Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DO ANIVERSARIO DO ARQUITETO BRASILEIRO OSCAR NIEMEYER.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DO ANIVERSARIO DO ARQUITETO BRASILEIRO OSCAR NIEMEYER.
Publicação
Publicação no DSF de 05/12/1997 - Página 27042
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT-SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Antonio Carlos Magalhães, Srªs e Srs. Senadores, amigos e parentes de Oscar Niemeyer, prezado cidadão arquiteto Oscar Niemeyer, faço questão de trazer aqui este símbolo do monumento erigido em homenagem ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, intitulado "A Terra Também é Nossa". Testemunhamos esse fato para contar aos nossos filhos e suas gerações. Governavam, em 17 de abril de 1996, dia do massacre, as seguintes autoridades: Presidente Fernando Henrique Cardoso; Governador do Pará, Dr. Almir Gabriel, que determinou a operação. Deu ordem de tiro o Coronel Mário Colares Pantoja. Foram assassinados na curva do S da rodoviária os lavradores que estão aqui listados.

      Brasil, agosto de 1996. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

      Candelária, Carandiru, Corumbiária, Eldorado dos Carajás.

      “A pedagogia dos aços golpeia no corpo essa atroz geografia. Se calarmos, as pedras gritarão. “

      Pedro Tierra.

É o autor da poesia que está atrás deste monumento que foi feito por Oscar Niemeyer, para lembrar a luta dos trabalhadores sem terra neste País.

Estamos aqui todos os dias, em um lugar excepcionalmente belo. Este Senado representa uma das belas obras que foi capaz de fazer a criação de um arquiteto brasileiro, Oscar Niemeyer. As pessoas que entram aqui, prezado arquiteto, entram com o sentimento de que o Brasil é capaz de realizar obras que mostram o quanto a nossa civilização é ainda capaz de construir aquilo que está à altura de nossos sonhos. Mas sonhos devem levar em conta não apenas uma Brasília tão bonita, edifícios tão belos, construções como as aqui citadas em tantas cidades brasileiras e por tantos lugares do mundo. Acredito, sobretudo, que o seu sonho realizar-se-á na medida em que as suas aspirações de justiça vierem efetivamente a se concretizar.

           A sua espontaneidade natural de ser solidário a pessoas como Luís Carlos Prestes, a todos os companheiros do Senador Roberto Freire, no Partido Comunista, a todos aqueles que, como os trabalhadores, que foram homenageados também pelo monumento que colocou ali defronte à Usina Siderúrgica de Volta Redonda, monumento este que certo dia foi destruído, e novamente fez-se questão de erigir, para que jamais se esquecesse, em nosso País, que certo dia trabalhadores estavam sendo massacrados em função de estar lutando por seus direitos; a sua solidariedade a todos aqueles que foram perseguidos, que foram torturados, àqueles que em qualquer lugar deste País estão lutando pelos direitos à cidadania e por justiça é o que mais nos comove, ao lado da beleza desses edifícios, beleza que nos inspira justamente para fazer com que cada um de nós possa empenhar toda possível energia para a erradicação da miséria em nosso País, para a criação de uma Nação que realmente possamos considerá-la justa.

Há muitas histórias a seu respeito que considero importante o povo conhecer. Há uma, contada com muito humor, que nos revela a grandeza de seu desafio:

       “Uma vez - disse - fui chamado ao DOPS. O delegado perguntou-me o que pretendíamos os comunistas com a nossa luta, respondi que queríamos mudar a sociedade, acabando com a injustiça. O delegado disse ao escrivão, um crioulinho simpático "escreva aí: mudar a sociedade". O crioulinho olhou-me, antes de datilograr a frase e, com um sorriso resignado, comentou: "É doutor, vai ser difícil". Ele, que seria beneficiado com a mudança, desanimava-se de sua possibilidade. Mas eu estou certo de que chegaremos lá".

Estou certo, prezado Oscar Niemeyer, de que o seu exemplo frutificará e está frutificando a cada dia, nesta mesma Casa, que ajudou a desenhar e a construir, com tanta beleza.

Muito obrigado. (Palmas!)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/12/1997 - Página 27042