Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DOS 170 ANOS DO JORNAL DO COMMERCIO, DO RIO DE JANEIRO.

Autor
Benedita da Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Benedita Souza da Silva Sampaio
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DOS 170 ANOS DO JORNAL DO COMMERCIO, DO RIO DE JANEIRO.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Elcio Alvares, Humberto Lucena.
Publicação
Publicação no DSF de 01/10/1997 - Página 20434
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, JORNAL DO COMMERCIO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu não poderia deixar de, neste momento, cumprimentar o nosso ilustre Senador Artur da Távola, representante digno do Estado do Rio de Janeiro. Ao requerer essa homenagem nesta sessão, lembrei-me do que eu lhe disse: - Também quero ser co-autora. E ele disse-me: "- Vamos. É uma homenagem merecedora que queremos fazer a esse jornal". E assinei o requerimento, quando pedi a ele esta sessão de homenagem. Lamento profundamente que S. Exª aqui não esteja, mas tenho certeza de que bem representado foi e que a sua mente e o seu coração, neste momento, estão voltados para este plenário.

Srs. Ibanor Tartarotti e Maurício Dinepi, Presidente e Vice-Presidente Executivo do Jornal do Commercio, respectivamente; Jornalista Paulo Cabral, Diretor dos Diários Associados e Presidente do Correio Braziliense, e Evaristo Oliveira, Diretor-Gerente do Correio Braziliense, quero cumprimentá-los na oportunidade em que o Senado Federal presta homenagens aos 170 anos de fundação do Jornal do Commercio, pioneiro e imbatível órgão de imprensa de nosso País desde o Primeiro Reinado, passando pelo período da Regência, Segundo Reinado, República, Governo Provisório, Reconstitucionalização, Estado Novo, redemocratização do País, período de recessão e Nova República.

Fundado em 1º de outubro de 1827 pelo francês Pierre Plancher, o Jornal do Commercio tem, desde sua antiguíssima origem, o compromisso de apoio ao progresso material e cultural do Brasil.

Além de formado por notáveis profissionais da política, literatura, economia e da diplomacia, o seu corpo redacional tem procurado acompanhar os fatos, através dos tempos, e os retransmitido ao público ledor de forma a expressar o verdadeiro sentido da informação sem nunca ter sido confundido com a chamada yellow press ou a conhecida imprensa sensacionalista.

Dentro do espírito inovador de Pierre Plancher, editor de Voltaire, Benjamin Constant e de outros destacados intelectuais, o Jornal do Commercio surgiu com características econômicas, baseado nas publicações de Plancher sobre preços, informes marítimos e atividades de importação e exportação, transformando-se depois num diário político e comercial, devido o agravamento da situação política no País, logo depois da Independência, quando D. Pedro I, pressionado pelos portugueses, resolveu realizar concessões que poderiam prejudicar os brasileiros. Sentindo uma mudança na política e não podendo manter-se neutro, o Jornal do Commercio foi um importante veículo na abdicação de D. Pedro, em 7 de abril de 1831.

Visionário, Plancher percebeu, nos albores da Independência, que o nascente país precisava de um instrumento que possibilitasse a expansão do seu comércio; de um veículo - o Jornal do Commercio de então - que informasse sobre a chegada e saída de navios pelo porto do Rio de Janeiro, pois era pelo mar, através das importações e exportações, que se manifestava o dinamismo da economia.

O sonhador Plancher não imaginava que a modesta folha, de poucas páginas e formato inferior a um quarto de um jornal standard atual, alcançasse a longevidade que enche de orgulho os diretores, jornalistas e demais funcionários desse jornal - que hoje chega ao centésimo-septuagésimo ano de vida e atravessa o umbral de um ano novo. Um jornal que leva orgulho também aos Diários e Emissoras Associadas, por dupla razão: o Jornal do Commercio é o mais antigo veículo em circulação ininterrupta no Brasil, assim como o Diário de Pernambuco é o mais antigo em data de fundação. Ambos integram, com destaque, a constelação de veículos dos Diários Associados, aqui representado por seu Presidente, o Jornalista Paulo Cabral, um cearense de têmpera forte que galgou com extraordinário esforço, ao longo de uma vida de trabalho, postos sempre ascendentes da rede criada pelo paraibano Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo.

A história do Jornal do Commercio é também a História do Brasil, escrita pelas gerações que se sucederam desde aquele 1º de outubro de 1827. O jornal de Plancher atravessou a crise que abalou o novel Império e levou à abdicação o Imperador D. Pedro I; acompanhou as Regências e assistiu à declaração precoce da maioridade de D. Pedro II; viveu as revoltas liberais nos anos 40, em Minas e em São Paulo, e a heróica Revolução Praieira de Pernambuco, assim como testemunhou o heroísmo dos rebeldes da Revolução Farroupilha dos gaúchos e a ascensão, nos prolongados combates de 1835 a 1845, da liderança militar de Caxias e a afirmação da primeira grande anistia conhecida no País, por ele proposta em reconhecimento à grandeza dos vencidos.

Menciono esses fatos, o vôo dos pássaros, sem pretender ir adiante na enunciação de sabor histórico, para mostrar como são fundas as raízes do Jornal do Commercio na vida nacional e como o veículo de Pierre Plancher e José Carlos Rodrigues, no século passado, entranhou-se como expressão inafastável na evolução política e econômica do País, a ponto de merecer de Rui Barbosa a definição sobremodo honrosa. "O Jornal do Commercio é uma instituição", disse aquele que em seu tempo foi considerado o maior dos brasileiros.

É a essa instituição que presto homenagens nesta data, que engalana os nossos corações, festejando os que a tornaram vigorosa, seus diretores e seus jornalistas, nesta nossa época contemporânea, como Luís Paulistano, que formou uma redação em poucas horas, entre o almoço e às 6 da tarde, quando San Thiago Dantas adquiriu o jornal e o confiou à direção de Otávio Tirso Lúcio Cabral de Andrade. O Paulistano lembrado sempre com saudade pelos que o conheceram e choraram a sua morte em 1961; o Paulistano que rompeu com a discriminação ideológica nas redações de jornais, ao proclamar sem meios-tons: "Os melhores jornalistas com quem tenho trabalhado são os jornalistas de esquerda".

Festejo aqui também a acuidade de Assis Chateaubriand ao confiar a direção do Jornal do Commercio, assim que o recebeu de San Thiago Dantas, em 1959, a um jornalista e intelectual do porte de Carlos Rizzini, que prestou contribuição imorredoura ao conhecimento da História da Imprensa e à difusão da técnica jornalística no País.

Como Senadora pelo Estado do Rio de Janeiro, festejo com particular alegria a geração de jornalistas que fazem o Jornal do Commercio de nossos dias, sob o comando do gaúcho Ibanor Tartarotti, outro que, tal como Paulo Cabral, começou sua longa trajetória profissional numa rádio dos Diários Associados no interior do Rio Grande do Sul e ascendeu graças à sua competência e à sua determinação. Festejo um Antônio Calegari, Diretor de Redação, admirado pelos companheiros pela sua alta qualificação e por sua extraordinária capacidade de trabalho; um José Chamilete, um Aziz Ahmed, um Roberto Carneiro, um Francisco Duarte, um Mário Russo, uma Ana Julião, um Raul Marques Filho, gente que lidera a admirável equipe que produz um jornal que, aos 170 anos, não se cansa de renovar-se.

Festejo também um amigo querido, o Jornalista Maurício Azêdo, meu companheiro no primeiro mandato parlamentar, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, que sempre se orgulhou de ter iniciado sua vida profissional no Jornal do Commercio, ao qual retornou mais de uma vez, sempre com a sensação que é também a de quantos trabalharam e trabalham nesse jornal-instituição nacional: a de que, na cobertura do dia-a-dia, transmite para o futuro um testemunho essencial, como fizeram Pierre Plancher e quantos, depois dele, construíram a história desse monumento de 170 anos.

Ressaltei a figura do Jornalista Maurício Azêdo, que foi um dos Parlamentares mais brilhantes que a cidade do Rio de Janeiro já conheceu. Quando da tribuna falava, a atenção era toda voltada para aquele ilustre Vereador. Homem que até hoje tem sua firmeza ideológica e nunca se esqueceu, por um só instante, do início de sua vida profissional como jornalista, e sempre colocou o Jornal do Commercio como sendo o maior e melhor jornal.

Faço isso em memória dos momentos do povo brasileiro, que o Jornal do Commercio tem-se dedicado pura e simplesmente a registrar.

Tenho, nesse jornal, a leitura necessária para refletir sobre o ponto de vista econômico, comercial, político e ético. E noto que o Jornal do Commercio apenas era lido por uma determinada camada social, que possuía maiores informações. Hoje, ele começa a ser lido por outros setores, que estão em busca do seu crescimento, da sua informação, do seu conhecimento, e de dar também a atenção devida à qualidade de produção da comunicação que o Jornal do Commercio representa.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT-SP) - Permite-me V. Exª um aparte?

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ) - Concedo o aparte ao nobre Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT-SP) - Senadora Benedita da Silva, quero, juntamente com V. Exª, cumprimentar o Jornal do Commercio e também a iniciativa dos Senadores Artur da Távola, Ney Suassuna e outros Srs. Senadores de homenagear os 170 anos desse jornal, pela sua importância, inclusive histórica. Gostaria de registrar também um acontecimento de grande relevância: o de que foi o Jornal do Commercio, há cem anos, um daqueles que registrou muito bem a Guerra de Canudos. O Jornalista Manoel Benício, em 1899, dois anos após o extermínio daquela população, na Guerra de Canudos, publicou o livro "Rei dos Jagunços", que precedeu a publicação de Os Sertões, extraordinária obra de Euclides da Cunha. Há dois dias, tive oportunidade de assistir ao filme "Guerra de Canudos", que constitui um dos momentos mais importantes da manifestação cultural cinematográfica brasileira. Nesse filme, estão registradas as principais reportagens publicadas pelos jornalistas da época, que, inclusive, contribuíram para que a equipe pudesse realizá-lo. Dentre as obras principais pesquisadas por seus diretores, estão não apenas Os Sertões e O Diário, de Euclides da Cunha, mas também, de Manoel Benício, O Rei dos Jagunços, livro republicado recentemente, segundo me informa a Direção do Jornal do Commercio. Senadora Benedita da Silva, tendo assistido ao filme "Guerra de Canudos", recomendo-o a todos os brasileiros, a todos os Senadores e Senadoras. Esse filme terá extraordinária repercussão entre os brasileiros, proporcionando em todos nós uma enorme vontade de ler e conhecer melhor aquele episódio, em que milhares de pessoas se reuniram em torno de 5.200 casas, formando, em torno de Antônio Conselheiro, uma cidadela, uma comunidade. Eles queriam viver de forma diferente daquela que procuravam impor aos brasileiros. Algumas daquelas pessoas tinham conseguido sair da escravidão; outras, de condições de superexploração. E agora, cem anos depois, esse fato começa a ser melhor compreendido por todos nós. Tenho certeza que o Jornal do Commercio, durante esses 170 anos, teve também, no registro de Manoel Benício, nas suas páginas, um papel extremamente importante, o qual gostaria de registrar em meio à comemoração dos 170 anos desse jornal.

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ) - Agradeço o aparte de V. Exª. Sabemos da respeitabilidade e do conceito que esse jornal também tem nas colunas das Ciências, das Artes, da elegância, merecendo, portanto, por iniciativa do Senador Artur da Távola, esta homenagem. Embora seja pouco o que fazemos, dedicando a Hora do Expediente desta sessão para tal comemoração, reconhecemos que a comunicação é muito importante, principalmente através de um jornal com 170 anos que acumulou um grande patrimônio de conhecimento, de fatos, de história deste País. Portanto, mesmo de modo simples, não podíamos deixar de prestar-lhe essa homenagem.

O Sr. Humberto Lucena (PMDB-PB) - Permite-me V. Exª um aparte?

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ) - Concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Humberto Lucena (PMDB-PB) - Gostaria também de associar-me às homenagens que o Senado ora presta, em boa hora, ao Jornal do Commercio, órgão de imprensa tradicional não apenas do Rio de Janeiro, mas de todo o Brasil, que, por isso mesmo, tem o seu próprio perfil, que nunca foi mudado, dentro de sua linha conservadora. Trata-se de um veículo de comunicação social que se tem credenciado junto ao público leitor, justamente por ser um órgão eminentemente independente e noticioso. Por isso mesmo, até hoje, ninguém conseguiu não só ocupar o mínimo do seu espaço, mas, sobretudo, concorrer com ele naquilo que tem de mais específico e especial, como um jornal altamente representativo dos interesses do empresariado e da economia brasileira.

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ) - Sem dúvida, Senador Humberto Lucena, a homenagem que V. Exª presta a este jornal é, também, de cada Estado deste País, de Norte a Nordeste. É uma homenagem de quem o conhece e quer, cada vez mais, que a imprensa seja livre e, com toda a isenção, possa exercer a sua contribuição, informando, noticiando e dando-nos conhecimento. Muitas vezes, ao chegarmos a determinados locais ou sabermos de determinados assuntos, ao manusearmos os jornais, percebemos que a imprensa tomou conhecimento da matéria antes de nós.

O Sr. Elcio Alvares (PFL-ES) - Senadora Benedita da Silva, V. Exª me permite um aparte?

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ) - Concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Elcio Alvares (PFL-ES) - Senadora Benedita da Silva, nós hoje estamos vivendo um momento particularmente importante para esta Casa: a comemoração dos 170 anos do Jornal do Commercio. Os que compreendem, como eu, a importância da imprensa no que se refere à geração dos fatos políticos, sociais e administrativos, olham uma data como esta com a mais profunda admiração por todos aqueles que desde o início da caminhada mantiveram acesa uma chama que é fundamental na democracia: a liberdade de imprensa. Com o Jornal do Commercio eu quero ter uma palavra de muito carinho, pois fui algum tempo, ao longo da minha vida, jornalista dos Diários Associados. Tive a oportunidade de pertencer à imensa família Associada do Espírito Santo. Lá, naquela ocasião, nos primórdios da TV Vitória, comecei a compreender por inteiro o que representou na vida de cada um o exercício de fé democrática nas trincheiras de um jornal da cadeia Associada. Hoje, no plenário, para grande alegria nossa, uma alegria dupla: a presença desse admirável apóstolo da educação, Senador João Calmon, Senador do meu Estado, uma das figuras mais aureoladas da vida pública brasileira e que, nos momentos em que eu trilhava os meus primeiros passos, era uma figura estelar, principalmente no Espírito Santo, realizava um notável trabalho de valorização da imprensa, principalmente daqueles órgãos que constituíam na ocasião a cadeia dos Diários Associados. Portanto, é um momento de emoção rever João Calmon, rever os diretores do Jornal do Commercio e saber que a mesma luz acesa há 170 anos hoje, mais do que nunca, se mantém dentro de uma postura de respeito aos princípios democráticos e de maneira muito acentuada, como guardiã dos sentimentos nacionais, tão importantes para nós outros, representantes do povo. Quero cumprimentar V. Exª pelo discurso que realiza e aos demais Senadores que, liderados pelo Senador Artur da Távola, tiveram a iniciativa dessa homenagem. Infelizmente, S. Exª não está hoje aqui presente, mas, por certo, pela sua luz intelectual, anda tão perto de jornais da importância do Jornal do Commercio. Esta homenagem que estamos prestando aqui é o reconhecimento público de toda a opinião brasileira, da sociedade, dos políticos, daqueles que fazem vida pública. Almejamos, sinceramente, que o Jornal do Commercio prossiga na sua trajetória luminosa. Almejamos que esse jornal seja sempre uma referência, como tem sido ao longo de mais de século e meio, de um jornalismo voltado exclusivamente para os mais elevados propósitos do País, fazendo com que nós outros, seus leitores, saibamos que a sua palavra é uma palavra de consolidação principalmente do regime democrático. Parabéns a V. Exª, parabéns ao Jornal do Commercio pelos 170 anos de luta, uma luta respeitada e admirada por todo o povo brasileiro. Muito obrigado.

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ) - Agradeço o aparte de V. Exª, a manifestação que V. Exª faria com mais tempo, tenho certeza, se estivesse na tribuna.

V. Exª antecipou o fechamento desse meu pronunciamento salientando a presença de João Calmon, pois, com o brilhantismo de V. Exª, nada mais me resta senão dizer a ele e a todos os demais palavras já ditas há algum tempo por Austregésilo de Athayde: "O Jornal do Commercio é propriedade legítima do povo brasileiro. Os que o dirigem estão conscientes de sua qualidade de depositários fiéis de um bem coletivo, pelo qual zelam com carinhoso amor e devotamento integral".

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigada. (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/10/1997 - Página 20434