Discurso no Senado Federal

CONSTRANGEDORA SITUAÇÃO PELA QUAL PASSA O PARAGUAI, CUJA DEMOCRACIA SE VE AMEAÇADA CASO AS ELEIÇÕES DO DIA 10 DE MAIO DE 1998 NÃO SEJA GUIADA PELA VONTADE DO POVO.

Autor
Levy Dias (PPB - Partido Progressista Brasileiro/MS)
Nome completo: Levy Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • CONSTRANGEDORA SITUAÇÃO PELA QUAL PASSA O PARAGUAI, CUJA DEMOCRACIA SE VE AMEAÇADA CASO AS ELEIÇÕES DO DIA 10 DE MAIO DE 1998 NÃO SEJA GUIADA PELA VONTADE DO POVO.
Publicação
Publicação no DSF de 27/11/1997 - Página 25975
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • APREENSÃO, SITUAÇÃO POLITICA, PAIS ESTRANGEIRO, PARAGUAI, AMEAÇA, ESTADO DEMOCRATICO, REALIZAÇÃO, ELEIÇÃO DIRETA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • DEFESA, EMPENHO, CONGRESSO NACIONAL, GOVERNO, SOCIEDADE CIVIL, BRASIL, APOIO, CONSOLIDAÇÃO, DEMOCRACIA, ESTADO DEMOCRATICO, PAIS ESTRANGEIRO, PARAGUAI.

O SR. LEVY DIAS (PPB-MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, a minha gratidão ao Senador Carlos Patrocínio por ter cedido o seu tempo.

Sr. Presidente, subo à tribuna para me manifestar sobre um assunto que considero delicado, mas extremamente oportuno. Trata-se da constrangedora situação pela qual passa o nosso país irmão, o Paraguai. Vivendo em Mato Grosso do Sul tenho como cidadão e como homem público a oportunidade de vivenciar o dia-a-dia do ordeiro, humilde e alegre povo paraguaio que, pela tradicional e produtiva convivência, aprendi a admirar.

Dolorosamente conquistada, a democracia no Paraguai se vê ameaçada por ações cujo mérito não nos cabe avaliar, mas que nos preocupam sobremaneira e que devem, também, preocupar a todos os cidadãos brasileiros. 

O meu Estado sente particularmente essa situação. Somos intrinsecamente ligados ao Povo Paraguaio. São dezenas de milhares de trabalhadores que participam, em parceria com brasileiros, do crescimento e do desenvolvimento do Mato Grosso do Sul.

Recordo-me muito bem que, quando Prefeito de Campo Grande, senti-me privilegiado por ter, em minha equipe, o determinado apoio de irmãos paraguaios e de seus descendentes, honestos trabalhadores que comigo participaram daquele momento de intenso trabalho e me ajudaram a obter os resultados positivos para toda população da nossa Capital.

Nossa música regional é a Polca Paraguaia, a suavidade de suas guaranias ecoam por todo território do Mato Grosso do Sul, embalando o sonho de desenvolvimento da nossa gente. A bebida típica, especialmente do homem do campo, é o Tererê, presente em nossos instantes de amizade, de prazer, de descanso. Na Semana Santa, um dos pratos prediletos do nosso povo é a sopa paraguaia, que é um bolo típico de lá que integra o nosso cardápio. Faço essas referências para deixar bem caracterizada a forte integração existente entre os nossos povos.

Milhares de quilômetros de fronteira seca associam o povo paraguaio a seus irmãos brasileiros, particularmente do Mato Grosso do Sul, de maneira inseparável. Inúmeras cidades são gêmeas e apenas uma rua separam os dois Países, uma linha que só existe nos mapas e na imaginação da tecnocracia, porque, na realidade, brasileiros e paraguaios estão unidos em suas casas, em seus negócios, em suas vidas.

Intenso comércio e relacionamento negocial nos une. Itaipu binacional está a provar a capacidade de realização de nossos povos e a marcar nossa união e nossa interdependência.

Hoje, quase 100 mil famílias brasileiras vivem naquele País, solidificando os nossos laços de amizade. Em contrapartida, dezenas de milhares de famílias paraguaias vivem no Brasil, principalmente no Mato Grosso do Sul, regando, com seu suor, nossos campos, nossa indústria, nosso comércio, nossos serviços, nosso desenvolvimento.

Temos acompanhado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pela televisão e pelos jornais, os preocupantes acontecimentos no País vizinho, onde o Sr. Lino Cesar Oviedo se dispõe a enfrentar nas urnas, democraticamente, a vontade do povo do seu País e onde o processo eleitoral caminha em direção perigosa para rumos já conhecidos, de triste memória e dos quais os povos da América Latina esperavam estar definitivamente desviados.

Não nos cabe, como já registrei anteriormente, avaliar o mérito dos fatos nem intervir na soberania daquele país, mas não há como deixar de nos preocuparmos com esses acontecimentos e seus possíveis desdobramentos. É bom lembrarmos, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que os representantes da Comissão Parlamentar dos Estados Signatários do Tratado de Assunção, que criou o Mercosul, no seu regimento, entre outros propósitos, tem, em seus objetivos específicos, salvaguardar a paz, a liberdade e a democracia.

Temos o dever de chamar a atenção do País - Congresso, Governo e sociedade civil - e, principalmente, de nossa diplomacia, comprovadamente eficiente, cuja capacidade conciliadora é constantemente elogiada em todo o mundo, para que se utilize de todos os seus meios para ajudar o país amigo a solidificar suas instituições democráticas, por meio da realização de eleições livres, oportunidade em que o povo paraguaio poderá exercer o seu sagrado direito de voto e escolher soberanamente seu governante maior.

A ameaça à democracia no Paraguai constrange a todos nós e ameaça a toda a América do Sul que já andava desacostumada com a truculência e com o autoritarismo. É fator de desequilíbrio deste novo tempo onde o império da liberdade tem prevalecido na maior parte do continente, enchendo nossa cidadania de orgulho e alegria.

Esta Casa tem sido vigilante e combativa na defesa intransigente dos ideais democráticos expressos em nossa Constituição. Ideais que estão solidificados no coração do nosso povo e que caracterizam a Nação brasileira.

Não fosse pela nossa proximidade física, ou mesmo pelos laços de amizade que nos unem àquele bravo povo, seria em nome desses ideais e das nossas convicções democráticas que aqui estaríamos registrando a posição firme do Brasil de apoio a eleições livres e gerais, expressão máxima da liberdade de qualquer povo.

Esperamos que os dirigentes daquele País irmão mantenham-se serenos diante deste momento e possam exercer suas funções guiados pela vontade do povo, a ser expressa nas urnas, nas eleições do dia 10 de maio de 1998.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/11/1997 - Página 25975