Discurso no Senado Federal

AVALIAÇÃO DO PDT SOBRE A CONVENÇÃO DO PMDB, REALIZADA NO ULTIMO FINAL DE SEMANA, EM NOTA OFICIAL DIVULGADA NA IMPRENSA. (COMO LIDER)

Autor
Emília Fernandes (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RS)
Nome completo: Emília Therezinha Xavier Fernandes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • AVALIAÇÃO DO PDT SOBRE A CONVENÇÃO DO PMDB, REALIZADA NO ULTIMO FINAL DE SEMANA, EM NOTA OFICIAL DIVULGADA NA IMPRENSA. (COMO LIDER)
Publicação
Publicação no DSF de 13/03/1998 - Página 4061
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • REGISTRO, LEITURA, NOTA OFICIAL, AUTORIA, LEONEL BRIZOLA, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), POSIÇÃO, REFERENCIA, REPUDIO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, INFLUENCIA, DECISÃO, CONVENÇÃO NACIONAL, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), APOIO, REELEIÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

A SRª EMILIA FERNANDES (Bloco/PDT-RS. Como Líder. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, ocupamos a tribuna neste momento por cedência do Líder do Bloco. Faremos manifestação ideológica, partidária para registrar a avaliação que o Partido Democrático Trabalhista, o nosso Partido, liderado pelo grande líder brasileiro, Leonel Brizola, fez e está fazendo do momento que vive o País. Particular ênfase é dada à atividade política que movimentou o País e chamou a atenção de toda Nação brasileira neste último final de semana, que foi a convenção nacional do PMDB.

A Nação brasileira assistiu a mais uma demonstração dos métodos de atuação do atual Governo Federal, que não tem medido esforços para levar adiante o processo viciado da reeleição a qualquer custo.

A partir da decisão de mudar as regras no meio do jogo, com a aprovação da reeleição para os atuais governantes, não se poderia esperar outra coisa senão a sucessão de fatos lamentáveis, que iniciaram com a compra e venda de votos na Câmara Federal, que foi notícia neste País e até hoje não foram suficientemente esclarecidas.

Quando da votação da reeleição nesta Casa, expressei, neste plenário, a minha preocupação com a possibilidade - que agora se confirma - de o processo eleitoral deste ano de 1998 enveredar exatamente por esse caminho, que representa um retrocesso para a democracia.

Em outros debates, no campo econômico e trabalhista, advertimos que o Governo Fernando Henrique, ao criticar a Era Vargas, buscava retirar todas as garantias e direitos conquistados; queria, na verdade, retornar ao período colonial. No campo eleitoral, infelizmente, os atuais mandatários já retornaram aos piores momentos da República Velha.

Diante disso, o Bloco Parlamentar de Oposição tem o dever e a obrigação de manifestar publicamente a sua posição, a sua contrariedade. Mais do que isso, tem o dever de alertar a sociedade brasileira para o que vem ocorrendo.

Os Senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Sebastião Rocha (Líder do PDT-AP), Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) e o Deputado Federal Marcelo Déda (PT-SE) entraram com representação junto à Corregedoria-Geral do Tribunal Superior Eleitoral contra o Presidente Fernando Henrique Cardoso e os Ministros da Justiça, Íris Rezende, e das Comunicações, Sérgio Motta.

Na representação, a partir de matérias amplamente divulgadas pela imprensa com riqueza de detalhes e valores, os representantes da Oposição solicitaram que se proceda à apuração dos crimes eleitorais cometidos no recente episódio, envolvendo os integrantes do Executivo e um grupo de convencionais do PMDB.

Gostaria de afirmar, ainda, que a aliança que o Governo está fazendo carece de duas condições fundamentais, que comprometem não apenas a sua existência mas também o futuro daqueles que se prestam a esse jogo.

Em primeiro lugar, a ilusão neoliberal e a regra do mercado estendidas às relações políticas estão superando a visão mais ampla da realidade nacional, que é de extrema dificuldade. Por onde quer que se ande, é exigida uma mudança de rumos urgentemente para a situação de empobrecimento, de desemprego, de desatenção às condições essenciais do povo brasileiro, quer seja na área da saúde, da educação, da habitação, da atenção que o homem do campo precisa constantemente de seus governantes.

Em segundo lugar, o mais grave de tudo, é que se está tratando a política nacional sem considerar a existência do que dá fundamento a uma nação, que é o seu povo. Os brasileiros estão sendo tratados como se fossem uma massa disforme, de quem só interessa o voto na época da eleição; têm sido corrompidos por falsas promessas e pressões de toda ordem, chegando, muitas vezes, à chantagem emocional e econômica.

Tal procedimento, por mais que se invista em propaganda, que se compre e venda votos e consciências no balcão do mercado eleitoral neoliberal, está fadado ao insucesso. O povo dará o seu veredicto, julgará tais atos nas urnas, assim como faz e fez em outros momentos da história do Brasil.

O nosso País precisa de união, sim, Srs. Parlamentares, mas não a qualquer custo. É preciso que a união seja buscada com objetivos sinceros, com o verdadeiro espírito cívico de alcançar desenvolvimento, investir na produção nacional, resgatar a soberania e, acima de tudo, gerar empregos, dar saúde, educação e dignidade à nossa gente.

Nesse sentido, trago a este plenário, Srªs. e Srs. Senadores, para que seja registrado nos Anais do Senado Federal, a nota oficial do PDT, Partido Democrático Trabalhista, assinada pelo seu Presidente, Leonel Brizola, e divulgada na imprensa, contendo o posicionamento do Partido sobre o recente episódio envolvendo o Governo Federal e a Convenção do PMDB, realizada no final de semana.

A nota, intitulada “Espetáculo Deprimente”, que passo a ler a seguir, diz o seguinte:

“A opinião pública brasileira está chocada com o espetáculo deprimente em que se converteu a Convenção do PMDB pela ação dos grupos ligados ao Sr. Fernando Henrique Cardoso e sob o patrocínio direto dos seus ministros. Colocaram-se em prática, ali, a mais truculenta coação e o mais desavergonhado uso do dinheiro público, de forma tão desabrida que faria corar os piores vícios da República Velha. De fato, há decênios não se via, tão claramente, o exercício do poder avassalador da máquina do governo sobre um partido político como fez o atual Governo sobre o PMDB.

Vejam: não somos nós da oposição, mas os grandes jornais que vinham revelando, com todos os detalhes inacreditáveis: os governadores impuseram o voto aos convencionais de seus Estados, conduzidos por um monumental processo de chantagem política envolvendo verbas públicas. O caso de Santa Catarina é a prova mais dantesca do ponto a que chegaram. Cento e cinqüenta milhões de reais e mais o sepultamento do escândalo dos precatórios! Agora se vê quem, no fundo, é o grande responsável por essa derrama de títulos públicos. Como é que um Presidente vive falando em cortes, em eliminar déficits, arrochando e demitindo servidores e trabalhadores, poderia desconhecer e deixar correr à frouxa um derrame de títulos de mais de R$ 10 bilhões, sem regulamentar, sem exercer uma rigorosa fiscalização? É o Sr. Fernando Henrique Cardoso o grande responsável por este mar de corrupção que foram os precatórios, em casos comprovados como foi o de Santa Catarina.

Se esse foi o clima de “convencimento” que precedeu a Convenção, pior ainda foram as cenas que os agentes do Sr. Fernando Henrique Cardoso apresentaram no domingo. O que foi feito ao Sr. Itamar Franco não merece outro nome senão o de afronta covarde, o de ingratidão sem limites! Pode-se discordar do ex-Presidente, como o PDT discorda em muitas questões, mas chegar ao ponto de insultá-lo, de corpo presente, como fez Jader Barbalho, chefe da tropa de choque governista, é algo impensável. Quer dizer que o posto de Embaixador é propriedade do Sr. Fernando Henrique Cardoso, que os altos representantes diplomáticos devem ser vistos como seus serviçais e não como delegados de toda a Nação?

Tudo ainda se torna mais grave quando se considera que Fernando Henrique, sob cujo patrocínio desenvolveu-se aquele torpe espetáculo, deve tudo o que é ao Sr. Itamar Franco. Antes de ser chamado pelo então Presidente para ser ministro, não passava de um senador mosca-tonta, inútil, sempre trêmulo de medo do Sr. Roberto Campos, e condenado, como todos sabiam, a não conseguir renovar o seu mandato. Itamar deu-lhe o cargo de Ministro da Economia e, com isso, o de apresentador do chamado Plano Real, que nunca foi de sua autoria, mas da “equipe econômica”, pois àquela altura já estava preparado, sob a monitoração dos grupos neoliberais daqui e de fora. Foi Itamar Franco quem o fez candidato e o elegeu. Uma palavra, um ato, uma desautorização dele, e jamais Fernando Henrique teria se tornado Presidente. Só isso basta para revelar a natureza moral e ética do atual Presidente, que não tem mais medidas e obstáculos diante de sua ambição em continuar à frente de um Governo que se tornou um balcão de negócios perdulários da soberania, do patrimônio e da riqueza nacional, nessa leiloagem indecente que está movimentando fortunas e comissões gigantescas.

Felizmente, o último ato desse episódio lamentável não está escrito. E o que é verdadeiramente importante: também sobre essa época de infâmia que atravessamos, a última palavra ainda está por ser dada nas urnas, pelo povo brasileiro.”

Nota divulgada e publicada no Jornal do Brasil, de 10 de março de 1998, assinada pelo Sr. Leonel Brizola, Presidente Nacional do PDT.

Sr. Presidente, era o registro que nós, em nome do nosso Partido, tínhamos a fazer.

Obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/03/1998 - Página 4061