Discurso no Senado Federal

CRITICAS A POLITICA TRADICIONALMENTE EQUIVOCADA DO BNDES, QUE FINANCIA POUCOS EMPREENDIMENTOS NAS REGIÕES NORTE, NORDESTE E CENTRO-OESTE DO PAIS, DESTINANDO DINHEIRO PUBLICO PARA OS EMPRESARIOS PRIVADOS QUE ADQUIREM EMPRESAS ESTATAIS E UMA MULTINACIONAL QUE ESTA INSTALANDO UMA MONTADORA NO PAIS. MATERIA PUBLICADA NO JORNAL DO BRASIL DE ONTEM, INTITULADA CREDITO, SO PARA RICOS. AGUARDANDO RESPOSTAS DE REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES ENCAMINHADO AO BNDES, RELATIVAMENTE A INSTALAÇÃO DE UMA FABRICA DE CINESCOPIO EM SÃO PAULO. REFERENCIAS AO PROJETO DE LEI DE AUTORIA DO SENHOR BENI VERAS, QUE OBRIGA O BNDES A DESTINAR PARTE DE SEUS RECURSOS AS REGIÕES NORTE, NORDESTE E CENTRO-OESTE.

Autor
Jefferson Peres (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
BANCOS.:
  • CRITICAS A POLITICA TRADICIONALMENTE EQUIVOCADA DO BNDES, QUE FINANCIA POUCOS EMPREENDIMENTOS NAS REGIÕES NORTE, NORDESTE E CENTRO-OESTE DO PAIS, DESTINANDO DINHEIRO PUBLICO PARA OS EMPRESARIOS PRIVADOS QUE ADQUIREM EMPRESAS ESTATAIS E UMA MULTINACIONAL QUE ESTA INSTALANDO UMA MONTADORA NO PAIS. MATERIA PUBLICADA NO JORNAL DO BRASIL DE ONTEM, INTITULADA CREDITO, SO PARA RICOS. AGUARDANDO RESPOSTAS DE REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES ENCAMINHADO AO BNDES, RELATIVAMENTE A INSTALAÇÃO DE UMA FABRICA DE CINESCOPIO EM SÃO PAULO. REFERENCIAS AO PROJETO DE LEI DE AUTORIA DO SENHOR BENI VERAS, QUE OBRIGA O BNDES A DESTINAR PARTE DE SEUS RECURSOS AS REGIÕES NORTE, NORDESTE E CENTRO-OESTE.
Aparteantes
Lúdio Coelho.
Publicação
Publicação no DSF de 04/10/1997 - Página 20910
Assunto
Outros > BANCOS.
Indexação
  • CRITICA, POLITICA, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), FAVORECIMENTO, ABERTURA DE CREDITO, FINANCIAMENTO, EMPRESA PRIVADA, AQUISIÇÃO, EMPRESA ESTATAL, INSTALAÇÃO, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA, PREJUIZO, CREDITAMENTO, EMPRESARIO, PEQUENA EMPRESA, MICROEMPRESA.
  • NECESSIDADE, EMPENHO, CONGRESSO NACIONAL, DISCUSSÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, BENI VERAS, SENADOR, ESTABELECIMENTO, OBRIGATORIEDADE, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), APLICAÇÃO, RECURSOS FINANCEIROS, REGIÃO CENTRO OESTE, REGIÃO NORDESTE, REGIÃO NORTE.
  • EXPECTATIVA, ORADOR, RESPOSTA, BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES, AUTORIA, DISCRIMINAÇÃO, ZONA FRANCA, EXCLUSÃO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO AMAZONAS (AM), FINANCIAMENTO, INSTALAÇÃO, FABRICA, FAVORECIMENTO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senador Nabor Júnior, na sessão de ontem, referiu-se a um documento da Federação das Indústrias do Acre, que criticava a atuação do BNDES na Região Amazônica.

Apesar de ser o maior banco hemisférico - maior mesmo que o Banco Interamericano de Desenvolvimento em termos de recursos, dispõe neste exercício de R$13 bilhões, orçamento maior do que o do BID; creio que só é menor do que o do Banco Mundial -, são poucos os empreendimentos que faz na Região Amazônica e creio que também no Nordeste, região do Senador Geraldo Melo, que preside esta sessão. São percentualmente muito pequenos os empréstimos feitos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

Há três ou quatro anos, esse Banco anunciou com estardalhaço o Programa pela Amazônia Integrada - PAI, e até hoje a Amazônia continua órfã, porque, dos recursos do PAI anunciados pelo BNDES àquela altura, da ordem de R$1 bilhão, não chegaram sequer 10%.

Mais de uma vez estive no BNDES tratando dessa e de outras questões, e o Banco sempre informa falta de demanda de créditos na região ou dificuldades de operacionalização.

Certo é que o Banco já existe há mais de 40 anos, tendo sido criado em 1952, e realmente não consegue irrigar de crédito a Região Norte.

Anuncia programas na área social, como o recém-instituído e conhecido popularmente como "Banco do Povo", divulga pela televisão o oferecimento de microcréditos a microempresários e, até hoje, não existe uma só operação de crédito no meu Estado.

      A propósito, ontem, o Jornal do Brasil publicou a seguinte matéria, intitulada "Crédito, só para ricos":

      "O empresário Luiz Otávio Pinho de Souza, dono da Plug & Play Informática, procurou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social em julho, estimulado pelo gordo orçamento de R$13 bilhões para este ano e pelas declarações de sua diretoria de que estão sobrando recursos. Ele precisava - e ainda precisa - de R$200 mil para ampliar seu negócio. Mas sofreu uma profunda decepção.

      "Bati com a cara na porta. Encontrei um balcão, onde recebi um monte de folhetos e me mandaram procurar um banco comercial. Toda orientação seria dada lá. Foi só aí que soube que o banco só empresta diretamente para quem precisa de mais de R$5 milhões. Será que essas pessoas precisam tomar dinheiro em um banco público?", questionou. Se tivesse procurado o BNDES um pouco depois, veria que a situação piorou. A partir de agosto, o banco só financia diretamente as empresas que precisam de mais de R$7 milhões."

Ou seja, abaixo desse valor, o Banco concederá financiamento apenas indiretamente.

      "A Plug & Play é um escritório de venda de microcomputadores, fatura cerca de R$400 mil por ano e emprega 15 pessoas. Luiz Otávio quer ampliá-lo, dobrando o número de funcionários. "Não estou pedindo capital de giro. Não tenho dívidas e as sobras de caixa são suficientes para manter a empresa. O que tenho são projetos. Sei que se não continuar a investir não conseguirei me manter vivo. Mas o BNDES só tem dinheiro para quem não precisa, para multinacionais que têm condições, mas preferem ficar sendo subsidiadas pelo governo brasileiro", lamentou.

      Mesmo desanimado, Luiz Otávio seguiu as instruções e foi a seu banco, o Bradesco. Lá, ficou sabendo que o seu gerente não poderia lhe ajudar com as linhas do BNDES. Só um gerente em todo o banco estava capacitado para lidar com essas linhas de crédito.

      "Esse gerente não me conhece e não se importa se crio emprego para 15 famílias e pago impostos. Só quer saber se tenho terrenos, apartamentos, enfim, garantias para dar. E isso eu não tenho. Moro em um apartamento da família e ainda estou pagando meu carro. Se tivesse propriedades, venderia para investir em meu negócio; não pegaria um empréstimo", afirmou."

Ontem, os jornais noticiaram também que o BNDES já adiantou R$3,5 bilhões para financiar empresas no Programa de Privatização. Ou seja, são recursos públicos para financiar empresários privados que adquirem empresas estatais.

Ontem, também, falava-se na instalação de uma segunda montadora no Rio Grande do Sul - uma multinacional -, que anuncia investimentos de R$500 milhões, dos quais 50% financiados pelo BNDES, e 25% pelo próprio Governo do Rio Grande do Sul. Ou seja, na verdade, essa empresa entrará inicialmente com 25% apenas, e 75% serão de recursos públicos.

Enquanto isso, o BNDES não tem recursos para financiar um empresário brasileiro, alegadamente por falta de garantias, um empresário idôneo, com uma empresa que funciona sem problemas com o Fisco ou com o INSS.

Sr. Presidente, há um mês, foi anunciado pela Gazeta Mercantil que o BNDES financiaria a instalação de uma fábrica de cinescópios em São Paulo, a terceira do Brasil, desde que a empresa não se localizasse na Zona Franca de Manaus. Estranhei a discriminação e enderecei, deste plenário, um requerimento de informações ao Banco. No dia 1º, anteontem, terminou o prazo de 30 dias. A resposta não me chegou. Tive o cuidado de entrar em contato com a Presidência do BNDES há uma semana, que me prometeu enviá-la dentro do prazo. Não sei se o Banco cumpriu a promessa, e o expediente está retido em algum escaninho do Ministério do Planejamento, porque, por força de dispositivo constitucional, tive de remeter o meu requerimento por intermédio daquele Ministério. Vou aguardar até a próxima semana, Sr. Presidente. Se não houver resposta para o meu requerimento, vou tomar as medidas que o Regimento me assegura, para que me seja dada a informação solicitada. O Banco vai ter que me responder.

Além dessa questão específica, como mostrei, há uma política - parece-me - tradicionalmente equivocada do BNDES na alocação dos seus recursos. Há, no Senado, um projeto do Senador Beni Veras - que pode ser aperfeiçoado, mas, em princípio, acredito tratar-se de um projeto bastante oportuno - que obriga aquele Banco a destinar uma parte dos seus recursos às Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. E, se não o fizer, esses recursos serão destinados à capitalização dos bancos públicos daquelas regiões.

Já fui informado de que a equipe econômica do Governo se mobiliza para bloquear o projeto do Senador Beni Veras. Não sei onde se encontra esse projeto, mas creio que já é hora de desencavá-lo, solicitando ao Relator, seja quem for, para que o traga à discussão. Se o projeto do Senador Beni Veras tem defeitos, não é o ideal, pelo menos abre um caminho, acende uma luz. Alguma coisa o Congresso Nacional tem que fazer em relação ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que é uma instituição pública e precisa servir aos interesses do País.

O Sr. Lúdio Coelho (PSDB-MS) - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador Jefferson Péres?

O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM) - Ouço o aparte do nobre Senador Lúdio Coelho.

O Sr. Lúdio Coelho (PSDB-MS) - Senador Jefferson Péres, V. Exª está transmitindo ao Senado informações importantes. Desejo, a título de colaboração, informar ao Senado Federal que, na Constituinte de 88, criamos o Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste. O ano passado fui ao Presidente da República e transmiti a Sua Excelência a ineficiência do funcionamento desse Fundo. Sua Excelência telefonou ao Ministro Kandir e recomendou que S. Exª nos recebesse. Convoquei todos os Senadores do Centro-Oeste: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. Dos doze Senadores, fomos dez. Fizemos uma proposta muito simples e objetiva a S. Exª o Ministro Kandir, muito ocupado, que sabe tudo, mas não recebemos resposta. Bom, agora fui novamente ao Presidente da República. Esse Fundo do Centro-Oeste, Senador Jefferson Péres, tem R$300 milhões sem aplicar, porque eles criaram um Fundo para o Desenvolvimento da Agricultura e da Infra-Estrutura Industrial, ligado a esse setor, cobrando um custo dos recursos de 16% - JLP mais 6%, se não me engano -, quando o crédito agrícola para o grande produtor é 9,5%. Ninguém pega esses recursos porque não tem jeito de pagar. São Gabriel do Oeste, em Mato Grosso do Sul, é um Município importante em termos de agricultura e de criação de suínos. Lá, montou-se um frigorífico com recursos do FCO e houve numerosos financiamentos para a criação de porcos que iriam abastecer aquele frigorífico. Esse pessoal está quebrando, acabando com a criação e também o frigorífico vai quebrar. Essas leis criando recursos estão sendo pouco eficazes porque não dão cumprimento a elas. Agradeço o aparte que V. Exª me concedeu.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM) - Senador Lúdio Coelho, é o mesmo que acontece com o FNO, Fundo Nacional do Norte, cujos recursos também ficam retidos no Banco da Amazônia e pouco servem à região. O País é assim: dispositivos constitucionais não são cumpridos, programas de crédito anunciados com espalhafato pelo maior banco estatal do País ficam também no papel - na verdade, eles existem, mas o acesso é tão difícil que são inócuos - e o Congresso assiste a isso de olhos abertos, mas impotente, ficando apenas nos discursos de protesto.

Creio que é preciso fazer alguma coisa; essa discussão precisa continuar, Senador Lúdio Coelho, quem sabe por intermédio da Comissão de Fiscalização e Controle, presidida por um Senador da região de V. Exª, o Senador João Rocha. O Congresso possui instrumentos não apenas de criação de lei, mas de controle, os quais não está sabendo utilizar. É hora de o Congresso sair dessa inação e passar a agir com mais empenho, no sentido de monitorar as ações do Executivo.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/10/1997 - Página 20910