A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Senador Carlos Patrocínio, Srªs. e Srs. Senadores, também gostaria de cumprimentar o Presidente, o nobre Senador Antonio Carlos Magalhães, porque, nesta Convocação Extraordinária, tivemos não só a oportunidade de votar reformas de interesse do Governo como também projetos que há anos encontravam-se nesta Casa

A nossa preocupação não é pura e simplesmente dar uma satisfação, dizendo que cumprimos o nosso dever na Convocação Extraordinária, mas também chamar a atenção para as matérias votadas, que trazem um compromisso com o Presidente da República, ou seja, o de fazer implementar as políticas públicas necessárias para acabar com as desigualdades sociais, pois, segundo o Presidente da República, essas reformas eram vitais para a sustentação de um projeto e para acabar com a injustiça social.

Pois bem, aqui se aprovou matéria dessa natureza, conforme o pedido do Governo Federal, apesar de nós, da Oposição, termos debatido a questão por acreditarmos que seria prejudicial ao povo brasileiro. Mas, na verdade, a base de sustentação do Governo e também a Oposição fizeram-se presentes nesta Casa, como fazem naturalmente, a fim de que as matérias fossem votadas.

O Presidente Antonio Carlos Magalhães tinha se comprometido com o Presidente da República e com a sociedade brasileira no sentido de que toda a agenda da Convocação Extraordinária seria cumprida. Dito e feito. Estamos hoje encerrando os nossos trabalhos, tendo apreciado todos os itens da pauta.

Queira Deus que possamos priorizar matérias relevantes que ainda se encontram nesta Casa, com a mesma ênfase, com a mesma garra com que fizemos agora, nesta Convocação Extraordinária!

O Senador Antonio Carlos Magalhães disse que podíamos sair daqui de cabeça erguida, para fazermos campanha, candidatarmo-nos ou fazer o que quiséssemos, por termos cumprido a nossa tarefa.

Acredito que nós, que detemos um mandato, que não somos candidatos e que estaremos aqui, nas duas Casas, faremos valer essa conquista, o resgate da respeitabilidade e da confiabilidade no Congresso Nacional. Vamos fazer valer, vamos dar continuidade a isso, a fim de que possamos votar matérias que dizem respeito aos direitos humanos, aos direitos sociais, ou seja, matérias relevantes que venham dar ao trabalhador brasileiro, aos nossos idosos, mulheres, crianças, adolescentes, enfim, dar a cada um de nós o direito de exercermos a nossa cidadania.

Antes de concluir, Sr. Presidente, gostaria de prestar um reconhecimento e uma homenagem ao Administrador Fernando Leandro e ao Carnavalesco Jerônimo, da Escola Caprichosos de Pilares, que, neste ano, tem como enredo o seguinte tema: “Negra Origem, Negro Pelé, Negra Bené”.

Faço, desta tribuna, os meus agradecimentos a essa Escola, que é atualizada e que é reconhecida pela população negra do Estado do Rio de Janeiro como aquela que, nas décadas de 1920 e 1930, tinha os afro-brasileiros como sua base de identificação.

Essa agremiação tem sido ousada em seus enredos. Ela não teme; é uma agremiação aberta, onde a comunidade pode descer o morro e ali se alegrar e se conscientizar.

Faria eu uma homenagem muita extensa a essa Escola de Samba. Como já disse, sua ousadia é muito grande. Ela apresenta enredos altamente inquestionáveis e temas questionáveis e comprometedores. Demonstrando sua coragem, no carnaval deste ano, ela homenageará uma figura viva, identificada com um partido político e com uma religião - sou evangélica. A Caprichosos de Pilares não contará com a minha presença no desfile - e ela sabe disso -, quando homenageará também figuras que considero importante: Mandela e Pelé.

Essa Escola sempre apresenta temas polêmicos. E sempre faz isso assumindo posições corajosas. Como, por exemplo, exigindo “Diretas Já!” em 1985; enfocou a autonomia cultural em 1986; criticando o sistema político em 1987; reafirmando a convicção de que “O Petróleo é Nosso” em 1992; ou apontando as diferenças sociais no enredo “Não Existe Pecado”, em 1993.

Como se vê, ela levanta questões altamente polêmicas e consegue aliar crítica e alegria, assumindo compromissos de forma descomprometida.

Neste ano de 1998, ela apresentará “Negra Origem...”, em que faz referência à nossa Mãe África; ao negro trabalhador, dando um viva ao povo brasileiro; à luta negra, corporificada em Mandela e em Zumbi dos Palmares. Ressalta ainda a contribuição negra à sociedade, expressa na figura de Pelé e chama a atenção para a consciência e para a expectativa negra.

Apresento-me desta tribuna como alguém que tem uma profissão de fé diferente da daqueles que estarão desfilando na Caprichosos de Pilares, mas não posso deixar de reconhecer essa atitude, não posso deixar de reconhecer que ela evoca fatos atuais e conquista contando a história do Brasil.

Esse enredo inicia-se com a lembrança da Mãe África, destaca seus diferentes povos e etnias, crenças, modos, modas e costumes e depois fala da diáspora. Atualmente, no Brasil e no resto do mundo, a luta dos afro-descendentes continua em busca da igualdade de oportunidades. Portas foram abertas, mas elas não são suficientes e o negro tem consciência dessa realidade. Não basta ser livre para andar de um lado para outro, é preciso saber a direção que se deve tomar. É isso que estará cantando a Caprichosos de Pilares.

A Caprichosos homenageia Edson Arantes do Nascimento, internacionalmente conhecido como Pelé, a quem nós também prestamos homenagem ao votarmos o projeto que ficou conhecido por Lei Pelé. Estamos, mais uma vez, reconhecendo desta tribuna esse talento do esporte brasileiro, aclamado como o “Rei do Futebol”. Que ele possa conservar a sua coroa com nobreza, dedicação, modéstia e seriedade, conduzindo esse Ministério, como tem feito, no sentido de investir em melhoramentos que beneficiem a base social menos favorecida.

Acredito que o Ministério Extraordinário de Pelé tem feito isso, e ressalto o trabalho que tem executado na Vila Olímpica, no Estado do Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense, na Mangueira e em tantos outros lugares.

Concluo, Sr. Presidente, Srs. Senadores, recitando aqui a letra da música da Caprichosos de Pilares, cujos autores são Noqyuinha, Flávio Quintino, Sidinho da Zoeira, J. B. e o conhecido Zé Carlos da Saara, interpretada por Jackson Martins::

“Me embala no teu colo, ó Mãe África

A chama de Palmares inspirou

A luta de Zumbi é realidade

Negro Congo - negra Angola

Afro-americanizou (com valor)

Com risos de esperança

Braço forte que não cansa

E o negro semeando amor”

Diz a letra que:

“Quem tem magia no pé

É Pelé

Quem vem na força da fé

É Mandela

E a voz que veio de lá

Da favela

É da guerreira Bené

Salve ela

Segue o negro trabalhando

Construindo este gigante na raiz

A bandeira da igualdade

Desfraldada pelo mundo

O povo é mais feliz

A capoeira não é brincadeira

O som do negro é universal

Canta a Caprichosos toda prosa

É a raça negra no seu carnaval.”