O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB-PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, apesar dos tempos de neoliberalismo, de privatizações, de fortalecimento do poder econômico, de redução do poder do Estado, de afastamento da população de qualquer processo de decisão política, há resistências.

O Presidente Fernando Henrique Cardoso tenta conduzir a Nação em um rumo, mas a população resiste e busca outro caminho. Falo da vitória do povo do sul do Pará. Na próxima quinta-feira, será realizada em Marabá uma reunião da mais alta importância para a Amazônia e para o Pará.

A reunião vai tratar da implantação de um projeto siderúrgico, um investimento no beneficiamento do minério de cobre no valor de R$1,5 milhão, valor esse que pode atingir R$2 bilhões. O projeto representará um enorme desenvolvimento regional e um conseqüente aumento de oportunidades de trabalho..

Será realizada, na quinta-feira, uma reunião com os representantes da SALOBO Metais , da Companhia Vale do Rio Doce e da Anglo American As três empresas confirmaram presença no encontro, que contará ainda com a participação da Prefeitura de Marabá, da Câmara Municipal, de sindicatos e de lideranças regionais - outros prefeitos, outros vereadores - e do Movimento Pró-Salobo em Marabá.

Esta é a primeira vez que um grande projeto será implantado na Amazônia graças à luta do seu povo. A Companhia Vale do Rio Doce, antes de ser privatizada, havia assinado um protocolo com o Governo do Estado. Após a privatização, a Vale desconsiderou esse protocolo e deixou a implantação da siderúrgica para avaliações posteriores.

Em 25 de julho, houve um ato público na cidade de Marabá, com a participação de mais de 10 mil pessoas que afirmavam taxativamente que o minério de cobre de Carajás não sairia para nenhum outro lugar do País, sob nenhuma condição: ou seria beneficiado no Estado do Pará ou não seria beneficiado em canto algum. .

Alguém pode dizer que é um desrespeito à lei, que é uma imposição. Lembro que às vezes se desrespeita a lei em nome da justiça e que esse desrespeito à lei é tolerado. Cito, por exemplo, a greve das polícias que ocorreu em todo o País. Foi um desrespeito à Constituição, mas as polícias tiveram suas reivindicações atendidas pois eram justas e porque foram feitas por uma população que estava armada. O Governo, respeitando essa condição, atendeu às reivindições dos policiais militares na maioria dos Estados brasileiros.

A Amazônia não quer ser mais uma região que apenas fornece matéria-prima para ser beneficiada e industrializada em outros Estados do Brasil ou em outros países do mundo. Queremos a industrialização dos nossos produtos na nossa própria região.

Pois por causa da resistência da população, os dirigentes das três empresas que são sócias doe Projeto Salobo vão mandar os seus representantes a Marabá para discutir com os líderes do movimento.

Imagine isso em outros tempos! Imagine se esse fosse o nível de compreensão política do passado, quando construíram Tucuruí. O povo do Pará teria concordado com a construção da hidroelétrica sob a condição que também as eclusas de Tucuruí fossem construídas - agora percebem a necessidade da construção da segunda fase. O povo da Amazônia teria concordado, mas teria exigido que a energia gerada em Tucuruí atendesse também àquela região e não apenas servisse o Nordeste, o Sul e até mesmo ao Japão, já que transferimos energia para o Japão em forma de alumínio - e alumínio é energia condensada.

Os tempos estão mudando. Apesar da política de enfraquecimento do poder do Estado, as pessoas estão começando a compreender que têm que exigir os seus direitos, participar do processo político. Por isso, a população de Marabá foi vitoriosa no seu movimento.

Há quinze dias eles fecharam a ferrovia de Carajás por 48 horas. Nenhum trem passou sob a ferrovia de Carajás. O resultado desse movimento é que agora essas três empresas - Salobo Metais, Vale do Rio Doce e a Anglo-American - se apresentam para discutir com a comunidade. Por isso, quero me congratular com o povo do sul do Pará, por essa força de vontade e pela vitória que obtiveram nessa luta.

Muito obrigado.