Discurso no Senado Federal

NOTICIA DE QUE O POVO DA CIDADE DE SANTAREM AMEAÇA BLOQUEAR O RIO AMAZONAS, COMO FORMA DE PRESSÃO PARA QUE O ESTADO DO PARA E A CELPA RESOLVAM O PROBLEMA DA FALTA DE ENERGIA ELETRICA NAQUELE MUNICIPIO.

Autor
Ademir Andrade (PSB - Partido Socialista Brasileiro/PA)
Nome completo: Ademir Galvão Andrade
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ENERGIA ELETRICA. ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL.:
  • NOTICIA DE QUE O POVO DA CIDADE DE SANTAREM AMEAÇA BLOQUEAR O RIO AMAZONAS, COMO FORMA DE PRESSÃO PARA QUE O ESTADO DO PARA E A CELPA RESOLVAM O PROBLEMA DA FALTA DE ENERGIA ELETRICA NAQUELE MUNICIPIO.
Publicação
Publicação no DSF de 14/11/1997 - Página 24763
Assunto
Outros > ENERGIA ELETRICA. ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • COMENTARIO, AMEAÇA, POVO, MUNICIPIO, SANTAREM (PA), ESTADO DO PARA (PA), BLOQUEIO, RIO AMAZONAS, FORMA, INFLUENCIA, GOVERNO ESTADUAL, CENTRAIS ELETRICAS DO PARA S/A (CELPA), BUSCA, SOLUÇÃO, PROBLEMA, FALTA, FORNECIMENTO, ENERGIA ELETRICA, REGIÃO.
  • SOLIDARIEDADE, PROVIDENCIA, BLOQUEIO, RIO AMAZONAS, INICIATIVA, ASSOCIAÇÃO COMERCIAL, SINDICATO RURAL, SINDICATO, COMERCIO, MUNICIPIO, SANTAREM (PA), ESTADO DO PARA (PA).
  • REPUDIO, ATUAÇÃO, ALMIR GABRIEL, GOVERNADOR, ESTADO DO PARA (PA), NEGLIGENCIA, BUSCA, SOLUÇÃO, PROBLEMA, FORNECIMENTO, ENERGIA ELETRICA, REGIÃO, PROMOÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO, MOTIVO, EXCESSO, ATENÇÃO, REELEIÇÃO.

            O SR. ADEMIR ANDRADE (BLOCO/PSB-PA. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há dias vim a esta tribuna para anunciar o fato de que o povo de Oriximiná, no Estado do Pará, estaria fechando o rio Trombetas, unindo centenas de barcos, amarrados uns aos outros, para pressionar o Governo do Estado a resolver o problema de energia daquele Município.

            Hoje as manchetes dos jornais do meu Estado trazem o seguinte título: “Santarém ameaça bloquear o rio Amazonas”. Essa é a manchete do jornal O Liberal. E por que, Sr. Presidente, e quem ameaça?

            É bom que se veja que os movimentos, a reação e o inconformismo não partem só dos trabalhadores.

"Fechar o rio Amazonas à navegação, em frente a Santarém, mover ações, popular e civil contra a Celpa, para forçar a empresa a pagar multa a cada dia de racionamento e ressarcir os consumidores do prejuízo por causa da falta de energia, além de pagamento em juízo do ICMS e das contas de luz de pessoas físicas e jurídicas. Essas são algumas das decisões tomadas ontem pelos integrantes de um movimento encabeçado pela Associação Comercial de Santarém, Câmara dos Dirigentes Lojistas, Sindicato do Comércio e Sindicato Rural. Em correspondência enviada ontem ao Presidente da Celpa, Nelson Malizia Alves, os representantes das principais organizações empresariais do Município responsabilizaram a empresa pela iminência de blecaute, em decorrência da ameaça de fechamento da hidrelétrica de Curuá-Una em virtude da longa estiagem. ´Tudo isso era previsível e poderia ter sido evitado se as promessas da Celpa e dos últimos governos tivessem sido cumpridas, ou seja, se tivessem construído a 4ª turbina ou se tivessem comprado os grupos geradores necessários para esse aumento de demanda."

Quero trazer aqui, Sr. Presidente, a minha solidariedade aos empresários de Santarém, ao povo do Baixo Amazonas, pela sua atitude. Em meu Estado, normalmente as pessoas têm de radicalizar nas suas posições, como recentemente aconteceu na ocupação da Ferrovia de Carajás, da sua interdição durante dois dias, quando o Sr. Benjamin Steinbruch comprometeu-se a negociar com o povo lá em Marabá.

Lamento que o Governador do Estado do Pará, ao longo desses quase três anos de governo, só tenha pensado numa coisa: vender as Centrais Elétricas do Pará. Três anos de governo e o seu trabalho único e exclusivo, com relação à expansão do setor energético do nosso Estado, foi buscar a forma e os meios de vender a Celpa à iniciativa privada. Já entregou 31% das ações da Celpa à Eletrobrás por R$70 milhões e pretende entregar o resto por mais R$150 milhões. E não enxerga o problema que o povo do Pará está vivendo: a falta de energia, apesar de a maior hidrelétrica inteiramente nacional ter sido construída em nosso território. Infelizmente essa hidrelétrica não atende nem à metade dos Municípios do Pará. Para ser mais exato, 71 Municípios do Estado não recebem energia dessa hidrelétrica. E o caos é total e absoluto.

Recentemente, o povo invadiu e quebrou as instalações da Celpa no Município de Curionópolis, na Belém-Brasília. Posteriormente, em São Geraldo do Araguaia, no sul do Pará, o povo, revoltado com o racionamento de energia, invadiu a termoelétrica, porque lá a energia é gerada com motores diesel, e incendiou toda a Celpa daquela cidade.

Em Cametá, onde estive recentemente, há um clamor geral da população. Lá, a energia fica variando, atingindo somente um quarto da população da cada vez. Portanto, cada cidadão tem energia durante seis horas por dia apenas. E o povo revoltado, a fazer atos públicos, a clamar por ações do Governo. Isso aconteceu em Óbidos e também em Oriximiná, como eu já disse aqui, quando ameaçaram fechar o rio Trombetas. Na época da campanha, em Óbidos, fizemos comício à luz de velas. O povo da cidade inteira foi para o nosso comício com velas acesas nas mãos, clamando por uma ação do Governo para resolver aquela dificuldade, aquele problema.

Passaram-se três anos e o Governador Almir Gabriel, que prometeu atender à necessidade daquele povo, simplesmente esqueceu os seus compromissos, as suas responsabilidades e só pensa em vender a Celpa. A sua obsessão é a obsessão do seu chefe maior, do seu líder maior, Fernando Henrique Cardoso, que quer acabar, liquidar com o Estado brasileiro, entregar o patrimônio público ao capital privado, fortalecendo o poder econômico, fazendo o poder político ser empregado subserviente ao poder econômico. É essa a política neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, que está sendo seguida pelo Governador do Estado do Pará, Almir Gabriel.

Eu me solidarizo com esses empresários, fazendo coro à sua ação de radicalização, porque é impossível admitir tanta irresponsabilidade de um Governo Estadual, de um Governo Federal. Os empresários, inclusive, estão descrentes de que esse "Linhão de Tucuruí", que está saindo de Tucuruí para chegar até Santarém, esteja pronto até o final de 1998. Ainda que isso se concretize, não é possível que uma cidade do porte de Santarém, a segunda maior cidade do Estado do Pará, passe um ano e meio sem energia, em total blecaute, prejudicando o segmento industrial, enfim, toda a sociedade. O País já vive em dificuldades: pouco crescimento econômico, pouco emprego para os trabalhadores; e o Governo ainda não cumpre, minimamente, com sua responsabilidade. Manifesto aqui, mais uma vez, minha solidariedade ao povo de Santarém pelas dificuldades que estão vivendo. 

Espero que o Governador Almir Gabriel - que hoje já está bem, que está em Belém assinando convênios com 25 municípios do Estado, distribuindo recursos, comprando prefeitos, fazendo favores na expectativa de sua reeleição - não fique apenas a fazer favores a prefeitos para ter o apoio e o compromisso destes de trabalharem por sua reeleição; que, acima de tudo, pense em sua responsabilidade, em seu dever de Governador e na necessidade que o povo tem de energia em suas cidades para promover o desenvolvimento, o crescimento econômico e social, gerando empregos e condições de vida para todos.

Fica aqui meu protesto e meu repúdio à ação do Governador do Estado. Esperamos que S. Exª tenha responsabilidade, se é que pensa ainda em ganhar alguma eleição. Não são os prefeitos que darão votos a S. Exª, quem dará votos é o povo. S. Exª que cuide de suas responsabilidades se quiser ter alguma consideração do povo do Estado do Pará.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/11/1997 - Página 24763