Discurso no Senado Federal

ANALISE DAS CIRCUNSTANCIAS PARTIDARIAS PORQUE PASSA O PMDB ANTE A NECESSIDADE DE DEFINIÇÃO DA CANDIDATURA PARA O PROXIMO PLEITO.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • ANALISE DAS CIRCUNSTANCIAS PARTIDARIAS PORQUE PASSA O PMDB ANTE A NECESSIDADE DE DEFINIÇÃO DA CANDIDATURA PARA O PROXIMO PLEITO.
Publicação
Publicação no DSF de 07/03/1998 - Página 3525
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, ORADOR, DIVULGAÇÃO, NOTICIARIO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, JORNAL, DEFESA, LANÇAMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), CANDIDATURA, DISPUTA, ELEIÇÕES, CARGO ELETIVO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, trago ao Plenário do Senado Federal o texto de um artigo que escrevi sobre a circunstância que vive o meu Partido, o velho MDB de guerra. O artigo se intitula “A Batalha de Agincourt“ e se inicia com uma epígrafe:

              “Aderir ao governo é fazer o elogio de nosso próprio coveiro.”

É uma paráfrase de uma frase do Milan Kundera.

Que os coveiros suspendam seus trabalhos; que as carpideiras contenham as lágrimas e a dramatização dos gestos; que sejam licenciadas as matracas e a litania; que os presbíteros de ocasião interrompam o réquiem; que o coro dos abutres engula a partitura. O PMDB não morreu.

Que se trombeteie o anúncio da boa nova; que se contem a coragem e a dignidade; que, mais uma vez, se resgatem e empunhem as velhas bandeiras; que se afiem as armas para o levante; que se reavive, no coração, a antiga chama; que se exilem dores, medos e desesperanças. O PMDB está renascendo.

Mais uma vez se oferece ao nosso Partido a oportunidade da reestruturação, da restauração da dignidade e do renascimento.

Renascer; outra vez dar-se a luz; a coragem de refazer o caminho, de destruir as dificuldades e de voltar às origens. Não nascemos e nem nos fizemos da covardia, do liqüidacionismo, do medo, da fragilidade e do desânimo.

Ao lixo com o desânimo. À degradação, ao opróbrio e à execração o injustificável adesismo.

A hora chegou, vamos afastar o adesismo com todas as conseqüências que se fizerem necessárias. No entanto, esta não é a hora dos tíbios, dos mornos, dos mais ou menos. É hora de rebelião. É hora, mais que a hora, do levante peemedebista, do grito de guerra dos homens e mulheres dignos que, sempre, formaram a maioria do Partido.

Não é hora de se esconder, de procurar abrigo sob as asas ou poleiros vizinhos. Não é hora de conchavos, de costuras ou alianças pouco claras. Não é hora de mostrar fraqueza, abatimento.

Em nossa própria história estão exemplos de coragem, resistência, firmeza e dignidade. Não é a primeira dificuldade que enfrentamos. E nem a última. Em todas as situações anteriores demos ao País os melhores exemplos de caráter, de valentia e de ousadia.

Ceder, conspirando pela liquidação do Partido, buscar refúgio na casa supostamente desinfetada do vizinho é trair, é fugir do nosso compromisso sagrado de mudar o Brasil. Vamos ao combate, ao bom combate, à luta que merece ser travada. Vamos à franca, ousada e generosa rebelião para recompor o Partido, para fazê-lo ainda mais uma vez renascer. Entre as asas e os poleiros, hipoteticamente protetores, e a dureza da guerra, a escolha é abrir o peito e, sem medo, ir à batalha.

Na trama contra o nosso Partido, à que os tíbios já se incorporaram, é possível identificar os interesses de sempre. Os eternos, indefectíveis arautos dos “acordos nacionais”, os violentadores de leis eleitorais. Mais uma vez, ei-los antecipando-se aos fatos, sufocando oportunidades de mudança, conspirando para a manutenção do poder. É hora do rompimento. É hora de romper com a velha prática dos acordos por cima, da perpetuação de acertos, alianças e compromissos, que apenas favoreceram e favorecem os de sempre. Romper duas vezes: com a complacência e com o modelo.

Nossa referência não está nos escritórios do capital financeiro, nos cartéis ou cartórios, na fria e estéril erudição acadêmica ou no olimpo brasiliense. Nossa referência escalda-se nas ruas, no inferno da miséria, da marginalidade, na fila do desemprego, na indignidade do salário, na impossibilidade do consumo, no desespero da classe média, na insegurança, na doença e no analfabetismo.

Nossa referência está no povo. São suas esperanças, dores, sonhos e anseios que devem dizer que rumo seguir, que parceiros escolher, que guerras travar. No povo, a nossa referência, a nossa inspiração, a nossa força e a razão de ser do Partido.

Quando os vendilhões assaltaram o templo, corrompendo-o com negociatas, falcatruas e prevaricações, o Cristo não destruiu o templo. De chicote, sublime e divinamente irado, expulsou os vendilhões e restabeleceu a dignidade do templo.

Destruir o PMDB, liquidá-lo, reagir com tibieza e covardia às dificuldades de hoje equivale à imbecilidade patética de matar o enfermo para eliminar a doença.

Que se refaça, na convenção de domingo, a pergunta feita por Henrique V na batalha de Agincourt: “Onde estão os ingleses?” - perguntaram ao rei da Inglaterra. E que perguntemos nós onde estão os peemedebistas. E que a resposta também seja: “Os peemedebistas estão aqui. Aqui estão os que deveriam estar. Os que não estiverem na convenção lamentarão profundamente não terem estado, não terem tomado a posição correta e necessária”. Henrique V, com uma inferioridade absoluta de homens - 500 homens -, vindos de uma guerra longa, famintos e esfarrapados, venceu dezesseis mil franceses, armados para a primeira batalha, montados em cavalos descansados, somando a inteligência de uma estratégia moderna, quando se utilizou pela primeira vez o arco e flecha nas guerras de Idade Média.

Venceu entrincheirado num bosque, viabilizando o alagamento de campos que o separavam do formidável exército francês. Venceu, levantando o moral da sua gente, e a batalha terminou com 15 ingleses mortos e cerca de 14 mil franceses abatidos.

É a vitória da vontade, da energia, da boa luta e da razão. Que possa o PMDB, na Convenção de domingo, dizer como Henrique V: “Aqui estavam os verdadeiros peemedebistas, com candidatura própria à Presidência da República! Os que conosco não estiverem se arrependerão até a morte por não terem estado.”

Acabo de fazer uma transcrição livre de um artigo que escrevi e publiquei em jornais brasileiros há algum tempo.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/03/1998 - Página 3525