Pronunciamento de Nabor Júnior em 17/10/1997
Discurso no Senado Federal
CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA VISITA DO PRESIDENTE DO ESTADOS UNIDOS, BILL CLINTON, A AMERICA DO SUL E, EM ESPECIAL, AO BRASIL.
- Autor
- Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
- Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
- CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA VISITA DO PRESIDENTE DO ESTADOS UNIDOS, BILL CLINTON, A AMERICA DO SUL E, EM ESPECIAL, AO BRASIL.
- Publicação
- Publicação no DSF de 18/10/1997 - Página 22290
- Assunto
- Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
- Indexação
-
- COMENTARIO, IMPORTANCIA, DISCURSO, AUTORIA, BILL CLINTON, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), VISITA OFICIAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DECLARAÇÃO, REJEIÇÃO, OPÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, PROTEÇÃO, MEIO AMBIENTE, DEFESA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, PRODUÇÃO, RIQUEZAS, EMPREGO, SOCIEDADE.
- DEFESA, NECESSIDADE, BRASIL, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, COMPATIBILIDADE, UTILIZAÇÃO, RECURSOS NATURAIS, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE.
O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB-AC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, está concluindo na Argentina a sua primeira visita à América do Sul, que teve o Brasil como segunda e penúltima escala. Como seria de prever, a missão recebeu a mais ampla cobertura por parte de toda a imprensa, não apenas nos países visitados mas também em seus próprios veículos.
A passagem do governante norte-americano teve muitos momentos importantes ou pitorescos, mas o eixo das conversas e dos pronunciamentos sempre esteve na economia, nas relações bilaterais e no fortalecimento de mecanismos continentais de desenvolvimento integrado.
Acompanhei, atentamente, todos os passos do Presidente Clinton, porque é inegável a importância de seus gestos e de suas propostas para todo o mundo, inclusive o Brasil - ou até mesmo poderia dizer principalmente o Brasil e as outras nações que se situam no Novo Mundo, tradicionalmente considerado pelos estadunidenses o seu "quintal".
Antes da chegada de Clinton, tivemos uma série de incidentes desagradáveis e vexatórios para nosso País - mas ele mesmo tomou a iniciativa de corrigir esse mal-estar, ao pedir desculpas, explicitamente, pelos exageros da segurança e dos diplomatas que prepararam sua vinda.
Quem acompanha de perto a cobertura jornalística em torno da maior potência do planeta sabe que seu governante é um político sempre sintonizado com as peculiaridades da mídia e voltado para os interesses da liderança global que exerce. E faz tudo isso com talento, competência e doses maciças de coragem - desde bater bola com o Ministro Pelé até tocar saxofone nas viagens, durante as campanhas eleitorais.
Mas o lado sério e que interessa diretamente aos Estados Unidos jamais fica em segundo plano; ao contrário, até mesmo nos momentos de maior descontração, o Presidente Bill Clinton dá seus recados e promove os pontos que efetivamente se afinam com a imagem de estadista moderno e competente que, com amplo sucesso, buscou construir.
Quero, hoje, registrar um ponto relevante do discurso proferido em São Paulo, perante os mais importantes empresários brasileiros e os que fazem parte de sua comitiva. E lamento profundamente que essas palavras não tenham encontrado o merecido destaque em nossos jornais, porque falam de algo muito comentado mas pouco compreendido: a atitude a ser adotada em face das questões ambientais, ante a necessidade de gerar riquezas e fornecer empregos para a sociedade.
Para Bill Clinton, um desafio concreto precisa ser vencido: enfrentar o falso antagonismo entre a distribuição de benefícios e as responsabilidades compartilhadas. Mas, segundo o Presidente dos Estados Unidos, existe um outro conflito, mais falso ainda, que não merece guarida nessa virada de século. Disse, textualmente:
"Os Estados Unidos rejeitam essa opção falsa entre crescimento econômico e proteção ambiental. Nós acreditamos no desenvolvimento sustentado, para que o progresso de hoje não venha às custas do amanhã."
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é lamentável que, no meio de tantas informações secundárias e tantos factóides em torno da visita do Sr. Clinton, ninguém tenha dado atenção a essas palavras sábias e oportunas, que marcam o reconhecimento de uma tese há muito defendida por mim e por todos quantos efetivamente conhecem a Amazônia, vivem seus sofrimentos e almejam seu progresso: pode e deve haver aproveitamento dos recursos naturais sem que isso implique, necessariamente, a devastação da Natureza.
Esse trecho do discurso do Sr. Clinton deve ser lido conjuntamente com outro, em que ele afirma:
"Às vésperas do século XXI, temos um grande desafio diante de nós: assegurar as bênçãos da liberdade e da prosperidade para todos os povos deste hemisfério e do Mundo inteiro."
E, acima de tudo, suas palavras merecem a mais acurada atenção quando pergunta e prontamente esclarece o ponto essencial:
"Quando nós aproveitamos ao máximo essa era de oportunidades, nos perguntamos: que nações vão se sair melhor numa economia global? Os países que têm o globo dentro de suas fronteiras. Essa é uma lição que Brasil e Estados Unidos nunca devem esquecer e devem transmitir ao resto do Mundo."
Nos três trechos que citei, a compreensão é uma só: o Brasil, se quiser efetivamente crescer em termos econômicos e sociais, não se pode dar ao luxo de abandonar suas possibilidades e subestimar o próprio potencial. Temos o globo em nossas fronteiras, ou seja, a diversidade étnica e cultural que caracteriza a nossa sociedade é um formidável embasamento para consolidar e integrar a Nação. Mais do que uma referência cronológica, a chegada do novo milênio é o marco, é o alvo a ser visado por todos quantos buscam materializar projetos e sonhos construtivos; e sem a efetiva exploração dos recursos naturais da Amazônia, nada iremos construir verdadeiramente. Sim, porque o Presidente dos Estados Unidos apenas repetiu aquilo que todos sabemos e já foi amplamente apregoado neste plenário, nas Comissões do Congresso, nas entrevistas e nos pronunciamentos dos que vivem e defendem a grande região: nada impede que se promova o seu desenvolvimento sustentado, compatibilizando o uso dos recursos naturais e a preservação de áreas específicas para que o planeta não perca seu mais rico e importante manancial ecológico.
É um assunto inesgotável, Sr. Presidente, e a ele voltarei, dentro das linhas de coerência e de sincera firmeza que sempre marcaram minha atuação como homem público e amazônida fervoroso. Nesta oportunidade, todavia, quis apenas registrar, para que não caísse no vazio da consciência nacional, as palavras importantes do homem mais importante de nossos dias.
Muito obrigado.