O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o País foi surpreendido ontem com a decisão anunciada pelo Governador Mário Covas de que não concorrerá mais à reeleição.

A imprensa toda especula sobre as razões que o levaram a esse gesto. As razões são exatamente as que S. Exª ou disse expressamente, ou deixou transparecer: inconformação com o tratamento, que lhe reputo injusto, que vem recebendo do Governo Federal, e a insatisfação com os rumos do PSDB.

O Governador Mário Covas é um político da mais alta qualidade. Com seu gesto, S. Exª dá um exemplo a todo o País, porque não descarto que tenha pesado também na sua decisão o problema de consciência que já tinha há algum tempo, decorrente de ter sido contra a emenda da reeleição e de se sentir constrangido em concorrer, pois combateu esse instituto.

Sr. Presidente, o Governador Mário Covas, segundo alguns maledicentes, teria sido impulsionado a tomar essa atitude também pelo fato de estar em baixa nas pesquisas eleitorais. Essa é uma injúria que se faz a Covas. Em primeiro lugar, porque S. Exª já está em ascensão - já havia chegado ao fundo do poço e já estava em ascensão -, e, em segundo lugar, porque, se fosse um irresponsável, S. Exª, como já fizeram outros, quebraria o Estado de São Paulo, mas se reelegeria.

Jamais se poderia esperar de Mário Covas um comportamento irresponsável como esse; ao contrário, S. Exª vem pagando o preço de ser sério. Há dois anos e dez meses, desenvolve uma atividade diária, um esforço imenso de recuperação das finanças de um Estado que recebeu arrasado. S. Exª saneou todas as empresas estatais, depois de ter recebido o Estado em situação calamitosa. Agora, começaria - como vai começar - a receber os frutos do seu trabalho sério, na forma de realizações, inclusive de obras públicas - inúmeras S. Exª irá inaugurar até o final de seu governo.

Não conheço de perto o Governador Mário Covas, mas ontem fui um dos primeiros a telefonar para aquele correligionário para dar-lhe os parabéns pela sua decisão. Acredito que os homens públicos devem sobretudo dar exemplos, Sr. Presidente, Srs. Senadores. E Mário Covas está dando um exemplo de dignidade. Seu gesto também é um chamamento ao PSDB, um chamamento à reflexão. S. Exª jamais ocultou o seu inconformismo com a desfiguração que o Partido vem sofrendo, Partido que sofre a perda de alguns de seus melhores membros e que se abre, às vezes de forma licenciosa, para receber pessoas que não têm nenhuma identificação ética ou doutrinária com o PSDB.

Se o PSDB continuar desfigurando-se, como vai, é melhor que desapareça. Esse é um dos sentidos da atitude do Governador Mário Covas, um político que dizem ser teimoso e turrão. Mas penso que S. Exª é apenas firme em seus princípios. Mário Covas é, sobretudo, um homem de caráter. E não é turrão, porque também sabe mudar, evoluir. Mário Covas veio da esquerda, mas soube adaptar-se aos novos tempos. Não esclerosou, não congelou seu pensamento e não se tornou um nacional estatizante jurássico dos anos 50.

Por tudo isso e inclusive por sua capacidade de adaptar-se, de mudar sem se desnaturar, o Governador Mário Covas, cada vez mais, merece o respeito dos homens de bem deste País. Oxalá o meu Partido, o PSDB, saiba entender o recado que Mário Covas está dando a todos nós e saiba fazer um exame crítico e um enorme esforço para voltar às suas origens! Do contrário - como eu disse -, esse Partido será apenas uma sombra do PSDB que conheci, daquele PSDB que me levou a nele ingressar.

Deixo, portanto, consignada nos Anais do Senado a minha mais profunda admiração pelo meu correligionário Mário Covas.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.