Discurso no Senado Federal

EXPOSIÇÃO DO ECONOMISTA ALAN GREENSPAN, PERANTE A COMISSÃO BANCARIA E FINANCEIRA DA CAMARA DE REPRESENTANTES DOS ESTADOS UNIDOS, TRANSMITIDA, ONTEM, PELA CNN, EM QUE FEZ UMA ANALISE MUITO SERENA DA CRISE DAS BOLSAS, DESTACANDO QUE OS PAISES EMERGENTES DO SUDESTE ASIATICO ESTÃO COM SERIOS PROBLEMAS ESTRUTURAIS. ESTABILIDADE ECONOMICA DO CHILE COMO PARAMETRO PARA AS ECONOMIAS DOS PAISES LATINO-AMERICANOS.

Autor
Jefferson Peres (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • EXPOSIÇÃO DO ECONOMISTA ALAN GREENSPAN, PERANTE A COMISSÃO BANCARIA E FINANCEIRA DA CAMARA DE REPRESENTANTES DOS ESTADOS UNIDOS, TRANSMITIDA, ONTEM, PELA CNN, EM QUE FEZ UMA ANALISE MUITO SERENA DA CRISE DAS BOLSAS, DESTACANDO QUE OS PAISES EMERGENTES DO SUDESTE ASIATICO ESTÃO COM SERIOS PROBLEMAS ESTRUTURAIS. ESTABILIDADE ECONOMICA DO CHILE COMO PARAMETRO PARA AS ECONOMIAS DOS PAISES LATINO-AMERICANOS.
Publicação
Publicação no DSF de 15/11/1997 - Página 24800
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, ENTREVISTA, ALAN GREESPAN, ECONOMISTA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ANALISE, CRISE, BOLSA DE VALORES.
  • ANALISE, ESTABILIDADE, NATUREZA ECONOMICA, PAIS ESTRANGEIRO, CHILE, MODELO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, PAIS, AMERICA DO SUL.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB/AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, em meio à crise das bolsas, que abala e preocupa o mundo há semanas, deixando muitos mergulhados em perplexidade e outros com a sensação de que o mundo vai desabar sobre as nossas cabeças, é bom ouvir, como tive oportunidade de ouvir ontem, ao vivo, pela CNN, pronunciamento como o do Sr. Alan Greenspan perante a Comissão Bancária e Financeira da Câmara de Representantes dos Estados Unidos.

           O Sr. Alan Greenspan está longe de ser um otimista cego. Ele é um homem comedido, austero e com a credencial de há mais de um ano ter advertido sobre o que estava acontecendo na Bolsa de Nova Iorque, o que ele chamou de uma exuberância irracional, uma vez que o valor de mercado das ações estava muito acima do valor patrimonial e aquilo não poderia continuar indefinidamente. Alan Greenspan fez uma análise muito tranqüila da situação. Mencionou que os países do sudeste asiático que mais sofreram os efeitos da crise, a Tailândia, a Malásia e a Indonésia, estão com sérios problemas estruturais. Os Estados Unidos, disse ele, não foram e não serão afetados pelo temporal, ao menos por enquanto, porque os fundamentos da economia americana são bons, e os efeitos indiretos, por enquanto, não virão, porque os países do lado de lá do Pacífico não constituem nem 4% do mercado para as exportações americanas.

O que Alan Greenspan quis dizer é que uma crise bursátil fica restrita às Bolsas se a economia estiver apoiada em bases sólidas. Se não estiver, a crise da Bolsa se propaga e se transforma numa crise da economia. Foi o que aconteceu com os países do sudeste asiático e é o que poderá acontecer em Países como o Brasil, México e Argentina, que ainda não conseguiram, por várias razões, fazer o chamado dever de casa.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tem passado despercebido, aqui, no nosso Continente, que o nosso quase vizinho Chile não sentiu os efeitos da crise e nem está em pânico. A Bolsa de Santiago tem oscilado - menos que a de São Paulo e a de Buenos Aires, mas tem oscilado; claro! Entretanto, o Governo chileno não baixou nem promete baixar nenhum pacote de medidas, simplesmente porque a economia chilena não se sente ameaçada; e não se sente ameaçada porque, de todos os países latino-americanos, o que está apoiado em fundamentos mais sólidos é o país andino, uma vez que ele já fez o chamado ajuste macroeconômico há muito tempo.

O Chile fez, ainda no começo da década de 80, o ajuste fiscal. Desde então, o país apresenta um superávit primário que cobre o déficit operacional; as contas públicas chilenas estão em quase perfeito equilíbrio, a dívida pública foi alongada e está sendo paga tranqüilamente, sem grande ônus para o Tesouro chileno.

O Governo chileno não fez o currency board da Argentina, por exemplo. O peso chileno não está vinculado ao dólar numa paridade fixa, ele oscila livremente. Nos últimos dois meses, o peso se desvalorizou em pouco mais de 1%, sem nenhum problema. A economia foi aberta há muito tempo, há 15 anos, com uma uniformização de tarifas em torno de 12% para todos os produtos. O Chile tem a economia mais aberta da América Latina. É um País altamente exportador, que vem reduzindo os custos internos. A economia melhorou muito a produtividade; os produtos chilenos são altamente competitivos no mercado internacional. Apesar dessa abertura, a balança comercial é positiva. Nos 12 meses que vão de julho de 1996 a julho de 1997, apresentou um superávit de mais de US$600 milhões, o que, considerando o tamanho da economia chilena, equivale a mais ou menos uns US$5 bilhões a US$6 bilhões, se fosse o Brasil. Ainda no último mês de setembro, o saldo foi de US$48 milhões. Com toda a economia aberta e, repito, com tarifa de 12% apenas, o saldo é positivo. Não há , portanto, desequilíbrio nas contas externas.

A poupança interna, graças principalmente à reforma da Previdência, em grande parte privatizada - e nem entro no mérito da discussão se o modelo seria bom ou não para o Brasil, talvez não o fosse porque nossas condições são diferentes -, contribuiu muito para a elevação da poupança interna que hoje está em torno de 30% do PIB, também a mais elevada da América Latina. A nossa está apenas em 17%, ou seja, a economia chilena não está necessitando dramaticamente de poupança externa, porque a interna lhe basta.

O processo de privatização foi praticamente completado. Restou em mãos do Estado, como empresa importante, apenas a grande Companhia de Cobre. Isso por dois motivos: primeiro, porque o cobre tem ainda um grande peso nas exportações chilenas, ele sozinho representa mais de 30% das exportações; segundo, porque o regime militar da época destinou parte da receita da companhia estatal de cobre para a modernização do Exército chileno. Por isso, não havia condições políticas para privatizá-la e ela foi mantida nas mãos do Estado. As demais, como telefonia, eletricidade e outros segmentos, foram inteiramente privatizadas.

O crescimento médio tem sido de 6% ao ano, há 18 anos. É o décimo oitavo ano que a economia chilena comemora uma média de 6% ao ano de crescimento econômico, com a mesma taxa de inflação. A taxa de inflação prevista para este ano será de mais ou menos de 6%, ou seja, a economia está estabilizada. As Bolsas oscilam, mas a economia chilena não sofre, e o problema não chega ao bolso do cidadão comum. O Chile não está em pânico, e os chilenos que veraneiam em Viña Del Mar sabem da crise apenas pela televisão e pelos jornais. Repito: porque o país fez o dever de casa, e os fundamentos da economia são bons.

           Perguntar-se-á: isso quer dizer que o Chile está imune à crise? É claro que não! Se a crise se transformar numa economia mundial, o país será atingido, como todos. A economia é altamente exportadora, possui um alto coeficiente de exportação. É claro que, havendo uma retração do mercado mundial, certamente isso afetará as exportações chilenas, implicando, em última análise, uma redução do crescimento econômico. Mas crise não existe, Sr. Presidente.

           O Brasil está ameaçado exatamente porque não fizemos os ajustes necessários. Não vou entrar em considerações, todos sabem por que esses ajustes não foram feitos. As dificuldades são enormes, de ordem política.

           O que me trouxe a esta tribuna foi apenas o seguinte: mencionar a fala do Sr. Alan Greenspan, a lúcida exposição do Sr. Alan Greenspan e o exemplo chileno, que é válido para nós, porque até aqui parecia que as economias do chamado Primeiro Mundo, Estados Unidos e Europa, não sofriam os efeitos da crise. Lá também as Bolsas oscilam, e a economia não sofre. Então, tínhamos a impressão de que era um problema típico de Primeiro Mundo, e não é.

           O Chile mostra que o problema não é de grau de desenvolvimento, e sim do fato de a economia estar ou não saneada. No Chile foi feito o saneamento. Goste-se ou não do modelo chileno - as pessoas de esquerda podem malsinar à vontade o chamado neoliberalismo chileno - há que se reconhecer que aquele país é um exemplo invejável de estabilidade econômica para toda a América Latina. Isso deve servir para todos nós, brasileiros, porque, se tivéssemos feito o ajuste mais para o econômico - estamos adiando ou fazendo a conta-gotas, Sr. Presidente -, o Brasil não estaria sobressaltado hoje com a crise das Bolsas em todo o mundo.

           Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/11/1997 - Página 24800