Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DOS 170 ANOS DE FUNDAÇÃO DO JORNAL DO COMMERCIO, DO RIO DE JANEIRO.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DOS 170 ANOS DE FUNDAÇÃO DO JORNAL DO COMMERCIO, DO RIO DE JANEIRO.
Publicação
Publicação no DSF de 01/10/1997 - Página 20432
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, JORNAL DO COMMERCIO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Direção dos Diários Associados e do Jornal do Commercio, em primeiro de outubro, estaremos comemorando um fato extraordinário. Neste dia, o tradicional Jornal do Commercio do Rio de Janeiro completa 170 anos de circulação ininterrupta.

Para marcar essa data, o nosso companheiro Senador Artur da Távola pediu a adesão de vários Senadores, dentre os quais eu, para que pudéssemos fazer uma sessão onde homenageássemos um fato tão significativo na vida do jornalismo brasileiro e, por que não dizer, da América do Sul e até do mundo, porque se trata de um jornal dos mais antigos.

Trata-se, como eu disse, da mais antiga publicação com circulação diária ininterrupta na América Latina. Esta é, pois, uma data que nos enche de orgulho. Entretanto, o mais importante é que o Jornal do Commercio alcança este marco cheio de vitalidade.

Seus atuais dirigentes, redatores e repórteres estão envolvidos numa atividade febril de renovação para garantir e ampliar o espaço que o veterano órgão de comunicação ocupa no País.

Fundado em 1827 pelo editor e livreiro francês Pierre Plancher - como bem já disse o orador anterior a mim, Senador Arruda - que migrou para o Brasil no ano de 1924 -, o Jornal do Commercio integra, hoje, a rede dos Diários Associados desde 1959 e, nos últimos anos, é presidida pelo Jornalista Ibanor Tartarotti.

Pierre Plancher, que na França havia sido editor de Voltaire, Benjamin Constant de Rebecque e de outros intelectuais, era um mestre das artes gráficas.

Para fugir às perseguições do regime vigente na França, acabou fugindo para o Brasil, onde, imediatamente, instalou sua oficina.

O editor Pierre Plancher - que trouxe consigo equipamentos que eram o que de mais avançado existia no ramo, à época - fundou dois jornais: o Spectador Brasileiro, que circulou até 23 de maio de 1827, e o Jornal do Commercio, a seguir.

No seu início, o periódico publicava informações sobre preços, assuntos de importação e exportação e movimentação de navios. Pouco depois, mudou de forma e conteúdo, anunciando-se "folha comercial e política".

O Brasil vivia os anos agitados que se sucederam à declaração da Independência. Pressionado pelos portugueses, D. Pedro I fazia concessões que prejudicavam os brasileiros. Estes, por sua vez, reagiam.

Desde sua criação, o Jornal do Commercio participou - ao lado da "Aurora Fluminense", de Evaristo da Veiga - na divulgação e organização do movimento que levaria à abdicação de Pedro I, em 7 de abril de 1831.

Com a alteração do regime também na França - a queda de Carlos X, a chamada Segunda Revolução, e a volta da liberdade de imprensa -, Pierre Plancher decide voltar a Paris.

A direção do jornal passa então a Junius de Villeneuve e François Picot. Mais tarde, assumirá o comando o filho de Junius, Jules de Villeneuve, que irá no cargo até 1890.

Nesse período, colaboraram com o jornal José de Alencar, Joaquim Nabuco, Guerra Junqueiro, Carlos de Laet e o Visconde do Rio Branco.

De 1890 a 1915, portanto, durante um quarto de século, o Jornal do Commercio esteve sob o comando de José Carlos Rodrigues, notável periodista que implantou grandes mudanças na empresa. Por esta época, Rui Barbosa publica no Jornal do Commercio suas famosas Cartas da Inglaterra.

Dentre os colaboradores do jornal, sobressaíam Érico Veríssimo, Visconde de Taunay, Alcindo Guanabara, Araripe Júnior e Afonso Celso. Era então editorialista do jornal, José Maria da Silva Paranhos (filho), o Barão do Rio Branco.

José Carlos Rodrigues foi sucedido por Antonio Pereira Botelho. Nessa época, a redação já era comandada por Félix Pacheco, que, em 1923, assumiria a propriedade da empresa, permanecendo na direção até 1935, quando veio a falecer.

Sucedeu-o Elmano Cardim, que ficou no cargo até 1957, quando assume o comando o jurista San Tiago Dantas. Em 1959, o jornal passou a integrar os Diários Associados sob o comando do nosso conterrâneo, Assis Chateaubriand. Como se vê, o jornal teve sempre o comando de notáveis intelectuais.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, fonte inesgotável de informações sobre a vida brasileira nesses 170 anos, o Jornal do Commercio é hoje consultado por pesquisadores e historiadores do Brasil e do exterior, interessados em conhecer o nosso passado.

Suas principais coleções estão preservadas, atualmente, em cinco arquivos no Rio de Janeiro. A mais importante é a da Biblioteca Nacional, que foi microfilmada nos anos 70.

A Associação Comercial do Rio de Janeiro - da qual o Jornal Commercio tornou-se Benemérito, em 1912, e Grande Benemérito, em 1984 - mantém uma coleção bem cuidada e uma vitrine com três cadernos do jornal datando de 150, 100 e 50 anos atrás, cujas páginas são viradas todas as manhãs, para que dia e mês coincidam com o calendário atual.

As três outras coleções estão no Palácio Itamaraty, a representação do Ministério das Relações Exteriores no Rio; no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e na sede do próprio Jornal do Commercio.

A Biblioteca Nacional de Paris, na França, dispõe dos jornais de 1850 a 1949, praticamente um século do tradicional jornal brasileiro.

Durante alguns anos, o Departamento de Fotoduplicação do Centro de Biblioteca de Pesquisa da Universidade de Chicago (EUA) forneceu cópias dos microfilmes às principais bibliotecas norte-americanas.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a permanência de um grande jornal, sem dúvida alguma, deve-se à excelência de seus recursos humanos. O Jornal do Commercio, desde sua fundação até os dias de hoje, além de ser dirigido por intelectuais de grande visão, sempre contou em sua equipe com redatores e repórteres excepcionais.

O mesmo pode ser dito do seu corpo de colaboradores, formado por cidadãos notáveis da literatura, da política, da economia e da diplomacia.

Mudam os tempos, mas o Jornal do Commercio mantém sua linha marcada pela austeridade, pela sobriedade. É veículo democrático, acolhe todas as tendências políticas, mas é intransigente na defesa dos interesses nacionais.

Fiel a alguns valores básicos - a defesa da liberdade, a manutenção da democracia, a busca da verdade e a preservação dos interesses da Nação -, o Jornal do Commercio moderniza-se permanentemente.

Investe pesado para acompanhar a evolução tecnológica e editorial, assimila rapidamente as inovações e adapta-se às novas exigências de seus leitores, sem ceder jamais ao apelo fácil do denuncismo, do sensacionalismo barato.

Esse tradicional periódico é apreciado por seu noticiário, em especial pelas informações de conteúdo econômico, não apenas de âmbito nacional, mas também internacional.

Cobre de maneira excelente o Mercado de Capitais, acompanha os movimentos das Bolsas de Valores do Rio de Janeiro, de São Paulo e do exterior, como Nova York, Chicago, Londres e Paris.

Divulga com minúcias os mercados de câmbio do Brasil e de outros países, as cotações de moedas e de metais, produz boletins atualizados do mercado atacadista nacional, acompanha o desempenho dos fundos e do mercado de produtos primários.

A Abamec - Associação Brasileira dos Analistas de Mercado de Capitais, já conferiu, mais de uma vez, o Troféu Imprensa ao Jornal do Commercio. Isso não ocorre por acaso.

Nos últimos anos, houve uma grande renovação no jornal, que lhe assegurou a condição de o mais importante veículo do gênero no Rio de Janeiro.

O crescimento do número de seus leitores, não só do Rio de Janeiro, mas também em outros Estados, alterou a Redação, hoje ocupada por modernos computadores.

As oficinas gráficas foram informatizadas, com a instalação de sofisticados processos de composição e impressão.

Por tudo isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, creio que o Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, está pronto para enfrentar, com galhardia, mais 170 anos de profícua existência.

À frente desse jornal, de todo esse sistema, tivemos aqui o nosso companheiro Senador João Calmon, pelo qual todos nós temos grande estima, pois é um baluarte na educação e no jornalismo deste País .

Quero, portanto, deixar registrados, nesta data, os meus mais sinceros votos à direção e ao quadro de funcionários desse vibrante periódico.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/10/1997 - Página 20432