Discurso no Senado Federal

EXPECTATIVAS SOBRE A DECISÃO DE LUIZ INACIO DA SILVA, QUANTO A SUA CANDIDATURA OU NÃO A PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • EXPECTATIVAS SOBRE A DECISÃO DE LUIZ INACIO DA SILVA, QUANTO A SUA CANDIDATURA OU NÃO A PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
Publicação
Publicação no DSF de 04/11/1997 - Página 23754
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • EXPECTATIVA, DECISÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, LIDER, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, APOIO, REPRESENTAÇÃO, POPULAÇÃO, EXCLUSÃO, SEM-TERRA, NEGRO, TRABALHADOR, DESEMPREGADO.

O SR. EDUARDO SUPLICY (PT-SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Srª. Presidente, Senadora Emilia Fernandes, quero falar sobre a decisão que está sendo aguardada, com extraordinária expectativa: a de o Presidente de Honra do Partido dos Trabalhadores, Luiz Ignácio Lula da Silva, ser ou não ser candidato á Presidência da República. Tenho a convicção pessoal de que Lula, um dia, será Presidente do Brasil.

Quero ajudá-lo em sua caminhada porque tenho a certeza de que se trata de uma pessoa de excepcional qualificação, que conseguiu, ao longo de sua vida, transformar-se num símbolo, num porta-voz, numa pessoa que, com grande clareza, tem conseguido expressar o sentimento daqueles que têm estado, muitas vezes, excluídos do processo de desenvolvimento econômico e social. Tem sido uma pessoa que conseguiu trazer esperanças para aqueles que estiveram marginalizados da vida política nacional.

Refiro-me àqueles que são descendentes dos escravos; àqueles que, no campo, são os trabalhadores sem-terra; àqueles que, nas fábricas, perceberam que é muito difícil simplesmente lutar por melhores condições de salário, de vida, de direitos, sem se importar também com as questões que dizem respeito ao poder, à justiça, aos órgãos do Poder Executivo em âmbito municipal, estadual e federal.

Lula, na sua trajetória como Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, Diadema, depois, transformado em Sindicato do ABC, como fundador e Presidente do Partido dos Trabalhadores e como Presidente de Honra conseguiu mostrar a importância de lutarmos por direitos da cidadania. Lula formou a sua convicção de que era necessário abraçar os princípios democráticos para a conquista de uma sociedade mais justa, onde todos possam ter direitos à vida e à dignidade.

Lula é um ser humano que, como todos nós, pode por vezes errar, ter algumas limitações, mas é impressionante a maneira como tem conseguido superar as suas próprias limitações. Também tem tido a consciência daquilo que é possível, do que é muito difícil, ou do que é impossível.

Gostaria de transmitir não apenas aos meus companheiros do Partido dos Trabalhadores, mas aos do PDT, do PSB e do PC do B que é importante, neste momento, darmos o tempo que Lula considerar necessário para tomar a sua decisão final.

Tenho confiança na sua intuição política. Lula está pesando se para o Brasil, para o Partido que fundou, o PT, do qual é Presidente de honra, para o conjunto das oposições e para ele é melhor ou não se candidatar à Presidência agora ou se, porventura, poderá deixar para mais tarde.

Há aqueles que indagam se, tendo sido candidato em 1989, quando conseguiu ir a segundo turno com possibilidades concretas de vencer o adversário Fernando Collor e tendo perdido, nas eleições de 1994, para Fernando Henrique Cardoso - por certo momento liderou a preferência popular e foi o principal adversário -, seria adequado candidatar-se outra vez.

Os exemplos da história de Abraham Lincoln, de Salvador Allende, de François Mitterrand estão a indicar que sempre é possível a uma pessoa com qualidades de real estadista, como as de Lula, enfrentar eleições, ser derrotado e, depois, se tornar vitorioso.

Quero aqui deixar registrado, Srª Presidente, Senadora Emilia Fernandes, prezados Srs. Senadores, que considero muito importante darmos ao Lula o tempo que ele avaliar necessário. Não é preciso pressioná-lo para que decida imediatamente.

Ele está tendo a oportunidade, depois dessas duas viagens à Itália e à Alemanha, tendo voltado ontem, de mais uma vez conversar com seus companheiros e amigos, dialogar com as suas bases, sair às ruas pelo Brasil, ir aos sindicatos, falar com os trabalhadores rurais e com o Movimento dos Sem Terra, ouvir empresários que o respeitam e que possuem idéias diferentes, pessoas de todos os segmentos e companheiros dos partidos afins, ouvir os potenciais companheiros que, inclusive, possam ser alternativas, e os estímulos daqueles que estão a lhe dizer que seja o nosso Presidente, para que, então, tome essa decisão tão importante, não apenas para ele.

Essa trajetória envolve a dificuldade da própria Nação e a esperança de milhões de brasileiros.

Desejo transmitir ao Lula que se, levando em conta todos os fatores, ele avaliar que é chegado o momento de enfrentar o seu principal adversário hoje, o Presidente Fernando Henrique Cardoso - que resolveu concorrer à reeleição com extraordinária vantagem, porque tem controle da máquina administrativa, e resolveu fazer de tudo para conquistar esse direito de reeleição - Lula saberá mostrar ao povo brasileiro que, mesmo em grande desvantagem, como candidato do PT e dos Partidos de Oposição, que o apoiarem, com certeza, terá toda a possibilidade de vencer a eleição e, principalmente, a convicção de que estarei ao seu lado, ajudando-o da melhor forma possível.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/11/1997 - Página 23754