Discurso no Senado Federal

DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA COMUNIDADE DE VOLTA REDONDA, NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, DEVIDO AOS REFLEXOS DA POLITICA ADMINISTRATIVA ADOTADA PELA COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL, APOS SUA PRIVATIZAÇÃO.

Autor
Benedita da Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Benedita Souza da Silva Sampaio
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRIVATIZAÇÃO.:
  • DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA COMUNIDADE DE VOLTA REDONDA, NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, DEVIDO AOS REFLEXOS DA POLITICA ADMINISTRATIVA ADOTADA PELA COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL, APOS SUA PRIVATIZAÇÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 06/12/1997 - Página 27206
Assunto
Outros > PRIVATIZAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, DADOS, MINISTERIO DO TRABALHO (MTB), POLICIA MILITAR, CAMARA DE COMERCIO, PREFEITURA MUNICIPAL, COMPROVAÇÃO, REDUÇÃO, QUALIDADE DE VIDA, MAIORIA, POPULAÇÃO, MUNICIPIO, VOLTA REDONDA (RJ), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), RESULTADO, CONTENÇÃO, NIVEL, SALARIO, DEMISSÃO, TRABALHADOR, COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL, POSTERIORIDADE, PRIVATIZAÇÃO, EMPRESA ESTATAL.

          A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro, já não tem mais as mesmas boas perspectivas de um passado recente e hoje vive uma das piores crises da sua história.

          Jovem cidade, com apenas 43 anos de vida, sempre teve na Companhia Siderúrgica Nacional um pólo gerador de riquezas para todo o município, que já foi o mais promissor do Estado, e hoje é aquele que mais perdas acumula.

          Como toda a comunidade que vive em torno de uma única grande empresa, desesperadamente, vem tentando minimizar os reflexos da política adotada pela CSN pós- privatização. Demissões em massa, contenção salarial e investimentos em outros setores, aplicando o resultado do esforço dos trabalhadores em empreendimentos como a Light, Vale do Rio Doce e Malha Ferroviária Nordeste da RFFSA), estão comprometendo a economia e os aspectos sociais do município de Volta Redonda.

          Como num efeito dominó, a realidade de Volta Redonda é que a partir das demissões e das contenções salariais praticadas pela CSN, verificam-se quedas acentuadas nas vendas do comércio, na procura e oferta de bens e serviços, (o “cinturão de fornecedores” fechou 1.700 postos de trabalho em doze meses), aumentando, assim, o desemprego, e, consequentemente, a economia informal. Esse desaquecimento refletiu diretamente em perdas progressivas da arrecadação tributária do município, com a consequente precarização dos serviços públicos essenciais, como educação e saúde. Aumentaram os índices de pobreza e favelização resultando, por fim, no aumento da violência e da criminalidade.

          Esse perfil, cujos indicadores negativos preocupam-nos profundamente, tem base em dados da Polícia Militar, Ministério do Trabalho, Câmara de Diretores Lojistas de Volta Redonda, Prefeitura Municipal, Movimento “Vamos Repensar Volta Redonda” e Balanços da própria CSN.

          Segundo dados levantados pelo movimento “Vamos Repensar Volta Redonda”, a quantidade de títulos protestados mais que dobrou nos últimos cinco anos, passando de um total de 5 mil e 200, em 1995 para 13 mil, em 1997, traduzindo a dificuldade que a população voltarredondense vem enfrentando para honrar os compromissos financeiros assumidos.

          Indicadores do Ministério do Trabalho apontam para a explosão dos números de pedidos de seguro-desemprego que, de 78 em março, passaram para mil cento e quarenta, até junho deste ano.

          Segundo a Câmara de Diretores Lojistas daquele município, o índice de inadimplência elevou-se de 143, em 1994 para 515, em 1997.

          Por sua vez a Prefeitura Municipal informa que a arrecadação de impostos de Volta Redonda (ICMS, Taxas, IPTU, ISS e outros) teve uma redução dramática de 20 milhões de reais nos últimos dois anos, despencando de 155 milhões, em 1995 para 130 milhões, em 1997.

          Segundo a Polícia Militar, mesmo com o crescimento do efetivo policial, o número de roubos e furtos dobrou nos últimos três anos (1995 = 17; 1996 = 22; e 1997 = 39). Outro dado fornecido foi com relação às ocorrências policiais que em 1993 somavam um total de 4.830 e em 1996 chegaram à 6.200 ocorrências, refletindo o estado de alerta com a questão social que a cidade vem atravessando.

          Esse quadro negativo enfrentado pela comunidade pode nos permitir avaliar as angústias impostas a um município com mais de 270 mil habitantes.

          A CSN, depois de atravessar sérias dificuldades na década de 80, devido a um enorme endividamento e à política do governo que viabilizou outros setores industriais, como o automobilístico e o de eletrodomésticos, com a participação da massa de seus trabalhadores, partiu para um saneamento financeiro, ajustando suas contas e melhorando seu desempenho operacional. Isso lhe possibilitou apresentar excelentes resultados com relação à produtividade e ao lucro, a partir de 1992.

          Nesse período, e até a privatização, em 1993, os trabalhadores da CSN foram preparados a duras penas para o processo de venda da empresa e colaboraram com o processo. Foram demitidos milhares de trabalhadores, os índices desejados foram alcançados, a CSN não apenas sobreviveu como tornou-se mundialmente competitiva.

          Inexplicavelmente, contradizendo todos os discursos pré-privatização, os trabalhadores voltam a ser vítimas da empresa que suas economias também ajudaram a comprar. Emboram façam parte do grupo controlador da CSN não conseguem sensibilizar o Conselho de Administração para a perversidade da política de demissões implantada.

          A CSN tem um dos menores custos de mão-de-obra do mundo, elevados índices de produtividade, e um processo relativamente barato. O impacto da folha de pessoal é pequeno em relação ao caixa financeiro da empresa.

          Todavia, o número de trabalhadores altamente qualificados, desligados da CSN, como é o caso dos seus engenheiros, vem aumentando nos últimos anos. São profissionais preparados, altamente motivados e comprometidos, trabalhadores especializados e na plenitude de seu potencial técnico.

          Talentos humanos precisam ser atraídos e mantidos. Assim é que uma empresa pode ser bem sucedida na atualidade. Tomemos como exemplo a política de recursos humanos adotada, recentemente, em várias empresas norte-americanas: compreendendo a importância de um funcionário super motivado, fazem todo o tipo de promoções, desde prêmios e viagens extensivos à toda a família até concessão de um mês de férias antecipadas no momento em que o funcionário assina o contrato de trabalho com a empresa. É uma forma de, ao iniciar suas atividades profissionais, estar livre de qualquer tipo de stress que possa prejudicar seu desempenho e produtividade.

          Já na CSN a redução do número de engenheiros em ritmo cada vez mais acelerado, acima do dobro da média dos anos anteriores, vem desencadeando uma série de fatores negativos: perda da mão-de-obra especializada; perda prematura da memória técnica das empresas; redução do ativo humano, desmotivação para encarar novos desafios, clima tenso com desgaste físico e emocional entre os engenheiros que permancem nos postos de trabalho. São situações que batem de frente com as mais modernas técnicas mundiais de administração de recursos humanos.

          E, por incrível que pareça, as demissões feitas até agora não trouxeram a economia esperada. A empresa exibe excelentes resultados com relação à produtividade e ao lucro, incluindo o retorno do capital investido na época de sua aquisição, o custo de mão-de-obra da CSN, que é de 15,3 dólares a hora, é um dos mais baratos do mundo. Só para se ter uma idéia, nos EUA é de 34,5 dólares a hora e na Alemanha de 40,2 dólares a hora. O endividamento da CSN é grande, com dívidas até o ano de 2024, em função da participação ativa da Empresa nos leilões de privatização.

          Esperava-se que com a baixa da inflação e os resultados positivos alcançados pela empresa, o município também viesse a ganhar. Mas o que Volta Redonda vivencia nada tem a ver com prosperidade e crescimento. Nenhum bom fruto foi colhido pela comunidade da região que vem perdendo em qualidade de vida. A CSN é uma empresa de sucesso cercada por uma comunidade em crise.

          Volta Redonda está sucumbindo!O que será de seu futuro e das forças produtivas que ela abriga se não sairmos, todos, em sua defesa? O sacrifício do município e seus habitantes é cruel e despropositado.

          Meu pronunciamento serve como instrumento de alerta à necessidade de que sejam encontradas alternativas para abrandar a crise voltarredondense.

          Serve, também, como reflexão a outras cidades que estejam iniciando ou que venham a passar pelo mesmo processo de mudanças.

          A CSN e demais indústrias, Prefeituras, entidades sindicais e associações representativas dos diversos segmentos da sociedade devem, em conjunto, debater os problemas sócio-econômicos da região, buscando soluções que visem uma prosperidade comum e extensiva, pois fora dela toda a prosperidade é ilusória e seu verdadeiro nome é concentração de renda e exclusão social.

          Muito Obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/12/1997 - Página 27206