Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM AO SEU PAI, PROFESSOR CARLOS CAMPOS, QUE COMPLETARIA HOJE, CASO ESTIVESSE VIVO, 106 ANOS DE VIDA.

Autor
Lauro Campos (PT - Partido dos Trabalhadores/DF)
Nome completo: Lauro Álvares da Silva Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AO SEU PAI, PROFESSOR CARLOS CAMPOS, QUE COMPLETARIA HOJE, CASO ESTIVESSE VIVO, 106 ANOS DE VIDA.
Aparteantes
Benedita da Silva, Bernardo Cabral, Francelino Pereira.
Publicação
Publicação no DSF de 03/02/1998 - Página 2005
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, CARLOS CAMPOS, PROFESSOR, PAI, ORADOR.

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT-DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, gostaria que se formasse uma concha protetora que me permitisse alguns minutos de reflexão, em que as reminiscências de minha vida, a partir de minha infância, pudessem ser evocadas, como se a asa da memória pudesse assentar-se sobre os galhos do passado.

Estou aqui para oferecer um presente, motivado pela sensibilidade, pelo reconhecimento e pelo amor. Há uma figura que completaria hoje 106 anos, se tivesse continuado a esteira de sua vida, debruçada no trabalho solitário de indagação, de pesquisa, de tentativa de desvendar os hieróglifos do mundo. Como disse Darcy Ribeiro, na página 89 de seu livro Migo, meu pai, Carlos Campos, foi o sábio verdadeiro que ele conheceu, com uma vida inteira dedicada ao estudo e à meditação. “Gostaria de ser sábio e probo, mas não tanto”, disse Darcy Ribeiro.

O então Ministro da Educação Carlos San’tanna deliberou prestar uma série de homenagens a meu pai, há seis anos, quando ele completou o seu centenário de nascimento. O selo comemorativo e outras homenagens foram lembradas pelo Ministro Carlos San’tanna, e desse movimento, na realidade, surgiram várias homenagens à sua memória. Alguns bustos foram inaugurados, um deles na Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais, no Casarão de Afonso Pena, onde prestou concurso para catedrático, disputando com um intelectual, o sobrinho do então Governador, a quem pareciam se dirigir as preferências daquilo que se chamava a “panela” da Universidade. Carlos Campos rompeu a “panela” e escreveu um livro de crítica a seu adversário: Suum cuique tribuere - a cada um o que é seu. As dez ou quinze páginas iniciais constituem uma contribuição à capacidade crítica e sarcástica de Minas Gerais.

Finalmente, aquele concurso que envolveu Minas Gerais e emocionou a cidade e o Estado inteiro, por influência de examinadores de fora, acabou sagrando o Professor Carlos Campos como catedrático da Cadeira de Introdução à Ciência do Direito, da Universidade de Minas Gerais. A obra que ele então iniciava se agigantou em nove ou dez volumes.

Pretendo apenas pousar em alguns fatos e em algumas reminiscências. Quando cheguei a Roma, por exemplo, fui apresentado ao Professor Giorgio Del Vecchio, tido como um dos maiores filósofos deste século na Itália. Ele disse-me: “Lei porta un grande nome -- o senhor é portador de um grande nome; conheço as obras de seu pai e as discuto aqui na Universidade”.

Assim, ao longo da minha vida, não pude deixar de me envaidecer e de sentir a minha pequenez, a minha inferioridade. Há poucos dias, foi relembrada por um eminente representante de Minas Gerais nesta Casa a diferença entre a minha modesta figura e a grandeza a que atingiu, os píncaros a que soube subir a figura do Professor Carlos Campos.

Oscar Dias Corrêa, Ministro do Supremo Tribunal Federal, professor catedrático de duas universidades, disse, certa vez, sobre ele: “É um escafandrista das idéias, que gosta das profundidades das coisas, dos pensamentos”. Quando nos reunimos na Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais para inaugurar o busto de meu pai, que, com mais dois outros, ornamenta aquela faculdade, ali se encontravam não apenas o Ministro da Educação Carlos San’tanna, como o Sr. Eduardo Queiroz, Vice-Reitor e representante do Reitor da Universidade de Brasília, José Paulo Sepúlveda Pertence, que proferiu o discurso referente à inauguração do busto, Carlos Mário da Silva Velloso, Ministro do Supremo Tribunal Federal, Armando Rollemberg - ex-aluno e também Ministro do Tribunal Federal de Recursos, José Carlos Brandt Aleixo - professor da Universidade de Brasília e filho do saudoso professor Pedro Aleixo. Nessa ocasião, tive oportunidade de, em nome de nossa família, agradecer àquela homenagem que objetivava relembrar a figura do professor Carlos Campos.

Hoje também pretendo que meu espírito consiga criar um hiato de tranqüilidade no meio de tantos problemas. Desejo que meus ouvidos não escutem o clamor das 500 mil crianças prostitutas, nem o choro das milhares de crianças dos nossos canaviais, e que a fome dos nossos desempregados não perturbem, por algum momento, esse meu retorno ao passado, esse abraço espiritual que dou em meu pai, aquele que, entre outras coisas, permitiu que eu tivesse acesso a uma literatura que continha talvez as principais obras da humanidade; estavam ali, ao alcance da minha mão e, obviamente, se inteligência suficiente tivesse, ao alcance da apreensão de minha consciência. Sócrates, Aristóteles e todos os gregos estavam ali. Não à espera de que ele os conhecesse, porque ele já os freqüentava há muitas décadas; mas à disposição de minha curiosidade. Curiosidade e honradez: isso eu soube partilhar com ele.

A Srª Benedita da Silva (Bloco/PT-RJ) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT-DF) - Será um grande prazer.

A Srª Benedita da Silva (Bloco/PT-RJ) - Senador Lauro Campos, não me atreveria a aparteá-lo em momento de tanta emoção e gratidão se V. Exª não fosse também um grande professor. Se também não fosse, como filho de Carlos Campos, não apenas um perseguidor de suas idéias, mas um filho que constantemente, enfaticamente, defende suas próprias idéias. Faço este aparte no momento dessa homenagem porque percebo a emoção de V. Exª. Gostaria de poder expressar no meu gesto o que vai no íntimo de V. Exª neste momento em que, da tribuna, presta uma homenagem a um dos mais ilustres nomes da intelectualidade brasileira. E V. Exª, Senador Lauro Campos, sem dúvida nenhuma, não é pequeno; é grande e o tem demonstrado; não é inferior e o tem demonstrado. Até mesmo os seus adversários, que não concordam com suas idéias, reconhecem a capacidade de V. Exª, a profundidade de seu conhecimento. Mas sobretudo, nesse momento, me deparo com o filho Senador Lauro Campos prestando uma homenagem, não apenas ao grande professor Carlos Campos, mas ao seu pai. E isso me calou profundamente. Tenho a certeza de que se Carlos Campos estivesse vivo estaria tão emocionado quanto V. Exª, talvez não pelas palavras, mas pelo gesto do nobre Senador.

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT-DF) - Nobre Senadora Marina Silva, desculpe-me, Senadora Benedita da Silva - a emoção faz com que eu confunda as duas, que dividem o meu carinho e a minha admiração - eu gostaria de dizer a V. Exª que suas palavras realmente repercutem fundo, porque ouço nelas a expressão dessa sua transparência, dessa sua sinceridade, e, portanto, elas ecoam em minha consciência como uma dádiva que acabo de receber e que engrandecem a modéstia de minha fala.

O Sr. Bernardo Cabral (PFL-AM) - Posso interrompê-lo, Senador?

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT-DF) - Com prazer.

O Sr. Bernardo Cabral (PFL-AM) - Não sei se, realmente, V. Exª presta uma homenagem. Creio que é pouco, se pudermos traduzir isso como homenagem. É pouco porque ouvi V. Exª dizer que os hieroglifos eram motivo de estudo pelo seu pai. Eu diria que ele é um Champollion redivivo. E não fico apenas na imagem que fizeram do escafandrista; penso que ele foi muito mais: que ele foi um alpinista dos montes, das escarpas mais difíceis do Direito. Não há estudante de Direito que não tenha ouvido falar de Carlos Campos. Mais: assisti, na minha terra, a uma argüição de tese feita por um mineiro - eu me refiro a Caio Mário da Silva Pereira - que fazia questão de, na sua argüição, lembrar outro mineiro, Carlos Campos. Eu, que nunca vi V. Exª sequer tropeçar na razão ou confundir a verdade, tenho a convicção de que, se não fosse seu pai, também V. Exª estaria aí para homenagear o mineiro conterrâneo. Mas, tratando-se daquele do qual V. Exª herdou o sobrenome, ousei interromper o seu discurso para cumprimentá-lo como um filho que honra a memória do seu pai.

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT-DF) - Senador Bernardo Cabral, V. Exª aquece ainda mais a emoção de que sou presa neste momento. As suas palavras são tradutoras do conhecimento de alguém que soube cultuar, durante tantos anos, as ciências jurídicas. Nesse sentido, portanto, suas palavras recebem um peso, um valor, uma profundidade que me impedem responder a tão abalizado apoio e aparte. Muito agradecido, Senador.

           O Sr. Francelino Pereira (PFL-MG) - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Lauro Campos?

           O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT-DF) - Pois não, nobre Senador Francelino Pereira.

           O Sr. Francelino Pereira (PFL-MG) - Meu caro Senador Lauro Campos, sempre que cumprimento V. Exª faço uma referência ao seu pai, o Professor Carlos Campos, que conheci na Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais desde a primeira série dos estudos de Direito e nos embates políticos que travamos pela devolução dos direitos constitucionais ao Brasil, que foi sempre uma bandeira de Minas e dos mineiros. Não obstante a preocupação de V. Exª com suas colocações políticas, esta é uma tarde mineira exatamente porque o Professor Carlos Campos representa sempre para as gerações de Minas Gerais uma referência, pelo seu valor, pela sua integridade, pela sua cultura, pela sua delicadeza e, ao mesmo tempo, pela sua bravura na defesa do Direito, não na análise dos pontos factuais da ciência do Direito, ou do Direito em si, mas principalmente na profundidade da ciência que abraçou, de acordo com a linha de pensamento dos italianos, franceses, ingleses, enfim, dos grandes cultores do Direito do mundo inteiro. Lembro-me de sua figura, sempre delicado, sempre respeitoso e recebendo de toda a Faculdade de Direito, de professores e alunos, uma admiração permanente manifestada no abraço, na palavra, no discurso, de que efetivamente era merecedor. Ele representa um tempo que não se apaga, o tempo que Minas Gerais persiste em ocupar: o tempo da mina do Direito, da mina do sentimento democrático, da mina dos valores mais sagrados da democracia brasileira. Quero transmitir a V. Exª o abraço fraternal de um admirador de seu pai e de um cidadão mineiro que respeita muito o orador que está na tribuna, na convicção de que, embora V. Exª pense que está do outro lado do rio e nós na posição contrária, saiba que, como dizia Milton Campos, sejam quais forem nossas posições, todos estamos trabalhando para construir uma sociedade justa e uma democracia completa para esta Nação. Era o que eu queria dizer a V. Exª na homenagem ao Professor Carlos Campos.

           O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT-DF) - Agradeço profundamente as suas palavras, nobre Senador Francelino Pereira. V. Exª , como ex-Governador de Minas Gerais, sabe muito bem interpretar a vontade, o desejo, o espírito e a inteligência do meu Estado.

           René Demogue, da Faculdade de Direito da Universidade de Paris, Camargo Marin, da Espanha, Clóvis Bevilácqua, Bento de Faria, Edmundo Lins, Levy Carneiro, Saboia Lima, Dunches de Abranche, Mello Guimarães, Hermes Lima, Plínio Barreto e muitos outros fizeram apreciações muito honrosas aos trabalhos de Carlos Campos.

       Sobre a “Hermenêutica Tradicional e Direito Científico”, o Professor René Demogue, da Universidade de Paris, em Revue Trimestrielle de Droit Civil”, de 1932: “Ce volume interessant et qui démontre de l´originalité et des connaissances étendues, a comme point de départ cette idéé...”

       Clóvis Bevilácqua, em carta ao autor, afirma: “Nesse livro, afirma-se uma forte individualidade, pela independência dos conceitos, firmados na base de sólida  da educação jurídica e filosófica... É trabalho de um pensador.”

       Revista de Jurisprudência Brasileira, diretor Astolpho Rezende, volume XIX... : “O trabalho do Sr. Dr. Carlos Campos revela um jurista de estofo, fadado aos mais brilhantes triunfos.”

       Sobre “Sociologia e Filosofia do Direito”:

       Prof. Rafael Bielsa, decano da Universidade do Litoral, Argentina, em Anuário del Instituto de Derecho Público, vol. VI, 1945: “El profesor de la Faculdad de Derecho de la Universidad de Minas Gerais, há enriquecido la literatura científica americana com esta notable obra de la que solamente damos notícia, pues la ponderación de su merito obligaria a escribir un volumen.

       Es el trabajo de un jurista y de filósofo que examina las doctrinas y direcciones actuales com agudo espíritu analítico y crítico.

.......

       “Plínio Barreto, em “Diário de São Paulo” 6-4-44:...“chamarei a atenção do leitor para a crítica a que ele submete as teoria de Duguit. É das coisas mais lúcidas e mais brilhantes que ainda saíram, creio eu, da pena de um jurista brasileiro.”

       Prof. Hermes Lima, em Revista Forense, vol. CIII, transcrito do “Correio da Manhã”: “Os estudos de filosofia do direito em nosso País, tão abandonados há tanto tempo, acabam de receber, no livro recentemente editado pelo Professor Carlos Campos, catedrático da Faculdade de Direito da U.M.G. - “Sociologia e Filosofia do Direito” - uma contribuição notável e distinta pela nota pessoal que a caracteriza... No curto espaço deste artigo não posso dar uma idéia sequer aproximada do material utilizado no livro, da força de argumentação, da riqueza de observações e do poder de raciocínio que ele contém.”

O tempo não é suficiente para que continue sequer a enumerar os resumos dos comentários dirigidos às suas obras, mas vou referir-me apenas ao Almirante Gago Coutinho que fez o seguinte comentário sobre um dos livros de meu pai, o intitulado “Reflexões sobre a Relatividade”:

       “Li-o há dias, e só então tive oportunidade de conhecer as interessantes idéias contidas no livro “Reflexões sôbre a Relatividade”. Trata-se de assunto que há alguns anos estudei e, por isso, peço licença para apresentar em resumo as minhas reflexões, as quais, por um caminho algébrico, concordam com as conclusões da obra filosóficas de V. Excia”.

       Sôbre Nouveaus Apports à La Théorie da La Connaissance”, também autoria de meu pai, disse J. Haesaert: “C’est un résumé remarquablement clair d’une pensée très ferme: votre critique est judicieuse et s’exprime en des formules frappantes.”

       Etienne Souriau: “Je les ai lus avec beaucoup d’intérêt et de soin. Ils apportent des perpectives très attachantes et très neuves à beaucoup des grands problémes actuels. Ce que vous dites au sujet des modes d’être constants est, je crois, très important. De même aussi votre notion de la vérité réelle. Tout cela est d’un vrai philosophe” - Tudo isso é de um verdadeiro filósofo.

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Jean Wahl, Diretor e Presidente da Revista de Metafísica e Moral, ao convidar meu pai para colaborar naquela revista francesa, uma das principais revistas de filosofia do mundo, também dirige a ele elogios deste jaez, deste teor.

Apenas para registrar, a enciclopédia Logus, editada em Portugal, tem, escrito pelo Professor Miguel Reale, um verbete dedicado ao nome de meu pai; a enciclopédia Verbo traz, também, um longo verbete escrito pelo Professor Henrique Lima Vaz; a enciclopédia Larousse Cultural também dedica um espaço ao seu nome; e o Dicionário Biográfico de Minas Gerais, publicado em 1995, traz amplas referências a sua vida e a sua obra.

Portanto, em 02 de fevereiro, nós nos reuníamos - ele e seus 15 irmãos - para um almoço simples que, como acontecia aos domingos, era regado por uma só garrafa de vinho estrangeiro. Naquela casa aprendi a formar a minha consciência, a incorporar alguns traços da família mineira e, sobretudo, a repetir, a imitar, quase a remedar, porque não podia equiparar-me ao original, dois traços fundamentais de sua personalidade.

Ele assinou manifestos mineiros e demonstrou grande apego à democracia, que jamais abandonou em nenhum dia de sua vida, enquanto parentes seus, primos de primeiro grau, como Benedito Valadares e Francisco Campos, recebiam as benesses dos todo-poderosos.

Portanto, essa independência, a seriedade, a curiosidade em relação aos problemas que nos cercam, esse acendrado amor pela democracia, tudo isso fez com que ele, inclusive, levasse para a faculdade de Direito informação sobre várias ciências sociais. Enriqueceu-a com o que havia começado a ler em 1920 - foi uma das primeiras pessoas, no Brasil, depois de Lago Pimentel, a ler Freud e toda a Escola de Viena - Otto Rank, Ernest Johnes e Pifster e tantos outros.

Assim, passando de um ramo de conhecimento para outro, aplicando conhecimentos hauridos em um setor das ciências humanas em outros setores é que ele foi, incansavelmente. enriquecendo a sua inteligência e a sua cultura, transfundindo-as para os seus alunos.

Próximo do fim, já estrangulado pela doença que o cigarro lhe trouxe - um enfisema pulmonar -, pediu aos médicos permissão para levar à sala de aula um balão de oxigênio, pois gostaria de morrer fazendo o que sempre fez e gostou de fazer, não como Deputado estadual ou federal que foi, mas como professor. Morrer, ali, oxigenado, não mais pela sua esposa, que criou em torno do seu canteiro de obras uma proteção de alegria, amor e carinho que Darcy Ribeiro não conheceu. Por isso ele disse: “Triste vida. Ao deparar-me com ela, senti-me apavorado. Gostaria de ser sábio e probo, mas não tanto”. Ele não conheceu a alegria que morava ao lado: a alegria eterna de sua companheira. Um dia, ele disse a ela: “Você é meu oxigênio”. Na sala de aula, ele queria respirar no balão de oxigênio para continuar até o fim, para prolongar ainda mais suas aulas.

Hoje, na faculdade de Minas, há um jornal que se chama O Sino de Samuel. Samuel era o nosso bedel que tocava o sino na hora de entrada e saída das aulas. Pedi-lhe: Samuel, toque o sino. Quem sabe ele virá dar mais uma aula a nós que ficamos!

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magalhães) - Senador Lauro Campos, V. Exª sabe que, sempre que posso, dou-lhe provas de estima e respeito. A cada dia essa admiração cresce, por mais que tenhamos diferenças do ponto de vista teológico, mas tenho muito respeito pela sua figura. Hoje, esse respeito cresce mais ainda na medida em que V. Exª vem exaltar a figura do seu grande pai, que teve também um grande filho para honrar a tradição e que serviu, como poucas pessoas serviram, a Minas Gerais em todos os postos que ocupou sendo uma das figuras mais salientes do seu Estado neste século em que estamos vivendo.

Devo dizer que não há quem não elogie Carlos Campos em Minas Gerais. Tem V. Exª o orgulho natural do filho de um grande pai. Quero dizer que assim como V. Exª pediu, na ocasião do passamento dele, que se tocasse o sino para saber se ele ainda viria dar uma aula, posso dizer a V. Exª: toque o sino agora, feliz, porque V. Exª o representa muito bem no Brasil.

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT-DF) - Gostaria de agradecer as palavras tão carinhosas que V. Exª acaba de proferir. Não estendo o agradecimento porque estou emocionalmente impedido de fazê-lo.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/02/1998 - Página 2005