Discurso no Senado Federal

NECESSIDADE INEQUIVOCA DA REFORMA PARTIDARIA E A URGENCIA DE SE DEFINIREM PROGRAMAS QUE REFLITAM IDEOLOGICAMENTE A CONDUTA E AS PRIORIDADES DO SEGMENTO POPULAR QUE CADA UM REPRESENTA, A PROPOSITO DO COMERCIO DE LEGENDAS QUE MARCOU A POLITICA NACIONAL NA SEMANA PASSADA. POSICIONAMENTO DE S.EXA. RELATIVAMENTE A FATOS OCORRIDOS NO PSDB DO ESPIRITO SANTO.

Autor
José Ignácio Ferreira (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: José Ignácio Ferreira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • NECESSIDADE INEQUIVOCA DA REFORMA PARTIDARIA E A URGENCIA DE SE DEFINIREM PROGRAMAS QUE REFLITAM IDEOLOGICAMENTE A CONDUTA E AS PRIORIDADES DO SEGMENTO POPULAR QUE CADA UM REPRESENTA, A PROPOSITO DO COMERCIO DE LEGENDAS QUE MARCOU A POLITICA NACIONAL NA SEMANA PASSADA. POSICIONAMENTO DE S.EXA. RELATIVAMENTE A FATOS OCORRIDOS NO PSDB DO ESPIRITO SANTO.
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/1997 - Página 21097
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • NECESSIDADE, REFORMA POLITICA, URGENCIA, DEFINIÇÃO, PROGRAMA, PARTIDO POLITICO, FALTA, FIDELIDADE PARTIDARIA, MANIPULAÇÃO, FILIAÇÃO PARTIDARIA, TROCA, FAVORECIMENTO, ESPECIFICAÇÃO, CRISE, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES).
  • DEFESA, SOBERANIA, CONVENÇÃO ESTADUAL, SOLUÇÃO, PROBLEMA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), ESTADO DO CEARA (CE).

O SR. JOSÉ IGNÁCIO FERREIRA (PSDB-ES. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, as desavenças e desencontros que marcaram a semana passada, serviram para mostrar, de forma inequívoca, a necessidade da reforma partidária e a urgência de se definirem programas que reflitam ideologicamente a conduta e as prioridades do segmento popular que cada um representa.

O que se viu foi um descontrolado comércio de legendas que uns guardavam no bolso como se fossem moedas. O mundo político virou um grande mercado persa onde aconteceu de tudo um pouco: negociavam-se legendas como se vendem frutas nas quitandas.

Quem faz política com seriedade, como é nosso caso, se surpreendeu com o que viu. No meu Estado - o Espírito Santo - no meu próprio Partido, tem pré-candidato que até hoje não rasgou a ficha que assinou com os trabalhistas.

Assinou e pediu ao Presidente do PTB para manter no bolso a ficha. Enquanto isto, tentava usar - Deus do Céu! - como gazua, a própria assinatura, para arrombar resistências ao seu tardio arrependimento e desejo de ficar no Partido, cujas bases e cuja convenção nunca respeitou. Porque sempre fez do Partido instrumento para projetos pessoais.

Nessa linha, chegou a pedir intervenção no Partido no Estado - como sempre através de preposto. E mandou difundir a versão de que a Executiva Nacional iria intervir no PSDB do Espírito Santo. Como se fosse simples assim, tão fácil e tão descompromissado quanto pedir, a prática de um ato tão explosivo e autoritário, desamparado do direito, da moral, da prática democrática e dos objetivos e princípios programáticos do partido.

O fato é que a Executiva Nacional não ousaria arrostar tudo e tentar intervir no meu Estado. Como não o fez na Bahia. Como não o fez na Paraíba. E agora no Rio de Janeiro, em que o Partido assiste estarrecido a filiação de uma das maiores expressões dos anos de chumbo da ditadura militar e do autoritarismo que nós sepultamos, com a nossa luta e o nosso sacrifício, inclusive pessoal.

Mas, se a Executiva Nacional pudesse legal e legitimamente fazê-lo, mesmo assim ela não o faria. Porque iria me respeitar! Porque iria respeitar o meu Estado! E porque, se não sabe, deveria saber que, embora não seja bravateiro nem provocador - ao contrário, sou pessoa muito cordial e de diálogo - não me acovardo. Nem recuo. Já enfrentei lutas muito maiores, aqui mesmo no Parlamento, inclusive contra Presidente da República no cargo. Sou um Senador da República que se dá ao respeito e que respeita. Mas não admiti ontem, nem vou admitir hoje, nem amanhã, que sequer se tente me agredir pessoalmente, ou ao meu Estado, ou às bases e à Convenção do meu Partido. Tentem! E vão ver a minha reação dura, com dignidade e firmeza, dentro da Lei, em repúdio a uma ação que seria espúria, imoral e ilegal, anti-estatutária e antidemocrática, coisa definitivamente impensável na cabeça de homens responsáveis.

Isto definitivamente não é uma ameaça! É uma promessa!

Sempre fui muito claro tanto com o Presidente do Partido, Senador Teotônio Vilela, quanto com o Líder do PSDB no Senado Federal, Senador Sérgio Machado, por quem fui procurado ao longo do episódio. Com absoluta cordialidade. Sem ameaças que não fariam e sabem que não as aceitaria. O Presidente Teotônio propôs alteração de nota anteriormente minutada e não assinada, incluindo pesquisas para aferição de popularidade, entregues 30 dias antes da Convenção, aos convencionais. Era e é, em si, um procedimento discriminatório, específico para o meu Estado, que não resiste a uma decisão judicial. Mas com o qual estou de acordo, para manter a unidade partidária. Disse isto aos jornais. Disse isto às bases, em discurso. Até mesmo porque pesquisas precisam ser feitas, devem e serão feitas pelo Partido e pelos candidatos, com vistas à decisão soberana da Convenção que é o único órgão deliberativo do Partido. Só a Convenção delibera. Executiva executa. Pesquisa alguma elimina ou emascula a Convenção do Partido, que é soberana e vai decidir soberanamente. E, pessoalmente, nunca aceitei nem aceitarei compromissos que traiam meu Partido, cedam a pretensões autoritárias, afastem as bases do processo e excluam a Convenção partidária ou a transformem em órgão homologatório.

Tenho pena dos que não resistem à tentação autoritária e repetem o mesmo comportamento ao longo dos anos, quase sem variação . Um filme velho. Sempre o mesmo protagonista que tem pavor do debate leal e aberto. Que nunca aparece quando há risco de ser olhado nos olhos e enfrentado. Fala através de interlocutores.

Deve ser horrível viver assim! Fazendo da vida um cálculo. Não ter amigos verdadeiros. Não gerar lealdades sinceras. Não ser confiável por qualquer um que o conheça com um mínimo de profundidade. E ainda exibir, sempre com orgulho, as costas quentes de apoios recrutados pela intriga e pela ameaça de defecção.

Nunca julgo pessoas. Ensino sempre aos meus filhos que nunca se deve dizer que alguém não presta ou não valha nada. Até porque todos afinal têm seus valores e suas qualidades. Apenas me concedo julgar comportamentos, o que as pessoas fazem.

E quero sempre desejar que as pessoas conquistem credibilidade sendo credíveis; conquistem democracia com prática democrática; e conquistem respeito, respeitando sobretudo a si mesmos.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/1997 - Página 21097