Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DOS 170 ANOS DE FUNDAÇÃO DO JORNAL DO COMMERCIO, DO RIO DE JANEIRO.

Autor
José Roberto Arruda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/DF)
Nome completo: José Roberto Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DOS 170 ANOS DE FUNDAÇÃO DO JORNAL DO COMMERCIO, DO RIO DE JANEIRO.
Publicação
Publicação no DSF de 01/10/1997 - Página 20430
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, JORNAL DO COMMERCIO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • CUMPRIMENTO, GRUPO, EMPRESA JORNALISTICA, PRESERVAÇÃO, MODERNIZAÇÃO, JORNAL DO COMMERCIO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB-DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, alguns dias atrás recebi um telefonema do Senador Artur da Távola. Com certeza, trata-se de um dos nossos colegas mais querido, mais estimado por todos desta Casa, sobretudo por sua atuação parlamentar.

O Senador Artur da Távola não representa apenas o Estado do Rio de Janeiro, que o elegeu; o Senador Artur Da Távola foi Presidente do PSDB, é um intelectual, um homem de idéias. Todas as sua iniciativas aqui no Senado recebem mais do que a solidariedade, o aval de todos os que têm o privilégio da sua convivência.

Telefonou-me o Senador Artur Da Távola para solicitar-me que falasse hoje em seu nome, na homenagem que esta Casa presta ao Jornal do Commercio.

Antes de fazer essa justa homenagem ao Jornal do Commercio, é do meu dever fazer antes uma homenagem ao próprio Senador Artur da Távola, autor do requerimento. S. Exª justificou a importância do fato de o Senado Federal fazer hoje uma sessão especial em homenagem ao Jornal do Commercio, que completa, Sr. Presidente, 170 anos.

Num País como o nosso, acostumado a tantas mudanças, a tantas alterações em todos os setores, é uma coisa absolutamente singular um jornal diário completar 170 anos. E é, sem dúvida nenhuma, o Jornal do Commercio o mais antigo diário em circulação ininterrupta não só no Brasil, mas em toda a América Latina.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, e tantos que nos ouvem e nos vêem através da TV Senado e depois na Hora do Brasil, enfim, todos que acompanham os trabalhos legislativos, é importante que se saiba que o Jornal do Commercio tem uma linha de austeridade em defesa dos interesses nacionais, que sempre foi a marca da sua linha editorial.

Desde a sua fundação, em 1º de outubro de 1827, contou com a colaboração das mais influentes personalidades do Primeiro e do Segundo Império, bem como da República Velha até os dias de hoje. Entre esses colaboradores, podem e devem ser citados nomes como o Visconde do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos (Visconde do Rio Branco), José de Alencar, Joaquim Nabuco, Francisco Octaviano e, importante, o próprio imperador D. Pedro II, que escrevia usando um pseudônimo no jornal e influía em seus editoriais, a ponto de um deles ter causado a queda de um dos Ministérios.

O Jornal do Commercio foi fundado pelo francês Pierre Plancher, que em Paris foi editor de Voltaire, de Benjamin Constant e outros destacados intelectuais. Por não se enquadrar ao regime então vigente na França, graças às suas idéias liberais, sofreu perseguições e acabou sendo obrigado a emigrar. Chegou ao Brasil em 1824 e imediatamente instalou sua oficina. Trouxe modernos equipamentos e alguns operários especializados que representavam, na época, o que de mais avançado existia nesse setor.

O Diário do Commercio, como o próprio nome indica, nasceu com características e preocupações nitidamente econômicas, principalmente na área das notícias marítimas, extremamente importantes à época, e com o controle de movimento de importação e exportação. Mas transformou-se logo em uma folha política, devido ao agravamento da situação do País, motivado pelas concessões que D. Pedro I passou a fazer aos portugueses em detrimento dos interesses brasileiros.

O engajamento do Jornal do Commercio na luta de resistência a essas concessões, ao lado do "Aurora Fluminense", de Evaristo da Veiga, deu respaldo ao movimento que culminaria com a Abdicação de D. Pedro I, em 7 de abril de 1831.

Mudado o regime no Brasil e também na França, com a queda de Carlos X, Pierre Plancher retornou a Paris, onde retomou a atividade jornalística. Com isso, assumiram a direção do Jornal do Commercio os franceses Junius Villeneuve, Francisco Picot e Julio de Villeneuve, que mantiveram o Diário até 1890.

Com a Proclamação da República, o jornal passou ao comando de José Carlos Rodrigues, um mestre do jornalismo que consolidou o prestígio e a influência do Jornal do Commercio durante os 25 anos que o dirigiu, de 1890 a 1915.

Homem de profunda cultura, José Carlos Rodrigues conhecia como poucos a história diplomática do País. Com seu talento, recrutou colaboradores como Rui Barbosa - e é importante esse destaque, porque foi exatamente no Jornal do Commercio que Rui Barbosa publicou as famosas "Cartas da Inglaterra", sobre o caso Dreyfus -, José Veríssimo, Visconde de Taunay, Afonso Celso, Araripe Júnior e tantos outros. Por vários anos, no primeiro quartel deste século, o jornal chegou a circular com três edições diárias - além da matutina, uma vespertina e outra que circulava apenas no Estado de São Paulo.

Sucedem-se na direção do então já centenário diário Antônio Botelho, Félix Pacheco, Elmano Cardim e Francisco Clementino de San Thiago Dantas, até que, em 1959, passa a compor a organização "Diários Associados" - sendo presidido, de 1982 a 1993, pelo jornalista Austregésilo de Athayde, ex-Presidente da Academia Brasileira de Letras.

O Jornal do Commercio, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é o único jornal com título de Grande Benemérito da Associação Comercial do Rio de Janeiro, em cujas reuniões tem direito a voto. Suas edições são microfilmadas pelo Centro da Biblioteca de Pesquisas da Universidade de Chicago (EUA), que fornece cópias desses microfilmes às principais bibliotecas norte-americanas. É também o primeiro jornal brasileiro a ser totalmente microfilmado pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Aos 170 anos, o Jornal do Commercio moderniza-se, atualiza-se sem perder a austeridade, que fazia Rui Barbosa compará-lo ao Times, de Londres. O Caderno Seu Dinheiro traz, diariamente, um universo de dados e números indispensáveis ao acompanhamento da economia, finanças e mercados.

Especificamente quanto ao mercado de capitais, cobre, como nenhum outro periódico, os movimentos das bolsas de valores do Rio de Janeiro e de São Paulo, assim como analisa detalhadamente o comportamento das bolsas no exterior - Nova Iorque, Chicago, Londres e Paris. Acompanha, também, as cotações de moedas e de metais, os mercados de produtos primários, em preços nacionais e internacionais, os mercados atacadistas, fundos etc.

Esse conjunto de informações, aliado a reportagens e entrevistas sobre as atividades dos estabelecimentos comerciais, das indústrias e dos bancos, dos estaleiros e do movimento de exportação, garante ao Jornal do Commercio a condição de mais importante veículo do gênero no País.

Poucos são os jornais, Sr. Presidente, em todo o mundo, que podem ostentar a condição de circular ininterruptamente por 170 anos e, ao mesmo tempo, acompanhar o processo de modernização editorial, como testemunham suas oficinas gráficas e redação informatizadas e os sofisticados processos de composição e impressão.

Por essa razão, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em nome, primeiramente, do Senador Artur da Távola, que fez esta proposição, e em nome desta Casa, quero cumprimentar o Jornal do Commercio; quero cumprimentar o Senador João Calmon, que durante tantos e tantos anos dirigiu os Diários Associados; quero cumprimentar o Dr. Paulo Cabral de Araújo, que dirige hoje a organização Diários Associados; quero cumprimentar também o Presidente do Jornal do Commercio, Ibanor Tartarotti; quero cumprimentar o meu particular amigo, Maurício Dinepi, o Dr. Evaristo, o jornalista Ary Cunha, que escreve há praticamente 40 anos no Correio Braziliense e que, em breve, vai merecer uma seção como essa do Jornal do Commercio. Enfim, quero cumprimentar todos os senhores que estão presentes nesta Casa e que representam o grupo Diários Associados, em particular o Jornal do Commercio.

Há algumas semanas, o Presidente Fernando Henrique Cardoso, em uma longa entrevista, muito conceitual, sobre a sua óptica do Brasil atual, fez uma frase extremamente importante. Disse Sua Excelência que a grande novidade no Brasil, hoje, é a continuidade das coisas, a continuidade das mudanças, a continuidade dos processos, é o fato de o País ter rumo.

Um País como o nosso, que ainda vai comemorar os 500 anos, os 500 anos do encontro com a América, os 500 anos da chegada de Pedro Álvares Cabral, e que passou os 400 primeiros anos como colônia de Portugal e como Império, que tem pouco mais de 100 anos de República, um País jovem como o nosso tem que se orgulhar das suas instituições, que conseguem preservar-se no tempo, ao mesmo tempo que modernizam os seus processos e os seus produtos.

O Jornal do Commercio não é apenas razão de orgulho para o povo do Rio de Janeiro, onde está instalada a sua sede e onde tem sua maior circulação. O Jornal do Commercio é razão de orgulho para todos os brasileiros que sabem que o povo que não conhece a sua História tende a repeti-la exatamente nos seus piores momentos.

O Jornal do Commercio representa muito da tradição da imprensa brasileira. Pelo Jornal do Commercio passaram grandes nomes da imprensa e das letras. E mais do que isso, o Jornal do Commercio, ao contar a sua história, conta também a história desses 170 anos do Brasil, desde as crises do Império, a proclamação da República, o fim da Primeira República, as crises que se seguiram ao pós-guerra, enfim, o Jornal do Commercio é como um diário da vida brasileira nesses seus 170 anos.

Daí por que, Sr. Presidente, considero extremamente oportuna a lembrança do Senador Artur da Távola - que nos priva da sua convivência nesses últimos dias, em função de problemas de saúde que, graças a Deus, já estão sendo superados -, porque o Senado Federal, que é a Casa da Federação, não poderia deixar passar em branco esta data, não só como uma forma de homenagear tantos que construíram e continuam construindo o Jornal do Commercio, não só tantos que continuaram a tarefa de Chateaubriand nos Diários Associados, como o nosso sempre Senador e querido mestre Professor João Calmon, não só o experiente jornalista e homem de empresas Dr. Paulo Cabral, mas todos os que, dirigindo esse conjunto de empresas ou na mais humilde tarefa, têm dado uma contribuição para que esse jornal, ininterruptamente, há 170 anos, seja impresso e imprima parte importante da vida política e da vida econômica brasileira.

Acho que mais do que uma homenagem ao Jornal do Commercio, mais do que uma homenagem aos Diários Associados, que tornaram possível, nas últimas décadas, a preservação e a modernização do Jornal do Commercio, faz-se nesta Casa, hoje, uma homenagem à imprensa brasileira, faz-se uma homenagem à liberdade de imprensa, que todos desejamos preservar, faz-se uma homenagem a todos os que cultuam a nossa História e que sabem da importância de um órgão de informação como esse para, de um lado, preservar os momentos importantes da História do País, mas principalmente para contribuir com sua visão crítica na construção de uma sociedade mais justa, de uma sociedade mais fraterna, de uma sociedade menos desigual.

Ao cumprimentar os Srs. Condôminos dos Diários Associados, os Srs. Diretores dos Diários Associados, em particular do Jornal do Commercio e de suas empresas coligadas, quero cumprimentar também - e o faço em nome do Senador Artur da Távola - a todos os que, principalmente no Rio de Janeiro, não passam um só dia sem folhear o Jornal do Commercio e sem extrair dele as informações que são fundamentais principalmente para as suas decisões empresariais.

Registro, portanto, nesta data, a homenagem do Senado Federal aos 170 anos do Jornal do Commercio, fazendo votos de que a sua equipe dirigente continue tendo a coragem de ousar e de modernizar esse jornal, para que toda a nossa geração seja digna dessa herança que todos nós recebemos.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado. (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/10/1997 - Página 20430