Discurso no Senado Federal

REFERENCIAS A VISITA DO PAPA JOÃO PAULO II A CUBA.

Autor
José Alves (PFL - Partido da Frente Liberal/SE)
Nome completo: José Alves do Nascimento
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • REFERENCIAS A VISITA DO PAPA JOÃO PAULO II A CUBA.
Publicação
Publicação no DSF de 31/01/1998 - Página 1952
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, VISITA, PAPA, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, DEFESA, LIBERDADE DE CRENÇA, COMBATE, BLOQUEIO, ECONOMIA.

O SR. JOSÉ ALVES (PFL-SE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, a tônica da imprensa mundial, na semana passada, especialmente na América Latina, referiu-se à visita do Papa a Cuba, um dos poucos países do mundo que ainda não havia visitado em seu roteiro de quase cem viagens já realizadas.

Como característica marcante desses eventos, de grande conteúdo cristão e participação popular, vimos, pela contagiante emoção do acolhimento ao ilustre visitante àquele país, a ânsia de grandeza do ser humano em sua busca incessante de liberdade e elevação espiritual.

Acompanhando, com muito interesse esse acontecimento, especialmente em se tratando de uma nação cujo povo há quase quarenta anos foi induzido a uma opção de desenvolvimento social sem liberdade religiosa, embora tenha alcançado consideráveis avanços nesse setor, apesar dos embargos econômicos, o que vimos das repercussões dessa visita foi a comprovação da tese de que o homem tem sede de Deus, única essência que preenche os vazios insondáveis da alma. Fenômeno semelhante vimos no retorno dos russos às suas igrejas depois de quase 70 anos.

Na questão social cubana, ressalte-se que, apesar desse odiento bloqueio econômico, já sem razão de existir e que vem limitando o seu PIB e a renda per capita a níveis irrisórios, Cuba alcançou admiráveis indicadores sociais em qualidade de vida, como, por exemplo: a taxa de mortalidade infantil posicionada em 9 por 1.000; um índice de analfabetismo de apenas 5%; a expectativa de vida situada em 75 anos e o acesso a saneamento básico alcançando 100% da população.

Mesmo não demonstrando mais aquele vigor físico que se via quando iniciou o seu pontificado, há uns 20 anos, hoje um tanto alquebrado pelo peso dos anos, das enfermidades e dos revezes da intensidade de sua luta incansável pela paz, pela justiça e pelos direitos humanos, fortalecido em sua autoridade pelo consenso mundial a seu favor, ele não retrocede em sua coragem moral de dizer a verdade em qualquer circunstância, uma verdade solidificada pela experiência milenar da Igreja e da humanidade, que cala fundo no coração humano e na consciência íntima das pessoas, dos povos e dos governos.

Entre outras declarações, afirmou em Cuba:

“Um Estado moderno não pode fazer do ateísmo ou da religião um de seus ordenamentos políticos.”

“O Estado deve promover um sereno clima social e uma legislação adequada que permita a cada um e a cada religião viver livremente a sua fé.”

E sobre a sua reserva ao excessivo liberalismo e ao entusiasmo do capitalismo e dos governos pela globalização, subordinados às forças cegas do mercado, disse ele: “Dessa forma, assiste-se, no concerto das nações, ao enriquecimento exagerado de uns poucos à custa do empobrecimento crescente de muitos, de forma que os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres”.

Disse ainda: “Todos os embargos são condenáveis”.

O povo cubano, tanto os residentes na ilha, quanto os milhares de exilados, religiosos ou ateus de qualquer convicção, delirou com a mensagem do Papa, plena de sabedoria, verdade e esperança.

Creio, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, que a realidade de Cuba não será a mesma depois desse acontecimento histórico, pelo menos no coração dos cubanos, e esse aspecto ele predisse, quando afirmou que “essa é a grande mudança que a sociedade precisa e espera e só poderá ser alcançada se houver primeiro a conversão no coração de cada um, como condição para as necessárias modificações nas estruturas sociais.”

Foi muito edificante a generosa hospitalidade do povo cubano ao sumo pontífice, pois eles esqueceram as suas diferenças internas, calaram os seus protestos e ouviram, como família disciplinada e comunidade civilizada, a palavra do seu visitante. O mesmo se diga dos dirigentes de Cuba, cujo maior destaque foi a reverência respeitosa e hospitaleira de Fidel Castro ao seu convidado, que acompanhou, espontaneamente, em todos os momentos, deixando aquele sopro de promessa e esperança de liberdade, independência e reconciliação da Igreja com o Estado, do povo com o Governo, da Nação dividida com a unidade nacional.

O que senti, Sr. Presidente, do alcance dessa visita histórica de João Paulo II às Antilhas, foi uma surpreendente abertura do mundo para Cuba e de Cuba para o mundo, fortalecendo, em especial, esse sentimento fraterno e telúrico do povo americano, que, durante esse evento, confraternizou-se espiritualmente com seus irmãos cubanos e fortaleceu a sua posição de solidariedade aos seus legítimos anseios, especialmente no que se refere ao término desse abominável bloqueio econômico, tão veementemente condenado pelas nações livres do mundo.

Acredito, Sr. Presidente, que Cuba acordou mais livre nessa última segunda-feira.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/01/1998 - Página 1952