Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DO ANIVERSARIO DO ARQUITETO BRASILEIRO OSCAR NIEMEYER.

Autor
Benedita da Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Benedita Souza da Silva Sampaio
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DO ANIVERSARIO DO ARQUITETO BRASILEIRO OSCAR NIEMEYER.
Publicação
Publicação no DSF de 05/12/1997 - Página 27040
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, Dr. Oscar Niemeyer, seus familiares e amigos, meus agradecimentos ao Senador Ney Suassuna por ter permutado comigo e ao Senador Roberto Freire por esta iniciativa tão importante e significativa para todos nós.

O Senado Federal realiza hoje esta sessão de homenagem ao arquiteto Oscar Niemeyer pelo transcurso de seu aniversário e não seria prepotência se dissesse que há noventa anos, no dia 15 de dezembro de 1907, nascia no Rio de Janeiro Oscar Niemeyer Soares Filho, um dos principais arquitetos do século XX - carioca mineiro, mineiro carioca - e uma das referências intelectuais mais importantes de nosso País. Sua obra transcende fronteiras, espalhando-se por vários países.

Tem sido o arquiteto brasileiro que acumula o maior número de prêmios internacionais. Também exibe um conjunto de obras realizadas no Brasil e no exterior que o coloca como um dos expoentes da arquitetura universal. Ao longo de seis décadas, produziu mais de 500 projetos, dos quais 181 construídos no exterior.

A beleza moderna da arquitetura de Oscar Niemeyer encanta o mundo.

Seu conceito de arquitetura está vinculado ao compromisso com o povo e com as questões sociais. “Se o prédio é bonito, o povo pára para ver. E é assim que nós trabalhamos. Para o povo”.

Sempre defendeu o ideal de justiça social que marcou a atuação política ao longo de sua vida. São suas palavras: “Como brasileiro comunista, preocupado com os problemas do meu País, devo dizer que ficarei mais feliz quando nele surgirem as bases de uma sociedade mais justa, sem classes, com todos iguais, como deveria ser”.

De tudo que foi dito até hoje sobre Oscar Niemeyer, nada expressa melhor - “a mais perfeita tradução” - do que a mensagem do amigo e saudoso Senador Darcy Ribeiro. Nesta homenagem, tomo emprestadas suas palavras para homenagear este grande arquiteto.

Antes, gostaria de colocar aqui um testemunho, muito pessoal. Procuramos Oscar Niemeyer para um socorro, a construção de um templo numa área nobre no Rio de Janeiro, em que exigiam que a humilde igreja de Assembléia de Deus do Leblon tivesse realmente um projeto à altura daquele bairro. Procuramos o Dr. Niemeyer - ele deve lembrar-se disso -, juntamente com o Pastor Washington, e, prontamente, com todo o carinho, ele fez um projeto que nos encantou e que estamos nos esforçando para colocá-lo em prática, de tão lindo. Ele imaginou um templo que, ao mesmo tempo, era a Arca de Noé. Esse homem, que tem uma concepção filosófica diferente da nossa, pôde expressar-se tão bem no seu projeto! Gostaria de lhe dizer que estamos muito, mas muito gratos.

E um outro testemunho, onde ele prontamente se colocou à disposição - ainda não foi possível ser feito devido às burocracias nas relações internacionais - atendendo ao nosso chamado quando pedimos que ele fosse aquele que projetaria o símbolo da imagem do que foi e do que é o Memorial da Ilha de Gore, no Senegal. Somos gratos ainda por isso, Dr. Niemeyer.

Mas o que dizia Darcy Ribeiro a respeito de tão ilustre figura?

“Oscar Niemeyer é o fato cultural mais importante que sucedeu ao Brasil. Que seria de nosso passado sem o Aleijadinho? Estaríamos deserdados, empobrecidos, na mesma proporção em que ele, tendo existido, dignificou o nosso povo. Demonstrou como e quanto nossa gente mestiça é dotada da mais alta criatividade artística e cultural. Oscar é a mesma coisa, hoje. Um longo hoje, feito das décadas, que ele vem iluminando com o seu talento, através de obras de esplêndida beleza, distribuídas mundo afora.

Oscar é o maior artista vivo de nosso tempo. É mesmo Oscar o artista que se imprimirá, indelével, nesse fim de século para durar na memória dos homens do próximo milênio e até depois. Assim é, porque de ninguém se pode dizer, em tempo algum, que tenha feito tantas obras de beleza assinalável como as melhores do seu tempo.

Bastaria ver Brasília. Uma cidade-capital inteira, saída toda de seus riscos, ornada dos únicos palácios da arquitetura moderna, esplêndidos palácios: o Alvorada, o Planalto, o Supremo Tribunal Federal, o Congresso, o Itamaraty e a Catedral mais majestosa e bela que jamais se viu.

Brasília, que é tudo isso, é, tão-só, uma das obras do Oscar. Antes, ele desenhou a Pampulha, onde forçou a arquitetura mundial a dar a volta por cima e mudar de rumo. Até então prevalecia a tacanhez do funcionalismo exacerbado. Ali se reconheceu, explicitamente, pela primeira vez, que a beleza é a única função importante, porque é a única capaz de dar permanência a uma obra arquitetônica.

O mínimo que podemos e devemos fazer, frente a Oscar, é adiantar a ele expressões de admiração que as futuras gerações lhe tributarão, generosamente.

Que ninguém se engane pensando que Oscar é um arquiteto brasileiro, inspirado nas curvas de nossa belas mulheres e de nossas majestosas montanhas. Qual! Nada disso. Oscar é a realização até o limite da capacidade humana de criar beleza.

Que seria de nós, que seria do mundo sem Oscar Niemeyer? Que seria de nós, se houvesse se multiplicado só essa horrível arquitetura mercantil, que constrói a imensa maioria dos prédios que se erguem no mundo inteiro? Ou essa arquitetura pretensiosa dos caixotes de vidro, ou angular, ríspida e pontuda dos perfis de aço de que é feita? Felizmente, Oscar surgiu no mundo como o arquiteto do concreto. Um arquiteto à altura da plasticidade incomparável que esse novo material oferecia à arquitetura, para que ela se fizesse mais livre e mais bela.

Há outros Oscares, além do arquiteto, pouco conhecidos: o escultor, o criador de móveis, o desenhista primoroso, o escritor, aliás grande escritor. Lavem seus olhos em suas obras de arquitetura aqui retratadas. Os seus desenhos belíssimos. Os seus móveis, as suas esculturas. Depois, diga-se a si mesmo se não temos razão de dizer que Oscar é a coisa mais bela e mais importante que nos sucedeu."

Por tudo isso, a sessão especial deste dia representa uma significativa homenagem a este brasileiro que engrandece e dignifica nosso País, pela riqueza de sua contribuição à formação da nossa identidade nacional.

Obrigada, Presidente. Obrigada Oscar Niemeyer. Parabéns.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/12/1997 - Página 27040