Discurso no Senado Federal

REUNIÃO DA DIREÇÃO DO PSB, ONTEM NA CIDADE DE SÃO PAULO, PARA A FILIAÇÃO AO PARTIDO DA EX-PREFEITA LUIZA ERUNDINA. CRESCIMENTO DA ESQUERDA NO BRASIL. ENCONTRO, NA PROXIMA SEMANA, DOS PRESIDENTES DOS PARTIDOS DE OPOSIÇÃO, QUE ALMEJARÃO VIABILIZAR UMA ALTERNATIVA PARA DISPUTA ELEITORAL A PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

Autor
Ademir Andrade (PSB - Partido Socialista Brasileiro/PA)
Nome completo: Ademir Galvão Andrade
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • REUNIÃO DA DIREÇÃO DO PSB, ONTEM NA CIDADE DE SÃO PAULO, PARA A FILIAÇÃO AO PARTIDO DA EX-PREFEITA LUIZA ERUNDINA. CRESCIMENTO DA ESQUERDA NO BRASIL. ENCONTRO, NA PROXIMA SEMANA, DOS PRESIDENTES DOS PARTIDOS DE OPOSIÇÃO, QUE ALMEJARÃO VIABILIZAR UMA ALTERNATIVA PARA DISPUTA ELEITORAL A PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 20/09/1997 - Página 19689
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, REUNIÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB), FILIAÇÃO PARTIDARIA, LUIZA ERUNDINA, EX PREFEITO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • COMENTARIO, CRESCIMENTO, PARTIDO POLITICO, IDENTIFICAÇÃO, IDEOLOGIA, SOCIALISMO, BRASIL.
  • CONGRATULAÇÕES, MIGUEL ARRAES, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB), DECISÃO, IMPEDIMENTO, FILIAÇÃO PARTIDARIA, CIRO GOMES, EX GOVERNADOR, ESTADO DO CEARA (CE), MOTIVO, CONDICIONAMENTO, FILIAÇÃO, CANDIDATURA, DISPUTA, ELEIÇÃO FEDERAL, CARGO ELETIVO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • NECESSIDADE, UNIÃO, PARTIDO POLITICO, IDENTIFICAÇÃO, IDEOLOGIA, SOCIALISMO, OBJETIVO, APOIO, CANDIDATO, VITORIA, ELEIÇÃO FEDERAL, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

O SR. ADEMIR ANDRADE (Bloco/PSB-PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria de comunicar que ontem estive em São Paulo com toda a direção do Partido Socialista Brasileiro, para recebermos nas fileiras do nosso Partido a ex-Prefeita de São Paulo, ex-Ministra da administração do Governo do Presidente Itamar Franco, Luiza Erundina.

Foi um momento extremamente importante da nossa construção partidária. Foi um momento em que todos nós nos rejubilamos pelo nosso crescimento. Não falo do crescimento do PSB, mas sim do crescimento das forças políticas de esquerda do nosso País.

O fato de Luiza Erundina ter deixado o PT para vir para o PSB não quer dizer que entre esses dois Partidos possa existir uma divergência, pois, na verdade, atuamos dentro de um mesmo campo político.

Quero, inclusive, congratular-me com a manifestação do Presidente do meu Partido, Governador Miguel Arraes, que, finalmente, acabou com essa novela do Sr. Ciro Gomes. Ontem, o Governador Miguel Arraes declarou, de maneira clara e objetiva, que o Sr. Ciro Gomes não é socialista e que, por isso, não se filiaria ao Partido Socialista Brasileiro.

Isso corrobora nossa idéia de que nos devemos articular para mantermos a nossa unidade política, mostrando que o nosso caminho é conjunto.

Na próxima semana, haverá uma reunião dos Presidentes dos Partidos das forças políticas de Oposição, das forças populares deste País, que almejarão encontrar uma alternativa única para a disputa eleitoral com o Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Foi importante, no ato de ontem, perceber o nosso crescimento, porque, às vezes, a imprensa passa uma idéia distorcida da realidade. Nós, da Oposição, nós, da Esquerda, crescemos a cada eleição que se realiza neste País. Nosso crescimento é contínuo. Não há uma única eleição realizada nessas duas décadas e meia em que os Partidos de esquerda não tenham aumentado o seu potencial eleitoral, não tenham crescido, não tenham conquistado parcelas expressivas de poder.

Ontem, naquele ato tão bonito, eu lembrava um pouco a nossa história. Inclusive, fiz uma homenagem a Roberto Amaral, antigo Secretário-Geral do nosso Partido, e a Jamil Haddad, ex-Senador desta Casa e ex-Ministro da Saúde, que, há 14 anos, peregrinavam pelo País inteiro, tentando construir o Partido Socialista Brasileiro.

Lembro-me de que, na primeira eleição de que participamos, no momento da nossa reestruturação, elegemos um único Deputado Federal em todo o Brasil. O PT elegeu somente cinco Deputados Federais. Não tínhamos Senador, Governador ou Prefeito de capital.

O tempo passou e estamos crescendo a cada eleição que se realiza. Hoje, a Bancada do PT tem 50 Deputados Federais, cinco Senadores da República e elegeu dois Governadores de Estado. O PSB, que na sua primeira eleição, no momento da reestruturação, elegeu um único Deputado Federal, tem 13 Deputados Federais, dois Senadores da República e dois Governadores de Estado, homens da expressão política de Miguel Arraes, considerado o terceiro Governador mais popular do Brasil na atualidade, e de João Alberto Capiberibe, praticante da política de preservação do meio ambiente e de desenvolvimento auto-sustentado, um dos governadores mais respeitados nacional e internacionalmente.

O PSB elegeu três Prefeitos de capital, inclusive o de Belo Horizonte, que detém o segundo maior número de eleitores do Brasil, bem como as Prefeitas de Natal e de Maceió. E o fez numa disputa com o PT! Duas mulheres disputaram o segundo turno em Natal, duas mulheres disputaram o segundo turno em Maceió: uma do PT e uma do PSB, numa demonstração clara de avanço da consciência política do povo brasileiro.

O PT elegeu o Prefeito da capital do meu Estado, unindo todas as forças progressistas do Estado do Pará e todas as forças de esquerda; elegeu mais uma vez o Prefeito de Porto Alegre, e perdemos em oito ou nove capitais do Brasil encostados na vitória, por uma pequena margem de votos, o que significa que estamos crescendo, que estamos lutando contra tudo e contra todos: contra o poder econômico, contra o interesse do capital multinacional que domina o Governo brasileiro. Aliás, o poder econômico domina o Governo brasileiro, pois o País não tem poder político: tem poder econômico.

Estamos lutando contra a mídia conservadora, cujas concessões estão nas mãos das elites; e assim, lutando contra tudo e contra todos, a Oposição tem crescido seguidamente no nosso País.

Hoje, vejo um PPS com um Senador e três Deputados Federais; um PCdoB, Partido Comunista do Brasil, do João Amazonas, com dez Deputados Federais, e um PDT com 27 Deputados Federais.

Percebo claramente o nosso crescimento, muito diferente do que se passa à opinião pública brasileira: que o Senhor Fernando Henrique é um Presidente imbatível, um Presidente que não sofre oposição. Contudo, a construção política da sociedade brasileira está se dando a cada dia e a cada hora, e estamos marchando para o poder.

É fundamental percebermos que, neste momento, temos responsabilidades imensas, que devemos superar toda e qualquer dificuldade e que precisamos nos despir do egoísmo de desejar que um determinado Partido possa se considerar hegemônico nesse processo.

O Brasil espera muito da reunião que haverá na próxima semana entre os Presidentes desses Partidos políticos. Espera que tratem com responsabilidade a busca de uma saída política para enfrentar o projeto neoliberal, executado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso: de liquidação do Estado brasileiro, de se privilegiar o poder econômico, de tornar o poder político subserviente ao poder econômico e desligado dos interesses populares da Nação brasileira.

O poder político no Brasil tem que ser exercido exatamente ao contrário de como o Senhor Fernando Henrique Cardoso o faz. O poder político tem que estar associado ao interesse da sociedade, do povo brasileiro, dos excluídos. E o poder político associado ao povo tem que submeter o poder econômico àquilo que interessa à maioria do povo brasileiro. Esse deve ser o objetivo das forças populares do nosso País, esse deve ser o caminho a ser traçado e buscado por homens como Miguel Arraes, José Dirceu, Leonel Brizola e João Amazonas.

Graças a Deus acabamos com essa história da divisão da Esquerda; acabamos com essa história de se tentar ter PSB, PPS e PV de um lado e PT e PDT do outro. O Sr. Ciro Gomes não será mais protagonista dessa divisão, até porque tenho consciência absoluta de que a base política do Partido Socialista Brasileiro não aceitaria esse tipo de proposta. Nenhum de nós fez oposição à filiação do Sr. Ciro Gomes ao PSB. Mas nenhum de nós, à exceção única e exclusiva do Deputado Federal Fernando Lyra, aceitava a filiação do Sr. Ciro Gomes como candidato a Presidente da República do Brasil. Não fizemos veto à sua filiação, mas não aceitamos, em hipótese nenhuma, a sua condição de filiado como candidato.

O Partido Socialista Brasileiro, que tem uma construção difícil no nosso País, não poderia se prestar a tal papel. O Partido sempre pregou, desde quando surgiu pela segunda vez, desde o seu renascimento, nos idos de 1984, a unidade das Esquerdas. E vamos continuar trabalhando com esse propósito até o fim. Independentemente da questão de quem seja o candidato, temos que buscar alternativas de candidatos que tenham condições de vencer Fernando Henrique Cardoso. Candidatos que possam levar uma mensagem clara de esperança ao povo brasileiro, uma mensagem que proponha, acima de tudo, o que eu disse e repito: o poder político do Brasil tem que estar associado ao interesse do povo brasileiro. O poder político do Brasil tem que condicionar o desenvolvimento econômico e o poder econômico às necessidades da população brasileira, e não é o que estamos assistindo hoje: o poder econômico domina o poder político e dita as regras do nosso desenvolvimento. Inclusive é um poder submisso aos interesses internacionais.

Desse modo, o resultado dessa reunião transcorrida em São Paulo foi o melhor possível. A Srª Luiza Erundina deixa claro que não traz nenhuma mágoa, nenhuma restrição, nenhum sentimento com relação aos companheiros do PT. Ela coloca claramente que defende a busca da unidade com propósitos claros de chegarmos ao poder para, no poder, nos associarmos aos interesses da população brasileira.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT-SP) - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador Ademir Andrade?

O SR. ADEMIR ANDRADE (Bloco/PSB-PA) - Com alegria, ouço o aparte do nobre Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT-SP) - Em primeiro lugar, gostaria de transmitir o apreço, a admiração, o respeito que tenho pela companheira Luiza Erundina de Sousa. Para nós, do Partido dos Trabalhadores, foi uma perda importante, especialmente para mim, porque, desde quando o PT foi fundado, ambos, eu e Luiza Erundina, estivemos juntos como co-fundadores e em todas as campanhas eleitorais realizadas desde então. Fui candidato a Deputado Federal; Lula era candidato a Governador; Luiza Erundina então era Vereadora. Ela foi Líder do PT, na Câmara Municipal, por quatro anos. Em 1986, fui candidato a Governador pelo PT, ela candidata a Deputada Estadual. Ela foi Líder do PT na Assembléia Legislativa, constituindo-se em valor extraordinário. Antes disto, em 1985, estivemos novamente juntos, oportunidade em que fui candidato a Prefeito e ela a vice, ocasião em que Jânio Quadros foi eleito Prefeito. Em 1988, foi a vez de ela ser candidata e eleita Prefeita. Na ocasião, fui candidato eleito a Vereador, assumindo a Presidência da Câmara. Em 1990, ela era Prefeita, foi quando me elegi Senador, mas ela sempre esteve muito presente. Depois, em 1992, ela própria foi quem muito pediu para que eu fosse o candidato a Prefeito, ocasião em que Paulo Maluf foi eleito. Novamente, estivemos juntos na campanha. Em 1994, ela candidatou-se ao Senado e fiz força para que ela fosse eleita. Em 1996, ela candidatou-se a Prefeita e novamente estivemos juntos nos palanques. Então, tenho por ela o maior carinho, respeito e identificação de propósitos. Reconheço nela extraordinária postura ética. Na maior parte das vezes tivemos pontos de vista semelhantes. Poucas foram as vezes em que discordamos. Num encontro municipal realizado há um mês e meio, quando os companheiros do PT fizeram avaliação crítica a alguns aspectos da sua campanha eleitoral do ano passado, percebi que ela se sentiu magoada e disse que gostaria de conversar comigo. Mas, no último mês em que tomou a decisão, ela preferiu não conversar tanto com aqueles que mais próximos dela estiveram, inclusive os Deputados José Genoíno, Eduardo Jorge, eu próprio e outros. Ela tomou a decisão avaliando que, saindo do PT, estaria melhor influenciando a vida política da cidade, do Estado e do País. Quero dizer que, para o PSB, há um extraordinário ganho, porque ela é uma figura fantástica e espero poder contar com ela em batalhas maiores. Acredito que ela possa até ser um elo mais forte entre o PT e o PSB, tanto em São Paulo quanto no restante do País. Nesse sentido, cumprimento o PSB, em que pese a nossa perda, mas espero sempre estarmos juntos. Gostaria de também comentar sobre o movimento do ex-Governador e Ministro Ciro Gomes. Na verdade, eu disse ao Presidente Nacional do PT que não me preocuparia tanto com respeito à eventual candidatura de Ciro Gomes à Presidência, se ela se confirmar por qualquer partido. Dada a avaliação crítica que ele está formulando a respeito das contradições e problemas do Governo Fernando Henrique Cardoso, até porque muitas das críticas são coincidentes com as que fazemos, e muitas das formulações de propostas resultam do diálogo que o próprio Ciro Gomes teve com companheiros do PT e do PSB ao longo dos últimos 2 anos, eu não me preocuparia tanto. Entendo que, se ele for candidato, vai acabar contribuindo para que haja o segundo turno. Esse é um direito que lhe assiste. Mas saúdo em V. Exª e em seu Partido a vontade de estarem juntos com o PT, PDT, PCdoB, PV e o PPS, para que se fortaleçam as agremiações oposicionistas.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) - Senador Ademir Andrade, seu tempo já se esgotou em dois minutos. Há mais dois Senadores inscritos.

O SR. ADEMIR ANDRADE (Bloco/PSB-PA) - Sr. Presidente, serei breve. Na verdade, Senador Eduardo Suplicy, penso como V. Exª. Se o ex-Ministro Ciro Gomes pretende ser candidato, não tenho nada contra essa pretensão. Meu Partido tem uma construção histórica extremamente difícil e sempre participou dessa difícil trajetória com a frente de esquerda, principalmente ao lado do PT, PDT e PCdoB. Neste momento, não colocaríamos nossa sigla para dividir aquilo que sempre foi uma luta conjunta. Essa foi a restrição que fizemos, caso o Sr. Ciro Gomes tenha a intenção de contribuir com um projeto político sério e possua condições de confrontar o Presidente Fernando Henrique Cardoso. Se for assim, que deixe na discussão o seu nome como os demais pretensos candidatos dessa frente, sem que, para isso, condicione sua entrada - como o vinha fazendo - ao direito de ser candidato a Presidente da República. Aliás, S. Exª nem mesmo saiu do PSDB, e condicionava a sua entrada, como o vinha fazendo, ao direito de ser candidato à Presidência da República. Isso o PSB não podia aceitar. E aqui abraço o Governador de Pernambuco, Presidente do meu Partido, por fazer ontem as afirmações que fez de forma peremptória, porque já estava passando a versão de que o nosso Partido estava pronto a fazer esse tipo de coisa.

Nobre Senador Eduardo Suplicy e minha querida Senadora Emilia Fernandes, espero hoje, no Partido Democrático Trabalhista - cujo Presidente é o Sr. Leonel Brizola - tenhamos bastante amadurecimento e a compreensão clara de que precisamos mudar esse País em favor do seu povo. E para que isso ocorra é preciso ganhar a Presidência da República, e para ganhá-la é preciso ter a compreensão da nossa unidade passando por cima de todas as nossas dificuldades. Todos nós devemos trabalhar firmemente no sentido de construirmos essa aliança e sermos vitoriosos, porque Fernando Henrique Cardoso já mostrou que não é bom para o Brasil.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/09/1997 - Página 19689