Discurso no Senado Federal

SOLIDARIEDADE COM OS 10 MIL PARAENSES QUE OCUPARAM A FERROVIA DE CARAJAS, EM PROTESTO CONTRA A COMPANHIA VALE DO RIO DOCE POR NÃO IMPLANTAR A SIDERURGICA DE SALOBO, EM MARABA.

Autor
Ademir Andrade (PSB - Partido Socialista Brasileiro/PA)
Nome completo: Ademir Galvão Andrade
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REGIMENTO INTERNO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • SOLIDARIEDADE COM OS 10 MIL PARAENSES QUE OCUPARAM A FERROVIA DE CARAJAS, EM PROTESTO CONTRA A COMPANHIA VALE DO RIO DOCE POR NÃO IMPLANTAR A SIDERURGICA DE SALOBO, EM MARABA.
Publicação
Publicação no DSF de 07/11/1997 - Página 24301
Assunto
Outros > REGIMENTO INTERNO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • REGISTRO, PRIORIDADE, REGIMENTO INTERNO, USO DA PALAVRA, LIDER.
  • SOLIDARIEDADE, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, MUNICIPIO, MARABA (PA), ESTADO DO PARA (PA), FECHAMENTO, FERROVIA, LOBBY, OBJETIVO, GARANTIA, FIXAÇÃO, REGIÃO, USINA, BENEFICIAMENTO, MINERIO, COBRE, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD).
  • CRITICA, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), DESCUMPRIMENTO, ACORDO, GOVERNO ESTADUAL, IMPLANTAÇÃO, USINA SIDERURGICA, ESTADO DO PARA (PA).
  • REGISTRO, TRAMITAÇÃO, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, ESTADO DO PARA (PA), PROJETO DE LEI, RETIRADA, INCENTIVO FISCAL, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), EXPECTATIVA, APOIO, GOVERNADOR, MOBILIZAÇÃO, POVO.

O SR. ADEMIR ANDRADE (Bloco/PSB-RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, está ocorrendo um fato de extrema importância, eu diria até de muita gravidade, no Estado do Pará. Hoje pela manhã, por volta das 11 horas, cerca de 10 mil pessoas ocuparam e fecharam a ferrovia dos Carajás, por onde passam os trens que levam toneladas de minério de ferro do Estado do Pará.

Neste momento, estão acampados em cima da ferrovia, onde foram hasteadas as três bandeiras - do Brasil, do Pará e do Município de Marabá - pela pessoa do prefeito de Marabá, Dr. Geraldo Veloso. No momento inicial do ato público, havia cerca de dez mil pessoas. Mas agora, acampados, e vão dormir no local, sobre a ferrovia, estão cerca de três mil trabalhadores, lideranças políticas, profissionais liberais, pessoas da região, povo do sul do Pará. A decisão deles é permanecer com a ferrovia dos Carajás fechada até que a direção da Vale, na pessoa do Sr. Benjamin Steinbruch, compareça ao Estado do Pará e apresente para a população que decidiu por esse ato de fechar a ferrovia dos Carajás a posição da direção da Companhia Vale do Rio Doce com relação à implantação do projeto da Siderúrgica do Salobo.

O povo do Pará quer que a indústria de salobo seja implantada no Município de Marabá. É uma indústria que requer investimentos da ordem de US$1,5 bilhão, que vai gerar emprego, desenvolvimento, participação da comunidade local nas riquezas geradas. É uma exigência do povo paraense, que não vai aceitar, em nenhuma circunstância e de nenhuma forma, que o minério de cobre das reservas de Carajás seja transportado para qualquer outra parte do País ou do mundo para ser beneficiado. Vamos exigir, e estamos afirmando, que o minério de cobre não saia do Pará para nenhum canto do Brasil, mesmo que para isso seja preciso a população fazer o que está fazendo hoje: fechando uma ferrovia, criando dificuldades ao empreendimento da Vale do Rio Doce. Isso se dá em razão da indiferença, da maneira desrespeitosa como a Companhia Vale do Rio Doce tem tratado o Estado do Pará e seu povo.

Quando a Vale do Rio Doce era ainda uma empresa estatal, ela assinou um protocolo de intenção com o Governo do Estado do Pará, em que se comprometia a implantar a siderúrgica de Salobo no Município de Marabá. Logo após a privatização, o Sr. Benjamin Steinbruch cancelou o compromisso de lançamento da pedra inaugural da referida indústria por três vezes. Na terceira vez, ele compareceu ao Estado do Pará dizendo que a Vale do Rio Doce iria repensar o projeto, e até hoje não houve uma resposta positiva sobre a implantação desse projeto.

No dia 25 de julho, houve um ato público em Marabá, com a participação de muitos políticos, dentre os quais eu estava presente, e nessa ocasião já se manifestava a idéia de fechar a ferrovia de Carajás ou de agir de maneira mais radical contra a Vale.

Recentemente, o Governador interino do Estado do Pará, que assumiu na ausência do Governador Almir Gabriel, assinou um decreto cancelando todos os incentivos fiscais, todas as proteções e vantagens que o Estado e a Assembléia tinham concedido à Vale do Rio Doce, considerando-a inimiga do Estado do Pará.

A Assembléia Legislativa do Estado do Pará está trabalhando em um projeto de lei, liquidando com todos os benefícios recebidos pela Companhia Vale do Rio Doce em nosso Estado, ou seja, a Companhia Vale do Rio Doce está sendo vista como inimiga do povo do Estado do Pará. O fato é extremamente grave.

Sr. Presidente, em nome do meu Partido, como Senador do Estado do Pará, como Senador que tem representatividade naquela região, quero manifestar a minha total e absoluta solidariedade à atitude de todas as pessoas que tomaram a decisão de fechar a Ferrovia dos Carajás hoje e lá permanecer, até que a Companhia Vale do Rio Doce manifeste o seu posicionamento sobre a implantação da siderúrgica.

No ato realizado hoje pela manhã, estava presente a Deputada Federal do PC do B, Socorro Gomes; o Deputado Asdrubal Bentes, do PMDB; Valdir Ganzer, Secretário de Economia de Belém e Presidente do PT do Pará; Ana Júlia Carepa, ex-Deputada Federal e atual vice-Prefeita da cidade de Belém; os Deputados Estaduais Elza Miranda, do PSDB, e Evaldo Bichara, salvo engano, do PPB, Newton Miranda, entre tantas outras autoridades, muitos prefeitos, centenas de vereadores e a população de uma maneira geral.

Espero que o Governador do Estado do Pará, Almir Gabriel, compreenda a atitude que está sendo tomada por aquelas pessoas e não se utilize da polícia para retirá-las do local. Este tem que ser um momento de grandeza e de reflexão do Governador do Estado. S. Exª deve se associar à luta do povo do sul do Pará pela implantação desse projeto na cidade de Marabá.

Sei que ele tem defendido publicamente esta idéia, mas não executou qualquer ação para obrigar a Vale a realizar a implantação dessa indústria no Município de Marabá.

Agora o povo tomou a atitude. Cabe ao Governador apoiar a atitude do povo e não mandar que a polícia reprima ou mande retirar aquelas pessoas da ferrovia. Cabe ao Governador Almir Gabriel, neste momento, associar-se ao povo do Estado do Pará, porque a luta deve ser a mesma.

Queremos hoje, desta tribuna, dar conhecimento desses fatos à opinião pública brasileira, pois estamos diante de um fato grave. Trata-se de uma ferrovia importante por onde passam muitos trens diariamente, transportando nosso ferro e pessoas, e encontra-se paralisada.

A população está disposta a resistir a todo e qualquer tipo de ação, até o momento em que o Sr. Benjamin Steinbruch chegue à área e defina qual é a posição da Companhia Vale do Rio Doce sobre a metalúrgica de Salobo.

Encerro, manifestando minha solidariedade àquela população, o meu total e irrestrito apoio, aplaudindo a sua decisão. Infelizmente, neste País, onde só prevalece o interesse e a decisão do poder econômico, o povo, para ser respeitado ou para fazer valer o seu direito, é obrigado a agir como o povo de Marabá, no sul do Pará, neste momento: sofrendo, acampados debaixo de sol e de chuva, em lugar que não oferece a mínima condição.

Que esta lição sirva de exemplo para outros empreendimentos econômicos que se implantarem na nossa região. O povo não aceitará mais de braços cruzados simplesmente que esses projetos se implantem, ganhem dinheiro, levem a riqueza do nosso Estado e deixem todos de mãos abanando. Queremos participar dessa riqueza. Por isso, estamos agindo dessa forma.

Esse é o recado de solidariedade deste Senador do Pará e integrante do Partido Socialista Brasileiro.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/11/1997 - Página 24301