Discurso no Senado Federal

HOMENAGEIA O PROFESSOR PELO TRANSCURSO DO SEU DIA.

Autor
Joel de Hollanda (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Joel de Hollanda Cordeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEIA O PROFESSOR PELO TRANSCURSO DO SEU DIA.
Aparteantes
Lauro Campos.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/1997 - Página 22022
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, PROFESSOR.
  • ELOGIO, GOVERNO FEDERAL, PROGRAMA, VALORIZAÇÃO, MAGISTERIO.

O SR. JOEL DE HOLLANDA (PFL-PE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, coração aberto, alma vibrante e mãos agradecidas, reunimo-nos aqui para homenagear os mestres brasileiros. E o fazemos não porque hoje é o Dia do Professor. Desprezamos, na verdade, homenagens com hora marcada, desvirtuadas quase sempre nos seus objetivos. Rendemos nossa homenagem, isto sim, como alguém que entrega a um amigo um presente adquirido a partir de economias recolhidas ao longo de todo um ano de trabalho.

Move-nos um imperativo da nossa própria consciência, reconhecendo que os embates do cotidiano nem sempre nos permitem oportunidades de externar nossos sentimentos.

Assenta-se esta homenagem no reconhecimento do muito que o mestre representa para cada um de nós.

Mestre -construtor anônimo de monumentos vivos.

Mestre - que vê muito além do que os olhos vêem, o coração sente e a alma esconde.

Mestre - que faz da educação sua forma de vida.

É certo que a classe sofre hoje as conseqüências da massificação resultante da verdadeira linha-de-montagem em que se transformaram muitas faculdades de formação de professores. Mas os verdadeiros mestres, estes sobreviverão e continuarão sendo candeia e porto para as futuras gerações.

Desconhecemos os sentimentos que te fizeram professor. Sabemos, todavia, que são profundas e verdadeiras tuas raízes, pela grandeza de tua obra.

Tem muito significado o gesto da mão da professora, segurando, ternamente, a mão infantil que prende o lápis no desenho trêmulo das primeiras letras do alfabeto. Representa um ato de encontro: do artista, com sua obra ainda por fazer; do pintor, com a tela virgem onde em pensamento explode o colorido dos sonhos; do artesão, com o barro virgem onde deverão ser marcadas as formas puras do amanhã; do poeta, com o papel branco e puro à espera do verso que já rompe a aurora. Significa ainda um ato de solidariedade entre aquele que estende a mão generosa e o que estende a mão agradecida, que acolhe no gesto consumando o ato vivo da doação. Configura também um ato de construção.

Edifica-se o homem com a pedra da fé e a argamassa do compromisso inarredável com o nosso futuro.

Consciência temos das muitas dificuldades que se antepõem ao trabalho do educador, muitas das quais acumuladas ao longo de várias décadas.

Determinado e realista, na medida, porém, das possibilidades do Tesouro Nacional, vem o Presidente Fernando Henrique, através do Ministério da Educação - à frente o Ministro Paulo Renato de Souza -, dando sua parcela de contribuição no sentido de reduzir as distorções existentes no setor educacional brasileiro.

Dispensa-se o espírito de reconhecimento e de justiça que norteia o caráter dos verdadeiros educadores de, nessa hora, citar as muitas ações concretas já executadas, beneficiando o Magistério oficial do País, na gestão do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Permitam-me assinalar somente que tais providências não se têm destinado exclusivamente a propiciar ao professor melhor remuneração. Se esse fosse seu intento único, estaríamos reduzindo a uma simples questão pecuniária algo que na verdade não tem preço, que é a dedicação à causa abraçada.

Mas as medidas até hoje adotadas se voltam sobretudo para a concessão de novos incentivos e motivações para o exercício da função docente; para a melhoria das condições de trabalho do professor; para assegurar sua participação nas decisões educacionais; para infundir-lhe mais confiança em si mesmo e no seu trabalho; para reconhecer-lhe a respeitabilidade inerente à profissão que exerce e garantir-lhe o que de direito se há de garantir a quem se exalta pelo trabalho: a consideração como pessoa humana.

Assinalo também que tais providências, além de se constituírem de elevada importância para o professor, têm propiciado avanços significativos na direção da meta-síntese: a melhoria da Educação em nosso País.

Estou convencido de que a promoção do professor não se fará isolada do contexto onde ele opera diariamente sua missão de resgatar valores humanos para a obra de permanente reconstrução do mundo. Nesse sentido, a melhoria qualitativa da Educação corre em paralelo com a valorização do Mestre, e as duas coisas se interpenetram na composição do quadro brilhante em que desejo e desejamos se converta a escola entre nós.

Neste dia, portanto, nossa mensagem é de confiança e esperança. De confiança, na seriedade do trabalho que continuará sendo desenvolvido em nossas escolas, forjando as novas gerações.

O Sr. Lauro Campos (Bloco\PT-DF) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. JOEL DE HOLLANDA (PFL-PE) - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Lauro Campos (Bloco\PT-DF) - Não poderia silenciar, nobre Senador, neste dia em que o Senado, por intermédio de alguns de seus expoentes, homenageia o professor. Quando nasci, meu pai era professor catedrático, empossado por concurso público de provas e títulos, de Filosofia do Direito da Universidade Federal, depois Universidade Federal de Minas Gerais. Com um interregno muito pequeno, em que ele foi Deputado Federal, dedicou sua vida inteira ao magistério superior. Quando doente, pediu aos médicos para permitirem que ele levasse um balão de oxigênio para a sala de aula, a fim de que pudesse continuar até o fim lecionando. Depois de lecionar, o seu pulmão se sentia oxigenado e sua cabeça se sentia rejuvenescida. Esse foi o exemplo que segui. Pretendia também morrer na Universidade. Mas, ao longo do tempo, tendo feito também concurso para catedrático, tendo acordado, durante anos, às 3h15min para lecionar na Universidade Federal de Goiás, depois de ter sido professor de dedicação exclusiva na Universidade de Minas Gerais, percebi que a universidade não era mais, cada dia era menos, um túmulo digno de receber os meus restos mortais. Preferia, pensei eu, morrer em qualquer lugar, à margem de um rio, num comício, do que morrer numa sala de aula, numa universidade que realmente me decepcionara ao longo da minha vida. Só considero digna a cátedra na medida em que ela seja realmente contemporânea do futuro, em que ela possa exercer, em sua plenitude, a função crítica que deve ter o professor. Por isso, ele deve ser intocável numa sociedade realmente democrática. Eu sabia que deveria ser catedrático, porque até então os catedráticos não tinham sido tocados, tinham sido respeitados pelas ditaduras anteriores. Pude continuar, por ser catedrático, a minha luta; conservei a minha postura crítica ao longo de todo o Golpe de 64 e só silenciei quando, ameaçado de morte, tive de deixar o Brasil para ir para uma universidade na Inglaterra. Tenho certeza, portanto, que a universidade de hoje, como acontece de um modo geral no serviço público, em relação aos vencimentos, por exemplo, está perdendo, cada vez mais, o respeito que os professores e que a carreira merecem. Não é apenas a perda agora de 30% depois da aposentadoria, é que, ao chegarmos à aposentadoria, o nosso salário já está totalmente aviltado. Eu sei disso, meu pai era catedrático, foi Deputado Federal e, quando voltou, o seu vencimento era o mesmo. E, naquele tempo, um Deputado ganhava o dobro do que ganha um Deputado hoje. Eu, quando voltei da Inglaterra, tinha tirado um carro no consórcio e o que eu ganhava num mês era exatamente o preço de um carro zero quilômetro; hoje, eu não ganho uma roda na minha aposentadoria. Isso me foi desfalcado e subtraído ao longo do tempo, chegando à aposentadoria já completamente exaurido, esgotado e empobrecido.

De modo que, perdemos a capacidade crítica, em grande parte e perdemos o elã e a força que nos ligava à profissão. Realmente, quando se trata de professor, a palavra "profissão", que significa "professar, ter fé, ter confiança", de fato, aplica-se muito bem. Durante a minha vida inteira, disse que, mesmo sem ganhar nada, se pudesse, continuaria a exercer a minha profissão. Assim, são essas circunstâncias todas que tornam mais difícil a dedicação à nossa carreira de professor. Infelizmente, vemos hoje aquilo que, há vinte anos, eu dizia que procurava sabotar: "Aqui é uma linha de montagem, de cabeças tipo coca-cola. E a minha função é sabotar essa linha de montagem; exercer o espírito crítico a respeito daquilo que a maior parte dos meus colegas já ensinavam". De maneira que agradeço o aparte que V. Exª me conferiu. Peço desculpas por ter-me alongado, mas era a única forma de me manifestar acerca de um assunto que me diz respeito tão de perto. Muito agradecido.

O SR. JOEL DE HOLLANDA (PFL-PE) - Agradeço duplamente a V. Exª o aparte com que acaba de me honrar, porque V. Exª além de ser um Senador, colega de representação neste Senado, é também um professor por opção. E, portanto, reúne estas duas virtudes: ser o representante do povo do Distrito Federal e ser um professor da Universidade de Brasília. V. Exª, nesse aparte-desabafo, chama a atenção para a situação do mestre em nosso País, assunto que também tentei abordar em meu modesto pronunciamento. Mas me recuso a resumir essa situação apenas à questão financeira, porque acho que a nobre missão de ensinar envolve outros valores que são inerentes ao mestre, ao professor, a exemplo de V. Exª, que dedicou toda a sua vida à cátedra, à missão de formar nossos jovens na Universidade de Brasília.

Dessa maneira, Senador Lauro Campos, incorporo, com muita alegria, o seu aparte ao meu pronunciamento. Como V. Exª, eu também desejo que nosso País desperte para a importância de valorizar o seu professorado, para que possamos ter homens e mulheres preparando os nossos jovens para o futuro e que esse futuro seja cada vez melhor para o Brasil, um futuro com desenvolvimento e, sobretudo, com justiça social.

Retomo agora, Sr. Presidente, a linha do meu pronunciamento, dizendo que este é também um momento de confiança em nosso timoneiro e líder, o Presidente Fernando Henrique, pela sua identificação com as causas do magistério e pelo seu apoio sempre presente às suas legítimas aspirações.

É também de esperança, porque, de mãos dadas, iremos alcançar outras vitórias para o magistério, o que vale dizer: para o Brasil de hoje e de amanhã.

A dedicação que cada um de nós puder colocar no desempenho de tudo quanto lhe seja possível construir será tão forte, tão arrebatadamente forte, que ultrapassaremos todos os obstáculos, venceremos todas as distâncias e superaremos todas as dificuldades.

Ninguém duvidará da sinceridade quando ela é publicamente confessada sob a inspiração da fé.

Eu te saúdo, Mestre, porque a tudo conferes humanidade e zelo! E porque a canseira dos teus dias encompridados se refaz ao alvorecer do dia, renovando a esperança do novo amanhã.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente, neste dia em que o Senado Federal homenageia os professores do Brasil.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/1997 - Página 22022