Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM PELO DIA DO BIBLIOTECARIO. (COMO LIDER)

Autor
Edison Lobão (PFL - Partido da Frente Liberal/MA)
Nome completo: Edison Lobão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM PELO DIA DO BIBLIOTECARIO. (COMO LIDER)
Publicação
Publicação no DSF de 13/03/1998 - Página 4065
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, BIBLIOTECARIO.

O SR. EDISON LOBÃO (PFL-MA. Como Líder. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o calendário brasileiro assinala nesta data uma efeméride ligada a uma preciosa conquista do engenho humano: o livro. Hoje é o Dia do Bibliotecário, o profissional que o guarda, protege, cataloga, zela pela sua integridade e o mantém disponível para que realize a destinação que o universaliza e destaca como o maior invento de todos os tempos.

O que seria da humanidade se lhe faltassem os livros?...

Luxuosamente encadernado ou na simplicidade de uma brochura, o livro guarda a principal fronteira da cultura humana, síntese do processo criativo da humanidade. Nos livros está o pensamento dos gênios, cujo saber se transmite às gerações que se sucedem ad infinitum. Iluminam outras inteligências, exercendo a missão apostolar da transmissão do conhecimento. Os livros, na sua origem em forma de papiros, perenizaram a pregação de Cristo e a sabedoria dos mestres gregos, latinos, anglo-saxões e a de tantos outros, de diferentes etnias, que se mantiveram historicamente imortais pelos pensamentos, teorias e obras-primas que legaram à humanidade.

Como disse E. Roquete Pinto em Seixos Rolados:

“Permitiu (o livro) que o saber, encantoado em meia dúzia de velhos papiros, pudesse correr mundo em busca de novas almas em botão”.

O livro abre o diálogo entre o autor e o leitor. Nele, os sábios e leigos se identificam em silêncio, numa comunhão de idéias que aprimora a educação e a sensibilidade do ser humano.

Não deixa de ser de grande simbolismo o fato de que o mais famoso de todos os livros - a Bíblia - teve o privilégio de ser o primeiro título rodado na histórica impressão de Mogúncia (Mainz), realizada por Johannes Gutenberg, em 1450, ao completar a montagem da impressora matriz. Desde então tornou-se possível a expansão vertical da indústria gráfica, hoje integrada a um dinâmico padrão de tecnologia em permanente desenvolvimento.

Nada excede a sua excepcional prestabilidade e versatilidade, sinteticamente definida na frase do poeta Stéphane Mallarmé, “tudo no mundo existe para terminar em livro “

Em essência, Srªs. e Srs. Senadores, tudo aquilo que o homem criou até hoje, em termos de escrita, tem a destinação implícita de ser cuidado pelos profissionais, que têm o livro como meio e fim de sua especialidade: o bibliotecário. São eles os que compõem a comunidade que dá personalidade e identidade à extensa e complexa temática do conhecimento humano pela sistematização, que, na atualidade, permite o milagre de terminais computadorizados conquistarem o acesso às preciosidades oferecidas pelas maiores bibliotecas do mundo.

Institucionalizada legalmente, a profissão de bibliotecário, de nível superior, é regulada pela Lei nº 4.084, de 30 de junho de 1962, decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo então Presidente Humberto Castelo Branco.

Desde aqueles velhos tempos de 1810, quando D. João VI trouxe de Lisboa os sessenta mil volumes com que fundou, então na Rua Direita no Rio de Janeiro, a nossa Biblioteca Nacional, naturalmente profundas modificações impuseram-se às bibliotecas e ao trabalho dos que dela se incumbem. Com a nova ciência da biblioteconomia, procurou-se proporcionar um conhecimento profundo, aos profissionais especializados, de tudo quanto diz respeito às bibliotecas. Não somente o cuidado e a catalogação de livros, mas ensinamentos em torno da arquitetura mais adequada aos prédios destinados às bibliotecas, suas instalações, aquisição de acervo, organização de documentos, estruturas que atendam às necessidades dos leitores, etc.

Agora, com os avanços da cibernética, exigem-se dos bibliotecários novas qualificações. Há, pois, um conjunto de exigências técnicas e sociais que fazem da biblioteconomia uma ciência difícil e rigorosa, exigindo do bibliotecário uma aprimorada formação acadêmica e permanentes estudos que lhe permitam acompanhar as evoluções que ocorrem na área da sua vocação.

No seu ensaio sobre o perfil do bibliotecário no terceiro milênio, o autor Vasconcelos Barros transcreve advertência creditada a Rincon Ferreira: “É hora de ampliar a visão profissional para acompanhar a evolução do mercado da informação, que fatalmente será ocupado por profissionais de outras áreas, caso os bibliotecários não saibam ocupá-lo, com efetiva competência, exigida pelos novos tempos em que vivemos”.

Mencionando a escalada da Internet, o citado autor assinala que “o aparecimento de ferramentas que permitem acessar e navegar seus recursos, e o impacto dessa tecnologia em todos os níveis da sociedade, principalmente no que diz respeito à democratização da informação, são fatores que, sem dúvida, exigem um repensar na formação atual dos profissionais e, em particular, no cientista da informação (de maneira geral, incluindo aqui os bibliotecários, documentalistas, arquivistas, cientistas, pesquisadores e outros)”.

Os que trabalham nas bibliotecas brasileiras, Sr. Presidente, merecem o nosso respeito e a nossa admiração. Basta que se freqüente para se constatar o alto grau de qualificação dos nossos e das nossas bibliotecárias. Acompanham pari passu o veloz avanço da tecnologia, que implantam nas sedes do seu trabalho. Não raro, superam, com a sua competência e a sua criatividade a carência de recursos dos empregadores geralmente estatais.

No Brasil, a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, com cerca de um milhão e quinhentas mil obras - além de mais de 600 mil manuscritos, perto de 300 mil mapas e estampas e preciosas coleções de periódicos -, é considerada uma das maiores da América Latina. Ainda no Rio de Janeiro, são conhecidas pela importância dos seus acervos as bibliotecas do Ministério da Fazenda, da Fundação Getúlio Vargas, do Real Gabinete Português de Leitura e da Casa de Rui Barbosa, além das bibliotecas especializadas do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação, órgão do CNPq, e da Fundação IBGE.

Em São Paulo, destacam-se a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, a da Universidade de São Paulo e as da rede municipal.

Nesta Capital, a Biblioteca da Universidade de Brasília é a mais atualizada do País em sua organização e acervo, sobressaindo-se igualmente as bibliotecas do Senado e da Câmara dos Deputados, que ampliam dia a dia o seu prestígio pela excelência dos seus acervos e das suas eficientes instalações.

Creio que temos em Brasília serviços bibliotecários modelares concentrados em órgãos dos três Poderes. Permito-me aqui destacar, por serem da minha intimidade, as bibliotecas do Senado e da Câmara dos Deputados, que têm sido de grande valia para Deputados e Senadores, oferecendo inestimável contribuição ao bom desempenho da atividade parlamentar. Em ambas as bibliotecas, vamos encontrar um corpo de técnicos, especialistas e funcionários da mais alta competência e qualificação, além da prestimosidade e lhaneza de trato com que atendem aos seus usuários.

Contudo, apesar de ocuparmos no Brasil uma posição razoável no universo das bibliotecas, muito falta ainda fazer para atingirmos o ideal buscado por todas essas instituições no mundo. Acredito que em primeiro lugar está a necessidade de se vencer a inebriante concorrência da má televisão, estimulando-se nos jovens o gosto pela leitura - gosto que eu diria, quase perdido ao longo dos tempos -; abastecer as bibliotecas com os livros que possam seduzir as novas gerações. É o objetivo nosso. Em segundo, investir-se em novas salas de leitura e pesquisa.

O Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas registra em seu Guia, editado em 1994 pela Biblioteca Nacional, um cadastro com 2.253 estabelecimentos públicos, distribuídos por toda a Nação, 80 dos quais estão localizados no Maranhão, inclusive em minha terra natal, Mirador, sob a denominação de Biblioteca Pública Municipal Rui Barbosa. Nos Estados Unidos da América do Norte, são aproximadamente 123 mil os estabelecimentos desse gênero, dos quais cerca de 8.900 públicos. Muito nos falta, pelo visto, para chegarmos a tal número, embora já exista entre nós a consciência da importância do saber, primordialmente adquirido através dos livros muitas vezes só alcançáveis, pelas camadas mais pobres, na freqüência às bibliotecas públicas.

Nas homenagens que são tributadas aos bibliotecários, justo que se recorde o nome do paulista Rubens Barros de Morais, o Patrono dos Bibliotecários brasileiros. Retornando ao Brasil, após completar os seus estudos básicos na Suíça, ligou-se ao Movimento Modernista, liderado por Oswald de Andrade, no qual desenvolveu importante influência na moderna literatura brasileira. Como bolsista da Fundação Rockefeller, estudou biblioteconomia nos Estados Unidos. Veio a ocupar posteriormente a direção da Divisão de Bibliotecas da Prefeitura de São Paulo, tendo ali implementado uma ampla reforma na Biblioteca Municipal daquela cidade. Em 1940 fundou o pioneiro Curso de Biblioteconomia da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, então sede da Capital da República, organizou a Biblioteca do Ministério do Trabalho e dirigiu a Biblioteca Nacional de 1945 a 1947. Culminou sua carreira como Diretor da Biblioteca da ONU. Autor de uma obra literária ampla e variada, Rubens Barros de Morais dedicou o melhor de seus esforços no sentido de dar um sentido orgânico à biblioteconomia e, com esse propósito, implementou e ampliou a literatura especializada, que deu corpo e doutrina aos seus fundamentos institucionalizadores.

Nesta data, pois, cumprimento efusivamente todos os que, de algum modo, vinculam-se profissionalmente às bibliotecas, desejando-lhes permanente ânimo e grandes sucessos na bela missão cultural que desempenham.

No ensejo, lanço um apelo ao Presidente Fernando Henrique para que Sua Excelência, um intelectual de escol, volte a comandar uma nova campanha, desta feita para estimular a implantação, em todos os Municípios brasileiros, de uma Biblioteca Pública Municipal. Tal movimento iria complementar a grande campanha “Todas as Crianças na Escola”, de resultados que já se sabe alvissareiros. Em cada comunidade interiorana uma biblioteca, estimulando-se nos jovens o gosto pela leitura e, assim, dando-lhes condições de superar no futuro os tantos obstáculos que se antepõem aos que carecem de cultura.

Penso que seria esta a melhor homenagem que se poderia prestar às bibliotecárias e aos bibliotecários brasileiros, esse núcleo de mulheres e homens dignos do melhor reconhecimento nacional pelo que, quase anonimamente, tem feito pelo Brasil.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/03/1998 - Página 4065