prelazia de Parintins, no mesmo ano.

A convite do primeiro bispo diocesano, Dom Arcângelo Cerqua, tornou-se reitor do Seminário em Parintins, animando os jovens e organizando comunidades e movimentos. Ali permaneceu ao longo de sete anos, até 1972. Nesse ano, retorna à Itália para dirigir o Seminário do Pontifício Instituto das Missões, em Sotto Il Monte, a casa onde morou o Papa João XXIII, o mesmo que convocou o Concílio Vaticano II. Em 1982, retorna ao Brasil e se reencontra com o seu Amazonas - exatamente no meu Estado -, para trabalhar no Regional Norte I. Assume, no ano de 1982, a função de Diretor Espiritual do Seminário Arquidiocesano de Manaus. Em 1989, já estava trabalhando diretamente na diocese como páraco de São José Operário, onde realizou excelente trabalho, principalmente no campo social, estimulando clubes de mães e associações de bairro. Dom João Risatti, segundo bispo de Parintins, em 1990, nomeia-o Vigário Geral da Diocese e, nessa qualidade, acompanhou a ocupação do bairro Itaúna I e junto com o povo enfrenta hostilidade. Era a hora do testemunho.

Sr. Presidente, quem conhece essa passagem sabe, de conhecimento próprio, da coragem de Dom Gino, sacerdote de fala mansa, tranqüilo, que conseguiu enfrentar tamanha hostilidade ao lado do povo.

Com a ida de Dom João Risatti, o segundo bispo de Parintins, para Macapá, em substituição a Dom Luís Soares Vieira, que assumiu o Arcebispado em Manaus, Padre Gino Malvestio é nomeado no dia 9 de março de 1994 pelo Papa João Paulo II o terceiro bispo diocesano. A sagração ocorreu na noite do dia 14 de maio de 1994 e adotou o lema "Em nome de Maria".

Dom Gino marcou o seu pastoreio pela busca permanente do diálogo com as outras religiões e uma constante preocupação com o homem, imagem e semelhança de Deus. Estimulou as pastorais. Incentivou os movimentos. Trabalhou o fortalecimento da família e convocou duas assembléias diocesanas. Procurou estar com o povo e, em uma atitude surpreendente, chegou a visitar os currais dos chamados bois-bumbás Caprichoso e Garantido, que formam a maior festa folclórica do Estado do Amazonas. Homem afável, de gestos calmos, gostava das crianças, dos jovens e tinha um amor imenso pelo interior. A doença, Sr. Presidente, que se abateu sobre Dom Gino foi terrível, mas, nunca, em nenhum instante, se ouviu dele uma palavra de angústia, uma queixa, nada que pudesse revelar o que lhe ia na alma.

Como amazonense, tendo conhecido e recebido a notícia de um velho amigo, o Padre Francisco Lupino, não poderia deixar de fazer este registro, Sr. Presidente, a que muitas vezes sou contrário, porque não reflete o que foi um trabalho em favor da coletividade. Hoje, no entanto, com tristeza, eu o faço.

Dom Gino talvez seja daquelas pessoas que não morrem, porque ficam encantadas.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/09/1997 - Página 18483