Discurso no Senado Federal

APROXIMAÇÃO DE LUIZ INACIO LULA DA SILVA COM O EX-GOVERNADOR ORESTES QUERCIA, NÃO ENTENDENDO O PORQUE DO PARTIDO DOS TRABALHADORES NÃO QUERER FAZER ALIANÇA COM OUTROS PARTIDOS QUE SE DIZEM DA OPOSIÇÃO. TRAÇANDO UM PARALELO ENTRE O PAPEL DA OPOSIÇÃO NA ARGENTINA E NO BRASIL.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • APROXIMAÇÃO DE LUIZ INACIO LULA DA SILVA COM O EX-GOVERNADOR ORESTES QUERCIA, NÃO ENTENDENDO O PORQUE DO PARTIDO DOS TRABALHADORES NÃO QUERER FAZER ALIANÇA COM OUTROS PARTIDOS QUE SE DIZEM DA OPOSIÇÃO. TRAÇANDO UM PARALELO ENTRE O PAPEL DA OPOSIÇÃO NA ARGENTINA E NO BRASIL.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Emília Fernandes, Lúdio Coelho.
Publicação
Publicação no DSF de 31/10/1997 - Página 23309
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • CRITICA, CONDUTA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, LIDER, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), APROXIMAÇÃO, ORESTES QUERCIA, EX GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • QUESTIONAMENTO, MOTIVO, DIFICULDADE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), COLIGAÇÃO PARTIDARIA, OPOSIÇÃO, DISPUTA, CARGO ELETIVO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • COMPARAÇÃO, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CARLOS MENEM, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, INTEGRAÇÃO, PARTIDO POLITICO, OPOSIÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, OBTENÇÃO, VITORIA, ELEIÇÕES.
  • DEFESA, NECESSIDADE, AGILIZAÇÃO, ENTENDIMENTO, PARTIDO POLITICO, OPOSIÇÃO, BRASIL, VIABILIDADE, ALTERNATIVA, ELEIÇÕES.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que o quadro político e institucional brasileiro é complicado, nós sabemos; que o quadro partidário brasileiro é complicado, nós sabemos; que o político brasileiro geralmente não tem muitos princípios, muitas idéias definidas, nós também sabemos. Mas, Sr. Presidente, se tivesse viajado, passado uma temporada fora, quando chegasse ao Rio Grande do Sul e lesse os jornais destes últimos dias, diria que estava todo mundo doido.

Meu querido Suplicy, meu bravo Senador Suplicy, quando eu iria imaginar que leria no jornal que o nosso extraordinário companheiro Lula estaria se aproximando do Dr. Quércia para fazer um grande entendimento? E qual é o argumento?

Olha, Suplicy, eu, que tanto falei desta tribuna sobre o Dr. Quércia, entenderia se o argumento fosse que o PT analisou e chegou à conclusão que o Simon e o próprio PT cometeram grandes injustiças com o Quércia; que tudo era mentira, pois ele é um homem de bem, é um homem sério, é um homem digno, é um homem correto.

Se isso ocorresse, eu diria: - Que bom que eu estava errado! Que bom que o PT estava errado! Que bom que havia equívoco de todos e que ele é um homem de bem!

Mas o argumento não é esse. O argumento é que o Dr. Quércia está batendo no Governo; é oposição ao Governo. E, se é oposição ao Governo, pode vir, o PT está aceitando! Olha, custa-me acreditar.

E no mesmo jornal está a publicação "Emissários do Senhor. Fernando Henrique Cardoso estão procurando o Dr. Quércia para fazer um grande entendimento.” O Dr. Quércia se esquece do Senhor Fernando Henrique e na campanha que vem não fala nele, e o Dr. Fernando Henrique, por sua vez, se esquece do Dr. Quércia; também não fala nele.

A verdade é que o PT do Rio Grande do Sul não gostou, e o Senador Suplicy, acho, sabe disso. Foi um motivo de união de todas as alas; todos os grupos; todas as variantes do PT do Rio Grande do Sul disseram que não estão aceitando.

Olha, o exemplo da Argentina! É verdade que a Argentina tem uma tradição político-partidária muito mais séria, muito mais digna, muito mais correta do que a nossa. O político na Argentina tem a sua tradição, tem a sua história. Eles têm a figura do Perón, como nós tivemos a figura do Dr. Getúlio. Lá, eles eram fanáticos a favor ou contra o Perón, como no Brasil éramos fanáticos a favor ou contra o Dr. Getúlio. Mas, na verdade, na verdade, eles têm uma história. O Partido Radical da Argentina vai entrar no seu terceiro centenário. 

Mas olha, meu bravo Suplicy, o exemplo que a Argentina deu. O Presidente da Argentina se parece com o Presidente do Brasil; não a Suíça, não a cultura, porque o nosso é infinitamente mais culto; não a história, porque a nossa é infinitamente superior, mas Menem e Fernando Henrique representaram uma espécie de esquerda: a do Menem mais tradicional, o peronismo com o seu justicialismo; e a do Fernando Henrique, seja lá o nome que se dava, porque depois é que se tornou socialdemocrata, antes disso, simplesmente esquerda. Os dois se elegeram. Os dois, nas respectivas presidências, estão fazendo um Governo contrário às biografias que tinham no passado; lá, o Menem, e, aqui, o Fernando Henrique. Governos semelhantes, que se identificam. Parece até que os americanos, quando traçam norma, traçam norma mesmo. Quando era para ser o Cone Sul, conseguiram terminar com a democracia histórica do Chile e do Uruguai, e o modelo militar do Cone Sul foi para todo mundo. Agora, é o modelo da democracia, é o modelo, V. Exª falou, da globalização. Então, o Governo do Menem e o do Senhor Fernando Henrique têm muito de identidade. O que diferencia, e essa diferença deve ser analisada, é a oposição de lá e a daqui.

O que aconteceu na Argentina? O Sr. Menem, Presidente, fez o governo que todos conhecemos. No Partido Justicialista houve um grupo que não aceitou as medidas que estavam sendo tomadas; esse grupo era mais identificado com as idéias do Justicialismo, mais identificado com idéias mais avançadas, mas contrárias à abertura e à venda do capital nacional feitas pelo Dr. Menem. Esse grupo se distanciou e organizou uma entidade à esquerda do Menem. O outro grupo era o Sr. Alfonsín, que foi o Presidente anterior ao Menem. Um homem de bem, na minha opinião pessoal, um homem sério. Tenho o maior respeito por ele, um homem da maior dignidade, mas que não foi bem no final do seu governo, tanto que teve de se afastar antes do término do prazo.

O que aconteceu na Argentina? Os dois grupos se uniram. Era muito mais natural o grupo do Sr. Alfonsín se unir ao Menem do que ao grupo que se afastou e se posicionou à esquerda; mas eles se uniram, fizeram um grande entendimento, porque acharam que o momento exigia que eles se entendessem para fazer oposição ao Sr. Menem. E tiveram uma vitória histórica.

           Não é por nada que a nossa Senadora de Livramento tem vindo nessa marcha célere em busca de uma liderança que vai ser nacional. É que a mulher sempre teve um papel de destaque lá na Argentina e ela mora ali do lado. As duas lideranças dos dois blocos da Argentina, o que ganhou e o que perdeu, foram representadas por duas ilustres mulheres. Mas lá eles se uniram e chegaram a um entendimento.

Meu querido Senador Eduardo Suplicy, está muito feio o quadro das Oposições no Brasil. É um vexame. Pensei muito se vinha a esta tribuna para dizer isto, mas não pude me conter. Está muito feio o quadro das Oposições neste País!

V. Exª tem autoridade para falar. V. Exª trouxe aqui um assunto da maior importância, da maior seriedade. O Presidente do Banco Central americano disse ao mundo: "Eu avisei. Não quiseram me ouvir. Eu disse para se ter cuidado com essa euforia, porque isso vai dar confusão. As economias emergentes terão problemas!".

Eu fui brincar com a nossa querida economista e Deputada Conceição Tavares, minha irmã! Não sei por que fiz isso! Eu lhe disse: "Conceição, você saiu do PMDB por causa do Quércia e foi para o PT, mas, agora, vocês vão se abraçar lá. Você poderia ter ficado no PMDB!". Ela me "jogou quatro pedras": "Você fala essa bobagem! E o Banco Central? Estão explodindo e liquidando o Brasil! Gastaram US$10 bilhões, e ainda temos que torcer para que o Presidente do Banco Central tenha sucesso, porque senão ele liquidará com o Brasil!".

A situação é séria. Mas, enquanto isso, meu querido Senador Eduardo Suplicy, não vejo na Oposição um sinal de que há tentativas de se fazerem reuniões para fazer frente a uma situação que é séria. Eu não vejo.

Eu via, acompanhava e até admirava o Ciro Gomes, o Presidente do PT, José Dirceu, o Lula, o Tasso, que, com outras entidades de esquerda da América Latina, se reuniram no Chile, no México, no Brasil, em vários países, procurando um modelo alternativo para o liberalismo. Estão lá: se unindo, se abraçando, se elogiando. De repente, o tal de Ciro resolve se oferecer para uma candidatura. Mesmo o PT, que estava passeando pelo mundo de mãos dadas, criticava Ciro Gomes de diversas formas. Mas é o mesmo Ciro, meu Deus do céu! Será que precisavam demonstrar com o ridículo que o que mudou é que o Ciro Gomes teve a petulância - a coragem, na minha opinião - de sair do PSDB, que tem o Presidente da República; que tem garantida a reeleição da Presidência da República em tese; que tem lá o seu governador; para quem ofereceram a governança do seu Estado, para entrar no Partido do Roberto Freire? No PPS? Ele merece respeito. Está entre nós, está lúcido e merece respeito. Podemos divergir, mas temos de respeitá-lo. Pois, de repente, o Ciro Gomes não vale nada, porque resolveu entrar na Oposição, sair do PSDB e participar do processo!

O Dr. Brizola é um homem ilustre, um homem de bem, um homem digno, um homem que tem uma biografia enorme. De repente, ele diz que a união é necessária e que aceita unir-se ao PT, ser Vice na Chapa do Lula. É um gesto. Até entendo que não é bom, porque Lula e Brizola têm, a rigor, o mesmo eleitorado. Seria interessante, por exemplo, uma aliança entre o Lula e o Ciro Gomes.

Até agora o PT não respondeu. O PT está aquecendo em banho-maria a resposta sobre se aceita ou não o nome do Dr. Brizola a Vice-Presidente.

O Sr. Eduardo Suplicy (PT-SP.) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS.) - Com o maior prazer. E não incluo V. Exª nesse quadro.

O Sr. Eduardo Suplicy (PT-SP)  - Senador Pedro Simon, V. Exª abordou muitos aspectos que merecem uma reflexão. Primeiro, o que aconteceu na Argentina constitui uma lição importante para todos nós, críticos da condução do Governo Fernando Henrique Cardoso, sobre os problemas do Brasil. Ali, os partidários do segmento liderado por Raul Alfonsín, do segmento das forças mais à Esquerda fizeram uma união, em que pesem as diferenças, e conseguiram uma extraordinária vitória nessas eleições, o que deixou em alerta o Presidente Fernando Henrique Cardoso, que está, por todos os meios, tentando articular-se e aumentar, se possível, a sua base de apoio, consolidá-la, inclusive no que diz respeito à tentativa de conquistar o PMDB definitivamente, como base de sua sustentação. Porém, há segmentos do PMDB, dentre os quais incluo V. Exª, que têm uma postura muito independente e, muitas vezes, crítica em relação à condução do Governo Fernando Henrique Cardoso. Se V. Exª aponta o que acontece na Argentina como uma lição para as Oposições, V. Exª encontra respaldo nas palavras do próprio Presidente José Dirceu, que inclusive esteve lá há duas semanas e acordou, segunda-feira passada, de bom humor, pela vitória das oposições, dizendo que ali havia uma lição em torno da qual poderíamos nos unir. Gostaria de expor alguns fatos: eu mesmo. Em 1986, fui opositor direto do candidato Orestes Quércia, porque fui o candidato do Partido dos Trabalhadores ao Governo de São Paulo. Ele ganhou as eleições. Inúmeros debates se travaram de maneira respeitosa e democrática. Tenho divergências com o ex-Governador, mas sempre dialogamos, tanto nesses debates como em outra ocasiões. Quero aqui relembrar que, quando os diversos partidos políticos dialogaram frente a um episódio de extraordinária relevância, que foi a CPI sobre o caso PC Farias, que levou ao afastamento do Presidente Fernando Collor de Mello, os Presidentes de Partido tiveram que dialogar. Naquela ocasião, inclusive, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou com o então Presidente do PMDB Orestes Quércia, porque ambos representavam os seus respectivos partidos. O que aconteceu em São Paulo, na semana passada, foi a visita do Presidente Antonio Palocci Filho, do Diretório Regional do PT, ao Presidente Estadual da instituição PMDB, no sentido de convidar o partido para estar, no próximo dia 5 de novembro, em uma manifestação de protesto contra o alto nível de desemprego que se encontra na cidade de São Paulo. Não há aí outra intenção senão esta: unir partidos, entidades, em relação a um problema sério. Lula observou que poderia dialogar com o partido de V. Exª, e o próprio Presidente Nacional do PT mencionou que se o Senador Roberto Requião for a escolha do PMDB para candidato à Presidência, isso possivelmente aproximaria os Partidos de Oposição ao PMDB, que V. Exª bem sabe vive a circunstância de apoiar o Governo ou abraçar de fato uma candidatura da Oposição, que pode ser a do ex-Presidente Itamar Franco ou do ex-Presidente José Sarney. No entanto, eu gostaria de transmitir um fato a V. Exª, aproveitando a oportunidade, já que citou o Governador Leonel Brizola. Na penúltima segunda-feira, o Presidente do PDT, Leonel Brizola, foi a São Paulo, inaugurou a nova sede do PDT e lançou o candidato Francisco Rossi a Governador de São Paulo. Na ocasião, ambos informaram que, num gesto de boa vontade em relação ao Partido dos Trabalhadores, resolveram apoiar e não lançar candidato ao Senado, e manifestaram a confiança no trabalho deste Colega que vos fala, dizendo que apoiará esta candidatura do PT ao Senado. Resolvi, então, telefonar para o Presidente Leonel Brizola e para o candidato Francisco Rossi - pois o Senador Sebastião Rocha, Líder do PDT nesta Casa, transmitiu-me o conteúdo do que havia sido falado pelo ex-Governador - para agradecer-lhes. Creio que isso é um gesto na direção do pensamento de V. Exª: é preciso haver entendimento entre as Oposições.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB/RS) - Diga-se de passagem que, quando o Dr. Brizola chegou a São Paulo, o PDT daquela cidade estava preparado para lançar sua candidatura à Presidência da República, e S. Exª o impediu de fazê-lo.

Quero dizer que temos o Dr. Arraes, temos o Dr. Brizola, temos o Lula, temos o Roberto Freire. Pode-se discordar do Roberto Freire, pode-se divergir, mas não se pode dizer que ele não é um patriota, que não é um homem digno, que não é um homem correto, que não tem idéias. Pelo amor de Deus! Como vamos negar sentar à uma mesa com o Roberto Freire?

A Srª Emilia Fernandes (PDT-RS) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS) - Já lhe darei um aparte, com o maior prazer.

É isso o que está acontecendo. Vem o PT e diz: "O Requião serve!"

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) (Fazendo soar a campainha.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS) - Deixe-me falar, Sr. Presidente, afinal, aqui tem pouca gente! O resto está lá no Plaza, em Nova Iorque! Somos poucos, temos que fazer bastante barulho. Vamos fazer de conta que somos muitos.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - V. Exª pode falar, a Mesa ouve com muita atenção e sabe da importância da contribuição de V. Exª. Entretanto, há outros Senadores inscritos. Estou apenas lhe dando conhecimento de que o seu tempo está esgotado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS) - Muito obrigado.

A Srª Emilia Fernandes (PDT-RS) - Senador Pedro Simon, o meu aparte será breve, até pelo adiantado da hora. Peço desculpas por não ter acompanhado o seu pronunciamento na íntegra. Cheguei no momento em que V. Exª ressaltava a importância dos resultados da eleição na Argentina, da integração das Oposições, da composição de forças para construir um projeto alternativo para aquele país. V. Exª também ressaltava a importância da participação das mulheres naquele processo eleitoral de um país com grande significado no contexto da América Latina. Sobre essa questão, associo-me a V. Exª quanto às ponderações que faz. No que se refere à preocupação que V. Exª manifesta sobre a dificuldade de as Oposições se associarem para as eleições de 1998, quero dizer que concordo com esse pensamento. Entendo que o processo eleitoral de 1998 possui características diferenciadas. No momento em que se introduziu o instrumento da reeleição, as eleições de1998 tomaram um outro significado. Antes, o País se mobilizava, apresentava seus candidatos três ou quatro meses antes das eleições. Hoje não. Estamos vendo o Presidente já em campanha. O Governador do meu Estado, Senador Pedro Simon, mesmo dizendo que não é candidato, já está em campanha também. E aí vêm ao caso todas aquelas ponderações aqui levantadas, no sentido de que os partidos da Oposição ficam em desvantagem. Não posso, até porque o tempo é exíguo, falar sobre o mérito das manifestações de V. Exª, mas há um ponto fundamental, e quero destacá-lo: o meu Partido, PDT, por meio do nosso Presidente Leonel Brizola, está à disposição. S. Exª, Leonel Brizola, mais uma vez, marca um momento histórico deste País, pelo posicionamento assumido. Não será por causa dele que haverá um entrave na composição das Oposições. Este é um ponto que quero ressaltar: o País precisa amadurecer o pensamento em relação a essa questão. Os Partidos de Oposição e as lideranças devem agilizar esse processo, porque, por enquanto, há conversações entre partidos, mas candidatos da Situação já estão em campo, fazendo campanha. Essa era a ponderação que eu desejava fazer sobre o pronunciamento de V. Exª. Obrigada.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS) - Concordo com V. Exª, nobre Senadora. Quero fazer justiça ao Dr. Leonel Brizola: pela experiência que tem, S. Exª não só lançou Lula para candidato à Presidência, mas se lançou como Vice. E foi além: falou em Antônio Ermírio de Moraes como candidato das Esquerdas à Presidência.

O Sr. Lúdio Coelho (PSDB-MS) - Permite V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS) - Pois não. Já concederei o aparte a V. Exª, com o maior prazer. Permita-me apenas concluir meu pensamento.

Por favor, não coloquem a nobre Senadora na Presidência, porque S. Exª logo vai me tirar daqui. É maldade de V. Exª, Sr. Presidente, é maldade sua...

Concluindo, ilustre Presidenta, o Dr. Leonel Brizola propôs a candidatura do Dr. Ermírio de Moraes sob o argumento de que as Oposições, as Esquerdas, deveriam copiar o que o Centro-Direita fez:: tomou o Senhor Fernando Henrique Cardoso, que era do nosso lado, e estão governando com Sua Excelência. Devemos convidar o Sr. Antônio Ermírio de Moraes, que é deles, para governar conosco. Podem discordar dessa tese, mas ela demonstra, pelo menos, o esforço do Dr. Leonel Brizola em querer encontrar uma solução. Quando alguém vem cobrar, diz: - isso é maluquice! Mas eu não acho. O Sr. Antônio Ermírio de Moraes é um homem sério, é um homem digno, é nacionalista, é o que se pode chamar de paradigma do empresário brasileiro. Não tem um tostão em financeira, um tostão aplicado em especulação. O que ganha aplica em novas fábricas e as faz crescer.

O Sr. Lúdio Coelho (PSDB-MS.) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS.) - Pois não.

O Sr. Lúdio Coelho (PSDB-MS.) - Senador Pedro Simon, estou de pleno acordo com V. Exª quando elogia as mulheres. Até penso que as mulheres - são maioria no nosso País - poderiam assumir cargos de responsabilidade. Quem sabe vão ter mais sucesso que nós, homens. V. Exª está certo também quando fala que essas conversas da Oposição não levam a lugar algum. Na realidade, a Oposição não apresentou nenhuma proposta concreta à nação brasileira; eventualmente vota contrariamente ao Governo, aqui e ali, mas não apresentou um programa à Nação brasileira. Por isso, é natural, compreendo perfeitamente o pensamento de V. Exª. Obrigado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS) - Quando éramos Governo Itamar Franco, apresentamos o plano, que é o Plano Real, que continua a ser executado pelo Senhor Fernando Henrique Cardoso, nosso Ministro da época. Concordo com V. Exª. A oposição não apresentou nada até agora.

É estranho que o meu amigo Suplicy tenha saído.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT-SP) - Estou aqui, pedindo novo aparte.

A SRª PRESIDENTE (Emilia Fernandes) - Peço, Senador Pedro Simon, que V. Exª conclua o seu pronunciamento, que já ultrapassou o tempo em 7 minutos e 48 segundos. Há vários Srs. Senadores em plenário aguardando a sua vez para falar. Nos pronunciamentos de S. Exªs, os apartes poderiam complementar o raciocínio de V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS) - Sou fã inveterado do José Dirceu. Acho-o um homem de bem, digno, correto. Também, sou fã inveterado do Lula. Penso que ele tem qualidades fantásticas, e já tem o seu lugar na História deste País pelo que fez até aqui. No entanto, preciso dizer que o PT já cometeu um erro histórico: tinha que ter aceitado o convite para sentar-se à mesa e fazer parte do Governo Itamar. Foi convidado. Insistiram, mas não aceitou. Expulsaram Erundina do partido. Outros convidados diziam: - aceito, mas não vou porque o PT não permitiu. Essa foi a primeira questão.

Agora estão cometendo o mesmo erro. O Ciro Gomes não serve; o Itamar não serve; já o Requião serve. Ora, Senador Suplicy, vamos parar com as vaidades. Vamos fazer política com grandeza, com credibilidade. Sentar à mesa e discutir. Vocês não conseguem sair do ridículo do Rio de Janeiro, onde até a Senadora quer ser candidata à Vice para o Garotinho ser candidato a governador, podendo haver assim o entendimento. E o PT do Rio de Janeiro não admite em hipótese alguma. Está faltando grandeza.

O Doutor Fernando Henrique, na minha opinião, é exagerado. Está certo que o Senador Amin vá lá; o Senador Amin é irresistível. Está certo que o Presidente da República converse com o Amin; está certo que o Presidente da República convide o partido do Amin para fazer parte do Governo. Está no papel de Sua Excelência. O Senhor Fernando Henrique quer é um partido a mais. Por que iria querer um Maluf em oposição a ele? “Mas o Maluf vai fazer o Governo em São Paulo” E daí? Isso é problema de São Paulo; resolve-se depois. Estamos analisando o problema das eleições. Está certo que o Senhor Fernando Henrique procure o PMDB; está certo que queiram o apoio do PMDB. Por quê? Porque no PMDB há uma candidatura que angustia o Senhor Fernando Henrique, não pelos votos, mas pelo constrangimento, a de Itamar. Se o Sr. Itamar fosse candidato à Presidência, haveria uma situação de constrangimento. Não sei quantos votos teria ou se deixaria de tê-los, mas seria constrangedor. Está certo, o Senhor Fernando Henrique está no papel dele: é Presidente da República, tem um plano de Governo, quer mais quatro anos.

Quem não sabe o plano do Senhor Fernando Henrique Cardoso? Sua Excelência quer o primeiro e o segundo turno, quer que seja entre ele e o Lula. Não duvido que Sua Excelência convide - aliás, já devia ter convidado; foi o candidato que ficou em 3º lugar na eleição passada - o Enéas. Por quê? Porque o Enéas tem voto. Se está convidando candidatos que ficaram lá atrás, como o Quércia e o Maluf, por que não o Enéas? Esses tiveram menos votos que o Enéas. Acho que Sua Excelência ainda vai convidar o Enéas. O Enéas atrapalha; o Enéas vai para a televisão e usa bem os minutos de que dispõe. E o Enéas é uma estrela que vem subindo.

Eu não faria isso, não é o meu estilo. Mas o Presidente está no papel que lhe é devido, está no seu papel. Qual é o papel das Oposições?

Senador Suplicy, o quadro que lemos na imprensa machuca. O quadro do Senhor Fernando Henrique é de que Sua Excelência quer se reeleger, custe o que custar. Mas parece que o quadro das Oposições é que elas querem perder.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/10/1997 - Página 23309