Discurso no Senado Federal

COMENTANDO O ARTIGO INTITULADO 'PATRIOTADA INUTIL', DA JORNALISTA DORA KRAMER, PUBLICADO NO JORNAL DO BRASIL DE HOJE, SOBRE AS INDISPOSIÇÕES ENTRE AS AUTORIDADES BRASILEIRAS E A SEGURANÇA DO PRESIDENTE BILL CLINTON.

Autor
Jefferson Peres (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • COMENTANDO O ARTIGO INTITULADO 'PATRIOTADA INUTIL', DA JORNALISTA DORA KRAMER, PUBLICADO NO JORNAL DO BRASIL DE HOJE, SOBRE AS INDISPOSIÇÕES ENTRE AS AUTORIDADES BRASILEIRAS E A SEGURANÇA DO PRESIDENTE BILL CLINTON.
Publicação
Publicação no DSF de 14/10/1997 - Página 21796
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, DORA KRAMER, JORNALISTA, PUBLICAÇÃO, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CRITICA, ATUAÇÃO, AUTORIDADE, BRASIL, RESPOSTA, EXIGENCIA, SEGURANÇA, VISITA OFICIAL, BILL CLINTON, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ESPECIFICAÇÃO, CELSO DE MELLO, MINISTRO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), VICENTE CHELOTTI, SUPERINTENDENTE, POLICIA FEDERAL, ELOGIO, COMPORTAMENTO, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, PRESIDENTE, CONGRESSO NACIONAL, RECUSA, ATENDIMENTO, IMPOSIÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Srs. Senadores, na última sexta-feira, abordei aqui os problemas relacionados com a visita do Presidente Bill Clinton ao Brasil.

Hoje, a jornalista Dora Kramer, do Jornal do Brasil, publicou artigo na mesma linha do meu pronunciamento, que me permito ler, para constar nos Anais deste Senado, sob o título de "Patriotada Inútil":

      Ruim mesmo para o Brasil não é o documento do Departamento de Comércio, não são as exigências da segurança do Presidente Bill Clinton, muito menos a falta de diplomacia do Embaixador Melvyn Levitsky ou meia-dúzia de orientações que o Governo americano dê aos jornalistas que virão dos Estados Unidos acompanhando Clinton. Muito pior para uma nação que se pretende tão altiva, moderna, resolvida e desenvolvida é a patriotada de quinta categoria que desde a semana passada assola o País.

      Ao contrário de impor um pingo de respeito a quem quer que seja, o que está se vendo serve apenas para reafirmar o que há de mais nefasto na já distorcida imagem que temos por aí afora. Nada mais exótico que considerar um ataque à soberania nacional o mero exercício do zelo pela segurança do Chefe da Nação mais importante do mundo.

      Ou, da mesma forma como no Brasil a Justiça é célere, a educação esplêndida, a corrupção inexistente e a segurança nas ruas, divina, os Estados Unidos não são o país mais importante e seu Presidente um dos homens mais visados do mundo? Se houver discordâncias, sempre se poderá revogar essa realidade em nome da preservação da integridade moral do território independente do Morro da Mangueira.

      Não apareceremos exatamente como um país sério nos noticiários internacionais, caso eles resolvam centrar foco na valentia brasileira que, à falta de melhores bandeiras de luta - como o fim da corrupção, a melhoria da Justiça, da segurança e da educação -, se dedica a produzir malcriações estéreis.

      O Presidente do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, ao recusar-se a ir à recepção do Itamaraty, não teve sequer a prerrogativa do ineditismo. Copiou um dos melhores momentos do seu antecessor Sepúlveda Pertence e do então Presidente do Senado, José Sarney, que se recusaram a receber Alberto Fujimori.

E dou um depoimento, Sr. Presidente. Aqui mesmo, ao Presidente Sarney, no dia seguinte, eu disse: Presidente, V. Exª não estava num dia feliz quando se recusou a receber o Presidente Fujimori. E S. Exª teve a grandeza de me dizer que se arrependia do que havia feito.

      Ora, se a falta de educação significou zero para um ditador peruano, ao Presidente dos Estados Unidos é que não vai incomodar a ausência do Ministro numa festa. Ficou ruim para o Ministro, que poderia muito bem simplesmente não comparecer, mas preferiu construir uma conotação política onde ela inexiste e acabou dando a impressão de que fez jogada de marketing pessoal.

Como diz a jornalista, ele poderia não comparecer, se não gostou da crítica ao Judiciário. Tudo bem. Mas dar entrevista para posar de herói, com essa patriotada provinciana, realmente não fica bem para o Presidente da mais alta Corte de Justiça do País.

      Fora o fato de que o Judiciário, que tanto reclama do excesso de processos, justificando assim a lentidão da Justiça, terá que ficar muito tempo sem falar no assunto. Ou, então, começar a providenciar julgamentos relâmpagos.

      O Presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, quase contribuiu para o vexame completo. Pensou, mas recuou a tempo, em cancelar a visita de Clinton ao Congresso porque a Segurança limitou a dez o número de Parlamentares que teriam acesso ao Presidente. Seria um vexame em regra pelo simples fato de que foi o Brasil quem insistiu na visita ao Parlamento; os americanos não queriam.

Diga-se, a bem da verdade, que o Presidente Antonio Carlos Magalhães repeliu as exigências e acabou impondo. S. Exª disse que não aceitava as exigências feitas, e os americanos acabaram cedendo. E é assim que se age: de forma altiva. Eles fazem as exigências, nós aceitamos ou não. O Presidente Antonio Carlos Magalhães não aceitou e nem por isso saiu com bravatas.

      Portanto, há muito se sabia que a visita não seria cercada de liberalidades, e ninguém reclamou. Fazê-lo agora que a moda da estação é a impertinência em fantasia verde-amarela pode dar a impressão de que nossas autoridades estejam apenas querendo pegar carona nessa guerra fria estilizada que resolvemos declarar de uma hora para outra.

      O bom-senso também teria poupado o Superintendente da Polícia Federal, Vicente Chelotti, de uma desnecessária exposição negativa. Ele quis negar porte aos armamentos que os americanos usam para a proteção do Presidente, enquanto cumpriria melhor suas funções se reservasse a mesma firmeza - e inclusive o mesmo estardalhaço - para combater o tráfico de armas que abastece o crime, não apenas no Rio.

      O Superintendente, aliás, está na Índia, país onde o Presidente Fernando Henrique esteve em 1996, numa visita cercada por um severíssimo esquema de segurança em que os que o acompanhavam eram milimetricamente revistados, sob a vigilância de soldados com armamentos pesados, em qualquer lugar onde fosse a comitiva. Ninguém reclamou nem se sentiu atingido em sua individualidade de brasileiro, pois esse é o costume do país que já teve governantes assassinados em atentados.

      A diferença é que em relação à Índia ninguém nutre sentimento de inferioridade. Portanto, fatos como esse são encarados dentro de sua real dimensão. E que os que reclamam da arrogância dos americanos não se iludam: os companheiros indianos, cidadãos do Terceiro Mundo como nós, também não possuem a malemolência, o charme, a simpatia e o veneno que a nossa gente bronzeada resolveu agora cobrar dos louros galalaus de Tio Sam.

      E tirando as trapalhadas de mister Levitsky, eles não fazem concessões ao amadorismo. São profissionais pagos para exigir o máximo. Da mesma forma que os nossos são pagos para aceitar o que estiver no limite do razoável. E, das duas dezenas de pedidos feitos pela segurança americana, pasmem nossos valentes, apenas oito foram aceitos."

Sr. Presidente, requeiro a inserção do artigo da jornalista nos Anais do Senado. Acho um artigo de uma enorme lucidez e que põe as coisas nos seus devidos lugares, no meu entender, tal como já havia feito na última sexta-feira.

Soberania e altivez, repito, como disse na sexta-feira, se mostram na hora da negociação, é não ceder às exigências americanas quando elas não convêm aos nossos interesses. É simplesmente isso, mas não com patriotadas vazias, provincianas e que só nos cobrem de ridículo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/10/1997 - Página 21796