Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DO DIA DO MEDICO, NO PROXIMO DIA 18 DE OUTUBRO. VOTAÇÃO NO DIA 21 DO CORRENTE MES, DO PROJETO DE RESOLUÇÃO DE SUA AUTORIA, QUE CRIA O 'DIPLOMA DO MERITO EDUCATIVO DARCY RIBEIRO'. PARALELO ENTRE AS VISITAS AO BRASIL DO PAPA JOÃO PAULO II E DO PRESIDENTE DOS E.U.A, BILL CLINTON.

Autor
Sebastião Bala Rocha (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AP)
Nome completo: Sebastião Ferreira da Rocha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.:
  • COMEMORAÇÃO DO DIA DO MEDICO, NO PROXIMO DIA 18 DE OUTUBRO. VOTAÇÃO NO DIA 21 DO CORRENTE MES, DO PROJETO DE RESOLUÇÃO DE SUA AUTORIA, QUE CRIA O 'DIPLOMA DO MERITO EDUCATIVO DARCY RIBEIRO'. PARALELO ENTRE AS VISITAS AO BRASIL DO PAPA JOÃO PAULO II E DO PRESIDENTE DOS E.U.A, BILL CLINTON.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/1997 - Página 22214
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, MEDICO.
  • REGISTRO, PROXIMIDADE, VOTAÇÃO, PROJETO DE RESOLUÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, AUTORIA, ORADOR, CRIAÇÃO, PREMIO, MERITO, EDUCAÇÃO, HOMENAGEM POSTUMA, DARCY RIBEIRO, SENADOR.
  • REGISTRO, UNIDADE, POPULAÇÃO, AMBITO, RELIGIÃO, DEFESA, DIREITOS HUMANOS, VISITA, PAPA.
  • COMENTARIO, UNIDADE, POPULAÇÃO, DEFESA, SOBERANIA NACIONAL, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), CRITICA, FALTA, DIPLOMACIA, VISITA, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • EXPECTATIVA, CONTINUAÇÃO, VIAGEM, BILL CLINTON, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, OBJETIVO, CONHECIMENTO, POLITICA EXTERNA, REFERENCIA, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).

O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT-AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de abordar o tema central do meu pronunciamento na tarde de hoje, quando pretendo traçar um paralelo entre as visitas do Papa João Paulo II e do Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, ao Brasil, quero fazer dois registros rápidos.

Primeiro, registro que no próximo sábado, dia 18, comemora-se o Dia do Médico. Desde já, quero aproveitar a oportunidade para me congratular e homenagear todos os médicos do nosso País, da Amazônia e, em especial, do Amapá.

Na sessão do dia 21, terça-feira, na Hora do Expediente, faremos uma homenagem ao Dia do Médico, da qual fui o autor da proposição. Nessa ocasião, devo me pronunciar de forma mais demorada a respeito desse assunto, tanto com referência à homenagem propriamente dita ao Dia do Médico quanto a um questionamento sobre a saúde no nosso País.

O segundo registro é que, também no dia 21, vamos votar aqui no Senado da República o projeto de resolução de minha autoria - um projeto de resolução do Congresso Nacional - que cria o Diploma do Mérito Educativo Darcy Ribeiro. Quando propus esse projeto de resolução, o eminente Senador Darcy Ribeiro ainda estava entre nós. Minha expectativa era de que pudéssemos ter aprovado esse projeto para homenageá-lo ainda em vida. Infelizmente, S. Exª já não se encontra entre nós e houve um atraso na tramitação do projeto na Comissão de Educação. Por isso, somente no dia 21 vamos poder votá-lo, praticamente às vésperas do aniversário de nascimento do Senador Darcy Ribeiro, dia 26 de outubro. De certa forma, vamos homenagear o aniversário de nascimento de nosso colega, o Senador Darcy Ribeiro.

Esperava que este ano já o primeiro premiado pudesse receber a láurea, o diploma do mérito educativo, que visa homenagear pessoas físicas e jurídicas que se destaquem na área da educação nacional.

Então, desde já, anuncio a votação desse projeto que, para nós do Senado, tem uma importância emocional e sentimental muito grande, mas uma dimensão política e social muito mais ampla porque pretende incentivar projetos e ações na área da educação nacional.

O tema central de meu pronunciamento, hoje, Srº Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é exatamente a tentativa de estabelecer um paralelo entre a visita do Papa João Paulo II ao Brasil e do Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. Quero destacar que, nessas duas visitas, ficou como uma simbologia para toda a Nação e para o mundo, certamente, a unidade do povo brasileiro - e até a unanimidade - em duas questões básicas: primeiro a fé, a religiosidade.

Vimos, aqui mesmo neste plenário, vários Senadores, inclusive de outras religiões, pronunciando-se sobre a importância da presença do Papa, dos pronunciamentos de S. S., que extrapolaram a religiosidade e a fé e avançaram para a área política e social quando o Papa expôs claramente a sua posição em defesa dos excluídos, dos negros, das crianças, dos mais pobres e também reconhecendo a importância do Movimento dos Sem-Terra no nosso País. O Papa trouxe alegria, esperança para o povo brasileiro e, como disse, uniu todas as religiões que consideraram de grande importância a presença de Sua Santidade no nosso País.

Vimos um João Paulo II - embora debilitado no seu físico, no seu corpo - de uma jovialidade incomparável quanto ao espírito, o bom humor, a alegria que expressou durante a visita ao nosso País, que contagiou todo o povo brasileiro, agradando plenamente a todos que puderam apreciar e acompanhar, de forma direta ou por intermédio dos meios de comunicação, a sua visita.

Infelizmente, quando da visita do Presidente Bill Clinton nos deparamos com outro cenário. Fomos atingidos, de certa forma, pela arrogância, pela prepotência da diplomacia e burocracia americanas que tentou tratar o Brasil como colônia do império americano. Alguns procedimentos da diplomacia e burocracia americanas foram, de certa forma, tão infelizes que provocaram no povo brasileiro uma aversão de grandes proporções quanto à presença do presidente dos Estados Unidos em nosso País. Mas é importante destacar que, mais uma vez, se sobressaiu a unidade do povo brasileiro e a unanimidade de todos os partidos políticos, das lideranças e da imprensa na defesa da soberania nacional. É bom evidenciar esse fato em função de que, certamente, foi percebido pelos próprios americanos, pelo mundo inteiro, pelos vizinhos sul-americanos e pelas autoridades do nosso País.

Foi importante a firmeza com que o Presidente da República, o Presidente do Congresso Nacional, os Senadores, os Deputados, as lideranças políticas que não têm partido, e a imprensa se pronunciaram em defesa do Mercosul, afirmando que o Brasil deve, primeiramente, firmar e concretizar a aliança do Mercosul para que, depois, possa, com melhores condições, disputar os mercados com os países da América do Norte, especialmente com os Estados Unidos. Então, ficou evidente, acredito, para toda a Nação e para o mundo inteiro essa unidade e essa unanimidade.

Houve uma antipatia muito grande por parte do povo. Até hoje, quando converso com algumas pessoas, elas comentam a respeito da decepção que sofreram com a forma com que os Estados Unidos trataram o nosso País, na visita do Presidente Bill Clinton. É claro que S. Exª precisa de todo um aparato de segurança, de proteção, mas certamente muito mais em função de alguns grupos terroristas internacionais do que do povo brasileiro, que é hospitaleiro, generoso e que, dificilmente, iria promover algum tipo de agressão ao presidente americano. Todavia, isso faz parte. Embora seja o presidente da maior potência, não é preciso aliar a potência à prepotência, o que as autoridades americanas, infelizmente, deixaram expor aqui em nosso País, conquistando então esta imensa antipatia do povo brasileiro.

É claro que os resultados da visita certamente foram positivos, até porque, ao perceber essa grande unidade, essa determinação, essa unanimidade do povo brasileiro em favor do Mercosul, em favor da soberania nacional, o próprio presidente dos Estados Unidos acabou convencido e expondo à Nação e ao mundo que não era a sua pretensão provocar a desunião, a desagregação dos países que compõem o Bloco do Mercosul, chegando mesmo a reconhecer a importância do Mercosul dentro do cenário político, comercial e econômico do mundo inteiro. S. Exª até foi além: o espetáculo que o presidente Bill Clinton produziu quando de sua ida à Mangueira, a meu ver, este sim, merece o reconhecimento e o elogio do povo brasileiro. Ali vimos um presidente que aliou o desprendimento à simpatia e, certamente, agradou, transmitiu ao mundo inteiro uma imagem diferente daquela que se tem do Rio de Janeiro. Alguns setores da imprensa chegaram a comentar que aquilo só seria possível no Rio de Janeiro, em função da beleza e das peculiaridades dessa cidade.

Ao jogar bola com a garotada, tocar tamborim, apreciar as dançarinas da Mangueira, abraçar as crianças que se encontravam presentes, o Presidente Bill Clinton deu uma demonstração de simpatia e de afinidade para com o povo brasileiro e, de certa forma, até reverteu um pouco a antipatia inicial que não deixa de merecer nosso registro e nossa contestação: a forma como a burocracia americana tratou o Brasil nos preparativos da visita de S. Exª ao nosso País.

Há que se perguntar: os Estados Unidos vieram ao Brasil para buscar um aliado ou para afrontar um País que desponta no cenário econômico mundial como uma possibilidade de crescimento, mas que ainda é um País em desenvolvimento? Qual a finalidade: amedrontar, afrontar, querer conquistar nosso País à força?

Recentemente, por exemplo, o Presidente da França, Jacques Chirac, agiu diferentemente, quando veio ao Brasil, buscando, também, ampliar as relações comerciais, econômicas, principalmente, e culturais do Brasil com a França e com toda a União Européia. Sentimos que estávamos diante de alguém que queria ser aliado do Brasil. Pelo menos, foi essa a percepção que eu obtive. Mesmo se tivermos divergências com as posições ideológicas ou políticas do presidente da França, a quem devemos respeitar. A França é uma nação soberana e temos que reverenciar a decisão do povo francês a respeito da escolha de seus dirigentes. Mesmo se considerarmos este aspecto, a visita do Presidente Jacques Chirac trouxe ao Brasil a esperança de que poderemos estabelecer uma parceria benéfica para o Brasil, para o Mercosul e, também, para os países da União Européia. Ali, senti que havia uma proposta de aliança.

Infelizmente, a visita do Presidente Bill Clinton ao Brasil não levou o povo brasileiro a acreditar numa proposta de aliança. Lamentavelmente, neste aspecto foi decepcionante apesar de no final da visita S. Exª ter se esforçado, talvez, observando esta unanimidade, para superar todos os problemas provocados pela diplomacia e burocracia americanas. Mesmo assim, não consegui apagar esta nódoa, esta mácula que sua visita deixa quanto a sua presença em nosso País e quais os seus reais objetivos.

É preciso que o presidente americano em visita à Argentina demonstre, de fato, que não pretende enfraquecer nem esfacelar o Mercosul. É importante que todos nós observemos de perto e possamos acompanhar o resultado desta visita do presidente americano à Argentina porque todos já temos conhecimento de que - pelo menos, pressupõe-se - um dos objetivos de estreitar ainda mais as relações com a Argentina é enfraquecer o Mercosul, desagregar e desunir os países que tiveram a felicidade e a ousadia de constituir um bloco que cresce a cada momento. Aliás, esse bloco poderá vir a ser um grande parceiro comercial tanto para o Nafta quanto para a União Européia.

Na sua visita à Argentina, é importante que o Presidente Bill Clinton deixe claro que seu objetivo lá não é intensificar o processo de enfraquecer, desestabilizar e desarticular o Mercosul.

Sr. Presidente, eram estas as considerações que queria fazer.

Sinto-me, nesta oportunidade, muito contente de ser brasileiro e de estar acompanhando este momento em que o nosso povo reafirma a sua vocação para a unidade nacional, seja pela fé, com a presença do Papa João Paulo II, seja pela soberania nacional demonstrada durante a visita do Presidente Bill Clinton.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT-SP) - Senador Sebastião Rocha, V.Exª me permite um aparte?

O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT-AP) - Concedo com prazer o aparte ao eminente Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT-SP) - Nobre Senador, estou de acordo com o pronunciamento de V. Exª, até porque falarei sobre o mesmo tema em seguida. V. Exª poderá, então, perceber a comunhão de sentimentos e de propósitos entre a minha e a sua fala.

O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PT-AP) - Muito obrigado, Senador Eduardo Suplicy.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/1997 - Página 22214