Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DO ANIVERSARIO DO ARQUITETO BRASILEIRO OSCAR NIEMEYER.

Autor
José Roberto Arruda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/DF)
Nome completo: José Roberto Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DO ANIVERSARIO DO ARQUITETO BRASILEIRO OSCAR NIEMEYER.
Publicação
Publicação no DSF de 05/12/1997 - Página 27041
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB-DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, meu caro Oscar Niemeyer, quero cumprimentá-lo e também os seus familiares e amigos, e o faço em nome do arquiteto Carlos Magalhães, pelo seu esforço, ao longo dos anos, de preservar Brasília na sua concepção original.

Meu caro Oscar, você deve estar se divertindo com o nosso esforço de encontrar palavras para homenageá-lo, e o belo discurso do Senador Roberto Freire, o discurso inflamado do Senador Francelino Pereira e o texto cheio de poesia da Senadora Benedita da Silva são testemunhos disso.

É muito difícil - e nós todos sabemos -, com palavras, tentar fazer uma homenagem à sua figura humana e à sua expressão profissional. Quebro o protocolo desta Casa para tratá-lo informalmente porque você é informal e a sua obra quebrou preconceitos, quebrou regras preestabelecidas.

Esta homenagem, meu caro Oscar, não é só a você, mas a tudo que você representa no plano profissional e no plano da História deste País. Esta é uma homenagem a todos os brasileiros que acreditaram no sonho de construir uma nova capital no centro do País. É uma homenagem a Juscelino Kubitschek, a Israel Pinheiro, a Lúcio Costa, a Bernardo Sayão, a Íris Meinberg, a Ernesto Silva, mas também ao mais humilde operário; aquele que veio de caminhão, de lombo de burro, de todas as regiões do País, com as suas famílias e com as suas esperanças, acreditando que Brasília, além de uma bela cidade, seria o início da construção de uma sociedade mais justa, menos desigual.

Esta é uma homenagem também, meu caro Oscar, à beleza, à beleza das suas obras, como à beleza criada por Athos Bulcão, por Alfredo Ceschiatti, Mariane Peretti e de tantas pessoas que, ao longo dos anos, se complementaram e confundiram-se com sua própria obra.

Claro que você, mais do que arquiteto, é um inventor; foi você que inventou essa coisa de prédio ser também escultura. E agora você está sendo homenageado num prédio que nasceu da sua criatividade.

Por mais que busquemos palavras para falar da importância da sua obra na cultura brasileira, da importância da sua obra na arquitetura mundial, na verdade, encontraremos, nas expressões mais simples, essas definições.

Lembro-me de que, na primeira vez em que vim a Brasília, entrei na Catedral e comentei com algumas pessoas que estavam ao meu lado que se tratava de uma obra belíssima, muito mais do que se podia imaginar, vendo em fotografias, e uma pessoa humilde, ao meu lado, disse: "Olha, que é uma obra bonita, a gente vê. Difícil é imaginar como foi possível criá-la." Saiu do quê? Do que será que nascem suas idéias? Essas curvas mágicas que, como engenheiro, Oscar, lhe agradeço, porque, não fossem a sua ousadia e os desafios dos seus traços, a engenharia brasileira não teria evoluído tanto, evoluído com o gênio de Joaquim Cardoso e de todos que os sucederam, fazendo os cálculos mais complicados para tentar fazer com que seus traços virassem aço e concreto. Além de agradecê-lo como engenheiro, Oscar, eu lhe agradeço como cidadão de Brasília.

Lembro-me bem de que o conheci como engenheiro da Novacap, em uma época em que eu ainda tinha cabelo e era bastante novo. Lembro-me da emoção do primeiro encontro, levado por quem seria depois Governador de Brasília, José Aparecido de Oliveira. Conheci-o no seu escritório. Conheci-o fazendo traços de grandes obras e, depois, o que pouca gente sabe, fazendo traços também de obras que arquitetos menos importantes poderiam achar menores.

Uma das mais belas obras de Oscar, na minha visão, é a Casa do Cantador, na Ceilândia. Ele teve a humildade de desenhar até ponto de ônibus e abrigo de táxi, porque Oscar é isto: ao mesmo tempo muito grande e muito simples.

Oscar, fico muito feliz de estar tendo o privilégio de poder lhe prestar esta homenagem desta tribuna. São as circunstâncias felizes da vida.

Alguém já disse que uma das circunstâncias mais felizes da História do Brasil foi ter colocado, em uma mesma circunstância histórica, homens como Israel Pinheiro, Juscelino Kubitschek, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, que fizeram, 450 anos depois do descobrimento do Brasil, a interiorização do nosso desenvolvimento, interiorização com beleza, com sonho e com esperança.

Não tenho dúvidas, meu caro Oscar, de que Brasília, que você fez bela, ainda cumprirá o seu destino, ou seja, ser o ponto de partida para um País mais integrado, menos desigual, mais justo. Não tenho dúvidas de que a sua obra marca mais pela beleza, mais pelo que expressa de esperança em uma sociedade justa do que qualquer um de nós conseguiria dizer aqui.

A Senadora Benedita da Silva lembrou Darcy Ribeiro, com quem tivemos o privilégio de conviver nesta Casa e que disse, reiteradas vezes, que Oscar Niemeyer provavelmente será o único brasileiro, o único contemporâneo nosso lembrado no ano 3.000. Eu completaria aqui, Oscar, que você será lembrado não apenas pelas suas obras, não apenas pelos seus traços, mas principalmente pela sua capacidade de sonhar, pela sua capacidade de ter esperança e pela sua capacidade de acreditar que um dia haveremos de construir, com solidariedade, com fraternidade, uma Nação mais justa e menos desigual.

Em nome de Brasília, em nome de cada cidadão que ama esta cidade, em nome também de todos os brasileiros que admiram a sua obra e que admiram, mais que isso, a pessoa humana que você é, receba o meu abraço, a minha homenagem.

Muito obrigado. (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/12/1997 - Página 27041