Discurso no Senado Federal

DEFESA DA ESTABILIDADE ECONOMICA, DA CONTINUIDADE ADMINISTRATIVA, E DO APOIO DO PMDB A REELEIÇÃO DO PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • DEFESA DA ESTABILIDADE ECONOMICA, DA CONTINUIDADE ADMINISTRATIVA, E DO APOIO DO PMDB A REELEIÇÃO DO PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO.
Publicação
Publicação no DSF de 05/03/1998 - Página 3372
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • DEFESA, APOIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), CAMPANHA ELEITORAL, FAVORECIMENTO, REELEIÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

           O SR. MAURO MIRANDA (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, no próximo domingo, o maior e mais influente partido político do País, o PMDB, vai decidir em convenção nacional se terá candidato próprio à Presidência da República ou se apoiará a reeleição do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Acompanhando a unanimidade dos convencionais de meu Estado, votarei pela consolidação da estabilidade econômica, pela continuidade administrativa, e pela preservação de espaços políticos que assegurem poderes ao PMDB para continuar lutando pelo resgate da enorme dívida social que acumulamos, por mais empregos e por um novo modelo de desenvolvimento que se apóie em grandes investimentos de infra-estrutura. Votarei pela reeleição, como quer a grande maioria do povo brasileiro.

           A história de trinta e dois anos do PMDB é um rico patrimônio de resistências, de muitas lutas pela reconquista da liberdade, de fidelidade à causa democrática, de afirmação política e de sensibilidade para os anseios populares. Foi esse currículo de partido vanguardeiro que nos deu a nossa grandeza como organização política, fincada em todos os recantos do País e majoritariamente representada no Congresso, nos Governos Estaduais, nas Prefeituras e nas Câmaras de Vereadores. Renunciar à candidatura própria, neste momento em que crises de identidade nos consomem as entranhas, não é renunciar a esse passado de lutas, nem a este presente de maioria em todos os níveis de poder, mas assumir uma posição realista em benefício do País e de nossa própria sobrevivência. É um tempo a mais para repensar os nossos desencontros e espantar os fantasmas que ameaçam a nossa unidade histórica.

O PMDB, para ser fiel às suas doutrinas e à sua própria razão de ser, não pode distanciar-se do povo. Apesar de todas as circunstâncias perversas do atual período de transição, caracterizadas principalmente pela queda brutal da eficiência da saúde pública, pelo aumento dos índices de violência urbana e pela redução dramática dos postos de trabalho, a sociedade brasileira mantém sua confiança no Real, como demonstram todas as pesquisas, e não perdeu as expectativas de que estamos vivendo um momento transitório de dificuldades, que serão superadas. Cansado das experiências frustradas e dos messianismos que nos levaram a amargar as decepções trágicas do passado recente, o povo brasileiro já não aceita deixar o certo pelo duvidoso.

É esse o espírito da sociedade brasileira, sobre o qual o PMDB terá de refletir para não embarcar em uma aventura sem causas objetivas que a justifique. Não quero ser fatalista, Srªs. e Srs. Senadores, mas a Convenção deste domingo colocará o PMDB entre dois extremos: ser realista e sobreviver, apoiando a reeleição, que sairá vitoriosa em outubro, ou arriscar-se num projeto político previamente derrotado, comprometendo irremediavelmente o seu futuro. Não tenho dúvida de que a racionalidade de nossa expressiva maioria vai encerrar a Convenção com uma grande vitória em que prevalecerá o bom-senso.

Mudar o que está errado, sim; mas mudar as atuais estruturas de poder, não, porque estaríamos ajudando a construir um vácuo perigoso de instabilidade, que poderia colocar a perder todo o esforço de mudança das políticas econômicas, sobretudo as reformas estruturais conquistadas a duras penas ou ainda por realizar. Não há lugar para rupturas nos compromissos internacionais que assumimos para atrair novos investimentos. A imagem de estabilidade é a nossa melhor parceria para sustentar o crescimento econômico. Se não temos inimigos à vista para combater, e se o Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso não é nem de longe nenhum vilão do interesse público, quais seriam os alvos de indignação para sustentar as motivações de uma campanha para a Presidência da República? Esse espaço político-eleitoral, por irreal que seja nas suas vocações mais radicais e raivosas, já tem seus ocupantes definidos, e a ele não iriam aderir os nossos prefeitos, que formam a base de sustentação do PMDB.

O PMDB já teve seus momentos grandiosos de oposição. Foram momentos em que tínhamos a indignação popular ao nosso lado. Ulysses Guimarães foi o grande símbolo da esmagadora vitória que conquistamos em 1974, ao lançar-se anticantidato, captando a insatisfação popular contra os governos militares e formando a grande maioria do Congresso. No Governo Sarney, o sucesso do Plano Cruzado fez a quase totalidade dos governadores do PMDB, porque havia um inimigo público comum, que era a inflação. Hoje, não temos inflação, nem temos governo impopular para combater. Com todo o respeito que devo a eventuais postulantes do meu Partido, temo que o escolhido venha a cumprir o lamentável papel de anticandidato às avessas, se compararmos a situação de hoje com a situação dos anos 70. Já nos desgastamos demais em duas derrotas consecutivas nos últimos pleitos presidenciais, com o próprio Dr. Ulysses Guimarães e com Orestes Quércia. É necessário um mínimo de humildade para reconhecer que o quadro político de hoje é ainda mais desfavorável à decolagem de uma candidatura própria, dentro de um mesmo espaço ideológico.

Para insistir na tese do realismo, quero lembrar a sabedoria de Trancredo Neves, que foi um dos patronos mais ativos da campanha pelas Diretas Já. Coerente com o objetivo superior de levar o PMDB ao poder, ele submeteu-se ao Colégio indireto e chegou à Presidência da República pelas vias que ele mesmo condenava, porque essa era a única alternativa que restava à Oposição. O atalho foi necessário para a recuperação total das franquias democráticas, e esse ato de descortino e coragem foi a grande obra política de sua vida, que colocou o País em estado de choque. Lições como a de Tancredo Neves não podem deixar de ensinar os nossos futuros caminhos como Partido político, cujo dever essencial é o de lutar para sobreviver, sem os riscos da aventura.

A política é uma ciência feita de lógicas, e a submissão ao desejo das maiorias, no campo partidário, é uma das lógicas mais inquestionáveis no processo democrático. Nego-me, por isso, a aceitar os argumentos das correntes dissidentes de meu Partido, que defendem a quebra de nossas alianças atuais para motivar as bases partidárias, atraídas por um projeto supostamente simpático, mas, para mim, politicamente inviável. A tese não passa de argumento de cúpula, e não das bases, que estão comprometidas com a sustentação do Real, sem solavancos políticos que possam comprometer a estabilidade econômica e a vitória definitiva sobre a inflação.

Srªs. e Srs. Senadores, meu Líder, Jader Barbalho, prezados Colegas de Bancada, o PMDB foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno das últimas eleições presidenciais. Apoiando Fernando Henrique Cardoso, nosso Partido garantiu, com a aliança política que sustentou o Governo até aqui, não apenas a co-autoria das tarefas de governar, mas a parceria em decisões importantes como as reformas, além da eleição de oito governadores e da maioria dos atuais prefeitos. A vitória eleitoral legitimou e consagrou a aliança com o Governo. E ainda assim, alheios ao pronunciamento das urnas, foram constantes as pressões de pequenos grupos internos para que abandonássemos o barco. E são esses mesmos grupos que esperneiam agora contra a óbvia necessidade de continuar repartindo responsabilidades com um Governo que está dando certo nas suas decisões mais importantes.

A maioria do nosso Partido é, portanto, cúmplice do muito que foi feito de certo e do pouco que foi feito de errado. Manter a aliança é um dever de coerência partidária e de lealdade aos compromissos que assumimos com o povo brasileiro. Abandoná-la, ao contrário, seria um ato precipitado de revisão, que não vai encontrar sustentação na lógica e nem será entendido por nossos correligionários. Não penso num partido incondicional, porque não temos vocação para o servilismo. Reconheço a necessidade de revisões autocríticas que nos levem a exigir, no segundo mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso, mudanças efetivas de rumos nas políticas sociais, na geração de empregos e na retomada dos grandes projetos de infra-estrutura. Essa é a missão pragmática do PMDB.

A luta interna de poder, que explicaria o lançamento de candidatura autônoma, antes de ser um caminho para a afirmação partidária, seria, nas circunstâncias atuais, a via mais rápida para o enfraquecimento do PMDB, para a redução das bancadas no Congresso, para o isolamento político e para a perda de rumos. Enfim, Srªs. e Srs. Senadores, estamos a poucas horas de uma decisão que vai definir se queremos o fortalecimento do Partido ou sua liquidação, se nos manteremos fiéis aos nossos compromissos com o País ou se sucumbiremos à ambição de minorias que querem o poder a qualquer custo. Esse é o grande desafio para as nossas reflexões sobre o futuro destino do PMDB.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/03/1998 - Página 3372