Discurso no Senado Federal

PARABENIZANDO O SENADOR VALMIR CAMPELO, QUE ONTEM, NUMA REUNIÃO HISTORICA DA COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, TEVE A UNANIMIDADE DOS VOTOS PARA OCUPAR A VAGA DE MINISTRO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. REFUTANDO AS AFIRMAÇÕES OFENSIVAS E INACEITAVEIS A REALIDADE BRASILEIRA, CONTIDAS EM RELATORIO DIVULGADO PELA EMBAIXADA AMERICANA.

Autor
José Roberto Arruda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/DF)
Nome completo: José Roberto Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA. :
  • PARABENIZANDO O SENADOR VALMIR CAMPELO, QUE ONTEM, NUMA REUNIÃO HISTORICA DA COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, TEVE A UNANIMIDADE DOS VOTOS PARA OCUPAR A VAGA DE MINISTRO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. REFUTANDO AS AFIRMAÇÕES OFENSIVAS E INACEITAVEIS A REALIDADE BRASILEIRA, CONTIDAS EM RELATORIO DIVULGADO PELA EMBAIXADA AMERICANA.
Publicação
Publicação no DSF de 11/10/1997 - Página 21684
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, APROVAÇÃO, UNANIMIDADE, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, SENADO, INDICAÇÃO, VALMIR CAMPELO, SENADOR, OCUPAÇÃO, VAGA, MINISTRO, TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU).
  • REPUDIO, DOCUMENTO, AUTORIA, EMBAIXADA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), DESTINAÇÃO, EMPRESARIO, ACUSAÇÃO, EXISTENCIA, BRASIL, ENDEMIA, CORRUPÇÃO.
  • CUMPRIMENTO, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, PRESIDENTE, CONGRESSO NACIONAL, ATUAÇÃO, RESPOSTA, CRITICA, AUTORIA, EMBAIXADA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), REFERENCIA, ENDEMIA, CORRUPÇÃO, BRASIL, EMPENHO, SOCIEDADE, PAIS, MELHORIA, EXERCICIO, FUNCIONAMENTO, INSTITUIÇÃO PUBLICA, JUDICIARIO, PUNIÇÃO, POLITICO, EMPRESARIO, MOTIVO, EXECUÇÃO, FRAUDE, IRREGULARIDADE, RESULTADO, PREJUIZO, FINANÇAS PUBLICAS.

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB-DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, minhas primeiras palavras da tribuna hoje devem ser de homenagem ao Senador Antônio Valmir Campelo Bezerra, que ontem, numa reunião histórica da Comissão de Assuntos Econômicos, teve a unanimidade dos votos dos pares dessa Comissão para ocupar a vaga de Ministro do Tribunal de Contas da União.

Como relator dessa matéria, como companheiro e amigo do Senador Valmir Campelo nos últimos 20 anos de vida em Brasília e no Congresso Nacional, senti-me até homenageado por ter tido a oportunidade e o privilégio de relatar a indicação do Senador Valmir Campelo para o Tribunal de Contas da União.

Sr. Presidente, todos os partidos políticos que têm assento no Senado Federal estavam representados na Comissão de Assuntos Econômicos e todos os parlamentares presentes, unanimemente, sufragaram o nome do Senador Valmir Campelo para o Tribunal de Contas da União.

O Sr. Edison Lobão (PFL-MA) - V. Exª permite-me um aparte?

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB-DF) - Concedo, com o maior prazer, um aparte ao Senador Edison Lobão.

O Sr. Edison Lobão (PFL-MA) - Senador José Roberto Arruda, no instante em que V. Exª homenageia nosso companheiro Senador Valmir Campelo, eu gostaria de me filiar a essas homenagens com entusiasmo. Porém não o faço, porque, na medida em que S. Exª será Ministro - certamente brilhante Ministro - do Tribunal de Contas, nos abandonará, o que lamento profundamente. Portanto, V. Exª tem os meus cumprimentos pela homenagem que faz e também o Senador Valmir Campelo, só que com esta restrição: preferiria que ele pudesse ser, ao mesmo tempo, Ministro e Senador da República, ao nosso lado.

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB-DF) - O sentimento expressado pelo Senador Edison Lobão é o de todos nós, não só pelo desempenho parlamentar importante do Líder Valmir Campelo em toda sua vida pública - 16 anos como Prefeito, administrador regional, Deputado Federal Constituinte, Senador -, mas também pelo amigo que o Valmir sempre soube ser.

Conheci Valmir quando eu ainda tinha cabelos - vejam o tempo que faz! - quando eu era engenheiro da CEB e ele administrador regional. Convivemos durante muitos anos nesta cidade.

Quero dizer, de público, que aprendi muito com Valmir e, se estou hoje no Senado Federal, devo muito a ele. Ele era candidato ao Governo de Brasília e eu compus sua chapa. Quando começamos a campanha, eu tinha míseros 1% de intenção de votos e o Valmir me ajudou muito, passando sua experiência, levando-me aos lugares onde era mais conhecido e aprovado do que eu, ajudando-me, assim, a chegar ao Senado.

Quando aqui cheguei, inexperiente, o Senador Valmir passou-me toda sua experiência. Ontem, na Comissão de Assuntos Econômicos, alguém - tenho a impressão que foi o Senador Romero Jucá - disse uma frase muito feliz, que representa aquilo que aconteceu comigo: o Senador Valmir recebeu-me aqui e passou-me toda a sua experiência, ao mesmo tempo que, com muita humildade, sem nenhuma presunção, fingia que não estava ensinando. Essas coisas, obviamente, não esquecemos.

Senador Geraldo Melo, que preside esta sessão, sabe V. Exª o que fico pensando? Em um País onde o cidadão nasce numa família pobre em Crateús, vem para Brasília ser datilógrafo e consegue fazer a vida pública que fez, chegando ao Tribunal de Contas da União, um País como este tem que dar certo. Não é possível que as pessoas não tenham oportunidades. A vida do Senador Valmir Campelo é uma demonstração de que este País reserva oportunidades para todos os seus filhos. E o nosso trabalho aqui é justamente no sentido de ampliar essas oportunidades, de fazer com que casos como esse aconteçam cada vez mais, revertendo as desigualdades com as quais ainda convivemos.

O Sr. Valmir Campelo (PTB-DF) - V. Exª me permite?

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB-DF) - Com o maior prazer, Senador Valmir.

O Sr. Valmir Campelo (PTB-DF) - Não poderia deixar de agradecer, em primeiro lugar, ao Senador Edison Lobão pelas suas palavras e pelo aparte que fez a V. Exª. Porém, quero agradecer principalmente a V. Exª pelas palavras proferidas ontem como Relator na Comissão de Assuntos Econômicos. Meu amigo pessoal, José Roberto Arruda, há muitos anos estamos aqui em Brasília, nos formamos com esta cidade, vimos esta cidade nascer. V. Exª, como engenheiro brilhante, exerceu tantas funções, entre elas: diretor de empresa, Chefe da Casa Civil, secretário de duas Secretarias importantes - a de Serviços Públicos e a de Viação e Obras. V. Exª realmente exerceu e exerce uma influência muito grande nesta cidade, principalmente pela sua inteligência, pela sua vontade de vencer. Fico muito grato por suas palavras; e as minhas, Senador José Roberto Arruda, vêm do fundo do coração de um amigo, que, junto com V. Exª, vem lutando em prol da nossa sociedade e da nossa comunidade. Estou me despedindo da política; logo mais estarei me desfiliando do meu partido, mas tenho absoluta certeza de que Brasília vai poder continuar contando com homens brilhantes como V. Exª. Fico tranqüilo de deixar a política porque sei que Brasília terá pessoas como V. Exª preocupadas com o bem-estar da nossa sociedade, do nosso povo, da nossa gente, e não haverá apenas o radicalismo, de um lado; ou populismo, de outro. Tenho absoluta certeza de que V. Exª vai preencher essa lacuna. Senador Arruda, tem V. Exª uma missão muito grande pela frente. Agradeço as suas palavras e sou muito grato, também, a todos os Senadores amigos. Estou falando muito mais com o coração do que com a razão e o faço desse modo porque assim aprendi aqui no Senado Federal, com esses homens e mulheres, Senadores e Senadoras da República. Guardamos essa emoção no coração: a emoção da lealdade, da amizade, da transparência. Nesta Casa, também, aprendi algo maior: que o político tem de ter a humildade no coração para poder levar avante os seus projetos, as suas reivindicações e, se possível, o seu sucesso. Agradeço a V. Exª o carinho e, acima de tudo, a amizade.

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB-DF) - Agradeço o aparte de V. Exª.

O Plenário do Senado Federal deverá se reunir, na próxima terça-feira, para analisar o nome do Senador Valmir Campelo. Como Relator, vou à tribuna para, com a razão e com a emoção, dizer dos motivos que me levam - e que, graças a Deus, levaram, à unanimidade, os membros da Comissão de Assuntos Econômicos - a aprovar o nome do nobre Senador Valmir Campelo.

Hoje, desta tribuna, quero registrar um fato político importante que marcou as últimas 24 horas. As relações do Brasil com as grandes nações do mundo têm se pautado, ao longo da última década, pela firmeza e pela serenidade com que o Governo brasileiro tem defendido as suas posições no cenário internacional. Na área comercial isso fica mais patente, mas tem acontecido também na área política.

Nos últimos anos, com a credibilidade pessoal do Presidente Fernando Henrique e em função das mudanças profundas que o País vive com o Plano de Estabilização Econômica, além do fortalecimento do sistema democrático, o Brasil tem experimentado uma nova imagem no cenário internacional: uma imagem mais justa, mais próxima da realidade de um povo que tem sabido superar as suas dificuldades e construir um projeto de nação.

Fomos atingidos, todos nós, o povo brasileiro, com afirmações nascidas na Embaixada Americana, expressões ofensivas e inaceitáveis à realidade brasileira. Muitos de nós já havíamos, num primeiro momento, com a veemência que o caso exigia, refutado essas afirmações. Mas é de destacar que o Presidente do Congresso Nacional, Senador Antonio Carlos Magalhães, com a autoridade da sua vida pública; com a autoridade do cargo que exerce, eleito pelo seus pares; como a maior autoridade legislativa do País, veio a público refutar com veemência as críticas que nos eram dirigidas.

Disse o Senador Antonio Carlos Magalhães, com todas as letras, que os Estados Unidos não têm autoridade para criticar. Reagiu, mostrando que aquela era uma atitude prepotente e, mais do que isso, escondia um preconceito histórico dos Estados Unidos em relação à Nação brasileira.

Horas depois, Sr. Presidente, o embaixador norte-americano telefonou ao Ministro das Relações Exteriores do Brasil - e isso já é noticiado nos jornais de hoje -, desculpando-se pelas expressões ofensivas e retirando-as do relatório distribuído a empresários norte-americanos que nos visitam.

Recentemente, li um romance, chamado Cores Primárias, de um autor anônimo americano, que contava os bastidores de uma "pseudocampanha" presidencial americana. Confesso a V. Exª que, apesar da semelhança de personagens, de situações e de circunstâncias, em nenhum instante, consegui imaginar que o seu enredo pudesse ter relação com a realidade americana. Sabe por que não pensei nisso, Sr. Presidente? Porque, como Senador da República, nunca quis cometer, nem em pensamento, com o povo americano a injustiça que o relatório da Embaixada americana cometeu com o Brasil.

Quero dizer da tribuna que, no meu pensamento pessoal, Cores Primárias, esse romance vendido no mundo inteiro, não deve ter nada a ver com a realidade; deve ser apenas uma ficção, ficção provada, inclusive, pelo anonimato do seu autor. Depois, lemos matérias em jornais, matérias em revistas, dizendo que esse autor anônimo poderia ser este ou aquele assessor de campanha, deste ou daquele candidato à Presidência dos Estados Unidos. Pessoalmente, no entanto, não quero acreditar nisso. E não quero acreditar por várias razões, entre elas porque devemos ter respeito por todas as Nações do mundo. É respeitando-as que temos autoridade para exigir que respeitem o Brasil.

Não queremos tapar o sol com a peneira; sabemos dos nossos problemas, conhecemos as mazelas da nossa sociedade e até do nosso aparelho de Estado nos seus três níveis. Mas, a nossa geração, Sr. Presidente, tem trabalhado como nunca para expor as suas próprias feridas e para resolvê-las com transparência, clareza. Temos conseguido isso. O mundo todo tem conhecimento do esforço do Congresso Nacional e do sofrimento do povo brasileiro, ao fazer um impeachment num Presidente que havia sido eleito, pelo voto direito, na primeira eleição direta, que se seguiu a 20 anos de ditadura.

O mundo inteiro e a sociedade brasileira assistiram o Congresso Nacional expor as suas próprias vísceras e cassar mandatos de parlamentares por denúncia de corrupção no manuseio do Orçamento da União.

O Brasil inteiro assiste ao esforço que a sociedade brasileira e a sua classe dirigente fazem no sentido de unir as suas convergências, de tentar mudar o aparelho de Estado, de tentar mudar o perfil da nossa sociedade. Exatamente nesse momento de esforço concentrado da sociedade brasileira em construir um projeto de Nação, não há como não nos sentirmos ofendidos com as declarações levianas contidas no relatório de um órgão ligado ao Estado norte-americano.

Mas não cabe mais refutá-las. O Presidente do Congresso Nacional, com a autoridade da sua vida pública e do cargo que exerce, já o fez. A embaixada norte-americana, numa prova de bom senso já se desculpou por isso.

Ocupo a tribuna hoje, Sr. Presidente, para cumprimentar o Presidente do Congresso Nacional pela força no exercício da sua autoridade, porque, mediante sua palavra pública e oficial, a História deste País e a história das relações do Brasil com os Estados Unidos vai registrar que o povo brasileiro, com bom senso, com educação, com equilíbrio, mas com firmeza, através de seus líderes, defende a sua soberania. A nação norte-americana curva-se e se desculpa pelos seus excessos e pelos preconceitos contidos naquele relatório.

Cumprimento da tribuna, Sr. Presidente, o embaixador norte-americano. Homem de Estado que é, soube no momento exato reconhecer falhas naquele relatório.

Dessa forma, Sr. Presidente, estou absolutamente convencido de que a história do povo americano não pode ser maculada em função desse ato infeliz; absolutamente convencido de que a utopia da união dos povos americanos está acima desses episódios nefastos, mas transitórios das nossas relações; absolutamente convencido de que a visita do Presidente norte-americano ao Brasil deverá marcar um momento importante no fortalecimento das relações políticas e comerciais entre Brasil e Estados Unidos; absolutamente convencido, Sr. Presidente, de que o Presidente norte-americano sabe que vai encontrar um Brasil soberano, um Brasil de pessoas boas, com os braços abertos para o incremento das relações, mas pessoas que não se curvam a ameaças e infelicidades como essas. Se houve, no passado, está virada a página da História de um país que se curvava a pressões internacionais.

Temos o orgulho de construir com as nossas próprias mãos o nosso destino. E é com esse orgulho, Sr. Presidente, que venho a esta tribuna para cumprimentar, de público, o Presidente do Congresso Nacional. S. Exª foi extremamente feliz, e provavelmente marcou sua vida pública definitivamente com esse gesto, porque o Presidente do Congresso Nacional, autoridade máxima do Legislativo brasileiro, tinha efetivamente a obrigação de marcar a posição que, em nome do povo brasileiro, marcou.

Não sei se todos os analistas políticos já entenderam tudo o que não foi dito: a importância do gesto do Presidente do Congresso para que o Presidente da República não precisasse fazê-lo. E essa é a importância do gesto do Presidente do Congresso Nacional.

É preciso reconhecer, Sr. Presidente, acima de qualquer divergência partidária ou ideológica, que o Presidente do Congresso Nacional, o Senador Antonio Carlos Magalhães, marcou um posicionamento não só em nome desta Casa, mas em nome de todo o povo brasileiro.

Estou convencido de que, com essa postura firme do Presidente Antonio Carlos Magalhães e a postura digna do embaixador dos Estados Unidos, encerra-se esse episódio. Estamos absolutamente preparados para receber o Presidente norte-americano e sua comitiva, com os braços abertos, com o coração aberto e com toda a nossa inteligência, a nossa capacidade de trabalho voltada para o incremento das relações do Brasil e dos Estados Unidos. Essas relações não podem ser chamuscadas com episódios menores como esse, que fatalmente estão fora da curva das nossas relações.

Com esse gesto do Presidente Antonio Carlos Magalhães e com as palavras do embaixador norte-americano, não tenho dúvida - repito - esse episódio está encerrado. Eu não poderia, como Líder do Governo no Congresso, deixar de expressar o meu orgulho pela forma oportuna, firme com que o Presidente desta Casa se houve no momento difícil das relações do Brasil com os Estados Unidos.

Era o que tinha a dizer. Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/10/1997 - Página 21684