Discurso no Senado Federal

APELO AO PRESIDENTE DA REPUBLICA PARA QUE, JUNTAMENTE COM A ASSINATURA DO ATO PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA USINA DE GAS EM URUGUAIANA-RS, TAMBEM ASSINE ATO PARA A CONSTRUÇÃO DO GASODUTO BRASIL-ARGENTINA.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • APELO AO PRESIDENTE DA REPUBLICA PARA QUE, JUNTAMENTE COM A ASSINATURA DO ATO PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA USINA DE GAS EM URUGUAIANA-RS, TAMBEM ASSINE ATO PARA A CONSTRUÇÃO DO GASODUTO BRASIL-ARGENTINA.
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/1997 - Página 22195
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • COMENTARIO, HISTORIA, POLITICA EXTERNA, BRASIL, INTEGRAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, URUGUAI, ANTERIORIDADE, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), ESPECIFICAÇÃO, ACORDO, CONSTRUÇÃO, GASODUTO, ITINERARIO, MUNICIPIO, URUGUAIANA (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), FAIXA DE FRONTEIRA.
  • DEFESA, SIMULTANEIDADE, CONSTRUÇÃO, GASODUTO, LIGAÇÃO, REGIÃO CENTRO OESTE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, ARGENTINA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, agradeço profundamente sua gentileza, pois é muito importante para mim a oportunidade que me proporciona.

Srªs e Srs. Senadores, neste momento, o Senhor Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, encontra-se em meu Estado, Rio Grande do Sul; mais precisamente, em Uruguaiana, histórica e extraordinária cidade da fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina.

Foi ali, entre Uruguaiana e Paso de los Libres, que o Presidente Sarney, o Presidente Alfonsin, da Argentina, e o Presidente do Uruguai iniciaram a integração Brasil-Argentina, de onde surgiu o Mercosul. Foi ali, nessa fronteira, com o Presidente Sarney e o Presidente Menem, que se iniciou o grande, real e concreto intercâmbio, objetivamente traduzido em fatos, o Mercosul. Ali se iniciou a expectativa - e vejo, com alegria, que se encontra no plenário o Senador José Sarney - da construção do gasoduto Brasil-Argentina, que começava na Argentina, passava por Uruguaiana, um braço ia ao Uruguai e outro se dirigia a Porto Alegre, e depois ao centro do Brasil. Foram assinados esse ato do gasoduto e o ato da construção da Ponte São Borja-São Tomé.

É fácil compreender a importância disso para a fronteira, que, durante dezenas e dezenas de anos, foi proibida de crescer, porque os governos do norte da América e da Europa induziam a América do Sul a acreditar que a guerra entre Brasil e Argentina era inevitável. Então, o trem na Argentina era bitola larga e o trem no Brasil, de Uruguaiana para cá, era bitola estreita.

Durante dezenas e dezenas de anos, até a lavagem da lã de Uruguaiana, uma das maiores produtoras do mundo, era feita em São Paulo, pagando-se frete para isso, porque era proibido haver indústria em zona de fronteira. Santiago, cinco quartéis; Alegrete, quatro quartéis; ou seja, metade do Exército Brasileiro ficou na fronteira da Argentina com o Brasil.

O Mercosul - e o Presidente Sarney está escutando - buscava essa integração, e já nessa oportunidade dizíamos que dela deveria fazer parte o Rio Grande do Sul, que não pode se transformar em corredor de passagem entre Buenos Aires e São Paulo. E se o Rio Grande do Sul pagou um preço tão alto por ser fronteira, é compreensível que se dê a ele, hoje, condições de avançar.

O gasoduto teve esse objetivo. No Governo Collor, lamentavelmente, assinaram o gasoduto Bolívia-São Paulo.

Por amor de Deus, quem é contra?! Ninguém pode ser contra. Um gasoduto que vem da Bolívia, passa por todo o Centro-Oeste, leva gás para o Rio, para Minas Gerais e para São Paulo é recebido com os aplausos de todo o Brasil. Mas por que parar o nosso? Por que impedir que o gasoduto da Argentina com o Brasil tenha continuidade?

Respondem eles: "Não, mas o gasoduto Bolívia-Brasil chegará a São Paulo e depois irá até Porto Alegre". Esse depois eu não sei quando será e, se chegar a Porto Alegre, tenho certeza de que na fronteira, a sudoeste do Rio Grande do Sul, a zona que mais precisa, não chegará.

O Governador Britto se entendeu e teve longas conversações com o Presidente Rennó, da Petrobrás, cuja carta, inclusive, tenho aqui. E a Petrobrás se mostra favorável, Presidente Sarney, a que se construa aquele gasoduto que V. Exª e o Menem acordaram, em primeiro lugar, de Uruguaina a Porto Alegre, e que ele possa ser feito junto com o gasoduto Brasil-Bolívia. É iniciativa particular, não tem problema algum, não há interrogação nesse sentido.

O Presidente dorme, hoje, em Uruguaiana. Sr. Presidente, se pudéssemos enviar uma mensagem mediúnica, ou seja o que for, ao Presidente Fernando Henrique Cardoso!... Sua Excelência vai assinar um grande ato, o da construção de um gasoduto entre Argentina e Uruguaiana, e com o gás produzido por ele vai se construir uma grande usina: 1000%.

O Governador Antônio Britto esteve presente, bem como a Petrobrás; o Presidente Fernando Henrique Cardoso deu o seu apoio, e esse é o ato que, a esta hora, deve estar assinando. Mas só não é justo que o gasoduto seja entre Argentina e Uruguaiana. O normal seria que fosse entre Argentina e Porto Alegre e que se produzisse, ao mesmo tempo, o gás na Bolívia - cujo ato foi assinado dois anos depois do nosso, Senador José Sarney.

Por que um impede o outro se a iniciativa é particular e se há dinheiro para os dois?

Sr. Presidente, se fosse viável, eu apresentaria uma proposta no sentido de que o Senado Federal mandasse, agora, um fax para o Presidente da República dizendo-lhe: "O Congresso e o Senado Federal confiam que Vossa Excelência aproveite a estada, com o Presidente da Argentina, em Uruguaiana para fazer com que, junto com o início da construção da usina de gás de Uruguaiana, se inicie, também, a do gasoduto Brasil-Argentina.

É muito raro eu assomar à tribuna durante dois dias consecutivos para tratar do mesmo assunto. Ontem pedi que se entregasse a mesma carta que, há meses, dei ao Presidente da República, no Palácio do Planalto, mostrando os estudos feitos e pedindo-lhe que a atendesse. Essa carta o Governador Antônio Britto também entregou ao Presidente Fernando Henrique, endereçada ao Presidente da Petrobrás. Nela, o parecer da Petrobrás dizia ser absolutamente possível aquilo que se pleiteava. Caso contrário, Sr. Presidente, o gasoduto, que vem da Bolívia, que passa pelo Centro-Oeste, pelos Estados de Mato Grosso e Goiás, que vai a São Paulo, que tem um braço que vai para o Rio de Janeiro e um outro que vai para Minas Gerais, terá uma procura tão intensa que, quando esse gás chegar a São Paulo, devido ao intenso consumo, alguém dirá que fazer um braço São Paulo-Porto Alegre não será viável, já que em São Paulo estará faltando gás. Certamente dirão: como vamos gastar US$2 bilhões para fazer um gasoduto até Porto Alegre se o consumo é todo absorvido aqui? Por isso é importante que os dois fossem feitos concomitantemente, assim como a integração do gás entre Bolívia, São Paulo, Porto Alegre, Argentina e Uruguai.

Esse é o apelo que faço, pois, estando o Presidente da República em Uruguaiana, num encontro com o Presidente da Argentina, a hora de assinar seria essa. E, diga-se de passagem, o Senhor Presidente Fernando Henrique Cardoso declarou que seriam prioridades do seu Governo, no campo da redenção social, o Nordeste e a zona sul do Rio Grande do Sul, aliás, localidade onde Sua Excelência se encontra.

Sr. Presidente, recebi o amável convite de Sua Excelência para acompanhar a caravana, mas preferi vir a esta tribuna, porque penso que estou cumprindo o meu dever em alertar Sua Excelência para que entenda a importância de aproveitar o dia de hoje, estando em Uruguaiana - onde vai comer um churrasco típico do Rio Grande do Sul, onde ouvirá as lideranças do Estado -, para assinar a determinação da construção do gasoduto Brasil-Argentina.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/1997 - Página 22195