Discurso no Senado Federal

DESIGUALDADE QUE PERMEIA A GLOBALIZAÇÃO COMO FENOMENO ECONOMICO, REVELANDO A INFERIORIDADE COM QUE O BRASIL SE LANÇOU A ESTE PROCESSO E NELE SE ENCONTRA, APONTANDO COMO EXEMPLO, AS ELEVADAS TAXAS DE JUROS BANCARIAS.

Autor
Esperidião Amin (PPB - Partido Progressista Brasileiro/SC)
Nome completo: Esperidião Amin Helou Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • DESIGUALDADE QUE PERMEIA A GLOBALIZAÇÃO COMO FENOMENO ECONOMICO, REVELANDO A INFERIORIDADE COM QUE O BRASIL SE LANÇOU A ESTE PROCESSO E NELE SE ENCONTRA, APONTANDO COMO EXEMPLO, AS ELEVADAS TAXAS DE JUROS BANCARIAS.
Publicação
Publicação no DSF de 03/10/1997 - Página 20798
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • ANALISE, CRITICA, EXCESSO, COBRANÇA, TAXAS, JUROS, BANCOS, BRASIL, PROCESSO, GLOBALIZAÇÃO, ECONOMIA, FAVORECIMENTO, EMPRESA ESTRANGEIRA, PREJUIZO, POPULAÇÃO, RESULTADO, REDUÇÃO, OFERTA, EMPREGO, PRIVATIZAÇÃO, EMPRESA ESTATAL.
  • ANALISE, FACILIDADE, OBTENÇÃO, EMPRESTIMO, BANCO ESTRANGEIRO, COMPARAÇÃO, EXCESSO, COBRANÇA, TAXAS, JUROS, BANCOS, BRASIL, RESULTADO, GLOBALIZAÇÃO, ECONOMIA.

O SR. ESPERIDIÃO AMIN (PPB-SC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo a tribuna por um período relativamente exíguo para deixar consignado mais um exemplo da brutal desigualdade que permeia a globalização como fenômeno econômico, revelando a inferioridade com que o Brasil se lançou a esse processo e nele se encontra. Reconheço que o processo é irreversível, mas lançamo-nos nele da maneira mais desprevenida.

Costumo dizer - usando um jargão popular - que o Brasil entrou num processo de globalização, imaginando-se participar de um baile no qual teria acesso a produtos refinados, antes conhecidos por uma minoria privilegiada. Na verdade, encontramo-nos num baile sim, mas de cobras, sem perneira, ou seja, sem protetor de pernas, e de olhos vendados, portanto, levando mordidas, tomando picadas e recebendo as conseqüências dos prejuízos, em termos de empregos, de empresas e de empreendimentos, sem poder sequer contá-los. Não estamos nem podendo contar, em tempo atual, os mortos, feridos e desaparecidos em termos econômicos e sociais, nesse processo em que fomos lançados.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, trago um exemplo concreto, popular, esperando um pronunciamento das autoridades. Entregarei à Mesa do Senado um prospecto do banco inglês National Westminster Bank, que é, sem querer fazer propaganda de banco brasileiro, uma espécie de Bradesco da Inglaterra, um banco de varejo, com grande número de agências e com uma legião enorme de clientes e funcionários.

Nesse prospecto endereçado aos clientes desse banco, é oferecido um crédito de natureza pessoal, ou seja, dinheiro para o cidadão fazer o que quiser. É o dinheiro mais caro do mundo, oferecido em condições prefixadas. Quem tomar, por exemplo, um empréstimo no valor de 7.100 libras pagará, ao final de 36 prestações mensais sucessivas, Senador Levy Dias, 8.403,84 libras. 

A taxa anual dos juros cobrados para a operação mais cara - e não-vinculada à compra de um bem permanente, como uma casa, ou de um bem de consumo durável, como um automóvel ou um refrigerador - é de 11%. Empresta-se para o que se desejar, até para fazer uma festa.

A prestação mensal, voltando-se ao exemplo mencionado, é 233,44 libras, valor que, multiplicado pelos 36 meses, é igual às já referidas 8.403,84 libras. Esse sistema é oferecido ao cidadão inglês mediante impresso enviado pelo correio.

No Brasil, procurei saber quanto pagaria o cidadão brasileiro, que não é exatamente mais rico do que o inglês, pelo contrário, mas que tem também agora uma moeda estável, e, junto ao Banco do Brasil, procurei estabelecer uma comparação popular, repito. O Banco do Brasil não tem uma linha de crédito de 36 meses.

Temos uma moeda estável, mas não temos operações de 36 meses. A mais parecida com essa, a mais assemelhada tem 24 meses e, se fosse praticada por alguém devidamente cadastrado, como é o caso do banco inglês, a operação em 12 meses, menos em prazo do que a inglesa, ou seja, de 24 meses, representaria um pagamento não de 36 prestações de R$233,00 mas de 24 prestações de R$511,00, perfazendo um total de 12.264 unidades monetárias, no nosso caso, o Real.

O brasileiro tem que pagar a taxa de juros mensal de 4.93%. Não é uma taxa de juros alta, é a menor disponível, pelo menos em minha pesquisa, a qual pode estar errada. Por isso, indago se estou errado ou se a nossa globalização é somente para que venham nos comprar empresas e tomar empregos.

Que tal globalizar a taxa de juros? Seria muito bom. É essa, Sr. Presidente, sob a forma de indagação, a razão da minha comunicação inadiável, porque a taxa de juros é uma realidade.

As autoridades brasileiras estiveram recentemente em Hong Kong e ouviram do FMI o que já sabemos. Talvez tenham ouvido um pouco mais do que sabemos, talvez não saibamos tudo.

Mas faço a seguinte indagação de perplexidade de um cidadão brasileiro: se estamos com uma moeda estável - e é um grande patrimônio -, se estamos em meio a um processo de globalização, que é inevitável, se estávamos meio desprevenidos, que tal globalizar a taxa de juros? Seria a maneira de o brasileiro, já globalizado em tantas coisas, ter globalizada também sua condição de acesso a um requisito indispensável da economia capitalista, que é o crédito.

Como complemento da pergunta, Sr. Presidente, contando com a sua amável compreensão, assinalo: os bancos estrangeiros que estão vindo para o Brasil operam com taxas globalizadas ou com taxas "nacionalistas"? Quer dizer, só são nacionalistas na taxa de juros?

Essa é a indagação, Sr. Presidente. Vou prosseguir no assunto na semana que vem, porque pretendo desdobrar esta questão em requerimentos de informação que nos expliquem por que nós, brasileiros, podemos pagar 50% de moeda estável de montante da reposição do empréstimo, mais do que outros cidadãos globalizados e privilegiados do mundo.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/10/1997 - Página 20798