Pronunciamento de Roberto Freire em 12/12/1997
Discurso no Senado Federal
CONGRATULANDO-SE COM O MINISTRO DA CULTURA PELA FUTURA INSTALAÇÃO DO MEMORIAL DA CULTURA JUDAICA EM IMOVEL ONDE FUNCIONOU A PRIMEIRA SINAGOGA DO BRASIL, NA ILHA DO RECIFE - PE. HISTORICO DA IMIGRAÇÃO JUDAICA PARA O BRASIL, PRINCIPALMENTE PERNAMBUCO.
- Autor
- Roberto Freire (PPS - CIDADANIA/PE)
- Nome completo: Roberto João Pereira Freire
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA CULTURAL.:
- CONGRATULANDO-SE COM O MINISTRO DA CULTURA PELA FUTURA INSTALAÇÃO DO MEMORIAL DA CULTURA JUDAICA EM IMOVEL ONDE FUNCIONOU A PRIMEIRA SINAGOGA DO BRASIL, NA ILHA DO RECIFE - PE. HISTORICO DA IMIGRAÇÃO JUDAICA PARA O BRASIL, PRINCIPALMENTE PERNAMBUCO.
- Publicação
- Publicação no DSF de 13/12/1997 - Página 28143
- Assunto
- Outros > POLITICA CULTURAL.
- Indexação
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- SAUDAÇÃO, INICIATIVA, MINISTERIO DA CULTURA (MINC), INSTALAÇÃO, MEMORIAL, HOMENAGEM, CULTURA, JUDAISMO, MUNICIPIO, RECIFE (PE), ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).
O SR. ROBERTO FREIRE (Bloco/PPS-PE) - Sr. Presidente, Srªs e Srs, Senadores, o Governo brasileiro acaba de adotar uma medida importante para a cultura de Pernambuco e, consequentemente, do Brasil. Vai desapropriar um imóvel localizado na atual rua do Bom Jesus, antiga rua dos Judeus, na ilha do Recife - área tombada e restaurada -, onde funcionou a primeira sinagoga do novo mundo, para instalar o Memorial da Cultura Judaica. Com esta atitude, o Brasil homenageia os cristãos novos que aportaram em nossas terras na segunda metade de 1500 e que estiveram na gênese da formação de nossa gente e da própria civilização brasileira.
Como resultante desta iniciativa, segundo informações, uma maquete com detalhes da antiga rua dos Judeus, com destaque para os prédios de números 197 e 203, está sendo construída e deverá ser levada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso a Israel, em janeiro. Ela integrará o Museu da Diáspora, em Tel Aviv.
Conforme relata o jornalista e pesquisador Leonardo Dantas, Recife teve a honra de converter-se no berço da presença de judeus em terras do novo mundo. Este fato tornou-se ainda mais acentuado entre 1634 e 1654, quando os dominadores holandeses, e de acordo com o edital dos Estados Gerais de janeiro 1634 que garantia liberdade religiosa a católicos e judeus, permitiram a liberdade de culto no Brasil ocupado. Muitos cristãos novos puderam voltar a seu culto ancestral, vários deles também recuperaram seus nomes verdadeiros de batismo, transformando Recife em um centro de atração não só de judeus europeus como também daqueles residentes em outras partes do Brasil e que não gozavam de liberdade para afirmar suas identidades.
Lembremos, como afirma o historiador Elias Lipiner, que os cristãos novos começam a vir para o Brasil, na expectativa, embora remota, de uma maior liberdade religiosa, a partir de 1535 quando a Inquisição se instala pesadamente em Portugal. É um período no qual se incentiva a colonização da terra descoberta e quando não eram aplicadas com rigor as leis do Tribunal da Fé. Entretanto, a tênue moderação deu lugar a exaltação dos Visitadores a partir de 1591. Com a visitação de um representante do Santo Ofício de Lisboa, Heitor Furtado de Mendonça, em 1593 em Pernambuco, e com a aplicação do regimento da Inquisição diretamente no Brasil, surge uma primeira denúncia, feita entre outros pelo padre Francisco Pinto Doutel, vigário da Igreja de São Lourenço, contra o casal Diogo Fernandes e Dona Branca Dias, pela prática freqüente de atos de judaísmo, na propriedade conhecida como Engenho de Camaragibe. Segundo a denúncia, para lá se dirigiam verdadeiras romarias judaicas e então surge, pela primeira vez, a idéia da existência no local de uma esnoga, onde cristãos novos se reuniam para fazer suas cerimônias de acordo com a “lei velha”.
Voltando ao relato de Leonardo Mota, só para se ter uma idéia do novo fluxo da comunidade em direção ao Recife, em 1636 o cidadão Manoel Mendes de Crasto traz 200 judeus dos países baixos, incluindo ricos e pobres.
Aponta o jornalista para fatos interessantes. Moravam na rua dos Judeus, antes conhecida como Guarda do Bode, as famílias mais abastadas, com residência nos pavimentos superiores e o comércio no andar térreo. O primeiro rabino da sinagoga do Recife, Isaac Aboad da Fonseca, nascido em Portugal em 1505 e que estudou em Amesterdã, foi o introdutor dos primeiros textos em hebraico em toda a América ao compor poemas, orações e consulta litúrgica.
É interessante notar que o florescimento da comunidade judaica do Recife sofre solução de continuidade em 1654, data da expulsão dos holandeses, quando o próprio prédio da sinagoga acaba doado para terceiros. Casos isolados de anti-semitismo assume então caráter de perseguição religiosa e daí vários judeus residentes no Recife se deslocam para a então nascente Nova Amrsterdã, nos Estados Unidos, hoje a famosa cidade de Nova Iorque. Como se vê, a diáspora do povo judeu, indissoluvelmente vinculada à história do Velho Mundo, chega ao Brasil e ao Novo Mundo.
A presença da comunidade judaica, em que pese todo sofrimento da diáspora, é marcante e expressiva entre nós. Permitam-me que, de passagem, fale de uma relação pessoal. Lembro-me, por exemplo, do Colégio Israelita Moisés Swartz, que em 1998 completa 80 anos de existência e onde leciona uma de minhas filhas. Até no aspecto sentimental, guardo boas recordações da presença da cultura judaica e de suas organizações no Recife. Como atleta da equipe infantil de basquete do Sport Club do Recife, o meu primeiro jogo ( e como se sabe, o que é primeiro nunca se esquece ! ) deu-se contra a equipe do Hashomer Hatzair, na verdade uma formação de jovens judeus, alguns dos quais, desde lá companheiros e amigos.
Como socialista e presidente do Partido Popular Socialista, destaco outra relação com a comunidade judaica. Historicamente, no Brasil, houve sempre uma grande aproximação entre os comunistas e os judeus, ambos comprometidos com bandeiras humanistas e civilizatórias. Muitos deles ocuparam posição de destaque na história das lutas socialistas no Brasil e também cargos de destaque na trajetória difícil, e ao mesmo tempo heróica, do Partido Comunista Brasileiro. Citemos um deles, hoje presidente de honra do PPS: Salomão Malina, herói brasileiro condecorado por bravura de combate na Segunda Guerra pelos governos do Brasil, da França e dos Estados Unidos.
Apesar de alguns equívocos históricos e, mais recentemente, dos efeitos danosos da guerra fria, a profunda relação de respeito e interação entre os movimentos social-democráticos em todo o mundo e frações da comunidade judaica hoje é uma verdade reconhecida.
Por tudo isso o nosso reconhecimento ao Ministerio da Cultura e nossa homenagem à comunidade judaica