Discurso no Senado Federal

PARTICIPAÇÃO DE S.EXA. NO ENCONTRO LATINO-AMERICANO PARA BISPOS, EM SÃO PAULO, ONDE FORAM DISCUTIDOS PROBLEMAS SOCIAIS DO MUNDO E FOI ABORDADA A POSTURA POLITICA QUE SE DEVE TER COM RELAÇÃO A OPINIÃO PUBLICA.

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA.:
  • PARTICIPAÇÃO DE S.EXA. NO ENCONTRO LATINO-AMERICANO PARA BISPOS, EM SÃO PAULO, ONDE FORAM DISCUTIDOS PROBLEMAS SOCIAIS DO MUNDO E FOI ABORDADA A POSTURA POLITICA QUE SE DEVE TER COM RELAÇÃO A OPINIÃO PUBLICA.
Publicação
Publicação no DSF de 29/10/1997 - Página 23121
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA.
Indexação
  • PARTICIPAÇÃO, ORADOR, ENCONTRO, BISPO, IGREJA CATOLICA, AMERICA LATINA, DEBATE, ATUAÇÃO, CRISTÃO, POLITICA, AMBITO, ETICA, PROPOSTA, CONSTRUÇÃO.

A SRª MARINA SILVA (Bloco-PT/AC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, tive a oportunidade de participar, no dia 21 do corrente, de um encontro realizado no Estado de São Paulo intitulado Encontro Latino Americano de Estudos e Cursos para Bispos. Tal encontro contava com a participação de vários bispos da América Latina e do Brasil. Trataram de diversos temas referentes ao interesse do clero brasileiro e do clero latino-americano. Um deles foi “A conjuntura mundial e latino-americana, o desafio científico e tecnológico e sua influência na sociedade, pistas e perspectivas para um projeto de sociedade na América Latina, formação do imaginário sócio-político na sociedade, a mídia e as eleições e inúmeros outros temas tratados no decorrer do curso.

Minha participação, juntamente com o Professor Francisco Whitaker, da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, foi no sentido de abordar o tema "Os Cristãos na Política". Naquela oportunidade, fizemos um relato das nossas experiências, de como estávamos encarando a situação atual - ele já foi um Vereador bastante atuante; realizou um trabalho muito significativo à frente da Câmara dos Vereadores de São Paulo -, de como ele muitas vezes se sentia impotente diante da política, que nem sempre dá as respostas que a sociedade exige e faz com que pessoas bem-intecionadas optem por determinadas práticas não muito recomendáveis do ponto de vista cristão, pela necessidade de se reelegerem ou de dar satisfação à base.

Meu relato - nisso posso ater-me um pouco mais - foi no sentido de que, tendo passado por experiências, desde as Comunidades Eclesiais de Base, a partir de 1978 e 1979, até minha chegada ao Senado, aprendi que é fundamental, ao ocuparmos um cargo público - inclusive, hoje é o Dia do Servidor Público, e me sinto, tanto quanto os Colegas que aqui trabalham, uma servidora do público -, que tenhamos a compreensão de que as experiências positivas devem ser anunciadas, mas não como propaganda enganosa. Nada que não tenha uma base profunda de verdade deve ser dito; na política, muitas vezes, há a tendência ao “inflacionamento” do ocorrido, no sentido de se ganhar mais simpatia. Esse cuidado deveria ser tomado por todos aqueles que têm um referencial cristão e atuam na política, sejam católicos ou de outro credo religioso. Outro aspecto é o de que, muitas vezes, conforme o provérbio chinês, praguejamos a escuridão em vez de acendermos uma vela. Tenho uma experiência longa, de muitos anos, e já passei pela fase da denúncia e do diagnóstico.

Hoje, graças a Deus, estou construindo um caminho, uma visão - foi isso que relatei - em que esses dois preceitos mencionados se unem à necessidade de apresentação de propostas concretas. As pessoas me indagam se é possível, como Senadora da Oposição, trabalhar, em termos concretos, temas tão complexos como os que abordo: a Amazônia, as populações tradicionais de seringueiros, índios e ribeirinhos, os direitos humanos, as questões sociais. A minha experiência me dá conta de que é possível, desde que tenhamos uma relação de sinceridade, primeiro, com aqueles que representamos. Somos eleitos para representar as pessoas e não para substituí-las.

Nesse sentido, cunhei a frase do legislador coletivo. Acredito na idéia de um legislador coletivo, segundo a qual a sociedade é auscultada na feitura dos projetos, no processo de tomada de decisão, ainda que de uma forma minoritária. Essa satisfação para a sociedade é fundamental. Apresentei essas respostas como parte daquela ação afirmativo-positiva.

Recentemente, dentro dessa perspectiva - fico muito feliz com isso -, houve a aprovação do subsídio da borracha, a partir de uma demanda do Movimento dos Extrativistas da Amazônia. Fizemos uma ampla manifestação, fomos recebidos pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, e, a partir desse momento, tornamos real algo que parecia impraticável do ponto de vista da conjuntura econômica e social do Brasil e do mundo. Falar em subsídio era uma estapafúrdia. No entanto, conseguimos sensibilizar o Presidente da República e aprovar o subsídio, usando a seguinte argumentação: se pagamos pelos custos de saúde, educação e infra-estrutura, por que não pagarmos por custos ambientais?

O SR. PRESIDENTE (Lucídio Portella) - Senadora Marina Silva, o tempo de V. Exª, para uma comunicação inadiável, está esgotado.

A SRª MARINA SILVA (BLOCO/PT-AC) - Sr. Presidente, solicito a V. Exª um minuto de tolerância.

Relatamos essas experiências afirmativas, mesmo sendo Senadora de um partido de Oposição. Trata-se de experiências práticas, concretas, que, com certeza, devem ser analisadas à luz do referencial dos bispos que ali estavam, para que possam ser trabalhadas, principalmente naqueles setores que lidam com as comunidades, com a luta social da igreja ligada à teologia da libertação.

O fundamental de tudo isso é que a contribuição daqueles que têm uma função pública passe necessariamente pelo compromisso de responder às demandas latentes na vida da sociedade, nos seus mais diversos segmentos, tanto dos que estão excluídos, quanto dos que, embora incluídos - graças a Deus -, estão a esperar respostas concretas do Congresso Nacional do ponto de vista do interesse público.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/10/1997 - Página 23121