Discurso no Senado Federal

DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA TRITICULTURA BRASILEIRA.

Autor
Júlio Campos (PFL - Partido da Frente Liberal/MT)
Nome completo: Júlio José de Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
AGRICULTURA.:
  • DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA TRITICULTURA BRASILEIRA.
Publicação
Publicação no DSF de 04/02/1998 - Página 2190
Assunto
Outros > AGRICULTURA.
Indexação
  • ANALISE, DIFICULDADE, DESENVOLVIMENTO, SETOR, TRITICULTURA, BRASIL, RESULTADO, AUSENCIA, POLITICA, GOVERNO, MELHORAMENTO, QUALIDADE, AUMENTO, PRODUÇÃO, TRIGO, PROVOCAÇÃO, PERDA, CONCORRENCIA, PRODUTO, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, INFERIORIDADE, PREÇO, PRODUTO NACIONAL, MERCADO INTERNACIONAL.
  • DEFESA, IMPLANTAÇÃO, GOVERNO, POLITICA, SETOR, TRITICULTURA, MELHORIA, INFRAESTRUTURA, REDUÇÃO, VALOR, TRANSPORTE, PRODUTOR, MOINHO DE TRIGO, PROMOÇÃO, CAPACIDADE, CONCORRENCIA, MERCADO INTERNACIONAL, TRIGO.

           O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, não se pode negar que o “custo-brasil” e a má qualidade do produto têm sido os principais responsáveis pela falta de competitividade da triticultura brasileira.

           Até 1990, o Governo controlava completamente a compra e venda do trigo em grão. Com a sua intervenção, adquiria toda a produção nacional e importava o que necessitava. Todavia, com a desregulamentação do setor e com o funcionamento do Mercosul, as importações do produto oriundas principalmente da Argentina, aumentaram de maneira importante. O resultado foi que a triticultura brasileira, trabalhando com uma relação custo-benefício incomparavelmente mais alta do que na Argentina, tendo de concorrer no plano da qualidade e enfrentando condições climáticas adversas, entrou em dificuldades.

           Assim, apesar de podermos colher duas safras anuais, o que não deixa de ser uma grande vantagem sobre a fértil região da “pampa húmeda” de onde provém o grosso da produção argentina, esse privilégio logo perde a sua força quando computamos os outros custos de produção.

           Para se ter apenas uma idéia superficial das dificuldades que enfrentamos, basta lembrar que a qualidade do trigo brasileiro é ruim, a nossa infra-estrutura é deficiente, e o custo do frete de uma tonelada de trigo entre o Paraná e o Estado de São Paulo é mais caro do que importar a mesma quantidade do Canadá para o porto de Santos.

           Ainda citando a Argentina, é sabido que a sua produção sempre foi muito maior do que o consumo interno e que aquele país é um tradicional exportador de cereais de alta qualidade. Em contrapartida, o Brasil é um tradicional importador de trigo, a safra do ano passado de 3,1 milhões de toneladas não passou da metade colhida em 1987, e, para este ano, a previsão é de que não ultrapasse os 2,7 milhões de toneladas.

           Como dissemos anteriormente, a qualidade do trigo brasileiro é inferior ao argentino, e a produção é basicamente realizada em dois Estados, Paraná e Rio Grande do Sul, responsáveis por apenas 20% do consumo nacional.

           É importante destacar que a área de plantio de trigo, este ano no Paraná, deverá ser apenas de 900 mil hectares, o que implicará numa redução de 12,11% em relação à área cultivada no ano passado, que chegou a cobrir 1,024 milhão de hectares. No que se refere à produção estimada, baseada na média de produtividade alcançada, deverá ser da ordem de 1,57 milhão de toneladas, o que representará uma queda de quase 20% em relação à safra do ano passado.

           Já apontamos igualmente que a infra-estrutura rodo-hidro-ferroviária é bastante deficiente no Brasil, o que não acontece na Argentina, permitindo, assim, que o trigo argentino apresente o menor custo mundial de transporte entre os produtores e os moinhos.

           Os produtores de trigo no Brasil precisam exigir das autoridades governamentais uma política estável e duradoura para o setor. Não adianta mais correr atrás de favores e pregar a volta da proteção do Estado. Para garantir a competitividade e a viabilidade da cultura do trigo em nosso País, não podemos perder de vista alguns aspectos que são da maior importância para o estabelecimento de novos parâmetros.

           Em primeiro lugar, é preciso que o trigo brasileiro ganhe prestígio no mercado internacional, como aconteceu com a soja. O produto brasileiro não tem padrões de concorrência, e, além do mais, sempre fomos ao mercado internacional como compradores e não na qualidade de vendedores. Por outro lado, o produtor local é totalmente dependente do mercado interno cujas oscilações são incontroláveis, justamente porque não existe uma política segura e durável que garanta a disciplina do setor.

           Outro dado importante mostra que mais de 95% do trigo nacional é produzido no Paraná e no Rio Grande do Sul, onde o consumo, juntamente com Santa Catarina, não ultrapassa 23% da demanda nacional. No que se refere ao custo dos transportes e à questão da infra-estrutura, já vimos que a situação no Brasil é bastante desvantajosa para o produtor. Repetindo o que já foi dito, é mais caro trazer uma tonelada de trigo do Paraná para São Paulo do que da Argentina para Santos. É mais oneroso transportar trigo do interior do Paraná para o porto de Paranaguá do que da Argentina para qualquer porto brasileiro. E para não ficar só no exemplo com a Argentina, é mais barato importar trigo do Canadá do que pagar frete do Paraná para o Rio.

           Apesar da produção mundial crescente, que já atinge quase 600 milhões de toneladas, e da posição Argentina, que é um dos maiores produtores do mundo e que se beneficiou ainda mais com os mecanismos do Mercosul; o Brasil, mesmo com os seus modestos 2,7 milhões de toneladas previstos para a safra deste ano e com pesquisas pouco importantes em busca de uma melhor qualidade de sementes, dispõe de todas as condições para superar as dificuldades que ora se apresentam e passar a competir em pé de igualdade com os grandes do mercado internacional.

           Segundo os especialistas em agricultura, a triticultura brasileira tem capacidade de produzir, de maneira competitiva e sem paternalismos oficiais, 15 milhões de toneladas anuais. Para atingir esse objetivo, é preciso modernizar as vias de escoamento, diminuir as pesadas taxas de juros, investir pesado em pesquisas de qualidade, abrir linhas de crédito realistas e aumentar e modernizar as condições de armazenamento.

           Assim, além de produzir para atender completamente as necessidades do mercado interno, que são hoje da ordem de 8,5 milhões de toneladas; em pouco tempo, o Brasil ganharia também condições totais de concorrência no âmbito do Mercosul com a Argentina e em outros importantes mercados. Fora do cumprimento dessas metas, a triticultura brasileira continuará sufocada pelas dívidas, pela baixa produtividade, pela fraca competitividade, pela falta de dinamismo, pela qualidade ruim do produto colhido e pela insignificância de sua produção anual. Portanto, enquanto a produção brasileira é ridícula, dados da safra de 1996 nos Estados Unidos mostram que os americanos colheram naquele ano 60 milhões de toneladas e exportaram 34 milhões.

           A dependência brasileira em matéria de trigo é exageradamente grande, e as projeções do aumento do seu grau são preocupantes. Segundo estudos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), as necessidades brasileiras serão de 11 milhões de toneladas daqui a apenas dois anos. Levando-se em consideração que a nossa safra já foi de 6,1 milhões de toneladas em 1987 e hoje não chega a 3 milhões de toneladas, é mais do que um motivo de preocupação encarar de frente essa lamentável realidade.

           Finalmente, se produtores e pesquisadores estão dispostos a trabalhar para superar o tempo perdido, espera-se também que o Governo faça a sua parte para reorganizar toda a cadeia nacional do trigo e implantar no Brasil uma política em defesa dos nossos interesses.

           Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/02/1998 - Página 2190