Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM A MEMORIA DO SENADOR PARAIBANO ANTONIO MARIZ.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM A MEMORIA DO SENADOR PARAIBANO ANTONIO MARIZ.
Publicação
Publicação no DSF de 17/09/1997 - Página 18978
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, ANTONIO MARIZ, EX SENADOR, ESTADO DA PARAIBA (PB).

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso. ) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao prefaciar o livro "O impeachment do Presidente do Brasil", o Ministro Evandro Lins e Silva, cuja autoridade moral e intelectual todos reverenciamos, assim se pronunciou:

Da participação do processo do impeachment do ex-Presidente Fernando Collor de Mello guardo algumas gratas e indeléveis recordações, entre as quais devo destacar a atuação do Relator da Comissão Especial, o Senador Antonio Mariz, firme, serena e competente do começo ao fim.

Coube-lhe a importante missão de verdadeiro juiz instrutor da causa, de orientador de colheita da prova, de mediador das inquirições, de opinante essencial nas questões suscitadas pelos vinte e um membros da Comissão e pelos advogados das partes.

Desde o primeiro instante, impôs-se pelo equilíbrio de sua ação e pela segurança de seu pronunciamento. O convívio com o Senador Antonio Mariz deu-me a oportunidade de conhecer um Parlamentar do melhor quilate, por seu preparo e o seu elevado espírito público.

Compenetrado na responsabilidade do encargo que lhe fora reservado, ele teve uma conduta exemplar no seu desempenho. Aqui está retratado em livro o que o Senador Antonio Mariz realizou, com exação e sabedoria, durante a formação da culpa do acusado e durante a sessão de julgamento.

A tarefa apresentava-se sumamente difícil e delicada: o mais alto mandatário da Nação, o próprio chefe do Governo, era apontado como autor de crimes de responsabilidade no exercício da função, como administrador improbo e, em conseqüência, indigno de permanecer no exercício do cargo.

O País inteiro estava voltado para o Senado. A figura mais em foco naquela hora e de quem dependia, de modo fundamental, o bom ordenamento na pesquisa da verdade, a indispensável energia para resistir às pressões dos interesses contrariados e, ao mesmo tempo, uma inalterável serenidade para não se deixar dominar por facciosismos partidários, era de quem ocupava a posição de instrutor do processo.

A Nação é testemunha - o que posso registar como observador mais próximo - de que o Senador Antonio Mariz esteve à altura do papel histórico para que o destino o escolheu".

Hoje, 16 de setembro, faz dois anos que o ex-Governador da Paraíba, Senador Antonio Marques da Silva Mariz, ou simplesmente Mariz, como a ele se referia a sua gente, que ele soube amar e governar, nos deixou.

Dele guardo lembranças as mais variadas, do amigo de muitos anos, do companheiro de Partido, do companheiro de sonhos, enfim, do homem, do humanista e do político.

Como já acontecera com o também ilustre paraibano Professor Celso Furtado, de quem Mariz era profundo admirador, Antonio Mariz deixou a Paraíba para estudar no Rio de Janeiro e, posteriormente, viajou para a França, onde, na Sorbonne, aprimorou a formação humanista que haveria de ser um marco referencial na sua atuação política.

Como Celso Furtado, foi conhecer os "ares do mundo" sem jamais perder o contado com as origens, o compromisso com as suas raízes, definitiva e irremediavelmente paraibanas.

Foi tentar compreender melhor o mundo para melhor compreender a imensa tarefa de reverter o quadro de pobreza e penúria, retrato cotidiano do universo que emoldurou a sua infância e cuja aspereza serviu para dar razão à sua luta política.

Nos muitos anos de sua séria e competente atuação parlamentar e no seu breve período de governo, Antonio Mariz ousou sempre o caminho do sonho e administrou com rara habilidade política as estratégias que permitem transformá-los em realidade.

Como o semeador no campo de centeio, preparou a terra para plantio e fortaleceu um trabalho de envolvimento comunitário e de exercício de cidadania que extrapolou o Município de Sousa, berço de sua gloriosa atuação, e soube despertar o conjunto da sociedade paraibana para o trabalho da colheita: a redução das desigualdades sociais e econômicas na Paraíba, o direito inalienável à dignidade traduzida em melhores condições de vida, numa sociedade mais homogênea, mais humana e mais fraterna.

Dos seus muitos talentos, gostaria de destacar aquele que acredito ser o traço mais marcante da sua luta pelos ideais de justiça em que acreditava: a generosidade, virtude que nos eleva em direção aos outros.

A generosidade, essa virtude plural, que ele soube imprimir nos seus relacionamentos com a gente do seu tempo e não por acaso. Justamente essa virtude, que, segundo André Comte-Sponville, somada à coragem, pode ser heroísmo. Somada à justiça, faz-se eqüidade. Somada à compaixão, torna-se benevolência. Somada à misericórdia, vira indulgência. Mas cujo mais belo nome é seu segredo, que todos conhecem: somada à doçura, ela se chama bondade. Mariz exerceu a política com todos esses atributos; trabalhou generosa e amorosamente pela Paraíba.

Ainda que partindo muito cedo, a trajetória política de Antonio Mariz foi intensa e luminosa como a primavera dos trópicos, que, embora precoce e fugaz, deixa uma impressão profunda e permanente depois de partir, cedendo lugar ao verão.

Curiosamente, na data em que se celebra dois anos de sua ausência, as idéias defendidas por esse paraibano de estatura política incomum se impõem pela sua força e contemporaneidade.

No programa Conversa com o Presidente, levado ao ar hoje pela manhã, Fernando Henrique Cardoso defendeu o incremento do Turismo como alternativa de desenvolvimento para a Região Nordeste, uma das utopias de Antonio Mariz: integrar a Paraíba ao Projeto Costa Dourada, financiado em parceria com o BID.

No plano interno do Estado, a força dos seus ideais sobrevive à sua morte, provando que a fina tessitura política, levada a cabo por mais de três décadas e compartilhada no âmbito do PMDB, com lideranças de igual porte - José Maranhão, Humberto Lucena e Ronaldo Cunha Lima, entre outros -, vem produzindo bons frutos.

Regressei há poucos dias de João Pessoa, Sr. Presidente, e posso testemunhar de público que a união do meu Partido é total em torno dos ideais expressos no seu conteúdo programático e dos seus operadores políticos.

A Convenção Partidária marcada para 21 de setembro, domingo próximo, deverá consagrar a chapa Maranhão-Ivandro Cunha Lima - e consolidar a hegemonia do PMDB no Estado, hegemonia essa sobejamente confirmada no Senado Federal, onde os três Senadores são do nosso Partido - V. Exª, que no momento preside esta Casa, Humberto Lucena e o orador que lhes fala - o que confere à Paraíba, juntamente com Goiás e Bahia uma condição sui generis no exercício da representação federativa.

Após momentos de tensão continuada, naturais em períodos que antecedem as campanhas eleitorais, provavelmente exponenciadas pela imprensa e originárias na compreensível excitação provocada pela novidade do instituto da reeleição, as lideranças paraibanas - lideradas por V. Exª, Senador Ronaldo Cunha Lima - souberam trilhar o desejável caminho do entendimento fazendo prevalecer o bom senso e, com ele, a paz no Partido, o nosso querido PMDB.

Nesse ponto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acredito ser dever de justiça destacar a conduta do Governador José Maranhão, o desprendimento do Senador Ronaldo Cunha Lima e a sabedoria e firmeza do experiente companheiro Humberto Lucena, cuja serenidade soube refletir-se nos espíritos durante os momentos mais veementes.

A experiência concertada de todos e de cada um serviu para lançar luz às discussões preparatórias da Convenção e certamente balizará os trabalhos a serem ali desenvolvidos.

Para finalizar, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero retomar a homenagem que presto ao meu amigo, irmão, companheiro e camarada Antonio Mariz, para traduzir a minha esperança em dias mais felizes para o meu Estado, cujos interesses tenho a honra de representar.

Para tanto, nada mais adequado para expressar a confiança desse homem excepcional no poder da correção e da lisura no exercício da política do que as palavras finais do magnífico Parecer Mariz ao processo de Impeachment, verdadeira mensagem de esperança no seu país e no seu povo. Dizia S. Exª:

      "Em mais de um século de vivência republicana, pela primeira vez comparece o Presidente da República ante o Senado, instituído esse em órgão judiciário. Permanecerá na memória do povo brasileiro o desfecho do processo de Impeachment qualquer que seja ele.

      Que não se assinalem, porém no dramático episódio, apenas seus aspectos negativos - o descrédito da autoridade, o vilipêndio das instituições, o comprometimento do Estado. Mas, ao contrário, que se constitua no marco inicial de tempos emergentes, onde democracia e responsabilidade política assumam sua indissociabilidade, firme e perenemente.

      Destes acontecimentos e deste tempo, remanesça a lição, às gerações presentes e à posteridade, do imperativo da honra e da dignidade na vida pública brasileira, pedra angular da construção democrática."

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/09/1997 - Página 18978