Discurso no Senado Federal

ENFRAQUECIMENTO DA COMISSÃO EXECUTIVA DO PLANO DA LAVOURA CACAUEIRA - CEPLAC, CAUSADO PELA PERDA DA SUA AUTONOMIA FINANCEIRA E ADMINISTRATIVA. RECUPERAÇÃO DOS TRABALHOS PRESTADOS PELA CEPLAC, TANTO NA BAHIA COMO NA AMAZONIA E, PARTICULARMENTE, EM RONDONIA, DESDE A POSSE DO SEU DIRETOR-GERAL, DR. HILTON K. DUARTE. REALIZAÇÃO NOS DIAS 11 E 12 DE AGOSTO PASSADO, DO 'FORUM DE DEBATES PARA A REESTRUTURAÇÃO DA ESCOLA MEDIA DE AGROPECUARIA DE ARIQUEMES-EMAR-RO'.

Autor
Odacir Soares (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RO)
Nome completo: Odacir Soares Rodrigues
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • ENFRAQUECIMENTO DA COMISSÃO EXECUTIVA DO PLANO DA LAVOURA CACAUEIRA - CEPLAC, CAUSADO PELA PERDA DA SUA AUTONOMIA FINANCEIRA E ADMINISTRATIVA. RECUPERAÇÃO DOS TRABALHOS PRESTADOS PELA CEPLAC, TANTO NA BAHIA COMO NA AMAZONIA E, PARTICULARMENTE, EM RONDONIA, DESDE A POSSE DO SEU DIRETOR-GERAL, DR. HILTON K. DUARTE. REALIZAÇÃO NOS DIAS 11 E 12 DE AGOSTO PASSADO, DO 'FORUM DE DEBATES PARA A REESTRUTURAÇÃO DA ESCOLA MEDIA DE AGROPECUARIA DE ARIQUEMES-EMAR-RO'.
Publicação
Publicação no DSF de 22/10/1997 - Página 22542
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • ANALISE, SITUAÇÃO, REDUÇÃO, FUNÇÃO, COMISSÃO EXECUTIVA DO PLANO DA LAVOURA CACAUEIRA (CEPLAC), RESULTADO, PERDA, AUTONOMIA FINANCEIRA, AUTONOMIA ADMINISTRATIVA, PERIODO, GOVERNO, JOSE SARNEY, FERNANDO COLLOR DE MELLO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, RECUPERAÇÃO, ATIVIDADE AGRICOLA, PESQUISA, EXPERIMENTAÇÃO, COMISSÃO EXECUTIVA DO PLANO DA LAVOURA CACAUEIRA (CEPLAC), ESTADO DA BAHIA (BA), ESTADO DO AMAZONAS (AM), ESTADO DE RONDONIA (RO), POSTERIORIDADE, POSSE, HILTON KRUSCHEWSKY DUARTE, DIRETOR GERAL, COMISSÃO EXECUTIVA.
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, ENCONTRO, MUNICIPIO, ARIQUEMES (RO), ESTADO DE RONDONIA (RO), DEBATE, REESTRUTURAÇÃO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, NIVEL MEDIO, AGROPECUARIA.
  • MANIFESTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, ORADOR, COMISSÃO EXECUTIVA DO PLANO DA LAVOURA CACAUEIRA (CEPLAC), ESPECIFICAÇÃO, PRODUTOR, CACAU, ESTADO DE RONDONIA (RO).

O SR. ODACIR SOARES (PTB-RO. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, muito embora a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira-CEPLAC tenha demonstrado nos últimos 26 anos de trabalho, na Amazônia e em Rondônia, competência técnica e determinação na implantação de cacauais, com o atingimento de uma área plantada de 103.537 hectares, entre os quais destaca-se Rondônia com uma área de 55.220 hectares; o Pará com 44.027 e Mato Grosso, com 4.290 hectares, muitos problemas vêm-se manifestando nos últimos dez anos.

Logo após o advento da Nova República, no Governo José Sarney, começou a “via crucis” da CEPLAC. Primeiro, a “operação desmonte”, depois, o “enxugamento de quadro”, com centenas de demissões e a redistribuição de funcionários.

A CEPLAC, por razões de ordem político-institucional, não bem identificadas, vinha sendo, gradualmente, esvaziada e fragilizada. Entre as causas mais forte de seu enfraquecimento, citamos a perda da sua autonomia financeira, a partir da aprovação da Resolução nº 278, de 25 outubro de 1989, no Conselho Monetário Nacional, que reduziu a zero a alíquota do Imposto de Exportação, incidente sobre as operações do comércio exterior do cacau em amêndoas e seus derivados.

A cota de contribuição cambial, Senhor Presidente, assim como o imposto de exportação, no patamar de 10% do valor FOB das exportações, contribuíram historicamente para a sustentação da CEPLAC. Por mais de duas décadas, a CEPLAC recebeu recursos do orçamento monetário. Um histórico comparativo entre os valores recebidos pela CEPLAC e o imposto arrecadado evidencia que a sua manutenção sempre foi feita basicamente com o tributo pago pelos produtores de cacau. Não custava um real sequer aos cofres públicos. Em alguns anos, como no ano de 1985, graças aos recursos arrecadados, a CEPLAC “...poderia ter sido duas CEPLACs”, dispondo de um orçamento anual que beirou os R$ 100 milhões.

Ao mesmo tempo em que empobrecia no seu orçamento, a CEPLAC perdia a sua autonomia administrativa, reduzindo-se de um órgão autônomo, vinculado ao Ministério da Agricultura e do Abastecimento, a um mero departamento embutido na rigidez do organograma do Ministério, sem poderes para definir políticas de pessoal.

O certo é que o Governo da Nova República manifestou pouca compreensão com relação ao papel desenvolvimentista atribuído legalmente à CEPLAC num setor e numa economia sujeitos a enormes variações dos fatores produtivos: preços remuneradores a depender do mercado internacional; caprichos da natureza, ora com períodos de estiagem prolongados, que diminuíam a produção, ora com chuvas excessivas, que aumentavam a incidência das doenças causadas por fungos. Isso sem esquecer os cochilos do Governo, como a injusta política cambial que diminuía os preços do produto e a política de crédito com correção plena (TR).

Com o advento do Governo Fernando Collor, em 1990, a situação institucional da CEPLAC se agravou, com novas demissões, colocação em “disponibilidade” de centenas de funcionários do melhor perfil técnico, o que equivalia ao compromisso de ficar em casa sem trabalhar, perceber salários, com detrimento de sua formação moral e dignidade. Um pouco depois a sede da CEPLAC, em Brasília, um prédio de doze andares, foi “vendida” a preço de ocasião. Preço de ocasião, porque preço nunca pago e recebido.

As dificuldades alinhadas para a cacauicultura nacional foram exponencializadas na Bahia, a região de maior produção de cacau, pelos efeitos devastadores da enfermidade “vassoura-de-bruxa”, que ali chegara em maio de 1989. A região Amazônia, ainda no iniciar da produção cacaueira, foi duramente atingida disso resultando a erradicação de milhares de hectares de cacauais e o semi-abandono de plantações. É pertinente a pergunta: caberá a cacauicultura da Amazônia o mesmo destino pessimista da cacauicultura da Bahia ? Estará ameaçada de desaparecer ?

Os novos pólos cacaueiros da Amazônia, de Rondônia, Pará e Mato Grosso, com 103,5 mil hectares estarão em condições de prosperar, de avançar, sem contar com os serviços de assistência técnica, sem os avanços da tecnologia, ensejados pela pesquisa e sem a capacitação de mão-de-obra proporcionada pela Escola Média de Agropecuária de Ariquemes, EMARC-Ro ?

A privação dos serviços da CEPLAC poderá contribuir para que o ingente trabalho desenvolvido pelos pequenos produtores, a sua maior clientela; os investimentos feitos pelos Bancos do Brasil e da Amazônia e as expectativas dos governos municipais e estaduais, venham a frustrar-se.

É certo que desde a posse do dr.Hilton K. Duarte na Diretoria Geral da CEPLAC, em 16 de abril de 1997, vislumbra-se um novo período de atividade, de recuperação para os serviços prestados pela CEPLAC tanto na Bahia, como na Amazônia e, particularmente, em Rondônia. Estamos assistindo desde o ano passado, conduzido pela diligente atuação do engenheiro agrônomo João Valério da Silva Filho, a contratação de recuperação de áreas atingidas pela “vassoura-de-bruxa”, com financiamento pelo Banco da Amazônia.

Este ano, novamente, estão sendo financiados novas áreas de recuperação de lavouras atacadas pelo fungo “Crinipellis perniciosa”, mas, também, a implantação de dois mil hectares de cacauais. Foram abertos novos postos avançados (modestos escritórios locais) de atendimento aos agricultores de Machadinho d’Oeste, Colorado do Oeste, Mirante da Serra, Cacaulândia e Theobroma, aonde certamente surgirão novos plantios de cacauais.

A atividade de pesquisa e experimentação agrícola está gradativamente reativada, em plena geração criadora, com a instalação de novos experimentos e com o apoio dos pesquisadores permanentes vinculados à Estação Experimental de Ouro Preto do Oeste (um geneticista e um entomologista com treinamento em nível de doutorado; e um fitopatologista e um fitotecnista em nível de mestrado). O Centro de Pesquisas do Cacau, da CEPLAC/Bahia, está participando freqüentemente desse trabalho com a colaboração de pesquisadores experimentados, que estão inovando com o lançamento em campo do sistema agroflorestal cacau + café.

Mas, a mais importante modificação no “status quo” vigente na cacauicultura de meu Estado, está se manifestando no trabalho silencioso que se vem propondo para a reestruturação da Escola Média de Agropecuária de Ariquemes, EMAR-Ro.

É por demais sabido que os orçamentos dos órgãos públicos estão abaixo do nível da sobrevivência institucional. Com o agravamento da crise econômica no País, existem muitas dificuldades na captação de recursos externos, e os segmentos organizados da sociedade estão pressionando para a formulação de propostas institucionais em sintonia com as demandas atuais e os desafios futuros de seus usuários e clientes.

Nos dias atuais, muito mais do que antes, as instituições públicas e privadas ligadas ao processo de desenvolvimento não podem agir como agentes independentes, mas devem atuar como parceiros.A parceria institucional poderá promover tanto a sinergia necessária para assegurar a sobrevivência da matriz institucional do setor público, quanto as soluções de multidimensão que os problemas ambientais, sociais e econômicos requerem.

Nos dias 11 e 12 de agosto de 1997, realizou-se em Ariquemes, um “Forum de Debates para a Reestruturação da EMARC-Ro”, com a participação do “staff” dirigente da Superintendência da Amazônia Ocidental, CEPLAC/SUPOC; Sr. Rubens Miloch, representando o Prefeito Municipal de Ariquemes Francisco Sales; professor Gerson Alvares de Magalhães, Presidente do Conselho Estadual de Educação; professor Francisco Aparecido Ferreira, Delegado do Ministério da Educação-MEC em Rondônia; professora Maria Sueli de Araújo, Coordenadora Regional da Universidade de Rondônia-UNIR;e expressiva participação da comunidade de Ariquemes.

A CEPLAC/SUPOC foi apoiada com a participação do professor Manuel Malheiros Tourinho, PhD, titular da cadeira de Sociologia da Faculdade de Ciências Agrárias do Pará-FCAP e ex-CEPLAQUEANO tendo dirigido a EMARC-Uruçuca, na Bahia.

Na reunião celebrada em Ariquemes, em agosto, ficou reconhecida a experiência adquirida, com a devida identificação dos problemas vivenciados pela EMARC-Ro, na tentativa de conseguir o apoio e credibilidade necessária ao desenvolvimento do ensino profissionalizante.

Em decorrência, um pressuposto básico norteou a proposta de reestruturação: aquela de que a EMARC-Ro, de Ariquemes, “...deve permanecer sob o controle técnico-administrativo da CEPLAC, com a finalidade de continuar o esforço integrado de ensino-pesquisa-extensão rural, modelo que executa a CEPLAC ao longo de seus 40 anos de existência em favor das regiões produtoras de cacau brasileira”.

Recomendou ainda um conjunto de ações a serem implementadas, no tempo hábil de vinte e quatro meses, para assegurar que a EMARC-Ro continue a melhorar a qualidade de sua missão, ANEXO nº 01.

Ficou estabelecido a criação do Conselho Consultivo Comunitário da EMARC-Ro, para que em trinta dias passe a coordenar as ações previstas no documento resultante do Fórum de Reestruturação da Emarc-Ro.

O Conselho Consultivo Comunitário da EMARC-RO terá na sua estrutura administrativa:

a) - um Presidente;

b) - um Vice-Presidente;

c) - um Secretário Executivo.

O Presidente e o Vice-Presidente serão escolhidos através de votação entre os membros do Conselho. O Secretário Executivo será o servidor da CEPLAC que ocupar a função de Diretor da EMARC-Ro. Além dos três membros natos, contará o Conselho Deliberativos com oito membros nomeados pelo Superintendente da CEPLAC na Amazônia Ocidental, totalizando onze membros do Conselho Consultivo Comunitário; sua composição deve:

a) assegurar o equilíbrio entre as entidades representadas;

b) - assegurar a continuidade das ações.

São membros natos o Diretor da EMARC-Ro, o Presidente da Associação de Pais e Professores da EMARC-Ro e o Presidente da Cooperativa dos Alunos da EMARC-Ro-COOPEMARC. São membros nomeadas, pessoas de reconhecida experiência relacionada com a finalidade e atribuições do Conselho, e que representem algum segmento da Comunidade. A renovação dos membros do Conselho far-se-á por proposta feita pelo próprio Conselho, e encaminhada por seu Presidente ao Superintendente da CEPLAC/SUPOC, para nomeação.

Cabe ao Conselho Consultivo, prioritariamente, a avaliação e a priorização das demandas da EMARC-Ro, com as seguintes responsabilidade específicas:

a) - indicar meios para solucionar problemas que impeçam o desenvolvimento normal das atividades da EMARC-Ro;

b) - sugerir e propor ações para obter apoio técnico-pedagógico, financeiro, administrativo, de entidades dos Governos Federal e Estadual, Prefeituras Municipais e sociedade, para a manutenção do ensino profissionalizante na EMARC-Ro;

c) - dar sugestões de programas a serem desenvolvidos pela EMARC-Ro, junto a comunidade.

Logo após a composição do Conselho Consultivo Comunitário da EMARC-Ro, com os seus três membros natos, e designados que foram os oito membros pelo Superintendente da CEPLAC/SUPOC, engenheiro agrônomo João Valério da Silva Filho, foram escolhidos o Dr.Washington Oliveira Neto, advogado e administrador de empresas, para a Presidência do Conselho, como representante dos profissionais liberais de Ariquemes; o Dr.Washington que é, ademais, cacauicultor, como Vice-Presidente, foi escolhido o Sr. João Siofi Neto, representante do SEBRAE, em Ariquemes e que anteriormente foi vinculado à Diretoria da COPAMAR, cooperativa singular que funcionou no inicio das atividades do cacau em Ariquemes.

Ante as modificações por que vem passando a cacauicultura de Rondônia, rapidamente descritas, e de modo particular o novo direcionamento dado a CEPLAC/Superintendência da Amazônia Ocidental, venho manifestar a minha solidariedade à CEPLAC e de modo particular aos produtores de cacau de Rondônia, renovando o meu compromisso de prestar-lhes o apoio institucionalmente que até sempre lhes tenho prestado.

O cacau tem tudo para voltar a ser uma boa lavra, e a CEPLAC, um bom caminho. Rondônia tem um enorme espaço a ocupar, nos próximos anos, não somente na recuperação das áreas semi-abandonadas ou erradicadas, mas também na ampliação até o patamar que lhe foi historicamente destinado no PROCACAU, ou seja, uma área cacaueira de CEM MIL HECTARES.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/10/1997 - Página 22542