Pronunciamento de Artur da Tavola em 23/01/1998
Discurso no Senado Federal
REFLEXÃO SOBRE A VISITA DO PAPA JOÃO PAULO II A CUBA.
- Autor
- Artur da Tavola (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RJ)
- Nome completo: Paulo Alberto Artur da Tavola Moretzsonh Monteiro de Barros
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA INTERNACIONAL.:
- REFLEXÃO SOBRE A VISITA DO PAPA JOÃO PAULO II A CUBA.
- Aparteantes
- Eduardo Suplicy.
- Publicação
- Publicação no DSF de 24/01/1998 - Página 1242
- Assunto
- Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
- Indexação
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- ANALISE, IMPORTANCIA, VISITA OFICIAL, PAPA, IGREJA CATOLICA, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, PROMOÇÃO, ABERTURA, ECONOMIA, PAIS, AMERICA LATINA, SIMBOLO, TRANSFORMAÇÃO, SOCIALISMO, CAPITALISMO, MUNDO.
O SR. ARTUR DA TAVOLA (PSDB-RJ. Pronuncia o seguinte discurso) - Senador Eduardo Suplicy, agradeço a V. Exª por enriquecer o meu discurso com uma observação, a meu ver, tão correta e ponderada.
Esses dois sistemas que resistem, como foi inclusive acentuado pelo Senador, são Cuba e China, por motivos totalmente diferentes. A meu juízo, a China operando um milagre, porque está conseguindo um desenvolvimento econômico dentro de um sistema político fechado. Normalmente, ao liberalismo econômico, corresponde uma organização democrática do Estado; dificilmente o liberalismo econômico vige fora de um sistema democrático aberto. Essa é pelo menos a experiência. A China, ao fim da derrocada do momento mais radical de sua organização interna, que foi o momento da chamada Revolução Cultural - que eu poderia chamar de involução cultural -, felizmente, encontrou uma geração privilegiada, que fez uma transformação dessa sociedade. A China é um país de economia mais aberta que o Brasil, extremamente mais aberta que o Brasil, com um sistema político fechado, com as suas complexidades. Mas não me vou ater ao assunto da China, pois levaria anos de análise.
Cuba se deu conta de que precisava abrir a sua economia, talvez um pouco atrasada, quando perdeu o contato com a União Soviética, que se desfez, e, conseqüentemente, a sua ajuda. E Fidel Castro vem tateando. Já conseguiu abrir o turismo e, enquanto não abrir mais profundamente, institucionalmente, o país vai permanecer dessa forma. Ao mesmo tempo, há que se preservar as conquistas daquela revolução, que não são poucas, nesta América de tantas injustiças.
Sr. Presidente, concluindo, na visita do Papa a Cuba, há esses elementos todos presentes. É importante que esse tipo de compreensão esteja acontecendo na humanidade, pois ela se dá de uma maneira muito interessante. O Papa vai a Cuba; nesse sentido, prestigia o país. Cuba fica fortalecida na medida em que tem o Papa a prestigiá-la. Nos discursos de Fidel Castro e do Papa, cada qual diz as suas verdades. O Papa faz críticas ao fechamento político, ao domínio do Estado na educação. Propõe que a educação se abra, não seja tão estatal. Isso se dá no plano externo para que cada um fale para as suas platéias.
Mas quem conhece a política - nacional, internacional, municipal, clubística ou qualquer política - sabe que lavra por baixo das pregações externas, muitas vezes, a tentativa do encontro de pontos comuns. E sei que entre Fidel Castro e a Igreja Católica está se dando, neste momento, uma forma de integração, e essa forma de integração pode, do ponto de vista interno de Cuba, ventilar uma sociedade fechada com a presença da reflexão da espiritualidade, que, no mundo materialista, tanto no socialismo como no capitalismo, é uma das necessidades contemporâneas. Como pode também ajudar que Cuba deixe de ser um país estrangulado e, ao mesmo tempo, possa se abrir, não para a derrubada de conquistas importantes de sua revolução, mas para a organização de um sistema político que não tenha mais que se basear exclusivamente na centralização de poder, sem substituição no poder e sem vida e possibilidade de pulsação mais profunda de uma sociedade tão rica, tão bonita, tão repleta de cultura, tão cheia de generosidade como a sociedade cubana, que, por sinal, tem na sua formação a mesma natureza da sociedade brasileira e a presença formidável da raça negra. Os negros que vieram da África para Cuba são da mesma região dos negros que vieram para a Bahia, para o Nordeste, razão por que temos enormes afinidades e a rica cultura que caracteriza o Caribe, tanto quanto caracteriza esse nosso trópico.
São considerações, Sr. Presidente, numa semana de grandes acontecimentos, que creio que devemos fazer também da tribuna do Senado, sem, digamos, qualquer ênfase especial, sem esgares de afirmações de crença, mas com reflexão, com equilíbrio e com uma enorme esperança de que tudo isso seja símbolo de uma grande mudança.
Agradeço a V. Exª a tolerância pelo tempo e também por ouvir-me.